Expiação Limitada

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Por Leonardo Dâmaso

Texto base: Rm 5.8-11

Introdução

Expiação limitada é o terceiro dos 5 pontos do calvinismo, e é uma doutrina que se desenvolveu especificamente na tradição reformada. Ao contrário do que muitos pensam, não foi Calvino quem escreveu esta linha doutrinária. Os 5 pontos do calvinismo são apenas uma parte, e não um resumo de toda a doutrina de Calvino baseada nas Escrituras.

Estes 5 pontos foram elaborados somente 54 anos após a sua morte (1509-1564) pelo Sínodo de Dort, “composto de 84 teólogos, 18 representantes seculares, 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e outros países da Europa reunidos em 154 Sessões, desde 13 de novembro de 1618 até maio de 1619”.1

Contudo, o objetivo de se ter formulado os 5 pontos do Calvinismo era de responder e questionar o documento apresentado pelos “discípulos do professor reformado de um seminário holandês chamado Jacob Arminius (1560-1600), que tinha sérias dúvidas quanto à graça soberana de Deus, visto que era inclinado aos ensinos de Pelágio e Erasmo, no que se refere à livre vontade do homem”.2

No entanto, os alunos de Arminius que formularam este documento (os 5 pontos do arminianismo) tinham em mente mudar os símbolos oficiais das doutrinas das Igrejas da Holanda, que se apoiavam na Confissão Belga e no Catecismo de Heidelberg, substituindo assim pelos ensinos de Arminius. Em contra partida, a razão pela qual os 5 Pontos do Calvinismo foram elaborados.

Todavia, a doutrina da expiação limitada salienta a obra da redenção realizada por Cristo através de sua morte na cruz. Não obstante, Jesus se ofereceu como o único e perfeito sacrifício pelos pecados para satisfazer a justiça de Deus, sofrendo a ira divina, tornando-se maldição e morrendo no lugar de pecadores. Em suma, é “a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”.3

Esta doutrina também tem como base a doutrina da predestinação, onde se diz que, desde toda a eternidade, antes do mundo vir a existir, e antes que houvesse a queda, Deus escolheu para si um número limitado de pessoas para salvar (Ap 5.9), enquanto o restante é “entregue” aos seus próprios pecados e, por fim, como punição pela desobediência ao Senhor a morte eterna (Rm 1.18-21, 24-32; 6.23).

“A palavra expiação é usada muitas vezes no Antigo Testamento. Além de ser um termo teológico muito incomum”4, significa um “ato ou efeito de expiar; o cumprimento da pena ou castigo que se reputa equivalente à culpa ou delito de alguém.

Significa remir culpas ou delitos pelo cumprimento de pena; ou seja, sofrer as consequências de alguém, cumprir a pena que reabilita uma pessoa, e por fim, purificar”.5 Vejamos uma ilustração como exemplo que elucida esta verdade sobre a expiação:

“Se um homem não pode pagar uma dívida que tem com o banco, mas se um amigo voluntariamente paga esta dívida por ele, então, esta dívida é coberta e o homem está livre de toda obrigação. Esta é a idéia da expiação”6 e literalmente o que Cristo Jesus fez pelos seus escolhidos na obra da redenção pagando a dívida que tínhamos com Deus.

Explanação

Para que possamos compreender de forma crível todo o conteúdo que compõe a doutrina da expiação limitada, precisamos saber em:

1. O motivo da expiação

Qual foi a razão que levou a Cristo se abdicar de toda a sua glória, vindo a este mundo em forma de homem, nascer do ventre de uma mulher tendo de passar por todo o processo de nascimento, crescimento e desenvolvimento humano e sofrer todas as nossas limitações, fraquezas e tentações que nos assolam, ser perseguido, maltratado e, por fim, morto?

“Por qual motivo Deus operou deste modo para realizar seu fim e cumprir seu propósito? Por que o sacrifício do filho de Deus? Por que, ao morrer, morreu a morte maldita da cruz”? 7

Indubitavelmente, o motivo da expiação foi “afetar a relação de Deus com o pecador, o estado e a condição de Cristo como o Autor Mediatário da salvação, e o estado e a condição do pecador”.8 Contudo, o motivo da expiação é caracterizado por estes 2 pilares:

a) O imensurável amor de Deus.

Podemos ver o amor de Deus explícito como a fonte da expiação nesta passagem em pauta:

João 3.16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Esta passagem denota o quão grande amor Deus teve para com o “mundo perverso e pecador”.9 A expressão de tal maneira não se encontra no grego, mas podemos entender não somente por essa passagem, mas por todo o Novo Testamento, especificamente sobre os textos que abarcam a missão de Jesus, a intensidade do amor de Deus.

O amor de Deus é algo que não se pode medir. A atitude de dar o seu único filho para morrer no lugar e em favor de pecadores (Rm 5.8), para que aqueles que acreditarem em Cristo como o salvador e filho de Deus não serem condenados à morte eterna, mas terem a vida eterna é tremendo!

b) A Sua justiça.

Além do amor de Deus ser o motivo da expiação (Jo 3.16; Ef 2.4), todavia, a justiça de Deus também faz parte deste epítome. A justiça de Deus requeria que Ele “encontrasse o meio para que a penalidade por causa dos nossos pecados fosse paga. Deus não poderia nos aceitar em comunhão consigo mesmo a menos que a penalidade fosse paga.”10

Esta foi à razão pela qual Deus enviou a Cristo para fazer a propiciação. O sacrifício que aplacaria a ira de Deus contra nós por termos ofendido a sua santidade pelos nossos pecados foi transferido para Jesus. Nós que merecíamos todo o sofrimento que Cristo passou a cruz e por fim a morte (Ez 18.4; Rm 6.23). 

Porém, o Senhor se fez maldito por nós sendo imputado sobre si os nossos pecados, suportando a ira de Deus e morrendo na cruz derramando o seu sangue carmesim para que Deus se tornasse propício em nosso favor. Fomos reconciliados com Deus para termos comunhão com o Senhor mediante Cristo pelo Espírito Santo e glorificá-lo em toda a nossa vida.

Romanos 3.25-26 – A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impune os pecados anteriormente cometidos; Tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.

Na versão da NBV podemos entender melhor o que Paulo quis dizer nessa passagem. Senão vejamos:

Romanos 3.25-26 – “Deus foi quem enviou a Cristo Jesus para levar o castigo pelos nossos pecados, e assim pôr fim à ira de Deus contra nós. Ele usou o seu sangue para, mediante a fé, nos salvar da sua ira. Deste modo, Ele foi justo, mesmo não tendo castigado aqueles que pecaram em tempos passados. Isto porque aguardava a chegada do dia quando Cristo viria e apagaria os pecados anteriormente cometidos”.11 (veja Rm 5.9-11).

2. A necessidade da expiação

Será que não haveria outra forma de Deus salvar a humanidade sem a necessidade da expiação? Era realmente preciso Jesus morrer em nosso lugar?

Indubitavelmente, sabemos pela doutrina da eleição incondicional, o segundo ponto do calvinismo, que o homem não escolhe se voltar para Deus através do seu livre arbítrio, mas é Deus que escolhe salvar quem Ele quiser pela sua “livre e soberana graça”12 independentemente das obras (Ef 2.8; Jo 6.44; 10.24-28; 15.16; 17.6-9,20).

“Contudo, salvar homens perdidos não era necessidade absoluta, mas bondade soberana de Deus”.13 “Portanto, a expiação não foi absolutamente necessária, mas, como conseqüência da determinação de Deus de salvar pessoas, a expiação tornou-se absolutamente necessária”.14 Esta é a visão da expiação chamada de necessidade absoluta.

No entanto, como Deus não era obrigado abrir a porta da salvação a ninguém, devido à necessidade absoluta, a expiação se tornou necessária. “Uma vez que foi proposta, a salvação deveria ser assegurada por meio da satisfação que poderia ser conquistada somente pelo sacrifício substitutivo e pela redenção comprada pelo sangue”.15

Heber Carlos de campos complementa esta verdade acerca da necessidade absoluta dizendo que em Hebreus 2.17 Cristo “teve que experimentar as coisas próprias de um ser humano, ou seja, limitações, fraquezas e tentações.

Ele teve de sofrer para entender as coisas relativas à misericórdia e tinha de ser fiel para ser um sumo sacerdote perfeito. Para que isso viesse acontecer, o redentor teve de passar por um processo de aprendizagem”.16 Também em hebreus é mencionado que é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados (referência aos rituais de purificação do AT) (10.4) e que um sacrifício superior é requerido (9.23).  

Conclui-se, então, que somente o sacrifício de Cristo é eficaz para aniquilar completamente o pecado (9.26), e que não havia outro modo pelo qual Deus pudesse salvar pessoas a não ser pela morte de Jesus em nosso lugar.

3. A natureza da expiação

Acerca deste tema, que trata de forma indelével sobre a obediência de Cristo, que é descrita como obediência ativa e passiva, veremos que nestes 2 aspectos estão inseridos “as categorias mais especificas com que as Escrituras apresentam a obra expiatória de Cristo, que são sacrifício, propiciação, reconciliação e redenção”.17

John Murray corrobora que “a distinção entre a obediência ativa e passiva não é a despeito de tempos.

Deve-se descrever toda a obra de obediência de nosso Senhor em cada fase e período, como ativa e passiva, e deve-se evitar o engano de pensar que a obediência ativa se aplica em sua vida, enquanto a obediência passiva em seu sofrimento final e morte. O uso e o propósito legítimos dessa fórmula servem para enfatizar 2 aspectos da obediência vicária de Nosso Senhor”.18 Senão vejamos:  

a) A obediência ativa

Este termo trata especificamente sobre a obediência de Cristo por nós. Como é impossível para o homem obedecer totalmente a Deus, Jesus teve de viver durante toda a sua vida aqui na terra em total obediência a lei de Deus em nosso favor (Fp 2.8), “de modo que os méritos positivos de sua obediência perfeita pudessem ser atribuídos a nós” 19 (Rm 5.19). Isso é o que chamamos de obediência ativa.

b) A obediência passiva
      
Este segundo termo ressalta que “Cristo tomou sobre si os sofrimentos necessários para pagar a penalidade pelos nossos pecados”,20 como havia sido profetizado em Isaías 53.3 sobre a vinda do Messias, o qual seria um homem de dores e experimentado no sofrimento. Hebreus 5.8-9 diz-nos que mesmo sendo Filho, aprendeu a obediência por aquilo que padeceu. E tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.

Os sofrimentos durante toda a vida de Jesus como fraquezas, limitações, tentações, rejeição e oposição dos homens, a dor psicológica de suportar o pecado e a culpa como se Ele mesmo pecasse, a dor física da crucificação, o abandono do Pai na cruz, a dor de suportar a ira de Deus contra o pecado e o pecador e por fim a morte, é que fizeram de Jesus o perfeito salvador.

Por outro lado, a obra da expiação tem inúmeros efeitos sobre nós. Veremos agora os 4 efeitos da expiação, os quais eu mencionei anteriormente que são o sacrifício, a propiciação, a reconciliação e a redenção. “Estes 4 termos mostram como a morte de Cristo satisfez as 4 necessidades que temos como pecadores”.21

a) Sacrifício: Cristo morreu em nosso lugar como substituto e pagou a penalidade da morte que merecíamos por nossos pecados contra Deus (Hb 9.26). 

b) Propiciação: Para que a ira de Deus contra o pecado e contra nós (pecadores) fosse aplacada e removida, Cristo morreu em nosso favor, propicio a nós (1Jo 4.10).

c) Reconciliação: Para que a parede que nos separava de Deus fosse derrubada (Ef 2.14-18), e a barreira que nos impedia de ter comunhão com Deus fosse removida (Is 59.2), era preciso que alguém intervisse em nosso favor, nos reconciliando novamente com Deus (2Cor 5.18-19).

d) Redenção: Como pecadores somos escravos do pecado e de satanás”22 (Jo 8.34; Rm 6.16; Ef 2.2-4), por isso era necessário que alguém nos redimisse dessa escravidão.

Redenção traz a idéia de um resgate, que é “o preço pago para redimir alguém da escravidão ou do cativeiro”23. É de vital importância ressaltar que Cristo não pagou resgate algum a satanás e muito menos ao pecado, e também não digo que foi a Deus, porque não foi Ele que nos manteve na escravidão, mas satanás e nossos pecados.

Cristo comprou e buscou a redenção, e, portanto, nos “é suficiente saber que o preço foi pago e aceito por Deus (a morte de Cristo), e o resultado foi termos sido redimidos da escravidão”.24  

4. A extensão da expiação

A pergunta crucial que envolve a síntese da extensão da obra expiatória é esta: Por quem Cristo morreu? “No lugar de quem Cristo se ofereceu como sacrifício”25? Mediante a esta pergunta, existem inúmeras passagens nas Escrituras referente à morte de Cristo, onde é afirmado que a expiação “aparentemente” foi universal, ou que a morte de Cristo foi por todas ou muitas pessoas ou pelo mundo todo.

No entanto, se analisarmos detalhadamente todo o contexto em geral sobre a questão da morte de Cristo, veremos que a expiação não foi universal, mas foi limitada ou particular. Em outras palavras, Jesus não morreu por todas as pessoas e nem pelo mundo inteiro.

Embora o sangue de Jesus derramado na cruz fosse “suficiente para cobrir os pecados de todos os homens e para satisfazer a justiça de Deus contra todo o pecado, ele efetua a salvação somente aos eleitos”.26 A expiação se reduziu ou foi eficazmente aplicada somente para algumas pessoas a quem Deus escolheu salvar.

Outro fator importante que envolve a extensão da expiação é que ela também abrange os não eleitos, que desfrutam dos benefícios da morte de Jesus, no que se refere as bênçãos físicas e materiais, dentre outras coisas (Mt 5.45). Isto é o que chamamos de “graça comum” ou “providência geral”. 

Outra questão agora está em pauta – Como interpretar as diversas passagens onde é mencionado que Cristo morreu por todas as pessoas e pelo mundo todo?

Tanto os cristãos arminianos quanto os cristãos reformados concordam que “o sangue de Cristo é suficiente, em valor, e que sua morte vicária é de valor infinito aos olhos de Deus, e é eficiente ou eficaz somente em relação aos eleitos. Atualmente, o ponto de vista arminiano da expiação universal não é sustentável.

Não obstante, a única saída dos arminianos para dizer sobre os que rejeitam a Cristo é dizer que a vontade de Deus é frustrada pelo homem, porque Cristo, ao que pressupõe, morreu por todos os homens aos quais Deus quis salvar, porém, não pôde fazê-lo”27, devido ao “livre arbítrio” que o homem possui em escolher ou não se voltar para Deus.

Todavia, sabemos pelas Escrituras que só Deus possui o livre arbítrio, e que esta linha de interpretação contradiz totalmente a doutrina da eleição. Vamos analisar algumas passagens onde os termos muitos e mundo aparecem e comprovar que estes a textos, apesar de favorecer outra interpretação, falam acerca da expiação limitada.

Senão vejamos: (Is 53.4-12; Mt 26.28; Mc 10.45; Jo 1.29; Jo 3.16; Rm 5.7-10; 1Cor 15.3; Gl 1.3-4; Tito 2.14; 1Jo 2.1-2; Hb 2.9; Ap 5.8-9; Mc 4.11-12; Jo 10.11,15, 26-28; Jo 17.6-9, 19-21...)

Conforme estas passagens e várias outras, vemos que “a bíblia utiliza expressões que são universais em forma, mas que não se referem a todos os homens no sentido distributivo e inclusivo.

Palavras como mundo e todos, expressões como cada um e todo homem nem sempre significam, nas Escrituras, todos os membros da raça humana”;28 mas sim, à universalidade e diversidade dos eleitos espalhados por todo o mundo, e à inclusão dos gentios também na obra da expiação.

Nessa mesma linha de pensamento, Ronald Hanko afirma que “o que tais passagens ensinam é que Cristo morreu por todos os homens sem distinção, não por todos os homens sem exceção. Em outras palavras, tais passagens ensinam que Cristo morreu por todos os tipos de homens (1Tm 2.6a), por todos que estão nEle (1Cor 15.22), ou pelo mundo de seu povo, isto é, por seus eleitos de todas as nações”.29

Por isso cai por terra a teoria de que Jesus morreu por todos os homens mesmo que todos não sejam salvos. Seria o mesmo que dizer que a obra de Cristo no projeto da salvação não foi perfeita, sendo assim ineficaz, e que o sangue de Jesus foi derramado em vão por alguns que não o querem. Contudo, seria necessário acrescentar algo a mais para ajudar a Jesus, a saber, a livre escolha do homem. 

Não obstante, a expiação limitada não é um meio que pode vir tornar possível a salvação, mas sim, é um meio que fez, faz e fará possível a salvação de todos os eleitos que foram predestinados para ela por nosso Deus e Pai. Aleluia!

Conclusão
  
5. A perfeição da expiação

Cristo não veio fazer os pecados expiáveis; Ele veio para expiar pecados!

Hebreus 1.3 – Depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da majestade, nas alturas.

Cristo não veio para fazer Deus reconciliável, Ele reconciliou Deus conosco por meio de seu sangue.30

“A expiação é uma obra completa, jamais repetida ou passível de repetição”.31 “Ela é a provisão eterna do amor no coração de Deus”.32 Ela não força nem constrange o amor de Deus; antes, o amor de Deus constrange a expiação, que se fez instrumento para a realização do propósito determinado do amor”.33

A obra expiatória foi perfeita em todos os aspectos e alcançou o seu objetivo. Cristo não morreu por todos os homens! A expiação é limitada! A redenção é particular! Só a noiva eleita de Cristo (a igreja) é o objeto do amor de Deus no plano da salvação”.34  

Efésios 5.25b – Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela...

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Notas:
1.Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism 
2. Duane E. Spencer, TULIP, Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras, pág 111-112, Parakletos.
3. Teologia sistemática Wayne Grudem, pág 259.
4. Gise J. Van Baren. Expiação limitada.
5. Dicionário Priberam da língua portuguesa.
6. Gise J. Van Baren. Expiação limitada.
7. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 12.
8. Louis Berkhof. Teologia sistemática, pág 386.
9. Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé.
10. Wayne grudem. Teologia sistemática, pág 271.
11. NVB.  
12. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 13.
13. Ibid.
14. Wayne grudem. Teologia sistemática, pág 272.
15. Turretin, Francis. Institutio Theologiae Elencticae, Livro XIV, Q.X; Thornwell, James Henley. “The Necessity of the Atonement”, em Collected Writings, vol II (Richmond, 1886), pág 205-261; Stevenson, George. A Dissertation on the Atonement (Filadélfia, 1832), pág 5-98; e Hodge, A.A. The Atonement (Londres, 1868), pág 217-222.
16. Heber Carlos de Campos. As Duas Naturezas do Redentor, pág 109-110.
17. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 19.
18. Ibid, pág 21.
19- Wayne grudem. Teologia sistemática, pág 273.
20. Ibid, pág 274.
21. Ibid, pág 278, 279.
22. Ibid.
23. Ibid.
24. Ibid.
25. R.C. Sproul. Eleitos de Deus, pág 152.
26. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 55.
27. Duane Edward Spencer. Artigo sobre a Expiação Limitada.
28. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 53.
29. Ronald Hanko. Doctrine according to Glodiness, Reformed free publishing Association, pág 155-156.
30. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 47.
31. Ibid.
32. Ibid, pág 48.
33. Hugh Martin. The Atonement: in Relations to the Covenant, the Priesthood, the Intercession o four Lord (Edimburgo), pág 19.
34. Duane Edward Spencer. Artigo sobre a Expiação Limitada.

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Fonte: Bereianos
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Os Perigos do Sectarismo Religioso

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Por Thomas Magnum


O Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, sob a influência da hipocrisia de homens mentirosos, que têm a consciência insensível.” I Tm 4.1,2.

A admoestação do Apóstolo Paulo ainda é pertinente para nossos dias, é de considerável urgência uma reflexão séria e bíblica sobre o sectarismo religioso.

Introdução

Sectário - Pertencente ou relativo a seita. sm 1 - Membro ou aderente de uma seita religiosa. 2 - Pessoa que segue outra no seu modo de pensar, ou lhe obedece cegamente; partidário, sequaz. 3 - Membro de um partido, que o segue e defende com facciosismo. 4 - Partidário apaixonado, intransigente, faccioso.[1]

Diante de tal definição, compreendemos como sectarismo a atitude decorrente de um indivíduo ou grupo sectário.

Entendemos como seita, um grupo dissidente e divergente do que comumente se prega em doutrinas religiosas ou filosóficas. Diante de tal realidade, a multiplicação de pensamentos religiosos, decorrentes do cristianismo ortodoxo, iremos abordar os efeitos maléficos de grupos separatistas que saíram da igreja cristã por conta de heresias.

Deve ficar claro que não estamos tratando aqui de denominações evangélicas que tem comunhão nos pontos centrais do cristianismo, como: A trindade de Deus, A divindade de Cristo, A divindade e pessoalidade do Espírito Santo, na inspiração, inerrância e suficiência das Escrituras, na segunda vinda de Cristo.

O Impacto Sociológico

Ao observarmos a aderência e a permanência de pessoas em grupos sectários, é notório o fator de isolamento. Quando o individuo é levado a “fé” no que o grupo ensina, ele é doutrinado a crer que somente seu grupo está correto e que os ensinos ali passados são realmente o que Deus quer para seu povo. Ligado a isso, vem à questão afetiva dentro do grupo, o adepto é agora inserido em um novo contexto social que realmente existe "amor", inexistente em outas religiões. Então, o próximo passo ao doutrinamento do novato é o afeto. Um terceiro ponto que podemos observar no sectarismo de tais grupos é o legalismo. A obediência cega aos líderes é fundamental para o "desenvolvimento" espiritual do fiel. Nessa submissão, incluímos a proibição ou recomendação, como dizem eles, de lerem algo que esteja fora dos ensinos da organização religiosa pertencente. Geralmente, isso inclui até a Bíblia, alegando a velha falácia romana de que somente os sacerdotes podem interpretar os ensinos sagrados ao povo. O que tais grupos sabem da Bíblia são versículos soltos, que aprenderam em treinamentos internos para evangelizarem os "pagãos". O carisma é outro fator que devemos destacar do ponto de vista social das seitas. Tais grupos possuem liderança carismática; com isso falamos de retenção de poder profético e gigantismo espiritual, através de gurus que se camuflam com nomenclaturas cristãs como: Profetas, Apóstolos, Bispos, Patriarcas e uma quantidade imensurável de títulos.

O Efeito Camaleão

As seitas tem efeitos camaleônicos e se infiltram entre os verdadeiros cristãos. Dr. Walter Martin, certa vez, relatou a presença de Testemunhas de Jeová nas cruzadas de Billy Graham, para enlaçarem os convertidos no evento e levarem para os Salões do Reino.[2] Outros exemplos claros são grupos musicais de seitas heréticas, que arrebatam muitos evangélicos com propósitos proselitistas, como grupos e cantores adventistas e o grupo Voz da Verdade que é unicista. Diante de tudo isso, vemos o crescimento de grupos sectários e a multiplicação de heresias dentro dos arraiais evangélicos, por três motivos básicos:

          • Imaturidade Espiritual
          • Subversão Espiritual
          • Soberba Intelectual

As ideias sectárias atingem mais as personalidades sugestionáveis, instáveis, sem fundamento doutrinário e sem sentido crítico. A seita é como um ramo que se desprendeu da árvore; originou-se como um protesto que considerava errado na igreja mãe. Para as seitas as igrejas perderam o sentido autêntico e o conhecimento verdadeiro das Escrituras.[3]

O Aspecto Doutrinário

Podemos identificar alguns aspectos doutrinários em grupos sectários:

          • Afirmam uma nova revelação dada por Deus
          • Reivindicam poder espiritual
          • Pregam a apostasia da igreja cristã
          • São proselitistas
          • Rejeitam as principais doutrinas da fé cristã histórica

Esses são apenas alguns pontos listados aqui, podemos apontar também os aspetos antropológicos.

Aspectos Antropológicos

O grupo exerce domínio sobre a mente do indivíduo, seus líderes pensam por ele, dirigem sua vida. Se o adepto resolver abandonar o grupo, ele corre o risco de perder amigos, família, ou seja, perde sua vida social. Esse é o fator mais traumatizante para quem abandona um grupo herético. São conhecidos vários fatos de pessoas que foram ameaçadas e torturadas psicologicamente em tais grupos, que infelizmente não estão distantes de nós, inclusive em igrejas que professam serem evangélicas, reivindicam exclusividade de salvação e se orgulham exageradamente do nome de sua denominação. Pessoas que são oprimidas por costumes legalistas e que não tem respaldo nenhum nas Escrituras, mas, são fruto de delírios de homens, como disse Paulo: 

Sabe, porém, que nos últimos dias haverá tempos difíceis; pois os homens amarão a si mesmos, serão gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, incapazes de perdoar, caluniadores, descontrolados, cruéis, inimigos do bem, traidores, inconsequentes, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus, com aparência de religiosidade, mas rejeitando-lhe o poder. Afasta-te também desses. Porque entre eles estão os que se intrometem pelas casas e conquistam mulheres tolas carregadas de pecados, dominadas por várias paixões; que estão sempre aprendendo, mas nunca podem chegar ao pleno conhecimento da verdade. E à semelhança de Janes e Jambres, que resistiram a Moisés, eles também resistem à verdade. São homens de entendimento corrompido e reprovados na fé. Mas eles não irão adiante, pois sua insensatez será revelada a todos, assim como aconteceu com aqueles.” 2Tm 3.1-9.

Conclusão

Além de todos os danos listados aqui, não poderíamos deixar de incluir os psicológicos e espirituais. Existem pessoas que saíram de seitas ou de grupos neopentecostais que, mesmo depois de anos, sofrem os efeitos maléficos de tais mestres da mentira. Pessoas que tiveram suas personalidades assaltadas e suas vidas emocionais destruídas, seus afetos destroçados e suas mentes controladas. Muitas vezes, o motivo do avanço das heresias é o comodismo e descompromisso de igrejas cristãs, com membros fracos ou sem nenhum ensinamento Bíblico. Portanto, precisamos voltar às Escrituras, cultos de doutrina, treinamentos Bíblicos, seminários de doutrinas, fóruns e debates sobre seitas e heresias.

Antes, reverenciai a Cristo como Senhor no coração. Estai sempre preparados para responder a todo o que vos pedir a razão da esperança que há em vós. Mas fazei isso com mansidão e temor, tendo boa consciência, para que os que caluniam o vosso bom procedimento em Cristo fiquem envergonhados naquilo de que falam mal de vós.” I Pe 3.15,16

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Notas:
[1] Dicionário Michaelis
[2] O Império das Seitas - Walter Martin
[3] Resistindo as Tempestades das Seitas – Tácito da Gama Leite 

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Divulgação: Bereianos
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Evangelismo sem apelo

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Por Aaron Menikoff


Cinco anos atrás, eu preguei meu primeiro sermão como pastor da Mount Vernon Baptist Church. O ministro de música me abordou antes do culto com uma pergunta. Ele queria saber como eu faria o apelo.

Eu estava confuso. Antes daquela manhã de domingo, eu havia estado nessa igreja três vezes e nunca vi ninguém fazer apelo. Eu assumi que a igreja havia decidido há muito tempo abandonar a prática. Eu estava errado.

Na verdade, minha igreja tinha um costume histórico de fechar o culto com um apelo a vir ao altar para se unir à igreja, a entregar a vida novamente ao Senhor ou a fazer uma profissão de fé pública. Os três domingos que eu estive presente foram exceções à regra! De fato, muitos dos membros chegavam a entender que o apelo era o meio primário que a igreja usava para alcançar os perdidos. Eles viam o apelo como sinônimo de evangelismo.

Por que não fazer apelo?

Tenho certeza de que muitos que fazem apelo têm as melhores intenções. No início dos anos noventa, eu frequentei uma igreja cujo pastor terminava o culto convidando cada um na congregação a fechar os olhos e curvar as cabeças. Em seguida, ele convidava qualquer um que quisesse receber a Cristo a levantar a mão e olhar para o púlpito. Por cerca de trinta segundos o pastor observava o salão, notava as mãos levantadas e, com uma voz calma e tranquilizante, dizia: “Sim, irmão, eu vejo você. Muito bom, irmã. Amém”, etc. Creio que esse pastor queria o melhor para aqueles desejosos.

No entanto, estou convencido de que o apelo faz mais mal do que bem. A prática de conceder às pessoas imediata garantia de salvação — sem ter o trabalho de testar a credibilidade da profissão delas — parece, na melhor das hipóteses, insensata, e na pior, escandalosa. É insensata porque o pastor não é capaz de conhecer suficientemente a pessoa que ele está prestes a afirmar como cristã. É escandalosa porque substitui a porta estreita e apertada designada pelo nosso Salvador (Mc 8.34; Mt 7.14) por uma porta larga e espaçosa designada por nós. Com a melhor das intenções, aqueles que praticam o apelo deram a pessoas não salvas a falsa confiança de que elas realmente conhecem Jesus. [1]

Mas isso não é tudo. O apelo tem a tendência de colocar o foco da congregação no lugar errado. Após a Palavra ser pregada, tanto membros quanto visitantes devem examinar seus próprios corações. Todos devem dar séria atenção a como a mensagem o chama a responder. Contudo, o apelo, ironicamente, tende a produzir a resposta oposta. Em vez de autoexame, ele leva ao exame dos outros. As pessoas olham para os lados imaginando quem irá à frente. E se ninguém se move? Imagina-se que o pastor falhou? Ou pior, que Deus tirou o dia de folga?

Essas são apenas algumas razões pelas quais penso que é insensatez usar o apelo como evangelismo.

Como evangelizar sem apelo

Como um pastor que rejeita o apelo deve pensar sobre evangelismo em um culto público? Em outras palavras, como um culto marcado pelo zelo evangelístico deve se parecer? Aqui vão sete respostas pelas quais me empenho ao máximo nos cultos que dirijo:

1. Seja diligente

Seja diligente. Embora não haja nada mais importante para um pregador do que a fidelidade à verdade do evangelho, a diligência deve vir logo após. Deus usa homens cujos corações são convencidos pela tragédia do pecado e a realidade da salvação. Até que a doutrina da maravilhosa graça de Deus tenha se estabelecido no sangue do pregador, ela nunca flamejará em seus lábios.

2. Seja claro a respeito do evangelho

Seja claro a respeito do evangelho. Toda passagem da escritura é um texto do evangelho. Em todo livro de Ester, o nome de Deus nunca é mencionado, e ainda assim sua obra está em cada página. Um pastor que quer ver pecadores salvos ensinará fielmente a Bíblia, mostrando à sua congregação como a pessoa e a obra de Cristo é o assunto de cada texto.

3. Chame as pessoas ao arrependimento e à fé

Chame as pessoas ao arrependimento e a crer. Existe um lugar em cada sermão em que o pastor deve convidar os pecadores a encontrar esperança em Cristo. Tão frequentemente ouço sermões que terminam com um chamado à mordomia, um chamado ao risco, um chamado à fidelidade — mas nem sequer uma vez um chamado a Cristo. O pregador deve cuidadosa e apaixonadamente instar seus ouvintes a arrepender-se e crer nas boas novas, a submeter suas vidas ao Cristo Rei.

4. Crie espaço para conversas de acompanhamento

Crie espaço para conversas de acompanhamento. Quando eu prego o evangelho durante meus sermões, quero que os incrédulos saibam que estou ansioso para falar mais da fé que acabo de compartilhar. Assim, me disponibilizo após o culto para conversar a respeito do evangelho e suas implicações.

Outros pastores com os quais tenho conversado convidam os desejosos a uma sala especial após o culto para orar ou conversar. Spurgeon disponibilizava duas tardes de terça-feira por mês para aconselhar desejosos e recém-convertidos.[2] Como quer que você decida fazer, dê oportunidades para as pessoas conversarem mais pessoalmente a respeito do que você acaba de pregar.

5. Ofereça estudos evangelísticos

Ofereça estudos evangelísticos. Eu frequentemente aviso aos desejosos que eles estão convidados a comparecer a um estudo curto e franco que explica as bases da fé cristã. O estudo que eu uso é o Christianity Explained, um estudo de seis semanas pelo Evangelho de Marcos publicado pela Good Book Company. Cheguei à conclusão de que essa é uma introdução inestimável ao evangelho. De fato, o treinamento em como liderar esse estudo se tornou uma classe de extrema importância em minha igreja.

6. Dê muita importância aos batismos

Dê muita importância aos batismos. É claro, batismos já são muito importantes. Nós devemos reconhecer que cada batismo é uma oportunidade de mostrar à congregação que Deus está operando ao edificar sua igreja.

Em nossa igreja, nós pedimos que cada candidato ao batismo compartilhe seu testemunho com a congregação. Eu nunca exigi isso, mas ninguém nunca disse não. Esses novos cristãos são ardentes para testificar da graça de Deus, e os desejosos são levados a questionar sua própria resposta ao evangelho.

7. Ore

Finalmente, ore. Na oração pastoral e até na oração final, eu regularmente oro para que os desejosos se arrependam e creiam no evangelho. Eu oro para que eles submetam suas vidas a Cristo, vencendo quaisquer obstáculos que veem no caminho. Eu oro para que Deus se faça conhecido por atrair para si pecadores hoje mesmo.

Como você pode observar, eu não faço apelo na igreja em que sirvo, mas eu apelo todo domingo que pecadores venham a Cristo. Que desejemos ver santos em nossas congregações encorajados pelo evangelho e desejosos convencidos de sua necessidade de se arrepender e crer nas boas novas de Deus.

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Notas:
1. Para um tratado detalhado dos perigos do apelo, leia Erroll Hulse, The Great Invitation: Examining the Use of the Altar Call in Evangelism (Audoban Press, 2006) e D. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores (Editora Fiel, 1976), capítulo 14.
2. Arnold Dallimore, A New Biography (Banner of Truth, 1985), 80.

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Fonte: 9Marks
Tradução: Alan Cristie
Revisão: Renata do Espírito Santo
Via: Ministério Fiel | Voltemos ao Evangelho
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Como a Graça Controla o Chamado

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Por Abraham Booth (1734-1806)


O fato de Deus graciosamente escolher um povo para Si, dentre toda a raça humana pecadora, não é inicialmente conhecido pelos que são escolhidos. Eles nada sabem a respeito do assunto antes de se converterem. O Espírito Santo, portanto, precisa realmente chamá-los um por um, ou eles jamais saberão que são filhos de Deus! Esta experiência é conhecida nas Escrituras como "chamados por Deus" (I Cor. 1:9); "chamados pela graça" (Gal. 1:15); "chamados pelo evangelho" (II Tess. 2:14). O Espírito Santo serve-Se do evangelho para efetuar esse chamamento.

Os pecadores estão espiritualmente mortos. Eles aceitam a verdade do evangelho só quando o Espírito Santo os vivifica. "Os mortos ouvirão. . . e os que ouvirem viverão" (Jo. 5:25). O pecador recém-despertado talvez se sinta longe de Deus, porém, o evangelho diz: "... o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora" (Jo. 6:37). Assim, o pecador espiritualmente vivificado vem a Jesus, confiando na verdade do evangelho. Esta é, em suma, a experiência de quem é chamado pela graça. O fato de qualquer pecador ser chamado deve-se inteiramente à graça divina. "Deus chamou-me por Sua graça", disse Paulo. E nenhum santo jamais alegará outra causa.

Os pecadores, em geral, consideram suas ofensas contra Deus mais como falhas do que como crimes. Eles dormem em seus pecados, sonhando com uma misericórdia geral que, (esperam), lhes seja outorgada. Eles jazem inconscientes de seu perigo, até que o Espírito de Deus os toca e os convence de sua pecaminosidade. Mas quando eles são levantados da morte espiritual pelo Espírito de Deus, aprendem repentinamente que cada um de seus pecados os coloca sob a maldição de Deus. Os deveres negligenciados, as boas dádivas de Deus ingratamente usadas, os atos de rebelião cometidos contra Deus assediam a mente do pecador recém-despertado e perturbam sua alma. A consciência aguça o seu ferrão e a culpa se torna um peso. Ele vê que a santa lei de Deus é justa. A ruína passa a ser vista como inevitável para os pecadores não perdoados.

Daí, pelo Espírito e pela palavra da verdade, os pecadores despertados aprendem que são incapazes de escapar da lei de Deus por qualquer esforço próprio. Esta convicção os torna alarmados por não terem percebido antes sua ignorância e indiferença. Agora eles sabem que as Escrituras são verdadeiras quando atribuem ao homem natural a condição de um "cão que retorna ao seu vômito", a uma "porca lavada que retorna ao espojadouro de lama" (II Ped. 2:22) e a "um sepulcro aberto" (Sal. 5:9). Ao invés de viverem cada momento no ininterrupto e vibrante amor de Deus, como a lei divina exige, eles viveram — oh vergonha! — inteiramente voltados para o amor de si mesmos e para o pecado. Certamente a lei de Deus é justa! "Maldito é todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las" (Gal. 3:10). Uma vez que não permaneceram, eles são de fato malditos.

Ora, deve ser claro que tais pessoas admitirão prontamente que qualquer esperança para elas só será possível se Deus for misericordioso.
A graça, como meio de salvação, está inteiramente à disposição de qualquer um que reconhece seu demérito aos olhos de Deus.

Diante disso, poderíamos pensar que um pecador despertado para sua necessidade correria para receber uma salvação tão graciosa. Verdade maravilhosa! Espantoso favor! Que mais se poderia esperar? No entanto, a observação mostra que os pecadores despertados são, às vezes, muito lentos para receber este conforto. Isso acontece não porque a graça de Deus é deficiente, nem porque a salvação é de algum modo incompleta, e sim porque freqüentemente o pecador acha que ainda não teve bastante consciência do seu pecado, ou porque sente que ainda não deseja Cristo suficientemente. Isso evidencia que ele ainda compreende mal a glória da salvação pela graça.

Nossa convicção de pecado ou o desejo de termos Cristo como nosso Salvador não persuade a Deus a ser gracioso para conosco. São experiências necessárias para nos tornar desejosos de receber a graça, mas não são necessárias para levar Deus a ser gracioso conosco. É a graça que controla o ato de Deus quando Ele nos chama, e não o nosso montante de tristeza por causa dos pecados, nem o quanto desejamos ser salvos. Precisamos cuidar que não desejemos as misérias da incredulidade, a fim de obtermos permissão para crer.

O chamado do evangelho é para pecadores infelizes que, de si mesmos, nada têm em que possam confiar. Aquele que verdadeiramente crê em Cristo precisa confiar nEle como Justificador do ímpio (Rom. 4:5). O pecador que se sente, de algum modo, melhor do que o ímpio, não é encorajado a buscar a Cristo, e sim o pecador que sabe que é tão culpado quanto todos os outros! "Não vim chamar os justos", disse Jesus, "mas os pecadores ao arrependimento" (Mat. 9:13).

A base da esperança do crente e a fonte de sua alegria espiritual não decorrem do pensamento que ele fez alguma coisa para merecer sua própria salvação (chame isso de "crença" ou o que você quiser), mas das verdades de que a salvação é de graça e de que o Salvador "veio salvar o que se tinha perdido" (Mat. 18:11). Um crente depende da graça que não exige mérito, e de um Salvador que supre toda a justiça necessária.

Consciente, então, de que está na mesma situação de culpa de todos os outros ímpios do mundo, o pecador despertado está convencido de que seu chamado se deve exclusivamente ao fato de Deus lhe ter sido gracioso. Ele não conhece outra razão para isso. Ele está plenamente persuadido de que Deus deu o primeiro passo. Quando ele pensa na experiência de ter sido despertado para reconhecer sua necessidade espiritual, ele diz: "Eu fui achado por Aquele a Quem nem amei nem procurei".

Ser chamado por Deus é puramente um ato de Sua graça. Ter consciência de que a graça discriminativa de Deus te particularizou e te chamou, embora você não fosse diferente de todos os outros pecadores, deve encher o teu coração de gratidão cristã. Este fato encherá o teu coração de grande incentivo para piedosa obediência e serviço cristão fervoroso.

Que direi a você que ainda não foi chamado? Se você deixar este mundo no estado em que está, estará perdido para sempre. Só os que são chamados aqui, são glorificados lá. Não suponha que o conhecimento dos fatos do evangelho poderá te salvar, se o teu coração está frio e sem qualquer sentimento de amor a Deus. Que vantagem haverá para você se deixar entre teus amigos a lembrança de um respeitável caráter, e você mesmo for perdido? Queira Deus que este não seja o caso com os meus leitores!


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Fonte: The Reign of Grace
Tradução: Josemar Bessa
Fonte: Josemar Bessa

Legalismo

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Por Rev. Ericson Martins


Durante uma viagem missionária no interior do Pará, fomos abordados por um dos membros da equipe que perguntou qual o significado do legalismo? Em resposta, dissemos ser um sistema de crenças falaciosas que convence e induz o homem a cumprir, com esforço excessivo, a lei de Deus ou as leis civis. Depois disso, passamos a pensar por alguns dias sobre outra pergunta: Não é legitimamente bíblico lutar contra a natureza pecaminosa, esforçando-se para viver em fidelidade aos conselhos de Deus?

Embora essa última pergunta pareça defender o legalismo, tal como fora descrito, o propósito deste texto é apresentar a perspectiva bíblica sobre o tema, visando dirimir a confusão que muitas vezes fazemos quanto ao legalismo e a confiança na graça de Deus, afetando negativamente certos aspectos da vida cristã. A salvação não pode ser obtida por obras, mas as obras é uma exigência da fé verdadeira (Tg 2:18).

1. Introdução.

A palavra “legalismo” tem origem no Latim (legalis, relativo à “lei” + ismo como sufixo que dá forma ao substantivo e denota “sistema”). No Antigo Testamento a palavra “lei” é traduzida de towrah (hb.), carregando o sentido de “instrução” e “direção” (cf. Êx 12:48-51). Já no Novo Testamento é traduzida de nomos (gr.) e significa “norma” ou “regra de ação” (BW9, cf. Mt 5:17). Tanto para Grécia quanto para Roma, nomos era o deus Daemon/Gênius, guardião da justiça entre os homens que exigia fidelidade às normas de Zeus/Júpiter (SMITH, p. 174-175). Os leitores neotestamentários estavam familiarizados com o aspecto religiosamente pagão de nomos, mas muito mais com o seu significado legal na cultura teocrática de Israel. A lei de Deus, superior a todas as demais, fora estabelecida para ser cumprida rigorosamente em todas as dimensões da vida (Lv 26:12-18; Dt 11:26-8). 

A lei de Deus reflete a retidão do seu perfeito ser, que é soberanamente santo e justo (Dt 32:4). Ao violar a aliança de Deus, deixando de obedecer a sua lei, o homem se meteu no pecado (Ec 7:29 cf. Gn 3:17-19) e por ele foi corrompido quanto ao seu estado original, passando a viver os efeitos mortificantes da sua relação com o Criador. Desde então, ele tem sido chamado por Deus à santidade, através da obediência fiel aos seus preceitos (Lv 20:7).

A “fidelidade” é, por definição (“fé”), a “firme” ou “estável” confiança em Deus (Js 24:14; Tt 2:10) e, certamente, o seu propósito final encontra-se além do cumprimento externo de determinadas normas. A “justiça”, do mesmo modo, é o direito de cumprir a lei e ser aprovado (At 10:34-35; 1 Jo 3:7). Noé entendeu isso (Gn 6:9 e 7:1; Hb 11:7), bem como Abraão (Gn 26:4-5; Hb 11:8). Moisés reivindicou isso do povo (Dt 4:1-8). E Jesus veio para cumprir justamente toda a lei de Deus, a fim de salvar o homem (Mt 5:17) da condenação por causa do seu pecado.

Jesus disse que provamos amar a Deus quando conhecemos a sua palavra e a obedecemos (Jo 14:21). Ele quer que sejamos fiéis nesse compromisso de aplicar os seus ensinos para a nossa santificação! Entretanto, isso é impossível sem a operação do Espírito Santo, pois é ele quem nos ensina, aplicando eficazmente verdades que nos restauram e nos consolam (Jo 14:26) frente às pressões mundanas do nosso tempo, até que Cristo volte. Sem a obra do Espírito Santo que inicialmente nos revivifica e nos santifica, qualquer que seja o nosso esforço de santificação será improdutivo para a glória de Deus.

2. O legalismo, a salvação e a santificação.

O legalismo é distinto da fidelidade, pois o legalismo tem o seu foco nas normas, enquanto a fidelidade na pessoa que as estabeleceu. O legalismo, nesse sentido, despreza a graça divina e tenta conquistar o mérito de ser aceito por Deus mediante o seu pretenso esforço religioso. Isso pode inicialmente parecer nobre, contudo a Bíblia ensina que boas ações não podem fazer uma pessoa justa, visto que a condição humana está totalmente incapacitada para produzir qualquer justiça que altere a sua condição diante de Deus (Gl 2:16; Ef 2:1; Cl 2:13). A salvação é obra exclusiva da graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo. Submeter confiantemente a nossa vida à Deus, arrependidos dos nossos pecados, é o que a Bíblia exorta a fazer (At 17:30). Só fazemos isso quando recebemos a graça de Deus pelo mérito de Jesus, e o Espírito Santo nos concede a vida eterna, que é a garantia da salvação. Este é o princípio de uma vida de obediência.

O contrário dessa verdade bíblica ou a sua má compreensão, produz no homem um falso senso de auto-importância por sua suposta fidelidade a Deus (Pv 25:27; Lc 18:11-12; Rm 12:3), convencendo-o de que a salvação, bem como a santificação, é resultado do seu esforço e merecimento (Lc 17:10; Rm 3:9-12). Deus sempre condenou o orgulhoso, o que confia em sua própria bondade e o que espera receber a graça de Deus na base dos seus atos admirados pelos homens (Lc 18:9; Rm 9:30-33). 

Ademais, o legalismo sempre coloca a ênfase no externo em detrimento do interno (1 Sm 15:22). Ele despreza a graça de Deus e concentra os seus esforços para transformar primeiramente o homem exterior, ou seja, os seus comportamentos, os seus vícios, as suas palavras, os seus maus hábitos, as suas amizades, etc (Cl 2:20-23), mas negligencia o fato de que antes o Senhor vê o coração. Jesus confrontou os fariseus com o fato de que, embora eles tenham feito um grande esforço para limpar os seus copos e pratos, se esqueceram de limpar os seus corações, que eram cheios de rapina e perversidade (Lc 11:37-41). Por isso, o legalista tende a julgar os outros (Mt 7:1-5), pois pensa que a sua justiça, que é baseada em méritos pessoais (larga experiência, títulos acadêmicos, poder econômico, cargos elevados na hierarquia do poder) excede a dos demais.

É importante ressaltar que obedecer a Deus jamais tem denotação negativa e deve ser buscada constantemente. E ela, nem sempre, é interpretada como legalismo, pois a genuína evidência da fé verdadeiramente em Jesus se dá através das obras (Tg 2:18). Ao abalar esse alicerce estaríamos estimulando o relaxamento generalizado das responsabilidades pessoais que a própria santificação envolve.

Aquele que reconhece a sua dependência da graça de Deus a todo instante, é humilde em seus relacionamentos e tudo o que faz, faz acima de tudo para a glória do seu Senhor, não para se promover entre os homens.

3. O legalismo e a conduta moral.

Como já exposto, a graça não nos autoriza a pecar, libertando-nos da responsabilidade moral de observar e atender os conselhos de Deus (Rm 6:1-4). 

O conceito de liberdade do mundo gradualmente obscurece a percepção de que a liberdade é cercada de limites. O homem é livre para andar, mas não é livre para voar, porque a sua liberdade não lhe garante fazer tudo o que gostaria. Porque não existe liberdade sem lei. Não é de se estranhar o fato daqueles que exploram a liberdade pessoal, mas respeitando os limites estabelecidos pela família, pela sociedade e, especialmente pela Palavra de Deus, sejam rotulados de “legalistas” ou “fundamentalistas” por aqueles que defendem uma conduta moral sem regras ou preceitos que a oriente. Mas também, mesmo nos círculos cristãos, percebemos que existem legalistas. São pessoas mal resolvidas, guiadas pela obstinação da vaidade e desajustadas entre aquilo que ensinam e o que demonstram em suas próprias vidas. São religiosos pessimistas e incompassivos quando julgam os outros.

Jesus foi a única pessoa que usou a palavra “hipócrita” (hupokrites) no Novo Testamento (20x e apenas nos Sinóticos). Esta palavra tem origem na arte grega, especificamente no teatro, significando “autor”, “dissimulador” ou “jogador” (BW9). No contexto em que Jesus reagiu a uma tensão provocada pelos fariseus, ele respondeu: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!” (Mt 23:27). A ideia transmitida é de uma pessoa que “faz o jogo” da religiosidade pura por motivações impuras e repugnantes. Por isso, a característica que mais denunciava um hipócrita nos dias de Jesus era o excesso de autoconfiança, de orgulho e da pretensa tentativa de promover a aparência de santarrão. Esses, agiam como se fossem um padrão de fidelidade à Deus aos outros, mas estavam bem distantes dessa realidade!

Por que os fariseus podem ser classificados como legalistas?

Primeiro. Eles eram hipócritas. Eles fingiam ser dedicados, consagrados, observadores rigorosos da lei de Deus, altamente disciplinados, e assim demonstravam que eram justos e cheios de piedade; mas as suas motivações eram reprovadas e não viviam, no espírito da lei, o verdadeiro amor a Deus (Mt 23:4-7, 25-28). Eles não foram condenados porque eram demasiadamente zelosos, mas porque eram fingidos, falando e exigindo aquilo que não praticavam (Mc 23:3).

Segundo. Eles davam maior atenção para meios negociáveis de se expor a fé, que aos de caráter inegociáveis na lei (Mt 23:23; Lc 11:42). Jesus referiu-se a essa tendência como coar um mosquito e engolir um camelo em Mateus 23:24. Um legalista é como um fariseu nos dias de Jesus, ele se preocupa mais com picuinhas, com superficialidades e assuntos sem importância... como meios de chamar atenção para si e provar a sua exaltada razão entre os outros. Assim, demonstra-se estar perdido daquilo que é o mais importante no cumprimento da lei, que é a atitude voluntária e consciente da obediência (fé), e não meramente da obrigação em si (obras).

Terceiro. Eles interpretavam mal a lei de Deus (Mt 5:17-48), e foi por isso mesmo que fizeram interpretações falaciosas dela, elevando tradições e preferências humanas para o mesmo nível de autoridade das Escrituras (Mt 15:1-9; Mc 7:1-13). Jesus repreendeu repetidamente os fariseus por esse malícia, a qual sobrecarregava as pessoas com culpas injustificáveis, dívidas impagáveis e sacrifícios intermináveis. E ainda, seus falsos ensinos alimentavam o perverso sistema de arrecadações de recursos pelos serviços prestados no Templo e no Sinédrio. 

Conclusão.

O legalismo, portanto, negligencia a graça de Deus com base em legalidades e tradições despidas da fé e da misericórdia. E, portanto, não pode ser confundido com a obediência requerida por Deus, visto que ela é o princípio preeminente da salvação.

Embora a graça de Deus é, por muitas vezes, mal compreendida biblicamente, dando força para aqueles que estão decididos a pecar, ela produz a firme consciência da obra de Deus a nosso favor, conduzindo-nos a uma vida de obediência à sua Palavra. E quando pecamos, deixando de cumprir o que ela prescreve, podemos contar com o perdão divino e a renovação das forças para a devida perseverança da fé, sabendo que em nenhuma condição poderemos pagar a dívida dos nossos pecados, mas demonstrar o sincero desejo de se ver livre dele observando e obedecendo atentamente os conselhos de Deus, por submissão a ele.

O legalista não aceita isso por estar apegado a formas rigorosas de disciplina religiosa e vaidades. Ele pode ensinar corretamente verdades da Escritura, estando distante como referencial bíblico de vida cristã, por ausência de piedade e humildade.

Acreditamos na necessidade de cuidar, de zelar da nossa caminhada cristã, buscando a santificação das nossas vidas, obedecendo os ensinos da palavra de Deus. Contudo, reconhecemos o perigo de nos cegarmos pelo excesso de autoconfiança, tentando monitorar o nosso próprio pecado a ponto de criar um padrão de moralidade falacioso, e ainda usá-lo como base para julgar os outros por comparações insensíveis e impiedosas. 

Deus não nos julgará com base nas regras que podemos criar para estabelecer a nossa vida cristã, mas com base nas suas e elas são inalcançáveis em sua plenitude e perfeição. O único caminho de sermos justificados diante da lei de Deus é pela graciosa obra de redenção que ele efetivou por seu único Filho, Jesus Cristo. E uma vez redimidos por sua graça, mediante a fé, devemos viver obedientes a ele, mas sempre cientes que ainda sofremos os efeitos do pecado. Por isso, carecemos da constante misericórdia de Deus, assim como as pessoas a nossa volta esperam que também sejamos misericordiosos.

Com amor,

Rev. Ericson Martins

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Referências:
- BibleWorks - Focus on the text (software), v. 9.0: 2011
- Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (software). Editora Objetiva Ltda., v. 1.0: 200
- SMITH, William. A Smaller Classical Dictionary of Biography, Mythology and Geography [New York: Harper & Brother Publishers,1896], p. 174-175

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Fonte: Reflexões do Cotidiano
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