A Bíblia Apoia a Escravidão?

image from google

Um argumento lançado contra a Bíblia é que ela apóia a escravidão.

Recebi uma carta de um leitor da nossa revista Biblical Worldview que discorda da minha afirmação que o tipo de escravidão praticado nos Estados Unidos era anti-bíblico pois “roubava homens”. Como você pode ver no parágrafo seguinte, ele defende suas crenças com paixão. Mas ele está correto?

A Bíblia não condena a escravidão. A Bíblia não condena o aborto. A legislação humana não pode tornar legal o que a lei de Deus condena, ou tornar ilegal o que a lei de Deus permite. Quando você condena o que a lei de Deus permite, você é um legalista e peca (Deuteronômio 4:3; Provérbios 30:6; Apocalipse 22:18–19). Quando você permite o que a lei de Deus condena, você é um transgressor e peca também (Êxodo 20:1–17). 

Quando você não pode dizer a diferença, então não pode pensar como um cristão.

Eu respondi brevemente que a escravidão praticada neste país antes de 1860 era “roubar homens” (seqüestro). Africanos ocidentais eram seqüestrados, postos em navios, trazidos para as costas da América, vendidos em leilões, e colocados em trabalhos forçados. Reconhece-se que muitos escravos eram tratados com decência em sua chegada e durante o seu cativeiro. Mas não é isso o que se está em questão. Eles ainda eram escravos, em cativeiro contra sua vontade.

Trabalho Forçado

Muitos dos primeiros colonos dessa nação pagaram sua passagem como trabalhadores compulsórios. Trabalho forçado não é anti-bíblico nem anti-constitucional. Um ladrão que fosse incapaz de restituir poderia ser vendido em servidão por seu roubo (Êxodo 22:3b). Mesmo após a abolição da escravatura, o trabalho forçado foi mantido pela Constituição como uma forma legítima de punição: “Não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito à sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição por um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado” (Emenda XIII, Seção 1). Deveríamos, portanto, distinguir entre escravo (roubo de homem) e servo (trabalho forçado). Devemos também manter em mente que a palavra “slave” [escravo] aparece somente uma vez na King James Bible (Jr. 2:14a), assim como a palavra “slaves” [escravos] (Ap. 18:13). A palavra escravidão não aparece em nenhum lugar na King James.[2]

Eu citei Êxodo 21:16 para apoiar minha afirmação que a escravidão, como praticada na América, não pode ser defendida mediante um apelo à Bíblia: “E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto.” O escritor da carta defende sua posição alegando que Êxodo 21:16 aplica-se somente aos rapto de hebreus (compare Dt. 24:7).

Robert L. Dabney, o mais articulado defensor de Virgínia e do Sul, discorda: “Dificilmente é necessário dizer que odiamos a injustiça, crueldade e a culpa do comércio de escravos africanos. Ele foi condenado com justiça pela lei pública do Cristianismo… Foi condenado pela lei de Deus. Moisés colocou isso entre os estatutos judiciais dos judeus: ‘E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto.’”[3] Não há nenhuma indicação que Êxodo 21:16 tinha somente os israelitas em mente. Se tinha, então o versículo 12 também se aplicaria somente aos israelitas, visto que a sua linguagem é similar à do versículo 16:

Quem ferir um homem, de modo que este morra, certamente será morto” (21:12). 
E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto” (21:16).

James B. Jordan oferece um bom resumo dessas questões envolvidas:

“A Bíblia pune todos os que roubam pessoas com uma pena de morte obrigatória. Em Deuteronômio 24:7, o seqüestro de membros do pacto é particularmente proibido, mas em Êxodo 21:16, todo roubo de homem é proibido. Poderia ser mantido que se lermos o v. 16 no contexto do v. 2, é somente os hebreus que são protegidos e vingados por essa lei. Contudo, o texto diz simplesmente ‘homem’, e não há nenhuma indicação no contexto imediato (vv. 12, 14) que ‘homem’ esteja restrito aos membros do pacto.”[4]

Defensores da escravidão do Sul apelam a Levítico 25:44-46 para defender sua posição pró-escravidão, visto que ela descreve a escravidão de pagãos. Robert L. Dabney baseia seu argumento para a escravidão na passagem de Levítico sem considerar uma mudança em sua aplicação sob a Nova Aliança.[5] A escravidão de estrangeiros era legal em Israel. “Esses pagãos estavam sendo comprados de sua escravidão pactual à uma religião demoníaca. Eles estavam sendo redimidos (comprados de volta). Estavam recebendo uma oportunidade de ouvir o evangelho e vê-lo em operação em famílias que tinham um pacto com Deus. Eles estavam recebendo a oportunidade de renunciar o paganismo e mediante isso escapar da escravidão eterna no lago de fogo.”[6]

A escravidão de nações pagãs sob a Antiga Aliança estava ligada às leis de jubileu descritas no mesmo capítulo. O jubileu foi cumprido em princípio por Jesus (Lucas 4) e abolido historicamente quando Israel quando uma nação deixou de existir com a destruição do seu governo religioso e civil em 70 d.C. A escravidão de nações pagãs estava ligada ao caráter especial da terra de Israel, da mesma forma com que a distribuição da terra de famílias israelitas estava ligada ao caráter redentor especial da terra.

Em adição, os gentios receberam um novo status na Nova Aliança. A vinda de Cristo foi “uma luz de revelação aos gentios” (Lucas 2:32; veja Isaías 42:6; 49:6). Jesus começou Seu ministério público com a leitura de Isaías 61:1, proclamar liberdade aos cativos” (Lucas 4:18-19). Sabemos que essa liberdade incluiu os gentios: “E anunciará aos gentios a justiça… e no seu nome os gentios esperarão” (Mt. 12:18, 21). Atos mostra que muitos judeus cristãos não tinham aceitado o fato que os gentios estavam inclusos nas promessas do pacto, que eram inicialmente reservadas aos israelitas: “E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se que o dom do Espírito Santo se derramasse sobre os gentios” (Atos 10:45).

Com o evangelho rompendo o velho odre nacional de Israel, um novo meio de evangelismo estrangeiro começou. Os evangelistas do Novo Testamento deveriam ir às nações estrangeiras, como servos, não como senhores de servos ou seus agentes econômicos, os comerciantes de escravos. Eles deveriam advertir homens e mulheres a se submeterem ao governo de Deus voluntariamente… os cristãos deveriam trazer a mensagem de libertação que Jesus anunciou em Lucas 4.[7]

A história da escravidão dos negros africanos tem sido um impedimento ao evangelho. Em vez de serem pescadores de homens, muitos na igreja apoiam a noção de serem os escravizadores de homens, em particular, homens e mulheres negros, e seus filhos. A Bíblia, incluindo Levítico 25, não apóia a escravização exclusivamente de negros africanos. O racismo parece ser o fator motivador. Gary North escreve: “Escravidão como um sistema chegou à América do Norte no começo do século dezoito, e estava baseada nos preconceitos racistas que cresceram a cada enchimento de navios com negros vitimados. O racismo parece ter sido o fundamento da escravidão, e não o contrário.”[8] Com a vinda de Cristo os cristãos devem pregar o evangelho e fazer discípulos das nações; fazendo delas “escravos de Cristo”, não escravos de outros homens.

O Novo Testamento e a Escravidão

Sabemos que no Novo Testamento Paulo condena os comerciantes de escravos (seqüestradores) em 1 Timóteo 1:10.[9] Apocalipse considera aqueles que fazem tráfico de “escravos e até almas humanas” como sendo imorais e destinados ao juízo (Ap. 18:13, ARA). Em nenhum lugar o Novo Testamento apóia o tráfico de escravos. A carta de Paulo a Filemon não defende a noção que o Novo Testamento tolerava a escravidão. Onésimo era provavelmente um servo que tinha uma dívida para com Filemon. Paulo encoraja o fugitivo Onésimo a retornar para Filemon e encoraja Filemon a soltar Onésimo quando ele, Paulo, chegasse. Paulo promete pagar a Filemon se Onésimo dever alguma coisa” (Filemon 18). A menção que Paulo faz de uma dívida parece indicar que Onésimo era um trabalhador forçado.

Defendendo o Indefensável 

O escritor da carta conclui seu argumento em defesa da escravidão citando Dabney. Robert Dabney, como vimos, odiava “a injustiça, crueldade e a culpa do comércio de escravos africanos.” Então, por que ele continuou a apoiar a posse de escravos? Dabney escreve: “Quando a propriedade foi adquirida pelo último detentor, justa e honestamente; quando, nas últimas transferências, um equivalente justo foi pago por ela, e o último proprietário é inocente de fraude em intenção e no modo real de sua aquisição da propriedade, mais errado seria destruir o seu título, do que deixar o original errado sem reparação. O senso comum diz que, seja qual possa ter sido o título original, um novo e válido surgiu das circunstâncias do caso.”[10]

Dabney apela para o “senso comum” e não à Bíblia, uma clara indicação que ele não tinha um argumento bíblico. Embora o comerciante de escravos possa ter adquirido os escravos por meios imorais, Dabney argumenta, a pessoa que recebe os homens, mulheres e crianças roubados não está ligada à ilegalidade original. Em essência, ele não pode ser considerado responsável pela fraude inicial, visto que comprou a “mercadoria” em boa fé. 

Dabney argumenta de forma circular. Como pode a compra de seres humanos, para o propósito de usá-los para o trabalho escravo, ser feita “justa e honestamente”, quando Dabney admite plenamente que quem “originalmente… capturou o africano era alguém excessivamente ímpio”?

O escritor da carta tenta reforçar o argumento de Dabney citando um caso de fraude perpetrado sobre ele. Escreve ele: “Em 1981, um impostor me deu um cheque sem fundo para comprar notas históricas no valor de 2000 dólares, e então vendeu tais notas a outro negociante. Quando pedi para recuperar os dólares desse negociante, o tribunal achou que, embora o criminoso tivesse adquiro-as por fraude, o título tinha sido passado para outro detentor que tinha comprado em boa fé e não poderia agora ser perturbado em sua posse.”

A chave é que o detentor comprou as notas “em boa fé”. Se soubesse que as notas tinham sido roubadas, ele teria sido citado por conspiração com fraude cometida. Aqueles que compravam escravos em leilões nos Estados Unidos sabiam que os escravos eram vítimas seqüestradas. Os donos dos escravos não estavam agindo “em boa fé”, visto que sabiam que quem “originalmente… capturou o africano era alguém excessivamente ímpio”. O negociante de notas não sabia que a primeira transação foi fraudulenta; os donos de escravos sim.

__________________
Notas:
[1] Traduzido em outubro/2008. 
[2] Gary North, Tools of Dominion: The Case Laws of Exodus (Institute for Christian Economics, 1990), 121. 
[3] Robert L. Dabney, A Def ense of Virginia, [And Through Her, of the South] (New York: Negro University Press, [1867] 1969), 288. Reimpresso pela Sprinkle Publications, Harrisonburg, Virginia, 1977.
[4] James B. Jordan, The Law and the Covenant: An Exposition of Exodus 21–23 (Tyler, TX: Institute for Christian Economics, 1984), 104.
[5] Dabney, A Defense of Virginia, 117–121.
[6] North, Tools of Dominion, 145. 
[7] North, Tools of Dominion, 173.
[8] North, Tools of Dominion, 180.
[9] A ARC e ACF trazem “ roubadores de homens”, e a ARA traz “ raptores de homens”. (Nota do tradutor) 
[10] Dabney, A Defense of Virginia, 288–289. 

***
Autor: Gary DeMar 
Fonte: American Vision
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
.

Quando sua vocação não é ser Pastor

image from google

O ministério pastoral é uma tarefa extremamente difícil. Seria difícil para qualquer um encontrar um pastor que não tenha parado para pensar em como sua vida seria se ele tivesse que fazer alguma outra coisa da vida. O amor a Deus, à Sua igreja e ao Seu povo é um pré-requisito fundamental para todo pastor, mas se o pastor não ama a obra do ministério, ele logo perderá a esperança e a motivação necessárias para perseverar. Pastores sem vocação, sem dons e qualificações são os principais candidatos a fracassarem tragicamente. Existem inúmeros livros e artigos disponíveis para ajudar a convencer os homens a se ingressarem ou a continuarem no ministério. Mas, não há muita coisa escrita para ajudar um homem a discernir se é hora de deixar o ministério. Vamos apresentar agora algumas coisas a serem consideradas ao se procurar discernir se é hora ou não de seguir em frente no ministério:

QUESTÕES SOBRE A PREGAÇÃO

A princípio, entre os meios comuns da graça, a pregação é extremamente importante. Pregadores honestos admitirão que todos nós temos sermões bons e ruins; mas, se nossos dons espirituais verdadeiramente são o que nós afirmamos que eles são, devemos prover com mais frequência conhecimento útil da Palavra de Deus que inspire mais estudos e uma devoção mais profunda para aqueles que nos ouvem. Nem tudo o que faremos será como um “golaço”, mas, se não tivermos pelo menos um resultado consistente, talvez devamos considerar se o ministério pastoral é aquilo no qual melhor nos encaixamos. Em um dia em que muitas igrejas estão sem pastor, é fácil ignorar indícios sérios de que um homem possa não ser apto para a pregação regular. Isso de forma alguma tem a ver com dizer algo sobre sua piedade, sua busca pela santidade, ou sobre seu entendimento e o amor pelas Escrituras. Nem mesmo tem a ver com questionar seu zelo pela pregação e pelo ensino. Por exemplo, embora eu tenha grande zelo pelas qualificações de um jogador profissional de golfe, meus dons nessa área em particular são, no mínimo, insuficientes,

Muitos líderes da igreja não estão dispostos a dizer aos jovens que aspiram ao ministério que eles simplesmente não possuem os dons. As igrejas devem ser mais exigentes ao enviar um homem ao seminário, e os professores do seminário também devem ser honestos com eles sobre se eles devem considerar servir em outras áreas. Muitas vezes se assume que falar tais coisas é difícil ou ser crítico demais - ou, um homem pode até ser um pregador ou um mestre ruim agora, mas com tempo suficiente, ele irá melhorar. Talvez ele faça avanços, mas o melhor ambiente para fazê-los está em uma classe de homilética ou ocupando púlpitos como um seminarista, e não depois de ter recebido da sua própria congregação o chamado para estar no púlpito todos os domingos. Às vezes, as igrejas assumem que, que só porque um homem é um professor talentoso de escola dominical ou um líder de um pequeno grupo, ele é qualificado para ser um pregador. A pregação semanal no púlpito é uma tarefa muito diferente do que dar aulas de Escola Dominical. Sugerir o contrário é ser desonesto tanto com o homem quanto com a congregação na qual ele é chamado a servir. 1 Timóteo 3.1 diz: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja.” E, desde que um homem seja piedoso, muitas vezes não se está disposto a considerar se suas aspirações para o ministério são compatíveis com o ser “apto para ensinar” (1 Timóteo 3.2). Às vezes, é difícil dizer a alguém que ele não é o que ele pensa que é. No entanto, as ruínas de um ministério fracassado são muito piores do que sentimentos feridos e são um apelo a uma séria autoavaliação.

O CUIDADO COM O CORPO DE CRISTO

Um homem pode ter o dom de falar com grande eloquência num púlpito, e não possuir os dons necessários para cuidar do povo de Deus na gama mais ampla da obra pastoral, como aconselhamento e visitas. Muito poucos pastorados são voltados apenas à pregação, e poucos são aqueles que não exigem que um homem dispense uma quantidade significativa de tempo cuidando do corpo de Cristo. Pastores que não estão dispostos e que não são capazes de se encontrar com pessoas na igreja para fornecer aconselhamento bíblico, visitá-las no hospital, sentar-se ao lado delas no leito da morte, ou se alegrar com elas diante do nascimento de uma criança ou diante de um importante marco da vida é provável que não sejam bons para o ministério pastoral. Repito, isso não quer dizer nada de negativo em relação à sua piedade e à sua aspiração, mas diz respeito a como Deus tem ou não tem lhe dado esses dons.

PASTORES AUXILARES

Alguns homens podem não ter dons para serem pregadores, mas são hábeis professores de estudos bíblicos, conselheiros bíblicos habilidosos e possuem excelentes habilidades organizacionais. Infelizmente, esses dons importantes são muitas vezes minimizados - tornando a função de um pastor auxiliar muito menos desejável para um homem do que a tarefa de subir ao púlpito semanalmente. Jason Helopoulus explicou que “bons pastores auxiliares são difíceis de encontrar”[1]. A maioria dos que formam no seminário não se candidatam às igrejas com a intenção expressa de assumir e permanecer em uma função de auxiliar. Muitas posições de pastor auxiliar são consideradas como que uma espécie de estágio probatório para que o pastor auxiliar eventualmente substitua o pastor titular ou para que ele seja enviado para outro ministério. Mas para alguns homens, ser um pastor auxiliar é a melhor forma de servir a igreja. Na realidade, muitas igrejas falhariam miseravelmente sem a atenção cuidadosa aos detalhes e habilidades organizacionais que um bom pastor auxiliar geralmente oferece.

A RECUSA EM DEIXAR O PASTORADO

Todo pastor tem dias, semanas, meses e anos ruins de ministério e pode ser tentado a sair. A resposta nem sempre é “você não deve sair”. Alguns homens podem ter um forte senso de que, na verdade, não são qualificados para o ministério pastoral. No entanto, eles se recusam a sair. Uma das razões pelas quais muitos dos que devem deixar o pastorado permanecem é porque foram investidos muito tempo e dinheiro para ajudá-los a ingressar no pastorado. Além disso, muitos se perguntarão o que mais eles estão qualificados a fazer? As igrejas confiaram as almas das pessoas a este homem e dependem dele para perseverar. A igreja não precisa dele? E quem já não ouviu a ideia de que ministério pastoral é diferente de qualquer outra carreira porque é um “chamado”? E, uma vez que um homem tem um “chamado”, como pode abandoná-lo? Outros se fecham no pastorado por medo dos outros ou porque têm uma compreensão não bíblica do chamado ao ministério.

SERÁ QUE É A HORA?

Durante uma fase particularmente difícil de ministério, um mentor aconselhou-me com sabedoria a nunca tomar grandes decisões quando as coisas são as piores possíveis. Às vezes, um pastor só precisa passar pelo fogo da provação, pois ele é o meio que Deus para nos tornar mais parecidos com Cristo. Então, antes de decidir sair, siga alguns passos primeiro:

1. Ore, pedindo a Deus a sabedoria que você precisa. Todo pastor deve ter alguma senso de que Deus o chamou para o ministério; mas, podemos facilmente interpretar mal um desejo ou interesse pelo ministério com ser apropriadamente dotado de dons e vocacionados por Deus ao ministério. Acima de tudo, precisamos que Deus nos esclareça o que podemos fazer para ser o mais útil possível para a Sua igreja, mesmo que isso signifique servir em outra competência.

2. Fale com sua esposa e com anciãos - eles devem ser os mais honestos com você. Estas são as pessoas que Deus chamou para ajudá-lo a navegar pelas águas difíceis do ministério e da vida. E, se seus anciãos são o tipo de homens que Deus quer que eles sejam, eles avaliarão amorosamente, graciosamente e honestamente seus dons com você para ajudá-lo a determinar se você está ou não fazendo o que é certo. Talvez você seja mais adequado para ser um pastor auxiliar ou a servir em outro ministério dentro da igreja.

3. Certifique-se de que não está se afastando só porque é difícil. Você nunca será um Charles Spurgeon no púlpito - só existiu um Charles Spurgeon. Mas, só porque pregar semanalmente é uma tarefa difícil, e só porque as sessões de aconselhamento nem sempre saem como você espera, e só porque as pessoas deixam a igreja e dizem coisas desagradáveis ao sair não significa que seus dons estejam em falta. Os ministérios em que Deus chamou seus homens para servir serão repletos de dificuldades. Afinal, as pessoas que nós pastoreamos são muito semelhantes a nós - pecaminosas, quebradas e carentes de muito perdão e graça. Além disso, haverá muitos desafios exteriores por cauda do mundo e do diabo. Quando Paulo queria dar a Timóteo uma ilustração para o ministério, ele usou a figura de um campo de batalha (1 Timóteo 6.12) por causa da força que ele teria que suportar.

4. Tente discernir se você está ou não deprimido e precisa de uma pausa. Encontre um conselheiro bíblico que você possa confiar e deixe-o ajudá-lo a “percorrer” os caminhos dos seus pensamentos. No final, você pode achar que seu problema não é o ministério, mas algo mais sobre o qual você não tomou tempo para pensar. Você simplesmente precisa de tempo livre ou de férias para ajudá-lo a ser realinhado. Mesmo Charles Spurgeon teve que ir ao litoral para passar longos períodos por cauda de deficiências de saúde e vigor (para mais informações sobre as aflições de Spurgeon, leia o livro, “A Depressão de Spurgeon” de Zack Eswine).[2]

Se você fez essas coisas e ainda tem a sensação de que é hora de se afastar, faça isso de uma maneira gentil, paciente e sábia perante Deus e Seu povo. Não importa quão óbvio seja para os outros que seja hora de você seguir em frente, inevitavelmente haverá alguns que ficarão surpresos e outros que ficarão magoados pela sua decisão. Embora você não possa viver para agradar a todos, você pode trabalhar para ajudá-los a entender por que se afastar não é apenas bom para você, mas para toda a igreja. Sempre que possível, procure ser uma benção para o homem que ocupará o púlpito depois de você. Fazendo assim, talvez você ache que Deus usa sua humildade para trazer uma grande colheita no tempo que se segue.

______________________
Notas:

[1] Jason Helopoulos. A good assistant pastor-easier said than done. Disponível em: http://www.christwardcollective.com/christward/a-good-assistant-pastor-easier-said-than-done#.WmNuoh_Qc2z
[2] Zack Eswine. A Depressão de Spugeon. Disponível para comprar em: https://www.editorafiel.com.br/vida-crista/146-a-depressao-de-spurgeon.html

***
Autor: Nicholas Kennicott
Fonte: Reformation 21
Tradução e notas: Bruno dos Santos Queiroz
Divulgação: Bereianos
.

Filmes, Séries e o Cristão Cinéfilo

image from google

Eis um dos assuntos que lideram o ranking dos mais falados entre os jovens cristãos. Sendo a Bíblia nossa regra de fé e prática, por que tirá-la de cena, ao tratar o assunto? Convém imitar as experiências pessoais de um “famoso da teologia” ou acatar as indicações do escritor de uma obra teológica fabulosa, de olhos vendados? Cabe saber quem lhes deu o papel de diretor das escolhas de alguém que têm a Palavra de Deus como script imutável da vida. Somos protestantes e temos acesso livre às Escrituras, não seguimos um papa, portanto somente uma interpretação bíblica cuidadosa importa.

Existem filmes produzidos por cristãos (poucos) e filmes produzidos por ímpios. Nos filmes produzidos por cristãos, os problemas não são as cenas de nudez, mas textos bíblicos mal interpretados, cabe a estes o mesmo cuidado que devemos ter com filmes produzidos por não cristãos com censura livre, nos quais não contêm cenas de sexo, nudez ou linguagem obscena (em sua maioria), mas podem ter por trás uma ideologia contrária às Escrituras. Para quem estuda a Palavra de Deus, o mais comum é identificar e condenar aquilo que está em desacordo com a mesma. Ao assistir a filmes cristãos, o bom senso não pode ser dispensado, pois é necessário para alertar um não cristão das cenas em que a teologia é trocada pela psicologia ou nas quais o texto bíblico recebeu uma interpretação não ortodoxa e defender a verdade bíblica, se por acaso o filme ferir aquilo que é essencial. Existem filmes voltados ao público infantil com forte apologia ao homossexualismo e outras práticas que a Bíblia condena claramente, é importante que os pais verifiquem o filme antes de deixar que a criança veja, porque ela pode não ter maturidade suficiente para filtrar essas ideologias antibíblicas.

O marco zero da vontade de Deus

image from google

Era sempre inverno, nunca Natal.

Em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa de C.W. Lewis, a terra de Nárnia estava sob o cruel domínio da Feiticeira Branca. Mas, Aslan estava a caminho. Quando a feiticeira e o leão finalmente se encontraram, ela diz a Aslan que uma das crianças, Edmundo, revelara-se um traidor. A lei de Nárnia dizia que todo traidor pertence à Feiticeira Branca e deve ser punido com morte.

Então, Aslan propõe um acordo e concorda em morrer no lugar de Edmundo. Mas, Aslan então ressuscita. Quando ele retorna, as crianças ficam confusas.

“Mas, o que tudo isso significa?”, perguntou a irmã de Edmundo, Susana.

“Explico”, disse Aslan, “a feiticeira pode conhecer a Magia Profunda, mas não sabe que há outra magia ainda mais profunda. O que ela sabe não vai além da aurora do tempo. Mas, se tivesse sido capaz de ver um pouco mais longe, de penetrar na escuridão e no silêncio que reinam antes da aurora do tempo, teria aprendido outro sortilégio. Saberia que, se uma vítima voluntária, inocente de traição, fosse executada no lugar de um traidor, a mesa estalaria e a própria morte começaria a andar para trás”.

Por trás da cortina da Eternidade

Neste conto infantil, Lewis magistralmente expõe o cerne da nossa redenção. E ele nos ajuda a enxergar o amor do Deus triúno por nós “no silêncio que reinava antes da aurora do tempo”. Ali, na eternidade passada, Pai, Filho e Espírito conspiraram amar um povo para si. Eles determinaram criar-nos e – sabendo que arruinaríamos a sua boa criação – também decidiram fixar seu amoroso e eterno olhar em nós, como filhos escolhidos, valiosos e particulares.

É uma pena que a doutrina bíblica do “decreto de Deus” (como os teólogos a chamam) e sua glória predestinadora tenha azedado para tantos cristãos. Quando algo tão biblicamente rico e espiritualmente nutritivo torna-se tão desagradável ao paladar que nos recusamos a consumi-lo, precisamos reconsiderar nossa dieta.

No silêncio antes do tempo

No primeiro capítulo de Efésios, o apóstolo Paulo fica tão perplexo com a majestade de nossa redenção que mal consegue parar para colocar pontuação em suas declarações. Assim, sua longa e única sentença vai do verso 3 ao verso 11. Mas o que permeia cada poro dessa longa frase é seu começo:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele. os predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Efésios 1.3-5).

O servo de Deus é inspirado pelo Espírito de Deus a nos mostrar o que Deus fazia antes do mundo começar. Nesses versos, temos o que somente Deus pode nos dar: um vislumbre do eterno momento de seu glorioso plano. O Deus triúno preparou cada detalhe do projeto de seu reino eterno. Não somente ele planejou tudo, mas ele mesmo operou todo aquele projeto de acordo com o conselho de sua soberana vontade (Efésios 1.11).

Sem o sólido alimento dessa verdade bíblica, nossas almas esmorecerão. A não ser que escutemos a eternidade, desenvolveremos catarata espiritual. Para ver claramente, precisamos primeiro ouvir claramente. Devemos ocupar nossas mentes com o transcendente para que o imanente tenha o seu lugar adequado em nossas vidas.

Não a nós, Senhor

Paulo começa bendizendo Deus Pai pelo que ele cumpriu em seu Filho. Mas, ele não nos permite que o foco seja esse cumprimento em nós. Seu interesse imediato não são os benefícios que recebemos de Cristo, por mais importantes que sejam. Sua mente imediatamente vai do louvor a Deus à eterna escolha de Deus. O interesse de Paulo é nos ajudar a ver que o que temos do Pai, por meio do Filho, é resultado da determinação do Pai “antes da fundação do mundo” de nos amar de tal forma que nos salvaria de nossos pecados.

Nós acabamos de ter outro ano olímpico. Atletas americanos ganharam um número recorde de medalhas. Esses atletas dedicaram todas as suas vidas a suas tarefas atléticas. É natural, então, que eles tenham orgulho de suas conquistas.

Porém, o cristão jamais pode pensar que a salvação que temos em Cristo é algo semelhante aos rigores do treinamento esportivo. Não somente não conquistamos nada do que temos em Cristo, como o que temos é resultado das decisões tomadas pelo Deus triúno antes que nós, ou alguma outra coisa na criação, sequer existisse.

Quem fica com a glória?

Muitos cristãos reconhecem que, fora de Cristo, não há salvação. Porém, muito poucos reconhecem que nossa salvação teve seu princípio antes do tempo começar. Foi ali que o Deus triúno determinou amar você pela eternidade. Foi ali que o Filho não considerou o fato de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar, mas esvaziou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte em uma cruz (Fp 2.6-8).

Até que vejamos essa determinação divina como o “marco zero” eterno da nossa salvação, nossa adoração a Deus está simplesmente incompleta. Se Deus não iniciou unilateralmente, desde a eternidade, seu soberano plano de salvação por mim, então minha salvação deve, mesmo que de um jeito bem pequeno, ficar “por minha conta”. Se contribuímos em algo para nossa salvação, nossos cânticos de louvor à glória de Deus sempre estarão tocando nossa própria melodia em tom menor.

Paulo não nos permite ter parte na eternidade passada; nós podemos olhar, mas não tocar. Somente desta forma a luz brilhará no lugar certo – no palco, não na audiência. Somente dessa forma é possível dizer “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” sem sussurrar baixinho,“e eu também”.

***
Autor: K. Scott Oliphint 
Fonte: desiringGod
Tradução: Josaías Jr
.