O Púlpito e o Punhal

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Por Cleyton Gadelha

Reconhecendo que é nosso dever, como cristãos, estarmos do mesmo lado, permito-me, entretanto, apontar o dedo contra nós mesmos. Sim, precisamos que alguém, afinal, diga que as armas que estão matando nossa identidade foram gestadas por nossa tolerância autofágica.

É desesperadora a angústia de precisar se agarrar à tentativa de fazer a igreja permanecer em moldes biblicamente concebíveis.

As últimas três décadas foram devastadoras para a igreja no Brasil. À medida que a igreja ia sendo transformada de protestante em "evangélica", as estatísticas do IBGE embriagaram nossa percepção. Quase ninguém se dava conta que o processo estava apodrecendo a Igreja por dentro. Os fatores que viabilizavam tal crescimento não eram, nem de longe, legítimos como práticas cristãs.

Dos "dentes de ouro" à "Marcha prá Jesus" parte de nossa herança foi extraviada. Sem reflexão teológica, a igreja caiu nas mãos de celebridades da música gospel e de líderes carismáticos que invadiram a mídia, assumindo de forma usurpada, o direito de falarem em nome da Igreja.

A face pública do movimento chamado evangélico parece, como diria Olavo de Carvalho, "uma gigantesca máquina de desentortar banana". Visibilidade impressionante, mas completamente esvaziado de significado.

O que está aí é estatisticamente impressionante, mas não pode ser celebrado como cristianismo, porque não o é. Um "cristianismo" que não produz impacto moral sobre a sociedade. Um cristianismo que, várias vezes, fica aquém da moral pagã, não foi, evidentemente, esculpido pelo poder santificador do Espírito Santo.

Por outro lado, as denominações históricas, que deveriam ter ancorado o cristianismo no porto da reforma protestante, praticaram crime ainda maior, quando entregaram suas escolas teológicas nas mãos dos liberais.

Seminários protestantes pagaram salários a professores liberais que corromperam a fé dos nossos jovens que, indefesos,foram entregues nas mãos deles para serem "bultmanntizados", "tilichizados"etc. Esses jovens, depois de quatro anos, eram feitos pastores e, usaram nossos púlpitos como arma letal de desconstrução do cristianismo bíblico. "Quem apóia lobos, sacrifica as ovelhas". Por isso a história não nos tem por inocente.

Muitas igrejas morreram, e o punhal que as matou foi um púlpito pejado de má teologia.

Batistas, Presbiterianos e todos os históricos, precisamos fazer um "mea – culpa" porque a resposta dos nossos pais ficou muito aquém da necessidade da igreja e, nós, não somos melhores do que os nossos pais, portanto chorar é também nossa parte.

Como Deus sempre tem que salvar o seu povo, porque se dependesse de nós, seu plano seria de todo extraviado, mais uma vez está Ele vindo em nosso socorro.

É encorajador ver algo novo, burbulhante, se movendo como um broto emergindo de um toco queimado. Há uma força que não se deterá por ser pequena. O Senhor já começou sua reação. Há um vigoroso despertamento das igrejas do Brasil rumo às Doutrinas da Graça.

O mote dos anos 70/80 era: Doutrina não! Doutrina divide! Esse bordão enganoso está sendo substituído no coração de um remanescente que começa a bradar nos púlpitos e nas redes sociais, em acampamentos e em conversa de mesa: Doutrina sim! Teologia Sim! E que sejam aquelas velhas doutrinas que mudaram a Igreja e o mundo no século 16. Como disse Marcos Granconato: "Teologia é como vinho, quanto mais velha melhor".

Palavras como Wittenberg, Genebra, Dort, Westminster, Puritanos, Credo, impronunciáveis há alguns anos, compõem agora a falação da galera jovem e dos veneráveiss anciãos de nossas igrejas. A hora da virada chegou!

Deus está visitando a igreja no Brasil para reesculpir sua face com o cinzel da virilidade bíblica e da pujança dos reformadores que batalharam pela fé dos santos sem jamais desfalecerem.

Fonte: [ Blog Fiel ]
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O batismo do Espírito Santo

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Ótimo artigo sobre o Batismo do Espírito Santo, de Antônio Almeida, publicado originalmente no Projeto Os Puritanos. O texto é longo, mas vale a pena ler até o final. Bom estudo! Ruy
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Por Antônio Almeida

A doutrina do batismo do Espírito Santo, para ser devidamente compreendida, deve ser estudada, como as demais doutrinas bíblicas, dando-se atenção à sua evolução histórica, às circunstâncias que determinaram os acontecimentos relacionados com ela, e aos termos pelos quais a própria Bíblia a define e aplica.

Vamos dividir o assunto em três partes.

1º O BATISMO DO ESPÍRITO SANTO PROFETIZADO E PROMETIDO.

A primeira alusão ao batismo do Espírito Santo é feita por João Batista em forma profética, e se acha nos quatro Evangelhos.

Mateus 3: 11. “Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu... ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.

Marcos 1: 8. “Eu, em verdade, vos batizo com água; ele, porem, vos batizará com o Espírito Santo”.

Lucas 3: 16. “Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu ... esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.

João 1: 33-34. “Eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho testificado que é o Filho de Deus”.

João foi e ficou sendo chamado Batista porque foi o profeta do batismo. Sua pregação foi acompanhada e confirmada pelo simbólico batismo com água em sinal de arrependimento e em preparação para o recebimento do Messias; foi ele quem aplicou esse mesmo batismo simbólico ao próprio Jesus quando este quis identificar-se com os pecadores afim de poder cumprir por eles toda a justiça, e foi ele quem profetizou que Jesus administraria um batismo superior ao seu, batismo não simbólico, mas real, o batismo do Espírito Santo. É a primeira noção que aparece dessa doutrina.

Quando mais tarde Jesus ensinava aos discípulos o valor da oração e a boa vontade do Pai em lhes conceder todas as coisas boas que lhe pedissem, proferiu esta promessa, a que ainda mais tarde alude como “a promessa do Pai que de mim ouvistes”: “E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á: buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á... Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”. Lucas 11: 9-13. Aqui não se emprega a palavra batismo. Parece, porém, razoável crer que Jesus se referisse ao batismo do Espírito Santo juntamente com todos os outros aspectos de sua vinda especial como se realizou no Pentecostes, visto que o Espírito Santo como agente do novo nascimento já tinha neles exercido sua renovadora influência. Foi a esses discípulos que criam nele, a quem, por conseguinte, fora dado o poder de se tornarem filhos de Deus (João 1: 12-13), e a quem Jesus ensinara a dirigir-se a Deus como filhos a um Pai, que ele fez essa valiosíssima promessa. Debalde, porém, procuraremos encontrar esses discípulos a pedir ao Pai celestial essa dádiva tão preciosa, e não menos debalde buscaremos vê-la cumprida durante o ministério terrestre do Senhor.

Assim chegamos a uma terceira etapa nas predições concernentes ao batismo do Espírito Santo. Não o tendo os discípulos pedido nem recebido, Jesus mesmo agora, na véspera de sua morte, promete-lhes: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador para que fique convosco para sempre, o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (João 14: 16-17).

Notemos as verdades mais salientes deste texto antes de passarmos adiante. Primeiro que tudo, é notável a substituição da recomendação — pedi — da passagem anteriormente citada, pela declaração: “Eu rogarei”. Já não são mais os discípulos quem tem de pedir; porque Jesus mesmo se encarrega de rogar e obter. Em segundo lugar, contrasta-se o mundo, que não pode receber o Espírito Santo, com os crentes — “vós” — que o conhecem e em quem ele há de estar. Este contraste é sempre mantido no Novo Testamento, e nunca um contraste entre crentes que tenham recebido o Espírito Santo e crentes que o não tenham recebido. Segundo Jesus, ao passo que nenhum descrente pode receber o seu Espírito, nenhum crente pode deixar de o receber e de o ter permanentemente residindo em seu coração. Vemos, em terceiro lugar, as duas atitudes do Espírito Santo em relação aos discípulos, antes e depois de sua prometida vinda como Paráclito. Antes ele estava com eles, pois presidia a todo o ministério de Jesus; mas depois estaria neles, residindo em seus corpos, que se tornariam em santuários de Deus.

Avancemos para outro marco. Depois de ressuscitado, Jesus se manifestou aos discípulos por espaço de quarenta dias. “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (Atos 1: 4-5). Esta ordem de Jesus confirma a promessa anterior, de que ele mesmo é que ia rogar ao Pai que lhes enviasse o Paráclito; define a natureza dessa vinda como sendo o batismo do Espírito Santo profetizado por João e simbolizado no seu batismo d’água; e determina o lugar e o tempo em que esse batismo se havia de realizar, isto é, em Jerusalém e dentro de poucos dias.

Lançando agora um olhar retrospectivo, vemos que a profecia de João Batista deu lugar a uma promessa do Pai à disposição dos discípulos que orassem; esta cedeu lugar a uma incumbência de Jesus, que promete pedir ele mesmo e obter do Pai a vinda do Paráclito divino; e, por fim, o mesmo Jesus instrui aos discípulos quanto ao tempo e ao lugar em que iam receber essa benção do céu. Suponhamos que algum desses discípulos, em vez de esperar em Jerusalém, se retirasse para a Galiléia e reunisse outros crentes, alegando a promessa de Lucas 11: 13, e se pusessem a orar e a pedir com instâncias, com rogos, com lágrimas, com jejuns, com êxtases, com todas as desordens nervosas a que está sujeita a sensibilidade humana quando dominada por uma idéia fixa. Que diríamos desse discípulo? Que era um insensato, e que estava se desencaminhando a si mesmo e aos outros da única maneira legítima de receber a bênção.

Felizmente os discípulos do Senhor souberam seguir a natural evolução da doutrina, passando de Lucas 11: 13 para João 14: 16-17 e daí para Atos 1: 4-5. O cumprimento da promessa que tinha dependido de eles pedirem o Espírito Santo, agora não mais dependia deles, e sim de Jesus pedir e o enviar da parte do Pai, e já agora estava tudo tão certo e definido que eles sabiam quando e onde devia se realizar a promessa.

É como a vinda de Jesus ao mundo. A princípio ele foi prometido como a “semente da mulher”, de maneira que qualquer mulher, em qualquer tempo e em qualquer lugar do mundo podia esperar ser a mãe do Redentor. Mais tarde a promessa é restrita à “semente de Abraão”, depois ele tem de vir da descendência de Isaque, depois é da linhagem de Jacó e não de Esaú, é da tribo de Judá, da casa de Davi, tem de nascer de uma virgem, em Belém de Judá, quatrocentos e tantos anos depois do cativeiro babilônico e nos dias em que ainda existisse o segundo templo de Jerusalém. Quando chegou o tempo determinado, tudo se cumpriu como estava predito e já nenhuma mulher neste mundo tem base para esperar dar à luz o Filho de Deus, porque isso já se efetuou como e quando estava predito que se efetuaria. De igual modo, a vinda do Espírito Santo para habitar na terra, no coração de cada crente, foi um acontecimento definido e único, marcado para um tempo e um lugar e realizado quando e onde estava predito que se realizaria, e isto naquele memorável dia de Pentecostes em Jerusalém; e ninguém tem mais base alguma para pedir a Deus e esperar um novo Pentecostes. A denominação de Pentecostal dada a qualquer movimento de tal natureza é falsa e antibíblica.

2º O BATISMO DO ESPIRITO SANTO DEFINIDO

No dia de Pentecostes se realizou a vinda do Espírito Santo. Essa vinda foi a mudança temporária de sua residência do céu para a terra, onde ele veio habitar em cada coração crente, e significou, como já vimos, um selo, um penhor, uma unção e um batismo, além do fato declarado de haver ele naquele dia enchido a todos quantos se achavam sentados na casa. Daí se segue que procedem precipitadamente os que concluem, sem mais estudos do assunto, que todos os fenômenos daquele dia são inseparáveis do batismo do Espírito Santo. O que nos convém fazer é indagar nas Escrituras, deixando que elas mesmas nos digam em que consiste o batismo do Espírito Santo, assim como já nos mostraram em que consistem o selo, o penhor e a unção.

(1) A definição.

O apóstolo Paulo nos diz com suficiente clareza em que consiste o batismo do Espírito Santo, tornando o assunto ainda mais claro por meio de uma ilustração. Abramos a Primeira Epístola aos Coríntios no capítulo 12 e leiamos os vs. 12 e 13. “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em[1] um Espírito, formando um corpo”.

De que se ocupa o apóstolo nestes dois versículos? Da unidade de Cristo com seu corpo místico constituído de todos nós que nele cremos.

Como ilustra ele esse ponto? Comparando-o com um corpo humano, em que há muitos membros ou muitas partes, mas todos constituem um só corpo.

Como é que ele explica a formação do corpo? “Todos nós fomos batizados com um Espírito, formando um corpo”.

Daí se conclui, necessariamente, o seguinte:

a) Visto que Paulo não diz que precisamos ser batizados, nem que devemos ser batizados, nem que o podemos ser, e sim que fomos batizados, claro está que esse batismo com o Espírito é um fato já realizado em relação ao crente, e não alguma coisa que ele deva procurar ainda conseguir. A confusão que fazem os propagandistas de um novo Pentecostes no uso dos tempos dos verbos é uma indicação segura do erro em que laboram. Quando os apóstolos de Cristo escreviam aos crentes sobre este assunto, diziam que eles já tinham sido batizados com o Espírito Santo, ao passo que os apóstolos do erro vêm admoestando os crentes a que orem pedindo esse batismo.

b) Visto que Paulo diz que todos nós fomos batizados com o Espírito Santo, claro está que não havia então nem há hoje crentes que estejam sem ser batizados com esse Espírito. E observe-se cuidadosamente a quem é que o apóstolo escreve e de quem é que fala. Não é aos fiéis tessalonicenses, nem aos bondosos filipenses, nem aos espirituais efésios, mas aos carnais coríntios (3: 1). Quando ele diz: todos nós fomos batizados, inclui alguns que eram culpados de vil imoralidade, de litígios contra irmãos perante os tribunais pagãos e de comer viandas sacrificadas aos ídolos. Sem excluir estes, o apóstolo diz: “Todos nós fomos batizados com um Espírito, formando um corpo” (w. Grahasn. Soroggie). Por conseguinte, o batismo do Espírito Santo não indica haver o crente atingido a um alto grau de espiritualidade, mas apenas sua posição em Cristo.

c) Dizendo Paulo que “fomos batizados com um Espírito, formando um corpo”, fica explicado em que consiste o batismo do Espírito Santo. É o ato pelo qual o Espírito Santo nos une ao corpo místico de Cristo, de modo que ficamos fazendo parte dele, como o pé ou a mão fazem parte do corpo humano (v. 15). Não é geralmente reconhecido, mas é verdade que a idéia fundamental de batizar, nas Escrituras, é unir, identificar, tornar um. Quando os israelitas atravessaram o Mar Vermelho miraculosamente aberto e viram perecer afogados os seus perseguidores egípcios que tinham saído para os destruir, tiveram pela primeira vez os seus corações verdadeiramente unidos ao de Moisés em sua atitude para com o Egito e para com Deus, atitude que Moisés assumira quarenta anos antes. O cap. 14 do Êxodo, que narra esse acontecimento, encerra-se com a afirmação: “E creram no Senhor e em Moisés, seu servo”. Paulo, querendo indicar como o povo se identificou com Moisés nessa transação, diz: “E todos foram batizados em Moisés na nuvem e no mar” (1 Co. 10: 2).

(2) A confirmação

Vejamos agora outros textos nas epístolas que confirmam a definição acima, isto é, que o batismo do Espírito Santo consiste em ele nos unir ao corpo místico de Cristo, que é sua Igreja Invisível.

Gl. 3: 27-28. “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem gentio, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo”. Embora não se diga aqui expressamente que este batismo é com o Espírito Santo, claro fica que outro qualquer processo não batiza em Cristo, nem nos reveste de Cristo, nem desfaz as nossas diferenças nacionais e sociais, tornando-nos um em Cristo. Isto posto, vemos que este texto confirma o anterior.

1º Em dizer que os crentes já foram batizados em Cristo;

2º Em mostrar que esse batismo consiste em unir todos os crentes espiritualmente, de modo a poder o apóstolo concluir: “Todos vós sois um em Cristo”.

Ef. 4: 3-5. Tendo exortado os crentes a andar de uma maneira digna da vocação com que foram chamados (v.1), o apóstolo lhes indica um dos meios de o realizar: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (v. 3). Notemos logo aqui que o assunto é a unidade do Espírito, isto é, aquela unidade em Cristo como um só corpo, efetuada,como já vimos, pelo batismo do Espírito Santo. O que Paulo recomenda é que na prática ordinária da vida essa unidade seja mantida entre os crentes pelo vínculo da paz. Em seguida ele dá a razão, mostrando a possibilidade dessa harmonia cristã no fato de já existir essa unidade espiritual: “Há um só corpo (a Igreja invisível e real é uma só e indivisível) e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (o batismo do Espírito Santo, que realiza a unidade espiritual, identificando-nos a todos como membros do corpo único).

Fica, pois, iniludivelmente claro que o batismo do Espírito Santo de que nos falam as Santas Escrituras é aquele ato da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade pelo qual, quando oremos em Jesus Cristo como nosso Salvador, somos unidos ao seu corpo místico, tornando-nos participantes da sua vida ressurreta, como o sarmento participa da seiva da videira.

Antes do dia de Pentecostes, os filhos de Deus estavam dispersos e não unidos em um corpo (João 11: 52): naquele dia o Espírito veio e reuniu (batizou) em um corpo aqueles discípulos em Jerusalém, que eram todos judeus; e, desde então, ele vem unindo ao corpo todos quantos se convertem a Cristo, quer judeus quer gentios.

O batismo do Espírito Santo não é uma experiência emocional, nem é necessariamente acompanhado de sinais visíveis ou audíveis, como supõe muita gente. É simplesmente o ato de nos unir ao corpo de Jesus Cristo, ato que se efetua sem que nós tenhamos dele consciência alguma, e só sabemos que ele se realizou em nós porque Deus o afirma em sua Palavra.

Visto que o batismo do Espírito Santo é que faz de nós membros ou partes do corpo de Cristo, segue-se que, si somos membros do corpo de Cristo, é porque já fomos batizados com o Espírito Santo. Por conseguinte, é grande erro pedir o batismo do Espírito Santo. Se não sois crentes, crede no Senhor Jesus Cristo, e sereis salvos e batizados com o Espírito Santo para vos tornardes membros do seu corpo, sem mais necessidade de pedi-la. Si, porém, já sois crentes, salvos por Jesus Cristo, sois também membros do seu corpo, relação esta em que entrastes em virtude do batismo do Espírito Santo, e, por isso mesmo, não tendes necessidade de pedir o que já tendes.

Como se vê, pedir o batismo do Espírito Santo é manifestar crassa ignorância do ensino das Escrituras sobre o assunto. E, quando sucede que alguém, nessa ignorância, se entrega a prolongados exercícios de concentração psíquica e vem a experimentar emoções estranhas, sensações que dizem inexplicáveis e indescritíveis, acreditando haver nesse momento recebido o batismo do Espírito Santo, nós não podemos deixar de protestar em nome das Santas Escrituras que tais pessoas laboram em grave erro e se expõem a grandes perigos em sua vida espiritual. Aqui podemos dogmatizar pela autoridade da Palavra de Deus: isso não é, nem pode ser o batismo do Espírito Santo.

3º O BATISMO DO ESPIRITO SANTO REALIZADO

Até aqui temos visto, pelo ensino claro e insofismável da Palavra de Deus, que o batismo do Espírito Santo é esse ato pelo qual ele une os crentes espiritualmente de modo a formarem o corpo místico de Cristo, o qual é sua Igreja invisível e real, assim como pelo batismo ritual com água somos unidos à Igreja visível. Vimos que houve em todos os tempos pessoas renascidas pelo Espírito Santo, e que, com a vinda de Jesus ao mundo, os que nele creram foram tornados filhos de Deus, mas esses filhos se achavam dispersos, não constituídos em um corpo, pois ainda lhes faltava o vínculo, o batismo do Espírito Santo, que os havia de unir, ligar, formar esse organismo místico, cuja cabeça é o Senhor Jesus Cristo glorificado.

A formação desse corpo começou no dia de Pentecostes com a vinda especial do Espírito de Deus para residir nos crentes como selo, penhor, unção e batismo. Sendo o cumprimento de uma promessa especial; importando na inauguração da nova residência da Terceira Pessoa da Trindade na terra, e efetuando o início de uma nova entidade no mundo; que era a Igreja Universal, — não podia esse acontecimento deixar de ser acompanhado de manifestações exteriores, sensíveis, que o autenticassem perante crentes e descrentes.

Assim aconteceu, como narra S. Lucas nos Atos (2: 1-4). “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”. Assim se cumpriu, se consumou, o dia de Pentecostes, e consummatum est.

O Pentecostes, tal como se cumpriu naquele ano em Jerusalém, foi acontecimento único, singular, e não há mais Pentecostes.

1. A situação foi única na história.

a) A festa de Pentecostes era uma das festividades anuais de Israel, as quais tinham sua exata sucessão e sua significação típica. Naquele ano as outras duas festividades que precediam a de pentecostes já tinham visto realizada sua tipologia. A páscoa, cujo simbolismo se concentrava na imolação do cordeiro, cumprira-se na cruz, como o declara S. Paulo: “Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado por nós” (1 Co. 5: 7), o que dava ao apóstolo ensejo de apelar aos seus leitores para que realizassem a pureza de vida simbolizada nos asmos de que se fazia uso na páscoa e após ela. A festa das primícias, que era celebrada no dia seguinte ao sábado da semana pascoal e consistia principalmente no oferecimento de um molho das primícias do trigo, tinha igualmente sido cumprida em sua significação típica no dia exato de sua celebração pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos “feito as primícias dos que dormem” (1 Co. 15: 20 e 23). Agora, cinquenta dias depois, era chegado o dia exato de se cumprir também o que significava tipicamente o pentecostes. Cumpriu-se, de fato, com a descida do Espírito Santo.

Ora, se as outras duas festas de um só dia tiveram cada uma um só cumprimento, de modo que ninguém tem direito de esperar que Jesus morra e ressuscite muitas vezes, é claro que a terceira festividade, também de um só dia, teve cumprimento em um só acontecimento, não devendo ninguém jamais esperar que o Espírito de Deus tenha de vir do céu muitas vezes, mormente quando é sabido que ele veio para ficar, e continua conosco. Verdade é que Jesus há de vir ao mundo segunda vez; mas não para cumprir de novo a páscoa. Assim também é certo que o Espírito Santo há de ainda ser derramado sobre toda a carne; mas não para repetir o Pentecostes, nem antes que ele volte para o céu levando consigo a Igreja ao encontro do Noivo celeste, e portanto não nesta dispensação e não para a Igreja cristã.[2]

b) As pessoas que em Jerusalém estavam reunidas tinham uma promessa especial do batismo do Espírito Santo, que devia se realizar naquele lugar determinado e dentro de poucos dias (Atos 1: 4-5). Nunca mais, em tempo algum, houve um grupo de crentes que pudesse alegar tais circunstâncias. É pura insensatez, ainda que muito bem intencionada, reunirem-se em tempo e lugar que o Senhor não lhes determinou para reclamarem uma promessa que lhes não foi feita a eles, promessa, porém, que o Senhor já cumpriu nos termos em que foi feita.

2. O conjunto de sinais exteriores só essa vez se efetuou.

a) Um som ou ruído como de um vento veemente e impetuoso, que encheu toda a casa, e foi também ouvido fora na cidade (v. 6,V.B.).

b) Línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.

c) O “fala em outras línguas” nos dialetos de catorze nacionalidades ali representadas, que os ouviram exprimir-se nos provincianismos das terras donde vieram.

Verificado que a situação histórica do Pentecostes não se pode reproduzir em tempo algum, já porque a significação típica da festa se realizou então de uma vez por todas, à semelhança do que se deu com as festividades da páscoa e das primícias, já porque ninguém, senão aqueles discípulos, recebeu do Senhor instruções e promessas tão definidas para lugar e tempo determinados: verificado igualmente que os fenômenos exteriores da presença do Espírito de Deus no Pentecostes jamais se reproduziram em seu conjunto, podemos ter a mais absoluta certeza de que o Pentecostes nunca se repetiu, não se está repetindo, nem jamais se repetirá.

RESUMINDO

O Pentecostes foi a vinda do Espírito de Deus para residir na terra, habitando nos crentes, cujos corpos se tornaram santuário de Deus.

Com essa vinda e essa residência, ele veio a ser para nós:

1º Um selo da propriedade que o Senhor tem em nós — nossa relação para com Deus.

2º Um penhor de nossa herança, até que estejamos de posse dela — nossa relação futura.

3º Uma unção pela qual somos separados e consagrados — nossas funções na casa de Deus.

4º Um batismo que nos une ao corpo místico de Cristo — nossa relação para com a Igreja Invisível.

Tudo isso se estabelece de uma vez para sempre no momento em que cremos no Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador e, nunca se repete.

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NOTAS:
[1] A proposição grega en aqui traduzida em, é a mesma posta nos lábios de João Batista em todos os quatro evangelhos quando disse que Jesus batizaria com o Espírito Santo, e a mesma de que usou Jesus sobre o mesmo assunto em Atos 1:5.
[2] Infelizmente aqui o autor revela sua posição pré-milenista dispensacionalista que era comum no meio presbiteriano da época (NE).
Extraído do livro A Doutrina Bíblica do Espírito Santo do Pastor Antônio Almeida, publicado em 1934 pela Tipografia Norte Evangélico, Garanhuns. Dr. Antônio Almeida fez seu aperfeiçoamento em Teologia no Union Seminary – Richmond -Virginia, USA, foi Reitor do Seminário Evangélico do Norte (depois SPN) e Professor de Hebraico, Hermenêutica e Exegese do referido Seminário; foi o quinto pastor da Primeira Igreja Presbiteriana do Recife onde desenvolveu um ministério profícuo durante vinte anos (1911-1930).


Fonte: [ Projeto Os Puritanos ]
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Comemorando a Reforma

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Há 489 [Nota do Blog dos Eleitos: em 2011 comemoramos 494 anos] anos atrás um padre colocava um cartaz, contendo 95 teses, na porta da Catedral de Wittenberg. No dia 31 de Outubro, Martinho Lutero resolveu expor publicamente o que ele descobrira acerca da salvação nos seus estudos da Escritura Sagrada.

Eventos antecedentes à Reforma

A Reforma iniciou num ambiente favorecido pela crise que a Europa sofria durante a Idade Média. Seis eventos podem esclarecer a origem deste movimento:

1. A origem e desenvolvimento da burguesia. Durante a Idade Média uma nova classe social surgiu no sistema feudal. Uma "classe média" interpôs-se entre os senhores feudais e os seus miseráveis vassalos. Artesãos enriqueciam, e começaram a enviar os seus filhos para os monastérios, não com o intuito de tornarem-se monges, mas para aprenderem o uso das letras, para adquirir a cultura necessária para aplicá-la nas transações comerciais emergentes.

2. A origem das universidades. Os monges eram os detentores da cultura, por isso, criaram escolas anexas aos seus monastérios. Os senhores feudais e os burgueses com recurso financeiro enviavam os seus filhos para serem educados por eles. A partir do século XI a Europa passa a ter seis centros culturais nas cidades de Salerno, Bolonha, Salamanca, Coimbra, Orfoxd, e Paris. Este movimento educacional conhecido como Escolasticismo limitava-se ao estudo de quatro áreas especiíficas como a medicina, direito, artes e a teologia, que era o centro unificador destes cursos recebendo o título de rainha das ciências.

3. O enfraquecimento do poder político da Igreja Católica Romana. O evento conhecido como Cativeiro Babilônico, em que o Papa Bonifácio VIII, ficou prisioneiro do rei francês Felipe, causou uma mudança no eixo do controle da Europa medieval. O Papa que então entronizava, ou efetiva maldições sobre reis e reinos, tornava-se detento de sua própria estratégia de centralizar o poder. Em reação, o clero romano propõe anular o seu papado, sob domínio francês, e anunciar um substituto; então, surgem simultaneamente três papas na Europa: Urbano VI, em Roma, Bento XIII, em Avinhão e Clemente VIII, em Anagni. Esta controvérsia ficou conhecida como o Grande Cisma (1378-1423).

4. O grande número de mortes por causa da Peste [bubônica], em 1347. Com a desestruturada migração para as cidades, a falta de recursos básicos em higiene e moradia, bem como a proliferação de animais peçonhentos, propiciou para um ambiente em que uma pandemia como a peste bubônica se alastrasse de uma forma nunca vista antes na Europa medieval. A religião não forneceu respostas, nem garantias para a presente vida. As pessoas procuravam assegurar a sua vida eterna através das exigências da Igreja Romana. Este ambiente religioso gerou um sentimento apocaliptíco na Europa, de modo que a Igreja reconquistou o controle sobre a população européia.

5. A crise moral e doutrinária da Igreja Católica. Apesar dos conflitos internos e externos a Igreja tentava centralizar o poder em Roma, convergindo a atenção da Cristandade na construção da suntuosa Basílica de São Pedro. A simonia tornou-se a prática dominante entre os arrecadores de dinheiro para tamanho empreendimento arquitetônico. Vendia-se de tudo o que era identificado como "sacro", desde unhas, ossos, roupas, objetos de santos, dos apóstolos, e do próprio Cristo. Mas, a indulgência era o produto mais procurado para aquisição, pois, segundo o ensino católico, garantia o perdão dos pecados passados e futuros, bem como o alívio das almas presentes no purgatório. A imoralidade havia se alastrado em todas as áreas da Igreja e da sociedade.

6. O desenvolvimento do movimento Humanista nas universidades. Apesar da maioria da população ser controlada pela Igreja Romana, um grupo pensante questionava as incoerências doutrinárias e morais ensinadas pela Igreja Romana. O espírito pesquisador levou os humanistas a procurarem esclarecimento, não apenas nas respostas prontas da tradição católica, mas a retornarem ad fontes. O estudo dos textos clássicos impulsionaram estes pesquisadores a redescobrirem os antigos filósofos, os Pais da Igreja, mas principalmente, o estudo das Escrituras a partir dos originais hebraico e grego. Assim, descobriram que algumas das doutrinas centrais da fé católica derivaram a sua origem de uma má interpretação e tradução da Vulgata Latina, e de uma tradição distorcida.

O início da Reforma

Dentro deste contexto ocorre uma mudança na vida de Martinho Lutero. A conversão de Lutero aconteceu entre 1516-17, sobre a qual ele descreveu o seguinte: “embora eu vivesse irrepreensível como um monge, percebi que era um pecador diante de Deus, com uma consciência extremamente perturbada. Não conseguia crer que Ele estava satisfeito com a minha dedicação. Eu não o amava; sim, eu odiava o Deus justo que punia pecadores, e secretamente, se não de maneira blasfematória, certamente murmurando, estava com ódio de Deus... Finalmente, pela misericórdia de Deus, meditando dia e noite, dei ouvidos ao contexto das palavras: ‘A justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito, 'O justo viverá por fé'’ (Rm 1:17). Então, comecei a compreender que a justiça de Deus é aquela mediante a qual o justo vive por uma dádiva de Deus, ou seja, pela fé. E, é este o significado: a justiça de Deus é revelada pelo evangelho, a saber, a justiça passiva com a qual o Deus misericordioso nos justifica pela fé, segundo está escrito: ‘O justo viverá por fé’. Aqui, senti como se renascesse totalmente e entrasse no paraíso pelos portões abertos" (Preface to Writings on Latim, Luther's Works, vol. 34, pp. 336-37).

Houve muita controvérsia dentro da Igreja, por causa dos escritos de Martinho Lutero, porque muitos desejavam uma reforma moral, educacional, social, mas principalmente teológica. Com a excomunhão de Lutero, em 15 de Junho de 1520, ficou consumado a divisão entre reformadores e católicos. Com o reformador alemão outros adotaram o programa de reformar a Igreja e a sociedade, usando o princípio da sola Scriptura [somente a Escritura é fonte e autoridade final], como Ulrich Zuínglio, Felipe Melanchton, Martin Bucer e João Calvino. A Reforma expandiu-se da Alemanha e Suiça para todo o continente europeu.

Breve cronologia biográfica de Lutero
1483 - Nascimento de Lutero em Eisleben
1490 - Foi para a escola de Mansfeld
1497 - Mudou-se para a escola de Magdeburg
1498 - Mudou-se para a escola de São Jorge em Eisenach
1501 - Iniciou na Universidade de Erfurt
1505 - Tornou-se noviço agostiniano
1507 - É ordenado monge
1507 - Enviado para Universidade de Wittemberg por Johann von Staupitz
1510 - Ida à Roma
31/10/1517 - Escreve as 95 teses
1519 - Debate de Leipzig com Johann Eck
1520 - Recebe a bula papal Exsurge Domini decretando a sua exclusão
1521 - Dieta de Worms
1522 - Controvérsia com "os entusiastas" [profetas de Zwickau]
1524-1525 - Ocorre a revolta dos camponeses
1525 - Lutero rompe com os Humanistas [Erasmo de Rotterdam]
1529 - Debate com Zwinglio sobre a Ceia do Senhor
1530 - Escrita a Confissão de Augusburg por Felipe Melanchthon
1531 - União Esmalcada - defesa contra os princípes católicos
18/02/1546 - Lutero falece em Eisleben

Rev. Ewerton B. Tokashiki
Extraído de: [ Blog dos Eleitos ]
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Pregação simples e honesta

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Por Vincent Cheung

Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano, nem torcemos a palavra de Deus. Ao contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus. (2 Co 4: 2 – NVI)

O motivo, a mensagem e o método de pregação nunca deveriam estar envoltos em mistério. Existem aqueles que igualam complexidade e ambiguidade à profundidade. Pregar é dizer às pessoas tudo o que Deus tem revelado na fé cristã, ou seja, na Bíblia. E nada sobre isso tem necessidade de ser confuso. Como Paulo lembra aos Coríntios, “pois nada lhes escrevemos que vocês não sejam capazes de ler ou entender” (1.13).

Sem dúvida, Pedro observa que algumas coisas nas cartas de Paulo são difíceis de entender, mas ele diz “algumas coisas”, não a maioria ou todas as coisas, e ele diz “difíceis de entender”, e não impossíveis de entender. Ele escreve que pessoas “ignorantes e inconstantes” as distorcem para a sua própria destruição. Visto que os cristãos não devem ser nem ignorantes e nem inconstantes, e visto que eles receberam o mesmo Espírito Santo que os apóstolos receberam, é possível para o crente, pelo menos em princípio, captar tudo o que a Escritura ensina. E não há razão pela qual a nossa pregação devesse obscurecer a clara verdade da divina revelação.

A verdadeira pregação cristã, portanto, deve ser honesta, clara e fácil de entender. Esse é o fundamento de qualquer teoria homilética. E por essa concepção de pregação, todo crente deveria ser capaz de comunicar o Evangelho aos seus vizinhos. Existem, sem dúvida, táticas que poderiam manipular a audiência ou utilizar das personalidades ou experiências dos ouvintes para que se possa ganhar influência sobre eles. Mas uma vez que haja qualquer elemento de engano, todo o exercício não mais funciona em direção à sua meta apropriada.

Não queremos que as pessoas simplesmente se chamem cristãos – não é atrás disto que estamos, afinal; mais que isso, queremos que as pessoas sejam modificadas em seus corações, que acreditem em alguma coisa nova e maravilhosa, e que se tornem cristãos, e que assim se chamem porque o são. Queremos apresentar ao Senhor Jesus, discípulos genuínos e inteligentes, pessoas que compreendem a fé cristã e creem que ela é a verdade, e esse é o único caminho para a salvação e o único estilo de vida.

Pela mesma razão, rejeitamos a violência como um meio de fazer discípulos ou de silenciar os nossos oponentes. Não que a violência seja errada em si mesma. Existe certa confusão sobre isso que enlameia muitas discussões sobre religião e sociedade. Ocasionalmente os cristãos são desafiados pelos seus oponentes com referência às aparentes atrocidades que os santos do Antigo Testamento cometeram contra outras nações. Por que os cristãos endossam esse comportamento no povo antigo, e se eles realmente endossam, por que dizem que isso é inaceitável para a propagação do Evangelho?

Se os cristãos tomarem a suposição infundada de que a violência é errada em si mesma, ficam abertos a todos os tipos de criticismo contra os santos do Antigo Testamento, contra a pena de morte, a legítima defesa, contra o castigo físico na criação de filhos, e daí por diante. Mas todas das críticas contra a fé cristã são defeituosas, e essa aqui não é uma exceção. Deus mandou os santos do Antigo Testamento os povos para que pudessem se apossar da terra prometida, e não para disseminar a fé. Foi algo realizado por uma nação em guerra com outras nações, e não pela igreja como uma entidade espiritual ou por crentes agindo individualmente por conta própria. Deus tinha decidido expulsar os pagãos adoradores de ídolos – as suas falsas religiões eram as verdadeiras atrocidades – e ele cumpriu a sua promessa com referência à terra ao garantir a vitória de Israel. Depois Deus expulsou os próprios judeus, e agora os cristãos são o povo de Deus, e nós não lutamos por uma terra porque o nosso reino é espiritual.

Nesse sentido, a violência dos santos do Antigo Testamento não tem relação com a agenda cristã. Do mesmo modo, quando executamos um criminoso, não se trata de uma tentativa de converter sua alma por esse alto, como se quiséssemos ameaçá-lo à fé. Trata-se de uma questão distinta da pregação do evangelho. Queremos que as pessoas creiam em seus corações, e não que meramente se vistam de uma aparência. Dessa forma, o uso da violência não é somente contra as ordens de Deus, mas é também impotente para obter o resultado que buscamos. O mesmo se aplica ao uso de truques e artimanhas, bajulação e apelos aos desejos pecaminosos dos homens. Ou você deseja a coisa errada, ou você não vai conseguir o que quer por nenhum outro método a não ser o discurso claro e sincero.

Nós apresentamos a mensagem do evangelho como uma questão de verdade e de erro, de justiça e impiedade. Assim, levamos para dentro da mente dos homens que isso é uma questão de certo e errado. Apelamos à consciência deles, e não às suas carteiras ou aos seus apetites e desejos sensuais. A propagação do Evangelho não é uma questão de sutileza na oratória, de manobra política, de relevância cultural ou social. É expressão clara da verdade que pronunciamos diante de Deus e em direção aos homens – não adulterada pela ambição e livre de filosofia humana. Essa obra está aberta a todos os crentes. Qualquer cristão pode falar a alguém sobre o Senhor Jesus Cristo em linguagem forte e honesta, e esperar que o Espírito Santo venha com grande poder e convicção.

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Espírito de Covardia

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Por João Calvino

Porque Deus não nos deu espírito de covardia (2Tm 1.7). Isso confirma sua afirmação anterior, pela qual ele prossegue insistindo com Timóteo a apresentar evidência do poder dos dons que recebera. Ele apela para o fato de que Deus governa seus ministros pelo espírito de poder que é o oposto do espírito de covardia. Daqui se conclui que eles não devem cair na indolência, mas que devem animar-se com profunda segurança e ardorosa atividade, e que exibam com visíveis resultados o poder do Espírito. Há uma passagem em Romanos [8.15] que, à primeira vista, se assemelha muito a esta; o contexto, porém, revela que o sentido é diferente. Ali, ele está tratando da confiança na adoção possuída por todos os crentes; aqui, porém, sua preocupação é especificamente com os ministros, e os exorta na pessoa de Timóteo a animar-se para dinâmicos feitos de bravura; pois o Senhor não quer que exerçam seu ofício com tibieza e langor, senão que avancem com todo vigor, confiando na eficácia do Espírito.

Mas de poder, de amor e de sobriedade. Daqui aprendemos que nenhum de nós possui em si mesmo a excelência de espírito e a inabalável confiança necessárias no exercício de nosso ministério; devemos ser revestidos com o novo poder do alto. Os obstáculos são tantos e tão imensuráveis, que nenhuma coragem humana é suficiente para transpô-los. Portanto, é Deus quem nos equipa com o Espírito de poder. Pois aqueles que, por outro lado, revelam grande força, caem quando não são sustentados pelo poder do Espírito de Deus.

Em segundo lugar, inferimos que os que são tímidos e servis como os escravos, de modo que, quando precisam soerguer-se não ousam tomar qualquer iniciativa em defesa da verdade, esses não são governados pelo Espírito que age sobre os servos de Cristo. Daí se conclui que mui poucos daqueles que se denominam ministros de Cristo, hoje, dão mostras de ser genuínos. Pois dificilmente se encontrará entre eles um que, confiando no poder do Espírito, destemidamente desdenhe de toda altivez que se exalta contra Cristo! Acaso a grande maioria não se preocupa mais com seu próprio interesse e seu próprio lazer? Não se prostram mudos assim que estala algum problema? Como resultado, em seu ministério não resplende nada da majestade de Deus. A palavra espírito é aqui usada figuradamente, como em muitas outras passagens.

Mas, por que depois de poder ele acrescenta amor e sobriedade? Em minha opinião, é para distinguir o poder do Espírito do excessivo zelo dos fanáticos que se precipitam numa desenfreada pressa e se gabam de possuir o Espírito de Deus. Portanto, ele explicitamente declara que a poderosa energia do Espírito é temperada pelo amor e sobriedade, ou seja, por uma serena solicitude pela edificação. Paulo não está negando que o mesmo Espírito fosse comunicado aos profetas e mestres antes da publicação do evangelho, mas insinua que essas duas graças seriam especialmente evidentes e poderosas sob o reino de Cristo.

Fonte: [ Josemar Bessa ]
Via: [ Ministério Batista Beréia ]

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As Mulheres na Reforma Protestante

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Sempre que se fala em Reforma Protestante, pensa-se de imediato em homens como Lutero, Calvino, Knox, Wycliffe, Zwínglio e tantos outros. Errado? Não, de maneira nenhuma! Porém, a história também nos fornece que não somente homens contribuíram para o "estouro" da Reforma. A mulheres também tiveram seu importante papel na causa reformista.

O site Eleitos de Deus publicou ontem uma pequena história de duas mulheres que tiveram participação notável na Reforma. Republico aqui um resumo de suas histórias. Estou falando da belga Marie Dentière e da alemã Katharina von Bora.

Marie Dentière

Marie Dentière (Tournai, 1495 – Genebra, 1561), também conhecida como Marie d'Ennetieres, foi uma teóloga e reformadora protestante belga. Teve um papel ativo na reforma religiosa e política de Genebra, especialmente no fechamento de conventos e pregando junto a João Calvino e Guilheme Farel. Seu segundo marido, Antônio Froment, também foi um ativo reformador. Além disso, seus trabalhos em favor da Reforma e seus escritos são considerados uma defesa da perspectiva feminina em um mundo que passava por rápidas e drásticas transformações em pouco tempo. É de sua autoria uma das frases mais importantes da época: “Passei muito tempo na escuridão da hipocrisia. Somente Deus foi capaz de fazer-me enxergar minha condição e conduzir-me à luz verdadeira”. Seu segundo marido, Antoine Froment, também foi um ativo reformador.

Em 1539, Dentiére escreveu uma carta aberta a Margarita de Navarra, irmã do Rei da França, Francisco I, intitulada Espistre tres utile (O título completo em português é "Epístola muito útil, escrita y composta por uma mulher cristã de Tournay, enviada ao Reino de Navarra, irmã do Rei da França, contra os turcos, judeus, infiéis, falsos cristãos, anabatistas e luteranos"). Na carta, ela incitava a expulsão do clero católico da França e criticava a estupidez dos protestantes que obrigaram a Calvino e Farel a abandonar Genebra. A carta foi rapidamente proibida por seu teor abertamente subversivo.

Apesar da qualidade de seus escritos teológicos, Marie Dentière sofreu perseguição e incompreensão tanto por parte das autoridades católicas como pelos próprios reformadores genebrinos, que impediram a publicação de qualquer texto escrito por uma mulher na cidade durante o resto do século XVI.

Em 3 de novembro de 2002 seu nome foi gravado no Monumento Internacional da Reforma, em Genebra, por sua contribuição à história e à teologia da Reforma, tornando-se a primeira mulher a receber tal reconhecimento.

Leia mais sobre sua vida e veja a galeria de imagens dela neste link.

Katharina von Bora

Catarina (Katharina) von Bora (Lippendorf, 29 de janeiro de 1499 – † Torgau, 20 de dezembro de 1552) foi uma freira católica cisterciense alemã. Em 13 de Junho de 1525, casou-se com Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante.

Catarina abriu as portas da sua casa pra que monges, freiras, padres que escancaravam seus corações pra verdade de Deus e se tornavam adeptos da Reforma se refugiassem, mesmo sabendo que estavam entrando num tempo de perseguição e isso pudesse resultar numa invasão ao seu lar. Existiram vezes, que 25 pessoas moravam em sua casa, sem contar ela, Lutero, as crianças e os 11 órfão de quem cuidavam!

Lutero nunca se negava a ajudar um necessitado. Sempre oferecia dinheiro a quem precisava e logo logo, acabou com as lindas porcelanas que Catarina ganhou de presente de casamento, vendendo para conseguir dinheiro e abençoar aqueles que lutavam pela causa da graça de Cristo!

Katy cuidou de Hans Lutero, seu primeiro filho, ao mesmo tempo em que seu esposo passava por uma terrível depressão. Ela se sentava ao seu lado e lia a Bíblia pra ele edificando seu coração. Conciliou as tarefas da casa, de hospedagem, mãe, esposa com a árdua tarefa de ajudar Lutero na tradução das escrituras para o alemão. Ouvia os desabafos de Martinho e sabia que cada vez que ele saia para pregar podia não o ver voltar, pois quanto mais pregava, mais inimigos Lutero ganhava. Expandir o Reino e as verdades bíblicas significava para Catarina poder ficar viúva. Mas ela sempre o encorajava: “Deus cuidará de nós. Não tema! Pregue!”.

Ela realmente é admirável. Sua postura permitia Lutero pregar livremente e arriscar sua vida pela Verdade!

“Catarina não escreveu nenhum livro nem pregou nenhum sermão, mas sua inestimável ajuda possibilitou que o marido fizesse isso. Ela foi um grande apoio pra ele.” Como Lutero mesmo disse a um amigo: “Minha querida Katy me mantém jovem e em boa forma também (risos). Sem ela eu ficaria totalmente perdido. Ela aceita bem minhas viagens e, quando volto, está sempre me esperando. Cuida de mim nas depressões. Suporta meus acessos de cólera. Ela me ajuda em meu trabalho e, acima de tudo ama a Jesus. Depois de Jesus, ela é o melhor presente que Deus em deu em toda a vida... Se um dia escreverem a história da Reforma da Igreja espero que o nome dela apareça junto ao meu e oro por isso”.

Tudo que Catarina Lutero falou ao ouvir isso foi: “Tudo que tenho sido é esposa e mãe e acho que uma das mais felizes de toda a Alemanha!”. Lutero chamava sua esposa de "estrela da manhã de Wittinberg". Katie viveu por mais seis anos após a morte do esposo em 1546.

Leia mais sobre sua vida e veja a galeria de imagens dela neste link.

Extraído de: [ Blog dos Eleitos ]
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Pastor recebe a "unção de Arão" com 12 litros de óleo

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O pastor Antonio Silva, do Ministério Encontro com Deus de Arapongas/PR, ministrou um "culto profético" (?) invocando ao Deus de Arão e recebendo a unção de 12 litros de óleo. Isso mesmo! 12 litros de óleo! O dito "pastor" não ficou só breado ou bizuntado, mas ficou encharcado, igual aquele salgadinho do boteco da esquina.

No vídeo, que tem pouco mais de 3 minutos, mas o pastor aparece declarando que depois daquele dia a vida das pessoas que estavam ali presente seriam transformadas. “Dinheiro que nunca vem, salvação que nunca vem… demônios vocês estão derrotados pelo poder do nome do Deus de Arão”, diz o pastor antes de ser banhado em óleo. O maluco ainda envia para igreja um tal de “x-nilo” (WTF?). "E eu invoco, a partida de agora, x-nilo para toda essa igreja”.

Depois de ser ungido pelo 12 litros de óleo ele pede para a igreja tomar posse da unção. “De hoje a 13 dias o futuro de vocês serão garantidos diante do grande mistério de x-nilo, o Deus de Arão”, profetiza ele.

Veja o bizarro vídeo:



Será que é necessário comentar alguma coisa? Doidão de baré! Louco de pedra! Que nojo!

Autor: Rev. Rodrigo G. da Silva
Fonte: [ Pensamento Quase Livre ]

Será que este óleo é de peroba???

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A Crocodilagem da Fé

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Por Pr. Silas Figueira

Muitos líderes não tem nenhuma vergonha na cara de fazer chacota com as crises que as pessoas estão passando. Muitos se aproveitam desse momento de fragilidade, seja na área emocional, profissional, familiar, na saúde para brincar com a fé dessas pessoas e arrancar delas tudo o que elas tem. Primeiro lhes arranca o dinheiro, depois lhes arrancam a fé e por fim leva essas pessoas a total bancarrota espiritual.

Temos visto isso ocorrer em todos os seguimentos da igreja que se diz evangélica, mas que a muito tempo se tornou uma servidora fiel de Satanás. Líderes que sem nenhum pudor, sem nenhum temor manipulam a Palavra de Deus para se beneficiarem. São os Caifás modernos, são pessoas que se utilizam da religião para enriquecerem, são monstros cruéis, leviatãs camuflados de sacerdotes enganando o povo que anda cego em busca de um milagre. E é exatamente na crise, na fragilidade e da fragilidade humana que esses crocodilos se alimentam. Se alimentam da dor de uma mãe que está vendo seu filho indo para as drogas, que está vendo sua filha na prostituição, um pai de família desempregado e vendo dia após dia as contas de acumularem e o alimento se acabar no armário. Se aproveitam daquela esposa que está vendo seu casamento se acabar e lutando com todas as suas forças não vendo resultado o do seu esforço.

Esses crocodilos fantasiados de sacerdotes do Deus Vivo são instrumentos de Satanás vendendo os seus martelos poderosos, as suas meias milagrosas, as suas águas bentas que tudo purifica, o sal grosso, a arruda, a rosa, a toalha encharcada de suor e meleca do apóstolo. Como se diz por aí, crente não acredita em cartomante, mas adora uma revelagem, e o que mais vemos por aí são crentes buscando revelação. Esses Caifás modernos não poupam nem crianças ...

Mas tudo isso ocorre porque o brasileiro é um povo místico e imediatista, querem o milagre não importa de onde venha nem quanto custa. Vivem de campanha em campanha. Quem alimenta essa máfia de crocodilos são as próprias pessoas que as buscam ávidas por ver o milagre. Muitos, é bom lembrar, são levados como ovelhas para esses matadouros, são inocentes, mas outros já são crias antigas desse sistema viciante e não sabem ou não querem sair dessa roda viva em busca das migalhas alcançadas. Eu creio que muitos ali alcançam alguns benefícios, pois Satanás é ardiloso e nós conhecemos os seus desígnios e ardis. Alguns milagres são fabricados, outros ocorrem na mente de gente que desesperadamente quer ver alguma coisa acontecer, nem que seja na vida dos outros. É uma porta de emprego que se abre, é um namorado que se arranja, é uma bênção nessa ou naquela outra área que se alcança. Mas tudo isso não procede de Deus, pois Deus não tem compromisso com os que falam em seu nome aquilo que Ele não disse e nem prometeu.

O evangelho Puro e Simples, o Evangelho transformador que trás ao coração do homem esperança, alento, renova a fé e opera o maior milagre que pode ocorrer na vida de uma pessoa que é a salvação, esse tem sido esquecido ou muito pouco procurado e por causa disso alguns tem se vendido a esse mercado das campanhas, dos atos proféticos, das unções e jejuns de Daniel.

Estou escrevendo isso com um peso e uma grande tristeza no coração por ver pessoas inocentes sendo roubadas daquilo que é mais bonito na vida de uma pessoa o prazer de servir a Deus pelo o que Ele é e não pelo o que Ele dá e faz. Que o Senhor nos ajude a livrar das garras de Satanás essas pobres almas encarceradas do engodo da mentira.

Que o SENHOR seja conosco!

Veja esse video abaixo:




Fonte: [ Ministério Batista Beréia ]
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A bondade humana na visão Calvinista.

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Por Ricardo Castro


Há algum desejo do bem, existente no homem?

O homem, em seu apetite natural, discerne pela razão, conforme a excelência da sua natureza mortal, o que deve buscar, e, o considera mediante o exercício da verdadeira prudência?

O que o homem tem por bem, está ligado à justiça e à virtude?

O desejo natural tem alguma importância para provarmos que há liberdade no homem?

Existe na alma humana uma faculdade que a habilita a aspirar voluntariamente ao bem?

Todos os homens tem um conflito interior entre fazer o mal ou fazer o bem?

Existe algo no homem, que não somente vaidade?

Ao tratar as questões acima, Calvino cita um autor conhecido, bem conhecido, falando sobre os homens:

“... como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há que busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é como sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a tem cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos.” – Paulo, o apóstolo, aos Romanos (capítulo 3, versos 10 a 18).

Para Calvino, Paulo, com essas palavras rigorosas fulmina toda a linhagem Adâmica, e não censura os costumes corrompidos de alguma época, mas acusa a corrupção perpétua da natureza humana. Assim, todos os homens, do primeiro ao último, estão envolvidos em tão grave calamidade que dela não podem sair, a menos que a misericórdia de Deus os livre. Os homens, como descritos por Paulo, não são assim apenas pela perversão dos costumes, mas também por uma perversidade natural, porque, de outro modo, o argumento dele não teria consistência. Dessa forma, Paulo nos mostra que não temos salvação, a não ser pela misericórdia de Deus, visto que, deixado a si mesmo, todo homem está perdido e arruinado.

Calvino bem nos apresenta a questão acima, sobre o texto citado, comentando sobre as palavras de Paulo: “Primeiro, ele despoja o homem da justiça, isto é, da integridade e da pureza, depois da inteligência, à qual segue-se a indicação do sentido: que todos os homens se desviaram de Deus, sendo que busca-lo é o primeiro nível da sabedoria. Seguem-se então os frutos da infidelidade: que todos decaíram e se tornaram dissolutos a tal ponto que “não há quem faça o bem”. E, ainda mais, há no homem maldades de todo tipo, maldades que contaminam todas as partes do corpo, o qual transborda injustiça. Finalmente, ele testifica que os homens não tem “temor de Deus”, sendo que o temor de Deus deveria servir de regra para nos conduzir em todos os nossos caminhos. Se são essas as riquezas hereditárias do gênero humano, em vão se buscará algum bem em nossa natureza. Reconheço que nem todas essas maldades aparecem em cada ser humano, mas ninguém pode negar que cada ser humana encerra em si a semente do mal.” E, encerrando, Calvino diz que a alma humana, submersa como está no abismo da iniquidade, não somente é defeituosa e má, mas também é vazia de todo bem.

Mas, como explicar que em todos os séculos tem havido alguns que, em sua conduta e por sua índole, durante toda a sua vida, tem aspirado à virtude, e mesmo quando se encontre muita coisa que merece reparo em seus costumes, o seu apego à honestidade mostra alguma pureza da sua natureza?!

Para Calvino, na corrupção universal, a graça de Deus tem seu lugar, não para corrigir a perversidade da natureza, mas para reprimi-la e restringi-la no íntimo. Isso porque, se Deus permitisse que todos os homens seguissem a sua concupiscência a rédeas soltas, não haveria ninguém que não demonstrasse experimentalmente que todos os males estão em todos eles. Afinal, todas as partes componentes do homem estão dispostas e preparadas para fazer o mal. Assim, o que aconteceria se o Senhor deixasse vagar a cobiça humana conforme a sua inclinação natural? Há algum animal feroz que não se exceda tão desordenadamente? Há algum rio caudal que não seja tão violento e indomável, cuja inundação não seja tão impetuosa?

Segundo Calvino, o Senhor restringe, por sua providência, a perversidade da natureza humana, mas não a expurga. Não há, no homem, a faculdade de querer o bem e, a virtude de alguns só serve de sombra para cobrir seus vícios e defeitos. Virtudes, se alguém as tem é devido à graça divina e, Deus mesmo as distribui, até mesmo aos maus, como e quantas lhe apraz. Por esse motivo, em nosso linguajar comum não devemos dizer que este é bem nascido, aquele é mal nascido, quem um tem boa natureza, o outro tem natureza má. Podemos apenas dizer que Deus dá sua graça particularmente a um e a nega a outro. A vontade humana, amarrada e presa como está à servidão do pecado, não pode trabalhar nem um pouco pelo bem, por mais que se esforce. Tal ação, trabalhar pelo bem, é o começo da nossa conversão a Deus, a qual é totalmente atribuída à graça do Espírito Santo pela Escritura.

Bernardo de Claraval afirma que o querer está em todos os homens, mas o querer o bem é matéria de acréscimo, e o querer o mal é da nossa deficiência; assim, simplesmente querer é do homem, querer o mal é da natureza corrupta, querer o bem é da graça. E, Calvino bem disse que a vontade é destituída de liberdade, e é necessariamente tomada pelo mal.

“O homem, após corromper-se por sua queda, peca voluntariamente, e não contra o desejo de seu coração, nem por constrangimento. Ele peca, insisto eu, por uma fortíssima inclinação, e não por constrangimento forçado. Ele peca movido por sua própria cobiça, e não constrangido por outro. E, todavia, a sua natureza é tão perversa que ele não é estimulado, impelido ou induzido a outra coisa que não seja o mal. Se isso é verdade, é notório que ele está necessariamente sujeito a pecar.” – Calvino

Há no homem alguma bondade que lhe é própria ou produzida por ele? Certamente, e absolutamente, não.

Sicut scriptum est...

Bibliografia utilizadas na construção deste artigo:

- As Institutas, volume 1 (João Calvino – Editora Cultura Cristã)
(Há, no artigo acima, várias compilações da obra acima, não havendo indicação por aspas ou referências, a todas elas. Minha intenção é incitar o leitor a pesquisar nessa obra e, assim lê-la.)
- Referências Bíblicas: Rm 1.18 a Rm 3.

Fonte: [ Sicut Scriptum Est ]

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Regra Infalível de Fé e Prática‏

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“Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso"(Romanos 3:4).

A mensagem cristã vem a nós através da Bíblia. O que devemos pensar sobre a Bíblia que contém essa mensagem?

De acordo com a visão cristã, a Bíblia contém um relato da revelação de Deus ao homem que não é encontrado em nenhum outro lugar. É verdade, a Bíblia também contém uma confirmação e um fortalecimento maravilhoso das revelações que são dadas também pelas coisas que Deus fez e pela consciência do homem. “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” — estas palavras são uma confirmação da revelação de Deus na natureza; “todos pecaram e carecem da glória de Deus” — estas palavras são uma confirmação do que é atestado pela consciência. Mas, além dessas reafirmações, de fatos que possivelmente poderiam ser aprendidos de outras fontes — na realidade, por causa da cegueira dos homens, essas coisas são aprendidas de outras fontes apenas em modo comparativamente obscuro — a Bíblia também contém um relato absolutamente novo de uma revelação. Esta nova revelação diz respeito ao modo pelo qual o homem pecador pode entrar em comunhão com o Deus vivo.

O caminho foi aberto, de acordo com a Bíblia, por um ato de Deus quando, há dois mil anos, fora das paredes de Jerusalém, o Filho eterno foi oferecido como sacrifício pelos pecados de homens. Todo o Antigo Testamento espera ansiosamente este grande evento único e todo o Novo Testamento encontra nele o seu centro e cerne.

A salvação então, de acordo com a Bíblia, não é algo que foi descoberto, mas algo que aconteceu. Daí surge a exclusividade da Bíblia. Todas as idéias do cristianismo podem ser descobertas em alguma outra religião, porém não pode haver cristianismo em outra religião. Porque o cristianismo não depende de um complexo de idéias, mas da narração de um evento. Sem este evento, o mundo, na visão cristã, está totalmente escuro e a humanidade está perdida sob a culpa do pecado. Não pode haver salvação pela descoberta da verdade eterna porque a verdade eterna nada pode trazer além do desespero por causa do pecado. A vida recebeu um novo aspecto através das coisas abençoadas que Deus fez, quando sacrificou seu único Filho gerado.

Às vezes uma objeção é levantada a esta visão do conteúdo da Bíblia. Pergunta-se se devemos depender do que aconteceu há tanto tempo? A salvação deve ser dependente do exame de registros antiquados? O estudante treinado na história da Palestina é o sacerdote moderno sem cuja intervenção graciosa ninguém pode ver a Deus? Não podemos encontrar, em seu lugar, uma salvação que independe da história, uma salvação que depende apenas do que está conosco aqui e agora?

A objeção não é desprovida de peso. Mas ela ignora uma das evidências primárias para a veracidade do registro do evangelho. Esta evidência é encontrada na experiência cristã. A salvação depende do que aconteceu há muito tempo, mas este evento tem efeito contínuo até os dias de hoje. Encontramos, no Novo Testamento, que Jesus se ofereceu como sacrifício pelos pecados daqueles que crêem nele. Isto é um registro de um evento passado. Mas podemos fazer um teste do mesmo hoje e, ao julgá-lo, descobrimos que isso é verdadeiro. Encontramos, no Novo Testamento, que em uma certa manhã, há muito tempo, Jesus ressuscitou. Isso, novamente, é um registro de um evento passado. Mas, mais uma vez, podemos julgá-lo e, ao aferí-lo, descobrimos que Jesus é verdadeiramente um Salvador vivo hoje.

Nesse ponto, um erro fatal está de emboscada. É um dos erros essenciais do liberalismo moderno. A experiência cristã, como acabamos de dizer, é útil para confirmar a mensagem do evangelho. Mas porque ela é necessária, muitos homens têm concluído, precipitadamente, que ela é tudo o que é necessário. Dizem que se temos uma experiência presente de Cristo no coração deveríamos sustentar esta experiência, independentemente do que a história possa nos dizer quanto aos eventos da primeira Páscoa. Não podemos nos fazer totalmente independentes dos resultados do criticismo Bíblico? Não importa que tipo de homem a história possa dizer que Jesus de Nazaré foi realmente, não importa o que a história possa dizer sobre o significado real da sua morte ou sobre a história da sua suposta ressurreição, não podemos continuar a experimentar a presença de Cristo em nossas almas?

O problema é que a experiência assim mantida não é uma experiência cristã. Pode ser uma experiência religiosa, mas certamente não é uma experiência cristã. Porque a experiência cristã depende absolutamente de um evento. O cristão diz para si mesmo: “Tentei meditar sobre o problema de tornar-me justo com Deus, tentei produzir uma justiça que permaneceria à sua vista; mas quando ouvi a mensagem do evangelho, compreendi que o que eu tinha aspirado alcançar em minha fraqueza, já havia sido alcançado pelo Senhor Jesus Cristo quando ele morreu por mim na Cruz e completou sua obra redentora através da ressurreição gloriosa. Se o que ele fez não tivesse sido feito, se eu meramente tivesse uma idéia da sua realização, então seria, de todos os homens, o mais miserável, porque ainda estaria nos meus pecados. Minha vida cristã, então, depende completamente da verdade do registro do Novo Testamento”.

A experiência cristã é corretamente usada quando confirma a evidência dos documentos históricos. Mas nunca pode prover um substituto para a evidência documentária. Sabemos que a história do evangelho é verdadeira parcialmente por causa da data antiga dos documentos nos quais aparece, pela evidência quanto à sua autoria, evidência interna da sua verdade e pela impossibilidade de explicá-la como tendo sido baseado em uma decepção ou em um mito. Esta evidência é gloriosamente confirmada pela experiência presente que adiciona à evidência documentária a integridade maravilhosa e a urgência de convicção que nos livra do medo. A experiência cristã é corretamente usada quando ajuda a nos convencer de que os eventos narrados no Novo Testamento realmente aconteceram; mas ela nunca pode nos capacitar a sermos cristãos, quer os eventos tenham ocorrido ou não. É uma bela flor e deveria ser apreciada como dom de Deus. Mas cortada de sua raiz no Livro abençoado, ela logo seca e morre.

Assim, a revelação do relato que está contida na Bíblia abraça não apenas a reafirmação das verdades eternas — ela mesma necessária porque as verdades têm sido obscurecidas pelo efeito cegante do pecado — mas também uma revelação que apresenta o significado de um ato de Deus.

O conteúdo da Bíblia, portanto, é único. Mas outro fato sobre a Bíblia também é importante. A Bíblia pode conter um relato de uma verdadeira revelação de Deus e, apesar disto, o relato pode ser cheio de erros. Antes que a autoridade total da Bíblia possa ser estabelecida, então, é necessário adicionar a doutrina cristã da inspiração à doutrina cristã da revelação. Esta doutrina significa que a Bíblia não é apenas um relato de coisas importantes, mas que o próprio relato é verdadeiro, tendo os escritores sido preservados de erros, a despeito de uma manutenção total de seus hábitos de pensamento e expressão, que o Livro resultante é a “regra infalível de fé e prática.”

Esta doutrina da “inspiração plena” tem sido assunto de deturpação persistente. Seus oponentes falam dela como se envolvesse uma teoria mecânica da atividade do Santo Espírito. O Espírito, diz-se, é representado nesta doutrina como se tivesse ditado a Bíblia aos escritores, considerados realmente pouco mais do que estenógrafos. Mas, naturalmente, todas estas caricaturas não têm base de fato, e é surpreendente que homens inteligentes sejam tão obscurecidos pelo preconceito a ponto de nem mesmo examinarem, por si mesmos, as investigações perfeitamente acessíveis nas quais a doutrina da inspiração plena é apresentada. Normalmente se considera como uma boa prática, examinar algo por si mesmo antes de ecoar o ridículo vulgar deste algo. Mas, em conexão com a Bíblia, estas restrições sábias são consideradas, de algum modo, fora de lugar. É muito mais fácil contentar uma pessoa com uns poucos adjetivos ultrajantes como “mecânico” ou semelhantes. Por que engajar-se em um criticismo sério quando o povo prefere o ridículo? Por que atacar um oponente real quando é mais fácil derrubar um espantalho?

Na realidade, a doutrina da inspiração plena não nega a individualidade dos escritores bíblicos; ela não ignora o uso que fizeram de meios ordinários para a aquisição de informação; ela não envolve qualquer falta de interesse nas situações históricas que deram origem aos livros bíblicos. O que ela nega é a presença de erros na Bíblia. Ela supõe que o Espírito Santo informou as mentes dos escritores bíblicos de tal forma que eles foram impedidos de cometerem os erros que danificam todos os outros livros. A Bíblia pode conter um relato de uma revelação genuína de Deus e, mesmo assim, não conter um relato verdadeiro. Mas, de acordo com a doutrina da inspiração, o relato é, na realidade, um relato verdadeiro; a Bíblia é uma “regra infalível de fé e prática”.

Esta, certamente, é uma reivindicação estupenda e não é de se surpreender que seja atacada. Mas o problema é que o ataque nem sempre é leal. Se o pregador liberal fizesse objeção à doutrina da inspiração plena baseado no fato de que, na realidade, há erros na Bíblia, ele poderia estar certo ou errado, mas a discussão seria conduzida em terreno adequado. Mas, muitas vezes, o pregador deseja evitar a questão delicada dos erros na Bíblia — uma questão que pode ofender os recrutas — e prefere simplesmente falar contra as teorias “mecânicas” de inspiração, teoria do “ditado”, “uso supersticioso da Bíblia como um talismã”, ou semelhantes. Tudo isto soa ao homem comum como se fosse inofensivo. O pregador liberal não diz que a Bíblia é “divina”que ela é,de fato,mais divina porque é mais humana?

O que poderia ser mais edificante do que isto? Mas, naturalmente, estas aparências são enganadoras. Uma Bíblia cheia de erros certamente é divina no sentido panteísta moderno de “divino”, de acordo com o qual Deus é apenas outro nome para o curso do mundo, com todas as suas imperfeições e todos os seus pecados. Mas o Deus que o cristão adora é um Deus da verdade.

Deve ser admitido que há muitos cristãos que não aceitam a doutrina da inspiração plena. Esta doutrina é negada não apenas pelos oponentes liberais do Cristianismo, mas também por muitos homens cristãos verdadeiros. Há muitos homens cristãos na igreja moderna que acham que a origem do cristianismo não foi um mero produto da evolução, mas uma entrada real do poder criativo de Deus, que não dependem para sua salvação de seus próprios esforços, mas do sangue expiatório de Cristo — há muitos homens na igreja moderna que aceitam desta forma a mensagem central da Bíblia e, mesmo assim, crêem que esta mensagem veio até nós simplesmente na autoridade de um testemunho digno de confiança, realizando sua obra literária sem qualquer assistência ou direção sobrenatural do Espírito de Deus. Há muitos que crêem que a Bíblia é correta em seu ponto central, em seu relato da obra redentora de Cristo e, mesmo assim, crêem que ela contém muitos erros. Estes homens não são realmente liberais, mas cristãos; porque aceitam como verdadeira a mensagem da qual o Cristianismo depende. Um grande abismo os separa daqueles que rejeitam o ato sobrenatural de Deus no qual o Cristianismo se ergue ou cai.

É outra questão, todavia, se a visão mediadora da Bíblia assim mantida é logicamente sustentável. O problema é que o próprio nosso Senhor parece ter sustentado a alta visão da Bíblia que está sendo aqui rejeitada. Esta, certamente, é outra questão — e uma questão a qual o presente escritor responderia com uma negativa enfática — se o pânico sobre a Bíblia, o qual dá origem a tais concessões, é justificado ou não pelos fatos. Se o cristão faz uso total de seus privilégios cristãos, ele encontra o trono da autoridade em toda a Bíblia, a qual ele não considera como mera palavra de homens,mas como a própria Palavra de Deus.

A visão do liberalismo moderno é muito diferente. O liberal moderno não rejeita apenas a doutrina da inspiração plena, mas até mesmo o respeito pela Bíblia que seria apropriado em contraste com qualquer livro ordinariamente digno de confiança. Mas o que substitui a visão cristã da Bíblia? Qual é a visão liberal quanto ao trono da autoridade na religião?

Às vezes dá-se a impressão de que o liberal moderno substitui a autoridade da Bíblia pela autoridade de Cristo. Ele não pode aceitar, diz, o que considera como ensino moral perverso do Antigo Testamento ou os argumentos sofísticos de Paulo. Mas ele se considera um verdadeiro cristão porque, ao rejeitar o resto da Bíblia, ele depende apenas de Jesus.

Esta impressão, no entanto, é absolutamente falsa. O liberal moderno não sustenta realmente a autoridade de Jesus. Mesmo se ele o fizesse, de fato, ainda estaria empobrecendo grandemente seu conhecimento de Deus e do caminho da salvação. As palavras de Jesus, faladas durante o seu ministério terreno, dificilmente conteriam tudo o que precisamos saber sobre Deus e sobre o caminho da salvação; visto que o significado da obra redentora de Jesus dificilmente poderia ser totalmente apresentado antes da obra ser completada. Poderia, de fato, ser apresentada por meio de profecia e, na verdade, foi exposta por Jesus mesmo nos dias de sua carne. Mas a explicação total só poderia ser naturalmente dada depois da obra ser completada. E este realmente foi o método divino. É um insulto, tanto ao Espírito de Deus como ao próprio Jesus, considerar o ensino do Espírito Santo, dado através dos apóstolos, inferior em autoridade ao ensino de Jesus.

Na realidade, todavia, o liberal moderno não sustenta de forma estável nem mesmo a autoridade de Jesus. Ele, com certeza, não aceita as palavras de Jesus como elas foram registradas nos Evangelhos. Porque entre as palavras registradas de Jesus são encontradas aquelas coisas mais abomináveis à igreja liberal moderna, e em suas palavras registradas, Jesus também aponta em direção à revelação mais completa posteriormente dada através dos seus apóstolos.

Evidentemente, então, estas palavras de Jesus que são consideradas autoritárias pelo liberalismo moderno, devem, em primeiro lugar e através de um processo crítico, ser selecionadas de uma massa de palavras registradas. O processo crítico, com certeza, é muito difícil e freqüentemente surge a suspeita de que o crítico pode estar conservando como palavras genuínas do Jesus histórico, apenas aquelas palavras que se adequam às suas próprias idéias pré concebidas. Mas, mesmo depois do processo de seleção ter sido completado, o estudioso liberal ainda é incapaz de aceitar a autoridade de todos os ditos de Jesus; ele deve finalmente admitir que até mesmo o Jesus “histórico”, reconstruído pelos historiadores modernos, disse algumas coisas não verdadeiras.

Isto é normalmente admitido. Mas, é mantido que embora nem tudo o que Jesus disse seja verdadeiro, seu “propósito de vida” central ainda é considerado como um regulador para a igreja. Mas, qual, então, foi o propósito de vida de Jesus? De acordo com o menor, e se o criticismo moderno for aceito, o primeiro dos Evangelhos, o Filho do Homem, “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.45). Aqui a morte vicária é colocada como o “propósito de vida” de Jesus. Este discurso deve, naturalmente, ser colocado de lado pela igreja liberal moderna. A verdade é que o propósito de vida de Jesus descoberto pelo liberalismo moderno não é o propósito de vida do Jesus real, mas apenas representa aqueles elementos no ensino de Jesus — isolados e mal interpretados — que concordam com o programa moderno. Não é Jesus, então, quem é a autoridade real, mas o princípio moderno pelo qual a seleção dentro do ensino registrado de Jesus foi feito. Certos princípios éticos isolados do Sermão do Monte são aceitos, não porque sejam ensinos de Jesus, mas porque concordam com as idéias modernas.

Não é verdade de maneira alguma, então, que o liberalismo moderno é baseado na autoridade de Jesus. Ele é obrigado a rejeitar uma vasta quantidade do que é absolutamente essencial no exemplo e ensino de Jesus-especialmente a sua consciência de ser o Messias celestial.

A autoridade real, para o liberalismo, só poder ser “a consciência cristã” ou “experiência cristã”. Mas como as conclusões da consciência cristã devem ser estabelecidas? Com certeza não por um voto majoritário da igreja organizada. Este método, obviamente, iria aniquilar toda a liberdade de consciência. A única autoridade, então, só pode ser a experiência individual; a verdade só pode ser aquilo que “ajuda” o homem individual. Esta autoridade, obviamente, não é autoridade de forma alguma; porque a experiência individual é infinitamente diversa e quando a verdade é considerada apenas como aquilo que funciona em um tempo específico, ela deixa de ser verdade. O resultado é um ceticismo abismal.

O homem cristão, por outro lado, encontra na Bíblia a própria Palavra de Deus. Não se diga que a dependência de um livro é algo artificial ou morto. A Reforma do século XVI foi baseada na autoridade da Bíblia e, mesmo assim, colocou o mundo em chamas. A dependência na palavra de um homem seria servil, mas a dependência na Palavra de Deus é vida. O mundo seria escuro e sombrio se tivéssemos sido deixados por conta de nossos próprios esquemas e não tivéssemos a Palavra abençoada de Deus. A Bíblia, para o cristão, não é uma lei pesada, mas a própria Carta Magna da liberdade cristã.

Não é de se surpreender, então, que o liberalismo seja totalmente diferente do cristianismo, visto que a base é diferente. O cristianismo é baseado na Bíblia. Ele baseia-se na Bíblia tanto no seu pensamento quanto na sua vida. O liberalismo, por outro lado, é baseado nas emoções diversificadas de homens pecadores.

J.Gresham Machen - Cristianismo e Liberalismo (Os Puritanos)
“Um homem deve ter dúvidas de si mesmo,mas nenhuma dúvida sobre a verdade, no entanto, isso foi justamente invertido” (G.K Chesterton)
Enviado por Paulo Junior, via e-mail.
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