Ariovaldo Ramos Esclareceu Tudo: O Manifesto do Missão na Íntegra é Lulopetista

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No dia em que o PMDB rompe com o Governo, tornando a queda de Dilma e Cia mais palatável do que nunca, também presenciamos a saída das sombras do principal idealizador do Manifesto Evangélico do Ministério Missão na Íntegra. O Sr. Ariovaldo Ramos, em evento realizado na Faculdade de Direito do Lago do São Francisco (da USP) leu o manifesto e deu declarações como esta:

É um privilégio como evangélico e negro ter a possibilidade de lutar contra o golpe. Nós não podemos aceitar a reconstrução de uma senzala que ainda não terminamos de derrubar”.

Observem que Ramos classifica o
impeachment - algo constitucional e que o PT endossou contra Collor e solicitou contra FHC - como golpe. Está muito nítido o seu apoio ao atual governo. Governo este que é detentor de uma imoralidade gritante, mas que não é criticado pelo líder do Missão na Íntegra. O seu apoio à agenda petista e seu plano de perpetuação do poder é tanto que ele se coloca dentro do projeto quando em sua frase há um “nós”. Vejamos outra pérola do Sr. Ariovaldo Ramos:

Somos conservadores com a nossa fé e progressistas na vida social

Sobre o progressismo a que o Ariovaldo se refere, o pastor e pensador, Guilherme de Carvalho comenta: “(...) há uma grave ambiguidade no uso da ideia de ‘progressismo’ sem a têmpera da noção de ordem criacional (...) e essa ambiguidade destrói a capacidade dos evangélicos progressistas de profetizarem contra os ídolos da esquerda”.[1] Isto é absolutamente observável na postura do líder do ministério Missão na Íntegra e no conteúdo do referido manifesto, que critica o poder judiciário, considerando sua postura excessiva, critica a mídia, acusando-a de alarmista e disseminadora de ódio, critica o elitismo da “ultradireita conservadora”, etc. Só não há nenhuma crítica referente às pedaladas fiscais, ao “petrólão”, a tentativa de obstruir a justiça nomeando o ex-presidente Lula para que se torne ministro e tenha foro privilegiado, enfim, silêncio total frente aos abusos, desmandos e disparates do lulopetismo. Ainda sobre a denominação progressista utilizada por Ariovaldo Ramos, o pastor Franklin Ferreira em sua obra mais recente pontua o seguinte:

Esses cristãos que militam em partidos e grupos de esquerda e extrema esquerda se autodenominam no Brasil de “cristãos progressistas”. Curiosa – e reveladoramente -, os católicos poloneses que apoiavam os nazistas antes da Segunda Guerra Mundial e os comunistas no Pós-Guerra também se chamavam “cristãos progressistas”.[2] 

O progressismo que relativa os absolutos da Escritura e desconsidera a ordem criacional, como bem observou o Guilherme de Carvalho, tende a sintetizar o evangelho com ideologias. O resultado disso é idolatria. Foi exatamente isto o que cegou os católicos poloneses e também luteranos da Alemanha que viram Hitler e o Nazismo como a salvação do povo alemão. Ariovaldo e a corrente que ele representa, a Teologia da Missão Integral (TMI) tem sintetizado o evangelho com postulados marxistas. Com isso, o Evangelho é misturado a elementos não escriturísticos, sofrendo um acréscimo que remete a um culto idólatra e desemboca em apostasia. 


O engraçado é que quando escrevi uma moção de repúdio ao manifesto do Missão na Íntegra, denunciando seu caráter pró-PT, muitos de seus defensores comentaram que minha leitura era desprovida de um real entendimento político, ou me acusaram de má compreensão e até de má intensão. Mas o que dizer agora diante destas frases do Ariovaldo que estão registradas no site oficial do Partido dos Trabalhadores, onde o mesmo se presta junto a outras figuras “evangélicas” a emprestar a sua imagem para apoiar o partido do Governo? Se tais continuarem a dizer que o documento é isento de partidarismo e a favor da democracia, veremos de qual lado está à desonestidade intelectual. Ademais, outro bastião da TMI parece ter se arrependido de ter subscrito o manifesto. Ed René Kivitz em tom de um desabafo desgostoso escreveu:

Lamento profundamente que a chamada Teologia da Missão Integral e o movimento que teve como marco o Pacto de Lausanne, celebrado em 1974, no Congresso Internacional de Evangelização Mundial na Suíça tenham sido indevidamente associados a uma ideologia, um partido político e seus respectivos personagens.[3]

Se o próprio Kivtiz, um dos primeiros nomes que vem a cabeça quando se fala em representantes da TMI no Brasil escancarou a faceta ideológica que corrompeu o termo cunhado em Lausanne, transformando em um braço do esquerdismo latino-americano, negar isso é um atestado de torpor ideolátrico.[4] O mais sensato e corajoso a se fazer é voltar atrás e reconhecer que, tal como classificou a Braulia Ribeiro em seu blog, o manifesto do Missão na Íntegra foi um erro histórico.[5] Continuar defendendo tal manifesto, vou mais além, continuar defendendo a TMI, é cometer suicídio moral e intelectual, maculando um segmento da igreja brasileira que na posteridade será visto como “a ala evangélica que apoiou o governo mais corrupto da história da nossa recente democracia”. Tudo em nome de que? De fazer perdurar uma ideologia que é antagônica ao cristianismo. 


Que Deus se apiede da igreja brasileira!
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Notas:
[1] Esta frase foi retirada do seu perfil pessoal do Facebook
[2] Contra a Idolatria do Estado: o papel do cristão na política. São Paulo. Vida Nova, p. 142. 
[3] Publicado em sua página oficial do Facebook
[4] Neologismo que denota a idolatria de um sistema ideológico. 
[5] Não Apoio o Manifesto do Missão na Íntegra, disponível aqui.

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Sobre o autor: Thiago Oliveira é graduado em História e especialista em Ciência Política, ambos pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (Funeso). É casado e atualmente pastoreia a Igreja Evangélica Livre em Itapuama/PE.
Divulgação: Bereianos
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Escravidão e o Velho Testamento

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Muitas tentativas tem sido feitas para associar, de alguma forma, a escravidão no Antigo Testamento com a escravidão no Ocidente Moderno. Através de uma análise histórica, mostraremos porque isso é falho.

Os historiadores abandonaram o uso (até então comum) do termo “escravidão” na descrição das diversas formas de relação entre mestre e servo manifestas no mundo antigo. Existiram poucas sociedades escravistas no mundo antigo (com Roma e Grécia sendo duas das maiores), e a nação antiga de Israel parece estar fora dessa classificação (em legislação, não em prática).


Um exemplo recente aparece na discussão sobre a cultura hitita:

“Guberbock menciona ‘escravos no sentido mais estrito’, aparentemente se referindo a escravos fiduciários como aqueles da antiguidade clássica. Essa caracterização pode ser verdadeira para escravos domésticos cujos mestres poderiam tratá-los como bem entendessem ao eles cometerem algum erro, mas essa opção é menos provável, já que eles eram capazes de ter propriedades e pagar dotes de noivado. O significado de ‘servo’ parece mais apropriado, ou talvez a designação de ‘escravo semi-livre’. Enquadra toda e qualquer pessoa que está sujeita a ordens ou dependentes de outro mas que, ainda assim, tem algum independência dentro de sua própria esfera de atividades.” (1.632) [1]

Estudiosos de Antropologia Cultural são ainda mais sensíveis quanto a isso, e apontam que a escravidão do Novo Mundo era de certa forma única, historicamente falando:

“Os estudiosos discordam entre si na definição de ‘escravidão’. O termo tem sido usado várias vezes para um ampla variedade de instituições, incluindo a escravidão para plantação, o trabalho forçado, o trabalho penoso de confeitarias e fábricas, o trabalho infantil, a prostituição semi-voluntária, o casamento por dotes, a adoção de crianças por pagamento e também a barriga de aluguel. […] Um problema similar ocorre quando olhamos para outras culturas. […] Essas características são geralmente derivadas da experiência ocidental mais recente de escravidão, aquela dos EUA e da América Latina. A imagem ocidental atual de escravidão foi construída atropeladamente das representações dessa experiência nas obras abolicionistas de literatura do século XIX. […] De uma perspectiva mais inter-cultural e histórica, no entanto, a escravidão no Novo Mundo foi uma conjunção única de características. […] Em resumo, a maior parte dos tipos de escravidão não exibiam os três elementos que foram dominantes no Novo Mundo: escravos como propriedades e comodidades; seu uso exclusivo ao trabalho; e sua falta de liberdade…” (4:1190f) [2]

Portanto, antes de alguém associar a palavra “escravidão” presente no VT com o que aconteceu no Ocidente, seria melhor definir o que consideramos “escravidão” hoje e comparar com o que se chama por “escravidão” no VT.


Com isso em mente, vamos destacar os elementos básicos associados a escravidão histórica, como praticada nos EUA antes da Guerra Civil Americana, e mostrar a diferença com os tipos de escravidão do mundo mais antigo.


Diferença 1 – Motivação: A escravidão no Ocidente recente foi motivada pela vantagem econômica da elite.


Esse não era o caso da escravidão antes da Era Comum. A motivação dominante (estatisticamente falando) era o alívio econômico da pobreza. Isto é, a “escravidão” era iniciada pelo escravo (não pelo dono) e o uso primário era puramente doméstico (exceto em casos de escravidão Estatal, onde os indivíduos eram usados para construir projetos).


A obra definitiva sobre a legislação antes da Era Comum está em History of Ancient Near Eastern Law. Ela indica claramente que o propósito da escravidão no Mundo antigo era “em favor do pobre” ao invés de “em favor do rico”.[3] Segue uma lista de citações mostrando isso:

“A maioria dos escravos que pertenciam aos assírios em Assur e Anatólia parecem ter sido (originalmente) escravos através de dívidas – indivíduos livres que eram vendidos como escravos por um pai, um marido, uma irmã mais velha, ou por eles mesmos.” (1.149)
“A venda de esposas, filhos, parentes, ou de si mesmo devido a dificuldades financeiras era uma cena sócio-econômica caracteristicamente recorrente em Nuzi ... Um caso um pouco diferente acontecia com estrangeiros tanto do sexo masculino quanto feminino, chamados Hapiru (imigrantes) que se voluntariavam a escravidão a indivíduos ou à administração do palácio. A pobreza era a principal causa destes acordos …” (1.585)
“A maioria dos casos registrados da entrada de pessoas livres na escravidão [em Emar] aconteceram em razão da dívida ou da fome, ou ambos ... A prática comum era um financiador para pagar vários credores em troca de o devedor se tornar seu escravo.” (1.664f)
“Por outro lado, faz-se menção de pessoas livres que eram vendidas como escravos como resultado das condições de fome e a crítica situação econômica das populações [Canaã]. Filhos e filhas eram vendidos para provisões” (1.741)
“O método mais frequentemente mencionado de escravidão [Neo-sumeriana, UR III] é a venda de crianças por seus pais. A maioria eram mulheres, evidentemente as viúvas, que vendiam uma filha; em uma ocasião ou outra uma mãe e uma avó vendiam um menino … Há também exemplos de auto-venda. Todos estes casos claramente surgiam da pobreza; não é explicado, no entanto, se a dívida estava especificamente no centro da questão.” (1.199)

Diferença 2 – 
Entrada: No Ocidente a escravidão foi esmagadoramente involuntária. Seres humanos eram capturados a força e vendidos por comerciantes.


Na Antiga Era (e especialmente no VT), acontecia exatamente o oposto. Isto já deveria estar óbvio a partir do aspecto MOTIVO (que já discutimos) – as escolhas eram feitas pelos empobrecidos, entrando nesse estado de dependência em troca de segurança econômica e proteção. Alguns contratos de escravidão, de fato, enfatizavam esse aspecto voluntário:

“Uma pessoa entrava na escravidão vendendo a si mesmo ou sendo vendido por um dos pais ou parentes. Pessoas vendiam suas esposas, netos, irmãos (com suas esposas e filhos), irmãs, cunhadas, afilhadas, sobrinhos e sobrinhas ... Muitos dos documentos enfatizavam que a transação era voluntária. Isto aplica-se não somente à auto-venda, mas também aqueles que eram vendidos, embora o seu consentimento deve ter sido, por muitas vezes, fictício (como no caso de um lactente).” (1.665) [4]

Isto também pode ser visto a partir do fato de que a guerra e a violência não eram fontes de escravos ‘reais’ na Antiga Era (nem no VT). Por exemplo, embora houvesse um grande número de prisioneiros de guerra na Antiga Era, eles geralmente não eram transformados em escravos, mas sim em cultivadores, servos:

“Dentro de todos os períodos da antiguidade, egípcios, mesopotâmicos, hititas, persas e outros governos líderes orientais conseguiam um grande número de cativos de suas batalhas vitoriosas. Mas apenas uma parte insignificante deles era transformado em escravos; todos os outros se ajustavam nessas terras, servindo nos palácios e templos. A pergunta que surge é: Por que esse grande número de prisioneiros de guerra não eram escravizados. A escravidão era a forma ideal de dependência, e muitas vezes não havia escassez de prisioneiros capturados na guerra. Além disso, não existiam normas legais ou éticas que impedissem esses prisioneiros de serem transformados em escravos. Mas isso aconteceu apenas com uma porcentagem insignificante de casos, enquanto a esmagadora maioria foram assentadas em lugares especialmente reservados para eles, pagavam impostos reais, e realizavam obrigações, incluindo o serviço militar.” [5]
“A guerra é mencionada como fonte de escravos apenas para as instituições públicas. O método de escravização mais frequentemente mencionado é a venda de crianças por seus pais, a maioria sendo mulheres, evidentemente viúvas, vendendo uma filha;… Há também exemplos de auto-venda.” (1.199) [6]

O mesmo, é claro, pode ser dito de Israel. Mesmo em guerras em solo estrangeiro (por exemplo, Dt 20.10,11), se a cidade se rendesse, tornava-se um estado vassalo de Israel, com a população tornando-se serva (mas), não escrava (
ebedamah). Eles realizariam o que é chamado de ‘corvéia’ (desenhos e projetos especiais de trabalho, como os israelitas mais tarde fizeram com Masim sob o Reino de Salomão, 1 Reis 5.27). Isso era análogo à práxis da Antiga Era, em que os prisioneiros de guerra não eram escravizados, mas convertidos em grupos de vassalos:

“As nações submetidas pelos israelitas eram consideradas escravas. No entanto, elas não eram escravas no sentido próprio do termo, apesar de terem sido obrigadas a pagar impostos reais e a realizar obras públicas.” [7]

E já que a escravidão era feita através de auto-venda ou venda pela família, ela era igualmente voluntária (pelo menos voluntário a medida que a pobreza permitia), cf. Lv 25,44 em que os verbos retratam ‘adquirir’ e não ‘tomar’ ou ‘conquistar’, etc.


Diferença 3 – Tratamento: No Ocidente os escravos eram frequentemente mal-tratados (de acordo com os padrões modernos) e as punições eram extremas.


Basta mencionar aqui que Ex 21:21 restringe o tratamento do dono ao escravo a não ser mais grave do que o que a comunidade (ou os anciãos) poderiam fazer com um cidadão livre qualquer. Esta restrição sobre o proprietário deve fazer-nos perguntar o que é que a palavra “propriedade” significa nesse contexto!


Na Antiga Era, os escravos eram geralmente protegidos contra abusos (em condições normais, fugitivos eram um problema, como veremos):

“Os escravos eram geralmente protegidos contra o castigo físico excessivo. Mesmo escravos fiduciários parecem ter se beneficiado de alguma forma desta proteção”(1:43) [8]

E todos os registros do período parecem indicar um tratamento humano:

“Primeiro, vamos separar os escravos – o espólio de guerra, ou de servidão por várias razões – que por definição eram totalmente dependentes de seus mestres, embora os últimos parece ter sido tratados de maneira justa e com humanidade, mais como se fossem empregados domésticos.” (114) [9]

Diferença 4 – 
Moradia: No Ocidente os escravos viviam em separação radical de seus proprietários e não participavam de muitos “benefícios” de seus proprietários.

“Além disso, em geral, havia apenas uns poucos em cada domicílio [Israel] – não há nenhuma indicação, por exemplo, que grandes grupos de escravos estivessem trabalhando em condições deploráveis, cultivando grandes propriedades, como no posterior mundo romano” (111) [10]

Diferença 5 – Saída: No Ocidente, a escravidão era perpétua. Nunca houve qualquer meio de obtenção de liberdade que estivesse previsto no contrato. No caso de um proprietário garantir liberdade, nenhuma propriedade saía com o homem livre.

Na Antiga Era, embora algumas culturas tivessem um “período suficiente para quitação da dívida” (6 anos em Israel), a alforria com “bens móveis” era rara porque ela geralmente não era requisitada. As questões de segurança econômica e das relações quase que familiares que se desenvolviam dentro da unidade familiar, criavam pouco incentivo para que o servo se tornasse “independente”:

“Geralmente, a autonomia individual significava exposição ao perigo e a predação; a segurança estava justamente na proteção conferida pela dependência dos escravos a seus patrões. O que era desejável não era a liberdade, mas o pertencimento.” (4.1191) [11]

Conclusão


Concluímos, portanto, que qualquer tentativa de assimilar a escravidão descrita no VT com a escravidão que ocorreu no Ocidente Moderno se dá por pura falta de conhecimento da história da Era Antiga e do que está relatado na Bíblia.


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Referências:
1 – “A History of Ancient Near Eastern Law” Vol.1, pg 632. Raymond Westbrook (ed). Brill:2003.
2 – Encyclopedia of Cultural Anthropology Vol. 4,pg 1190f David Levinson and Melvin Ember (eds), HenryHolt:1996.
3 – “A History of Ancient Near Eastern Law” Vol.2, pg 632. Raymond Westbrook (ed). Brill:2003.
4 - Ibidem.
5 – Anchor Bible Dictionary, David Noel Freedman (main ed.), DoubleDay:1992
6 - A History of Ancient Near Eastern Law” Vol.2, pg 632. Raymond Westbrook (ed). Brill:2003.
7 - Anchor Bible Dictionary, David Noel Freedman (main ed.), DoubleDay:1992
8 - A History of Ancient Near Eastern Law (2 vols). Raymond Westbrook (ed). Brill:2003.
9 – Everyday in Ancient Mesopotamia. Jean Bottero (Antonia Nevill, trans). JohnsHopkins:1992/2001.

10 - The Israelites, B.S.J. Isserlin, Thames and Hudson:1998.
11 – Encyclopedia of Cultural Anthropology (4 vols), David Levinson and Melvin Ember (eds), HenryHolt:1996.

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Autor: Glenn M. Miller
Fonte: Christian Think Tank
Adaptado e traduzido por: Erving Ximendes
Via: Olhai e Vivei

[Nota do editor] Para uma análise mais profunda, leia também: 
• FRAME, John. A Doutrina da Vida Cristã, São Paulo - Ed. Cultura Cristã. Págs. 622-630 (Sobre Escravidão).
• BERTI, Marcelo>A Escravidão, a Escritura e a Hermenêutica. Acesso em 28/03/2016.
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Fatos sobre a Páscoa no Antigo e Novo Testamentos

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A páscoa foi instituída por Deus durante o período da escravidão no Egito e serviu como o sinal de libertação do povo da aliança, primeiro, da própria ira de Deus que trouxe a morte dos primogênitos do Egito, mas livrou da morte, pelo sangue do cordeiro pascal, os primogênitos dos israelitas.

Depois da libertação a ocasião foi marcada entre as grandes festas religiosas de Israel e faz parte da Lei Cerimonial do Antigo Testamento, com a obrigação de que todo o povo a celebrasse e cumprisse a cada ano.

Três elementos simbólicos deveriam lembrar os participantes daquele evento fundamental de libertação do povo: as ervas amargas (a amargura da escravidão e o clamor por libertação seriam lembrados – fomos escravos e agora somos livres), os pães asmos (sem fermento, lembrando a pressa da saída e a corrupção do “fermento” que ficou para trás no Egito) e, principalmente, o cordeiro imolado (que foi consumido em cada família e o sangue colocado nos umbrais da porta para que o Senhor não trouxesse a praga destruidora sobre aquela casa; entende-se que o termo pesach seja, então, “passar por cima”)

Esta festa tem uma data fixa: dia 14 de Nisã. A festa tinha uma duração de alguns dias. No dia 10 do mês era escolhido o cordeiro “sem defeito, macho, de um ano”. Ele era guardado até o dia 14 para ser imolado e consumido pelas famílias. No final do dia 14 (iniciando o dia 15), até o dia 21 do mês, por sete dias, era celebrada a festa dos pães asmos. Nestes dias era proibido ter fermento em casa, do primeiro até ao sétimo dia.   

Muitas vezes passa desapercebido ao leitor da Bíblia que nas grandes festas bíblicas havia uma santa convocação e estas são chamadas no texto bíblico de shabbat, (“descanso solene – Lv 23:24) traduzidos para a maioria das línguas como “sábado”, que, para nós, significa o sétimo dia de uma semana corrida. Porém, durante as festas, o shabbat da festa não era correspondente ao sétimo dia semana comum, mas sim, ao dia da convocação deste descanso. Assim, um shabbat de uma festa, por exemplo, poderia cair no sexto dia da semana comum, provocando dois shabbats consecutivos (o que nós chamaríamos de feriadão!).

Para efeito da verdade, e não para controvérsias, em lugar nenhum do Novo Testamento é dito que a crucificação do Senhor foi na sexta-feira, mas no dia anterior ao sábado da festa dos pães asmos (o que poderia ser qualquer dia da semana - Marcos 15:42). Este tema não é novo e é motivo de grandes discussões entre estudiosos, ainda que, no final das contas, a marcação do dia da crucificação seja indiferente para os cristãos (e deveria ser, exatamente para arrancar de nós este misticismo louco que cerca este dia!).

Por que isto? Porque há de se fazer uma clara distinção entre o cerimonial da páscoa judaica, lei cerimonial do Antigo Testamento e que foi celebrada pelo Senhor Jesus (que era judeu e cumpriu toda a lei), festa durante a qual Ele mesmo foi crucificado, sendo Ele mesmo o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e a sua clara ordenança a respeito da páscoa:

Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. (Mateus 26:26-28)

Logo, no cristianismo bíblico, celebramos a páscoa todas as vezes que obedecemos ao mandamento do Senhor e celebramos a Santa Ceia ou Ceia do Senhor. Esta é a nossa páscoa.

Quanto ao ovo e ao coelho, bem, não me parecem estar mencionados no Antigo ou Novo Testamentos.*

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*Ovo de Páscoa
2000 A.C. já era considerado símbolo de fertilidade. Na Ucrânia e, posteriormente, na Inglaterra, começou-se a pintar ovos à mão e presentear alguma pessoas, desejando-lhes fertilidade, vida, etc. No Séc XVIII, os franceses resolveram fazer o ovo de chocolate
*Coelhinho da Páscoa
Também sempre foi um símbolo de fertilidade. Diz a lenda que um pássaro pediu a deusa Eostre que o transformasse em um coelho, tendo recebido o que pedira, voltava todos os anos para presentear Eostre com um ovo.

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Autor: Rev. Mauro Meister
Fonte: O Tempora, O Mores!
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Em respeito ao sacrifício supremo de Cristo, não concordo e não participo de autos de Páscoa

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Nestes dias em que a Cristandade relembra o Sacrifício Supremo de Cristo na cruz, uma prática que tem se tornado cada vez mais comum (no sentido de ser vista em todo lugar) e cada vez mais sofisticada (no sentido de buscar o máximo de realismo possível) é a encenação do sacrifício, morte e ressurreição de Cristo. Igrejas evangélicas e católicas, companhias de teatro comprometidas ou não com a glória de Deus se superam em apresentar cada qual o seu “auto de páscoa”.

A princípio quero deixar bem claro que não estou aqui julgando as intenções de quem quer que seja, até mesmo porque conheço as minhas intenções, mas, não as de outrem. Quero tão somente chamar sua atenção para refletir sobre essa prática, a qual, mesmo cercada de boas intenções tornar-se um escárnio, um desrespeito ao sacrifício mais, santo, mais puro e supremo de todos os tempos, o único sacrifício que pode salvar o pecador e livrá-lo do seu pecado e da condenação eterna que o mesmo merece. Refiro-me ao sacrifício de Cristo.

Como podemos encenar o que Cristo passou ali na cruz? Como podemos descrever Sua dor, tanto física quanto espiritual? Como podemos descrever o significado das palavras: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” ou “Está consumado”?

Certa vez ouvi alguém comentando sobre um desses autos de páscoa feito por uma determinada igreja o seguinte: “Este ano eles se superaram. O cara que fez Jesus na peça fez direitinho; foi muito real. Até parecia Jesus mesmo. Ficou igual àquele auto de páscoa que é feito pelos artistas da TV lá naquela cidade do Nordeste”. Um senso de justiça (e de raiva, para a minha tristeza) tomou meu coração neste instante. “Que ridículo!” exclamei, “como você pode dizer um absurdo desses? Como pode um ser humano pecador, um ator encenando ficar parecido com Jesus? Como você pode dizer um absurdo desses comparando o sacrifício de Cristo à encenação de atores promíscuos e pervertidos?” (referia-me àquele espetáculo boçal lá no Nordeste).

Perceba, caro leitor, a que ponto chegamos. Os evangélicos criticam os católicos com suas procissões, mas, quanta hipocrisia. Os católicos com suas procissões pelo menos fazem isso não como espetáculo, mas, como devoção (exceto quando também se rendem a essa prática nefasta dos “autos de páscoa” teatrais).

Alguém vai me dizer: “Mas, você é muito obtuso e retrógrado. Não vê quantas pessoas são alcançadas pelo Evangelho com esses autos de páscoa?”. E eu devolvo a pergunta: “Quantas dessas conversões permanecem? Quantas produzem frutos dignos de arrependimento e demonstram crescimento posterior?”. Certa feita, num desses autos de páscoa feitos aqui em São José dos Campos, o cara que fez o papel de Jesus na peça, no dia seguinte foi visto num boteco da cidade enchendo a cara de cerveja (detalhe: ele estava até com o mesmo visual hippie-cristianizado). Eu fico com o método de sempre: a pregação por meio da exposição bíblica tal como fizeram os apóstolos de Cristo.

Como podemos fazer teatro com o sacrifício mais sublime e mais terrível em se tratando de sofrimento? Como podemos dar um “realismo” àquilo que não compreendemos em sua profundidade? Ainda que uma companhia teatral conseguisse retratar o sofrimento físico de Cristo, não passaria de um mero teatro, e, se quisesse fazer algo real, com sangue sendo derramado de verdade, com açoites, socos, chutes, cusparadas, coroa de espinho de verdade, o insulto ainda seria maior, pois, pretensiosamente se quereria fazer “igual” a Cristo – que sacrifício pode ser comparado ao Dele? Mas, o que dizer dos tormentos que Cristo sentiu em Seu espírito? Poderíamos nós descrevê-lo? As Suas palavras: “Deus meu, Deus meu por que me desamparaste?” apontam para algo terrível que jamais compreenderemos. Naquele momento, diferentemente do que se pensa, Deus não estava dando as costas para Jesus porque não estava suportando ver aquela cena terrível em que Seu Filho santo estava morrendo na cruz. Não! Naquele momento Deus não voltou Suas costas para Jesus, mas, sim Seu olhar de fúria contra o nosso pecado que Cristo carregava sobre Si. A cruz era o lugar onde os pecados deveriam ser destruídos. Para destruí-los, Deus traspassou Jesus Cristo, tal como disse o profeta Isaías uns 700 anos antes de Cristo: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). Naquele momento na cruz, Cristo suportou a ira de Deus, da qual ninguém poderia livrá-Lo, nem mesmo o próprio Deus porque tinha de ser assim. Ali na cruz, Cristo sofreu as dores do inferno de cada um dos Seus eleitos, ou seja, as dores que sentiríamos eternamente no inferno, Cristo as sentiu e sofreu por nós ali na cruz. Você tem ideia da intensidade dessa dor? Nenhum ser humano tem e por isso mesmo, ninguém pode descrevê-la.

Em respeito ao sacrifício supremo de Cristo, por amor ao Seu amor por mim, não participo, não concordo, não apoio esses autos de páscoa.

Um dia desses numa aula de EBD entramos neste assunto. Uma senhora, membro da nossa igreja (não citarei seu nome pois não tenho sua permissão) fez um comentário que simplesmente fechou o assunto. Ela disse em tom de pergunta: “Pastor, será que as pessoas teriam coragem de fazer teatro com a morte de um ente querido?” e ela mesma respondeu: “Creio que não”. Neste momento lembrei-me do falecimento do meu papai. Deus concedeu aos meus dois irmãos, minhas cunhadas e a mim a oportunidade de estar ao lado do papai no exato momento de sua morte. Sua passagem para a Jerusalém Celestial foi algo lindo e inspirador. Se Deus tivesse me dado a oportunidade de escolher um jeito de morrer, eu certamente queria morrer como o meu papai. Mas, jamais teria coragem de fazer um teatro narrando a sua morte, muito menos ainda teria coragem de fazer um teatro com a morte de Jesus (infelizmente, nos tempos da minha ignorância e infantilidade espiritual até já o fiz, mas, me arrependo amargamente de te-lo feito).

Não espero que você mude de opinião se você não concordo com nada do que eu disse. Tão-somente quero que você pense um pouco: você levaria numa boa alguém fazendo um teatro ou algo parecido com aquele momento de maior sofrimento pelo qual você um dia passou?

Não permita que em nome da sinceridade, da boa intenção em evangelizar, o sacrifício supremo de Cristo se torne um espetáculo carnal. Hoje, a Igreja de Cristo tem a Ceia do Senhor para fazer com que os filhos de Deus celebrem e relembrem o sacrifício de Cristo. Eles não precisam de uma data específica no calendário para isso; basta-lhes serem zelosos em participar da Ceia do Senhor.

Na verdade em amor,

Rev. Olivar Alves Pereira

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Sobre o autor: Olivar Alves Pereira é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Teólogo, Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, professor de Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Ética e História Bíblica, História e Teologia da Igreja, Educação Cristã e Teologia Sistemática, Sociologia e Ensino Religioso em seminários e escolas na região do Vale do Paraíba, também escreveu lições para a revista de EBD para os adultos da Editora Cristã Evangélica. É associado à Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos - ABCB. Na Política sou de Direita Conservadora.
Fonte: Noutesia
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Eu Repudio o Manifesto do Ministério Missão na Íntegra

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Difícil não concordar que o Manifesto "Evangélico" emitido pelo Ministério Missão na Íntegra não seja um documento pró-governo. Mesmo que seu conteúdo tenha um linguajar velado, há em seu texto argumentos que são sistematicamente utilizados pelos grupos favoráveis ao PT. São eles:

1. A defesa do Estado democrático de direito, no qual dizem estar sendo atacado.
2. Parcialidade da imprensa e alarmismo midiático.
3. Respeito aos que elegeram a Dilma pela via democrática.

O que fica de fora no referido manifesto é:

1. Uma postura de condenação a já confirmada conduta imoral do atual governo nomeando o ex-presidente Lula a um cargo de ministro para obstrução da justiça.
2. Que o processo de Impeachment é legal, constitucional e em nada compromete o Estado democrático de direito, muito pelo contrário, ele o corrobora frente às irregularidades de quem foi confiado pelo voto a presidir eticamente a nação.
3. Que até mesmo pessoas que votaram no atual governo estão arrependidas e endossam o pedido de impeachment. Pesquisa recente do Datafolha demonstra que 69% classificam o governo Dilma como ruim ou péssimo.

Sendo assim, o manifesto vai de encontro ao clamor da maioria dos brasileiros e ainda desqualifica o legítimo e - dada as atuais circunstâncias - até mesmo urgente processo de impeachment (que, diga-se de passagem, não significa que vá derrubar a Dilma, pois a mesma tem direito de defesa e só seria impedida de governar constatando-se as irregularidades de sua gestão).


Mas esse tipo de discurso é conhecido daqueles que militam ou simpatizam com o pensamento da esquerda. O Pr. Franklin Ferreira, em seu recente livro, Contra a Idolatria do Estado, denuncia esse tipo de arquitetura argumentativa. Diz ele:

(...) outro aspecto do esquerdismo é somente tolerar crítica ao partido-Estado em dois casos: se elas vierem de seus quadros ou se alvejarem igualmente o “outro lado”, ou seja, a direita – de representação inexistente no Brasil. Essa seria uma prova de suposta “neutralidade” política, uma noção epistemológica profundamente ingênua e moralmente errada. Essa “isenção” no debate é apenas um jeito de ficar do lado do dono do muro.¹

Se posicionar favorável a um governo que além de corrupto e corruptor, é também detentor de uma agenda político-ideológica que em diversas esferas é antagônica ao que ensina o Evangelho, mostra como que determinadas correntes teológicas – neste caso, a Teologia da Missão Integral – tem sido influenciadas por uma ideologia que macula o ethos do cristianismo e mantém um ponto idolátrico que deve ser denunciado por todo aquele que anela pela sã doutrina. Se nós somos cristãos e temos os nossos pressupostos baseados na Escritura, logo, não podemos abraçar uma doutrina concorrente ao cristianismo. Ainda mais quando esta corrente enxerga a religião, ou melhor, a metafísica como sendo um produto da opressão, uma vez que os oprimidos a inventaram como um entorpecente que alivia a dor (ópio). Isto é pregado pelo Marxismo, ideologia-base do partido do atual governo. Todavia, endossamos que a doutrina cristã não foi fabricada. Ela é a revelação de Deus por meio do seu Filho, trazendo boas novas de salvação. Não que ela negue que existam opressores e oprimidos, essa realidade existe e se lermos os profetas, os evangelhos e as cartas apostólicas, veremos que Deus está sempre do lado dos pobres quando os ricos não agem corretamente e tolhem a justiça, devido a sua ganância. 


Marx, junto com Engels, criou uma soteriologia ao anunciar o fim da opressão quando o proletariado se rebelar contra a burguesia e tomar o poder político e econômico, controlando os modos de produção e a máquina estatal. É um enredo religioso-escatológico, pois a sociedade sem classes e sem miséria certamente chegaria (Marx tinha esperanças de ver isso ainda no séc. 19). A certeza deste mundo idílico é fruto de sua tese na luta de classes. Segundo Marx e Engels, toda a história se resume no conflito entre opressores e oprimidos, sendo que este segundo grupo, cansado da exploração acaba fazendo a revolução e subvertendo a ordem vigente. Logo, o governo do proletariado iria dar um basta no capitalismo burguês. O que os marxistas não esperavam é que o Capitalismo aliado à democracia cativava mais os trabalhadores do que o ideal revolucionário.

Defender o atual governo é depositar as esperanças de melhoria social no Estado, elevado a categoria de redentor das classes menos abastadas. Deixo-vos novamente com as palavras do Pr. Franklin Ferreira:

Nas Escrituras não há um único texto que apoie a ideia de que o cristão deve depositar a esperança no poder do Estado ou ser subserviente a um governo autoritário ou totalitário. A mensagem poderosa do evangelho (Rm 1.16), que tem o poder de produzir mudança social profunda, não depende do poder ou do controle do Estado.²

Eis o motivo para repudiarmos o posicionamento dos que subscreveram o manifesto em defesa do atual governo, chegando ao ponto de deslegitimar o processo de
impeachment e o grito das ruas, dando a entender que era um grito manobrado pela imprensa e por gente “mal intencionada”. O conteúdo do manifesto chega a alertar para que o clamor por justiça não se torne em injustiça, caso o atual governo venha a ser derrubado (é ou não é uma forma eufemística de dizer “não vai ter Golpe”, tal como fazem os correligionários petistas?).

Devemos protestar contra um mau governo. Devemos exercer nossa cidadania, de maneira pacífica, ordeira, tal como cabe aos santos se portarem. Mas não devemos nos calar, pois, omissão frente ao mal é colaborar com o mesmo. Não devemos ser cúmplices de um governo imoral e profanador daquilo que professamos crer. Contento-me em subscrever a declaração emitida por pastores, teólogos e líderes evangélicos que estiveram presentes no 10º Congresso de Teologia Vida Nova, nos dias 15 a 18 de março de 2016, em Águas de Lindoia, São Paulo. Eis um trecho: “Repudiamos o silêncio eloquente daqueles que, em nome de uma agenda ideológica iníqua, se eximem de fazer crítica profética a partir das Escrituras e, com isso, contribuem para a corrosão do estado democrático de direito”. 

Acrescentaria dizendo que não apenas o silêncio, mas o apoio eloquente de uma agenda (ou governo) iníqua deve ser repudiado. Eu repudio o Manifesto do Ministério Missão na Íntegra por entender que este não coaduna com a postura cristã frente a um governo corrupto. E você? 


Oremos por nossa pátria! Oremos por nossas igrejas! 

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Notas:
[1] FERREIRA, Franklin. Contra a Idolatria do Estado: o papel do cristão na política. São Paulo, Vida Nova-2016. p. 117.
[2] Ibidem. p. 121.

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Sobre o autor: Thiago Oliveira é graduado em História e especialista em Ciência Política, ambos pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (Funeso). É casado e atualmente pastoreia a Igreja Evangélica Livre em Itapuama/PE.
Divulgação: Bereianos
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O Esquerdismo e o Evangelho

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Recentemente [Algum tempo atrás], um conhecido líder evangélico definiu-se ideologicamente da seguinte maneira: “Sou um pensador independente, de esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista. Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados”. [veja aqui]

Causa-me espanto que um homem que se diz “de Deus” seja tão rápido em enfileirar-se nas trincheiras da teologia da libertação, como se ela se constituísse leitura fiel do Evangelho, sem, no entanto, aperceber-se das claras divergências entre ambos. Pelo menos foi o que ficou evidente.

Com base nesta percepção, gostaria de fazer as seguintes considerações:

1. O Evangelho não está restrito a uma classe social

Uma das pessoas mais mal compreendidas do mundo é o Senhor Jesus. Em seu nome muitos abusos foram e ainda são praticados. Um deles é restringi-lo à pobreza e à miséria. Na verdade, o Evangelho não defende a pobreza, ele defende unicamente a glória de Deus e a vitória de seu Filho para a salvação dos eleitos, sejam eles riquíssimos, medianos, pobres ou miseráveis financeiramente. Nesse contexto há cinco considerações importantes. Em primeiro lugar, Jesus recebeu e conviveu com ricos, além de freqüentar a casa dos publicanos, indivíduos censuráveis, não por terem recursos financeiros, mas pela maneira como enriqueceram. Em segundo lugar, o próprio conceito de pobreza não está restrito às posses materiais. Mt 5: 3 menciona acerca dos pobres de espírito, enquanto o próprio rei Davi, em meio à sua fortuna, afirmou no Sl 40:17: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” Em terceiro lugar, a defesa bíblica dos pobres ocorre no contexto da Aliança de Deus com o seu povo, ou seja, é o pobre crente que recebe as promessas dos cuidados divinos para a sua penúria. Em quarto lugar, o problema levantado pelas Escrituras não estava na riqueza, mas no apego a ela que promovia o orgulho, o egoísmo e o desprezo pelos necessitados. Em quinto lugar, condicionar as Boas Novas aos pobres, portanto, é permitir que a falta de recursos seja, em si mesma, santificadora do homem. O Evangelho não defende os pobres nem os marginalizados, pois o pobre sem Cristo será condenado, assim como o rico com Cristo será salvo.

2. A esquerda é, em essência, contra a moralidade divina

A esquerda defende uma liberdade pecaminosa ao homem. Não importa se se trata do Democratic Party americano, do Bloco de Esquerda português, do Sozialdemokratische Partei Deutschlands alemão ou do PSOL brasileiro, o alvo principal é o mesmo. A luta em favor do aborto, do feminismo, do homossexualismo, do divórcio, da compartimentação radical da sociedade, do uso de células-tronco embrionárias etc. são claramente contra a Lei de Deus. Se, historicamente, alguns segmentos da direita cometeram abusos, os da esquerda, de igual modo, cometeram também. O que determina tal posição é o humanismo em detrimento do teísmo (o mesmo ocorre com a teologia relacional, o neopentecostalismo e, obviamente, a teologia da libertação).

3. Toda cúpula governamental é abastada

Este é outro ponto que os esquerdistas não entendem. Os líderes da esquerda clássica vivenciaram a opulência e o conforto financeiro diante da miséria social. O próprio Fidel Castro é um exemplo clássico disso, sem falar de Hugo Chávez ou Evo Morales. Todos estão encastelados devorando faisões enquanto seus patrícios morrem por migalhas. Mas não são apenas estes que vivenciam o usufruto de bens materiais, até mesmo os homens de Deus sérios que ocuparam cargos públicos gozaram da riqueza e do conforto como foi o caso de Davi, de Salomão, de José e de Daniel.

4. Cuidar dos pobres é uma parte do cumprimento da Lei

Há vários textos que alertam o crente quanto ao cuidado aos necessitados. Mas isto não ocorre para que haja uma transformação social radical. Isto é utopia. Aliás, “nunca deixará de haver pobres na terra” (Dt 15: 11). A responsabilidade do crente está em partilhar daquilo que Deus concede generosamente, pois nada é nosso, tudo é d'Ele. A riqueza não deve embrutecer ou criar a sensação de auto-suficiência, pois em tudo dependemos da graça. Por isso, somos obrigados a servir ao próximo, inclusive com o bolso. É nesse contexto que o Evangelho promove mudanças na sociedade, embora isso não seja o alvo principal.

Além de tudo o que acima foi exposto, é preciso ressaltar que o esquerdismo manifesto na Teologia da Libertação lê as Escrituras com um programa de mudança social, isto é, a interpretação que ela faz do Evangelho pretende ser apenas uma justificativa para as práticas políticas voltadas à sociedade. Afinal, para a Teologia da Libertação, a leitura é uma “produção de sentido” onde leitor constrói o significado do texto.

Concluo dizendo que “ser de esquerda” e “ser cristão” estabelece uma grande contradição, cuja síntese – se é que isso exista – sempre prejudicará o Evangelho e contribuirá maciçamente para com a esquerda. Ser cristão é não pertencer ao mundo, é ser peregrino, é ser louco para com os inteligentes deste mundo.

SOLA SCRIPTURA

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Autor: Rev. Alfredo de Souza é pastor presbiteriano e historiador social. Casado com Sandra e pai de dois filhos: João e Ana.
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Política sob Perspectiva Reformacional: O Motivo Básico Cristão

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O que conhecemos como motivo básico cristão é a linha histórico/redentiva de: Criação/Queda/Redenção. A importância dessa questão se expande por toda teologia reformada como uma importante questão para uma hermenêutica redentiva. O relevante livro: A Missão de Deus, de Christopher J. H. Wright, nos mostra que há uma linha hermenêutica missional nas Escrituras, sua abordagem é uma excelente defesa do método histórico/redentivo para uma perspectiva missional. Podemos dizer que o lastro é bem maior que não se aplica somente ao pensamento missiológico ou a teologia da missão, mas, o motivo básico cristão se aplica as mais variadas áreas da teologia e da cosmovisão cristã e a todas as atividades exercidas pela igreja. 

Muito se tem debatido no Brasil sobre questões políticas devido aos freqüentes escândalos envolvendo importantes nomes do governo nacional. O crescimento da inflação causa interesse no povo pela informação econômica, o fato é que quando temos alterações em nossos bolsos é quando nos interessamos mais em entender de economia, na verdade, na maioria das vezes perdemos o tempo, a banda passou enquanto o país estava numa doce ilusão semelhante a Alice nos País das Maravilhas. Enquanto era dito que os cofres públicos estavam muito bem, obrigado, e muito da riqueza do país estava indo para vários lugares menos para o crescimento do país, enquanto não afetava diretamente os bolsos do povo, as multidões nesse Brasil varonil não se preocupavam com política, nem com o que se estava fazendo com verbas e mais verbas em apoio a conchavos políticos na América Latina, com interesses escusos que são uma realidade quase sendo esfregada no rosto de cada brasileiro. Enfim, perdoe-me a divagação, mas, o crescente interesse político por um dos lados é porque estamos sendo extremamente prejudicados diretamente. Mas, por outro lado, existe um crescente interesse de cristãos, principalmente jovens, por política. O que preocupa é que tais interesses não são regados por um olhar teológico e, consequentemente, acarretará erros na formação de um pensamento político. 

Podemos exemplificar isso de forma muito simples, a teologia reformada tem trabalhado questões relacionadas à cosmovisão cristã de forma muito importante, isso é resultado da ênfase dada pelos reformadores na vocacionalidade dos crentes ou ao que conhecemos como sacerdócio universal de todos os crentes. Essa vocação se estende a todas as áreas de atuação da vida e conhecimento humano. Francis Schaeffer dizia que o Marxismo é uma heresia cristã porque tem um fim soteriológico que é empregado no proletariado que atua como um messias que trará a igualdade através da revolução. Temos aqui uma substituição do Cristo como libertador, resgatador, redentor dos eleitos. Temos uma distorção da redenção. 

Ao termos o motivo básico cristão: criação - queda - redenção, podemos avaliar toda e qualquer ideologia ofensiva ao homem pelo homem. Quando o ideal criacional é subjugado por ideologias que acabam tendo também um motivo básico que confrontam com o motivo cristão, o sistema entra em colapso com a realidade última do telos humano. Ao termos uma substituição do conceito de queda, se corrompe o conceito de justiça na sociedade e quebra o sentido de juízo do crime e da maldade, seja pelo poder despótico, seja no âmbito civil/jurídico. E ao substituirmos o conceito redentivo, teremos um messianismo ideológico que tomará assento soberano com ideologias totalitárias, detonando os conceitos de liberdade seja na religião, educação, economia, arte, etc. Quando o conceito da redenção é substituído por uma ideologia, automaticamente temos um ato idolátrico.

Toda cosmovisão está fundamentada em um motivo básico, por isso toda ideologia tem reais intenções redentivas, alterando o sentido de pecado e, provavelmente, o transferindo para um outro ponto que representará a culpa que não seja o próprio homem, mas, a fatores externos e que não estão sob seu controle. A solução para esse ideário será uma alternativa redentiva, como no caso do marxismo que totalitariza o Estado, ou no caso do Liberalismo que põe o homem entronizado. Temos, como segue, um exemplo disso.


Veja que a visão Totalitária tem o Estado como cabeça, na análise das demais visões vemos que o motivo básico é evidentemente corrompido também. Ao corromper a perspectiva criacional também, se corrompe o conceito de queda e redenção e se sobrepõe esses conceitos, com alternativas que tomam o lugar deles, mas, exercendo a mesma função na cosmovisão. Como nos diz o professor David T. Koysis:

A maior parte dos movimentos políticos tenta recrutar entusiastas com lemas concisos e populares que ficam bem na faixa e soam bem nos lábios de que marcha pelas ruas. “Liberté, égalité, fraternité!” “Vida, liberdade e busca da felicidade!” “Trabalhadores do mundo inteiro, uni-vos” “Todo poder para o povo!” Estas bandeiras têm a vantagem de ser facilmente compreendidas, de simplificar o que é complexo em vista de uma finalidade política. Contudo, elas também enganam seus potenciais seguidores, levando-os a crer que a salvação é um assunto simples – mera questão de, por exemplo, proclamar a emancipação, garantir os direitos do povo, decretar a prosperidade universal ou legislar para acabar com a pobreza, a opressão, os sem-teto e assim por diante. Junto com tudo isso, vem também a tendência a pressupor que fazer justiça significa apenas remover os obstáculos que se interpõe no caminho dela; depois disso, a “sociedade justa” surgirá sem nenhum esforço, como que por encanto. Talvez o exemplo mais famoso dessa filosofia seja o postulado marxiano de que um breve episódio revolucionário pelo qual o proletariado exproprie os bens da burguesia poderá produzir imediatamente a sociedade sem classes. [1]

Não poderemos ter uma correta percepção se, como cristãos, não identificarmos o motivo básico que rege a vida humana e todas as esferas que a cercam. Fica claro que, quando temos uma falsa concepção do homem e do que ele é e em seu estado alocado num contexto social e psicológico apontado pela realidade descrita nas verdades da revelação de Deus, que é a única forma que o mostrará quem realmente ele é ontologicamente, pelo fato de que, ao se retirar da conjuntura social o conceito bíblico de Queda temos uma erupção de desordem e um alargamento da maldade descontrolada, temos uma barbárie.

Diferenças na visão da natureza humana refletem-se em diferenças na visão dos processos sociais. Isso não significa apenas que os processos sociais são vistos como atenuadores das fraquezas da natureza humana em uma visão e como agravadores em outra. A própria forma de funcionar e de não funcionar dos processos sociais é vista de modo diferente [...] Os processos sociais englobam uma enorme gama de elementos, do idioma à guerra, do amor aos sistemas econômicos.[2] 

Ainda podemos nos aperceber disso, de forma mais clarificada, no que nos diz o filósofo holandês Herman Dooyeweerd:

O Motivo básico da religião cristão – criação, queda e redenção por meio de Cristo Jesus – opera por meio do Espírito de Deus como força motriz na raiz religiosa da vida temporal. Assim que toma conta de nós por completo, promove uma conversão radical da nossa posição diante da vida e de toda a concepção da vida temporal. A profundidade dessa conversão só pode ser negada por aqueles que não conseguem fazer justiça à integralidade e do caráter radical do motivo básico cristão. Aqueles que atenuam a antítese absoluta, buscando inutilmente ligar esse motivo básico cristão aos das religiões apóstatas, acabam de fato tomando parte nessa negação.
Mas aqueles que, pela graça, chegam ao verdadeiro conhecimento de Deus e deles próprios, inevitavelmente vivenciam a libertação espiritual do jugo e do fardo do pecado sobre a concepção que têm da realidade, mesmo sabendo que o pecado não deixará de existir em suas vidas. Eles percebem que nada na realidade criada fornece alicerces nem uma base sólida para a existência. Compreendem como a realidade temporal e seus aspectos e suas estruturas multifacetadas e cheias de nuances estão concentrados como um todo na comunidade  básica religiosa  da dimensão espiritual da humanidade. Veem que a realidade temporal procura incansavelmente sua origem divina no coração humano, e compreendem que a criação não pode descansar até que ela descanse em Deus.[3] 

A compreensão e a defesa de que a teologia reformada faz do motivo básico, bem como de uma cosmovisão que tem suas raízes na teologia do pacto, são a melhor alternativa teológica para uma leitura de mundo genuinamente cristã. O calvinismo tem refletido numa base teológica solidificada pelas Escrituras e que Deus é soberano sobre a criação e sobre todas as esferas que existem nela, que Ele mesmo criou e designou o homem para cumprimento dos mandatos da criação. Portanto, observando toda e qualquer ideologia político/social, notamos uma deformação dos mandatos criacionais – Espiritual, Social e Cultural. Kuyper nos elucida sobre as teses calvinistas de governo:

1 - Somente Deus – e nunca qualquer outra criatura – possui direitos soberanos sobre o destino das nações, porque somente Deus as criou, as sustenta por seu grande poder, e as governa por suas ordenanças.
2 - O pecado tem, no campo da política, demolido o governo direto de Deus, e por isso o exercício da autoridade com o propósito de governo tem sido subsequentemente conferido aos homens como um remédio mecânico.
3 - E, em qualquer forma que esta autoridade possa revelar-se, o homem nunca possui poder sobre seu semelhante em qualquer outro modo senão por uma autoridade que desce sobre ele da majestade de Deus.[4]
A Soberania das Esferas é a forma ideal de compreendermos o motivo básico cristão de Criação – Queda – Redenção. Mas, vejamos então o que é Soberania das Esferas, nos diz Solano Portela que

Em resumo, ele ensina que cada instituição criada por Deus (a família, a escola, o estado), possui uma área específica de autoridade e regência, ou seja, são esferas bem delimitadas e específicas.
Isso não significa que tais esferas sejam autônomas. Ainda que independentes, cada uma deve responder a Deus, o doador desta autoridade. A soberania de cada uma quer dizer que elas não devem usurpar ou interferir na autoridade da outra esfera. Cada uma dessas esferas, autoridades em si, é responsável por sua missão e pelas suas ações, na providência divina, perante Deus.
Por exemplo, no caso de uma escola cristã, ela deve entender que não usurpa a autoridade da família, nem da igreja. Muito menos substitui essas outras esferas, mas deve trabalhar conjuntamente, em colaboração e respeito. A esfera da escola, e nisso ela tem autoridade, é ministrar conhecimento, sendo responsável, perante Deus, de transmitir esse conhecimento reconhecendo o Criador em todas as áreas do saber.[5]

Com esse esclarecimento podemos ilustrar a importância do motivo básico cristão da seguinte forma:



Nos diz o falecido teólogo bíblico do Antigo Testamento Gerard Van Gronigen que

Era para o homem e a mulher exercitarem suas prerrogativas reais governando sobre o cosmos, desenvolvendo-o e simultaneamente mantendo-o. Todas as formas de vida na terra foram, de forma específica, colocadas sob a supervisão dos vice-gerentes humanos. Com esta responsabilidade, veio o privilégio de usar plantas, seus frutos e sua semente para manter a vida e a energia para realizar as tarefas reais. A humanidade poderia responder obedientemente ao mandato cultural para a glória de Deus por causa da sua criação à imagem e semelhança de Deus. Deus, por meio da sua exposição deste mandato, colocou a humanidade em um relacionamento de governador sobre o domínio cósmico. Mas este governo envolvia trabalho. O trabalho é, consequentemente, tanto um privilégio real como também uma responsabilidade.[6]  

Essa é a importância de compreendermos a política a luz das Escrituras, há um mandato cultural que envolve nossa atividade nas esferas criadas por Deus, essa responsabilidade cultural não se esvaiu com o pecado, certo é que após a queda o pecado afeta totalmente a percepção de mundo, sobre a vontade de Deus que Adão e Eva tinham, o que sua semente teve e o que temos hoje, toda maldade, depravação moral, aversão a religião e a verdade é decorrente do pecado. Ao identificarmos que Deus é criador e soberano e que em todas as esferas deve ser Ele glorificado, precisamos entender um pouco mais sobre a Soberania das Esferas e sua relação com o Estado.

Num sentido calvinista nós entendemos que a família, os negócios, a ciência, a arte e assim por diante, todas as esferas sociais que não devem sua existência ao Estado, e que não derivam a lei de sua vida da superioridade do Estado, mas obedecem uma alta autoridade dentro de seu próprio seio; uma autoridade que governa pela graça de Deus, do mesmo modo como faz a soberania do Estado.
Isso envolve a antítese entre o Estado e a Sociedade, mas com a condição de não concebermos esta sociedade como um conglomerado, porém como analisada em suas partes orgânicas, para honrar, em cada uma destas partes, o caráter independente que pertence a elas. 
Neste caráter independente está necessariamente envolvida uma autoridade superior especial, a que intencionalmente chamamos de soberania nas esferas sociais individuais, a fim de que possa estar claro e decididamente  expresso que estes diferentes desenvolvimentos da vida  social nada tem acima deles exceto Deus, e que o Estado não pode intrometer-se aqui e nada tem a ordenar em seu campo. Como vocês imediatamente percebem, esta é a questão profundamente interessante de nossas liberdades civis.[7]  

As Esferas de Soberania nos mostram e garantem a liberdade das instituições civis e também o dever para com Deus que é o soberano sobre todas as esferas sociais. Gostaria de destacar aqui alguns pontos importantes no pensamento de Kuyper sobre uma teoria política reformada calvinista. 

- A Liberdade: O calvinismo levou a lei pública a novos caminhos, primeiro na Europa Ocidental, depois nos dois Continentes, e hoje mais e mais entre todas as nações civilizadas, é admitido por todos os estudantes científicos, se não ainda, plenamente pela opinião pública. 

- A Visão Abrangente da Soberania de Deus: Este princípio dominante não era, soteriologicamente, a justificação pela fé, mas, no sentido cosmologicamente mais amplo, a Soberania do Deus Trino sobre todo cosmos, em todas as suas esferas e reinos, visíveis e invisíveis. Essa é uma soberania primordial que se irradia na humanidade numa tríplice supremacia, a saber:

• A Soberania do Estado
• A Soberania da Sociedade
• A Soberania da Igreja

Portanto teremos alguns princípios do mandato cultural, relacionados à política.

1 - Deus é o grande Soberano e todo governo pertence a Ele;
Todo governo humano deve estar submisso a Deus, pois seu poder foi delegado por Ele próprio; 
2 - Todo governo deve atentar para os mandamentos de Deus, tais mandamentos são a expressão da vontade de Deus, seja por expressa aplicação ou aplicação por princípio;  
3 - A humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus, por isso deve ser governada com dignidade, liberdade e integralidade.

Conclusão

O crescente interesse pela política no Brasil, também por parte de cristãos, tem se dado ao estado caótico da moral parlamentar e do desmoronamento econômico no país com grandes escândalos recorrentes como mensalão, petrolão e tudo que tem decorrido das mazelas da ideologia socialista que tem herdado o Brasil. O calvinismo tem uma teoria política que pode atender a uma demanda para esse país, precisamos de crentes versados nas ciências sociais e teologicamente orientados para lerem suas áreas de conhecimento com lentes bíblicas e centralizadas em Cristo e na redenção. O motivo básico cristão é a melhor forma de contribuirmos para um crescimento no país. A Igreja deve estar envolvida nisso e sair do gueto teológico e aplicar sua teologia a realidade do mundo, devemos debater, estudar, mas, devemos empregar isso e não nos perdermos em discussões que não saem da internet, da academia e dos seminários. A Igreja pode fazer algo, atentemos para a Escritura. 

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Notas:
[1] Visões e Ilusões Políticas, ed. Vida Nova, 2014, p.319. 
[2] Thomas Sowell, Conflitos de Visões – Origens Ideológicas das Lutas Políticas, p. 83 – Ed. É Realizações 
[3] Herman Dooyeweerd, Raízes da Cultura Ocidental, Ed. Cultura Cristã, 2015, p.55. 
[4] Abraham Kuyper, Calvinismo, Ed. Cultura Cristã, 1ª edição 2002, p.92 
[5] Solano Portela, Artigo publicado no blog – O Tempora, O Mores. 
[6] Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, vol.1. Ed. Cultura Cristã, p.90. 
[7] Calvinismo, p.98. 

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Autor: Thomas Magnum
Divulgação: Bereianos
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