Ide por todo mundo e fazei amigos

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Por: Thiago Azevedo

"Portanto ide, fazei 'amigos' de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho,
e do Espírito Santo"
Mateus 28.19

Estou finalizando a leitura do livro, Por que você não quer ir à igreja?, e este livro nos faz levantar algumas perguntas cruciais para nossa caminhada, entre elas: Para que ser a igreja como a vivemos hoje? Muitas vezes desenvolvemos nossas relações no universo eclesiástico, não a partir da importância que as pessoas têm em nossas vidas, pelo contrário, é justamente moldado pela responsabilidade que temos adquirido neste universo, ou seja, é pautado pelo número de atividades onde estou inserido, ou lidero.

Demorei muito tempo para começar a desfazer as leituras que me incutiram à mente, para normatizar que devo percorrer o mundo para "fazer discípulos", colocando-os a eles a igreja, a importância hierárquica de um líder que me dirá o que devo ou não fazer, de alguém que tem a melhor interpretação, ou a correta interpretação da Palavra de Deus. Hoje me pergunto, quem tem a melhor interpretação? Lutamos por séculos para nos libertarmos das amarras papais e da lei que nos diz que somente a igreja é capaz de interpretar corretamente a Palavra de Deus. Quem pode perscrutar o que realmente Deus nos falou, seu Espírito Santo não nos veio para nos mostrar o que o Pai disse, na verdade Ele veio para nos conduzir para viver o que ele viveu.

Há muita diferença nisso, pois se lermos melhor os poemas em forma de evangelho, vemos um Cristo que andava a celebrar a vida e a construir amizades, tanto que durante 3 anos preparou 12 pessoas, não para instituir um movimento, não para desenvolver uma nova religião, mas para compartilhar vida através de relações profundas de amizade, se não fosse assim, Jesus não teria dito que eles não eram servos, mas amigos.

Ao pesquisarmos na história, vemos que o trecho final que introduzi, não faz parte dos textos originais, fora acrescentado, sabemos que mesmo sendo acrescentado ele não desfaz a beleza do conteúdo anterior, porém, me daria ao luxo de substituir discípulos por amigos, por termos uma amplitude maior na nossa caminhada. No decorrer da história e principalmente após a difusão e ampliação do capitalismo, a forma de comunicarmos o evangelho também aderiu sua filosofia. A da produção em escala, não estamos mais preocupados em como nos relacionamos com as pessoas ao comunicarmos essas "boas novas", pelo contrário, não queremos perder tempo apenas com uma pessoa, temos que ser rápidos para "pescarmos" mais pessoas. Com isso, falamos de um Jesus artificializado, que não faz efeito na vida das pessoas, justamente porque não fazemos como o bom samaritano, não caminhamos juntos, não investimos tempo em relações, resumindo, não queremos ajudar ninguém.

Isso é um fato tão sério que quando vemos uma pessoa com problemas, qual a nossa resposta imediata? Encaminhamos ela para uma igreja, porque pastor fulano de tal tem uma palavra poderosa e etc, quando na verdade, o que pessoas assim precisam é de alguém que lhe olhe nos olhos, com o olhar de Cristo e as ame, assim como o mestre as amou.

Queremos muito sair pelo mundo fazendo discípulos, simples seguidores, mas até que ponto estamos no mundo para sair e fazermos amigos? Quando estabelecemos relações profundas, a pregação do evangelho é diferente, pois você e a importância que você dá às pessoas é que faz a mensagem ser viva e eficaz, porque você é movido por um amor que é inflamado pelo amor de Cristo.

Khalil Gibran tem uma bela definição do que significa ser e ter amigos:

"O vosso amigo é a resposta às vossas necessidades.
Ele é o campo que cultivais com amor e colheis com gratidão.
E é o vosso apoio e o vosso abrigo.
Pois ides até ele com fome e procurai-lo para terdes paz.
Quando o vosso amigo fala livremente, vós não receais o "não", nem retendes o " não".
E quando ele está calado o vosso coração não deixa de ouvir o coração dele;
Pois na amizade, todos os pensamentos, todos os desejos, todas as esperanças nascem e são partilhadas sem palavras, com alegria.
Quando vos separais de um amigo não fiqueis em dor, pois aquilo que mais amais nele tornar-se-à mais claro com a sua ausência, tal como a montanha, para quem a escala, é mais nítida vista da planície.
E não deixeis que haja outro propósito na amizade que não o aprofundamento do espírito.
Pois o amor que só procura a revelação do seu próprio mistério, não é amor mas uma rede lançada que só apanha o que não é essencial.
E deixai que o que de melhor há em vós seja para o vosso amigo.
Já que ele tem de conhecer o refluxo da vossa maré, que conheça também o seu fluxo.
Pois para que serve o vosso amigo se só o procurais para matar o tempo?
Procurai-o também para viver.
Pois ele preencher-vos-à os desejos, mas não o vazio.
E na doçura da amizade que haja alegria e a partilha de prazeres.
Pois é nas pequenas coisas que o coração encontra a frescura da sua manhã."

Então o que vale mais, ir por todo mundo propagando a palavra sem ouvir as pessoas, sem compartilhar com elas o que de melhor há na vida, porém atingirmos o maior número de pessoas possível? Ou caminhar junto, chorar junto, viver junto o mistério da vida, do amor e da paz de se viver, criando relações que não sejam para um simples momento, mas para toda vida?

Essa é a grande diferença entre a graça barata e a graça preciosa segundo Dietrich Bonhoeffer em seu livro Discipulado, a primeira, prefere as multidões, mesmo que vazias e sem vida e a segunda, prefere o árduo caminho de se caminhar lado a lado, sofrendo e vivendo. Lembrem-se:

"Falar do evangelho é mais fácil do que ser o evangelho, falar da vida é muito mais fácil do que compartilhar a vida e fazer discípulos é muito mais fácil do que fazer amigos."

Paz e bem.

Autor: Thiago Azevedo
Fonte: [ Descanso da Alma ]

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