Por Alex Belmonte
A denominacionalização da teologia e as interpretações bíblicas particularizadas tornam-se graves incômodos para a Apologética Cristã.
No decorrer da História da Teologia cristã podemos reconhecer os desafios dos primeiros apologistas, não apenas no combate às ameaças de contaminações da pura doutrina, mas também na busca de preservar os Fundamentos da Verdade, estabelecidos por Cristo e interpretados pelos Apóstolos. Isso foi possível devido a alguns motivos importantes que se tornaram relevantes em cada período da história, entre esses motivos se destacou a universalidade da interpretação bíblica cujo resultado evitou que se tornasse mais grave a visão particularizada das Escrituras Sagradas.
Em seu livro História da Teologia Cristã (Editora Vida), o teólogo e historiador Roger Olson (Professor do George W. Theological Seminary da Baylon Universitary em Waco, Texas) apresenta-nos um dos grandes exemplos para esse fantástico comportamento intelectual dos cristãos do 2º e 3º séculos: O africano Tertuliano de Cartago (150-230 d.C). Convertido aos 40 anos iniciou seu chamado à defesa da fé, usando suas habilidades e conhecimentos jurídicos na exposição da Palavra em combate aos pagãos e hereges. Talvez você logo pergunte: O que de fato descreve Tertuliano como um autêntico promotor da unidade teológica, visto que o mesmo teve simpatia pelo montanismo? Eu lhe asseguro: Sua postura em resposta à heresia de Práxeas que sustentava a existência de um só Senhor, o Todo-Poderoso, levando esse próprio a morrer na cruz, resultando num decreto da crucificação do Pai. A forma como Tertuliano respondeu aos absurdos de Práxeas o tornou o “pai” das doutrinas ortodoxas da Trindade e da Pessoa de Jesus Cristo. Tertuliano se tornou o primeiro teólogo cristão a confrontar e rejeitar as heresias que feriam as verdades acerca das três Pessoas da Trindade, e ao mesmo tempo, direcionou todos os grandes pensadores e futuros teólogos a um assunto que mais tarde seria o “pilar” para a unidade teológica das igrejas cristã em todo o mundo: A identidade eclesial trinitariana.
Mas o que é a Teologia Denominacionalizada? Que contradição tem essa com a história da teologia nas pessoas de Tertuliano, Atanásio, Lutero, Calvino, Zuínglio e outros? Que deficiências e ameaças à fé possui esse novo tipo de teologia?
O que proponho aqui chamar de denominacionalização teológica é tornar visível a espúria visão interpretativa da Bíblia que faz a Teologia refém da esfera denominacional de grupos e seguimentos religiosos, cuja aplicação das Escrituras tende a causar confusões doutrinárias e constantes injeções de costumes e hábitos particulares e pessoais. É a manifestação da “eisegese” na contramão do poder exegético deixado pelos grandes teólogos. A Teologia Denominacionalizada é aquela que impõe o que aparentemente parece princípio bíblico, mas na verdade se trata de um Evangelho superficial e enganoso diante da secularização e das influências do neoteísmo. É a falsa teologia que escraviza o indivíduo, humilha, desvirtua, e tende a laicizar a Verdade, afastando pessoas de Deus.
Como surgiu essa Denominacionalização da Teologia?
São diversos os fatores que contribuíram para isso, mas os principais foram a apatia por parte de nossas Igrejas Históricas na reação em meio às turbulências “evangelicais” nos vários momentos da cristandade, e a negligência do pentecostalismo para com o ensino teológico (no passado) onde vê-se notório sua ênfase as experiências espirituais como prioridade para uma vida consagrada a Deus. Esse último, como erro, resultou no surgimento opaco do neopentecostalismo que cada vez mais se afasta da ortodoxia e do padrão bíblico doutrinário, se tornando de fato “celeiro de hereges”.
Outro fator ressaltado para a Denominacionalização da Teologia é falta de zelo no ensino teológico, que tratado de forma equivocada por grupos sem tradição acadêmica, resulta tragicamente na propagação de conceitos anti-bíblicos e extra-teológicos, simplesmente para poder manter erros denominacionais condenados por Deus, rejeitando a interpretação bíblica fiel cultivada pelos mestres cristãos primitivos. Isso sem falar no liberalismo teológico que esfriou e “matou” igrejas na Europa e em parte dos Estados Unidos, e agora no Brasil, de forma sutil, invade mentes e corações dos incautos.
O fenômeno da teologia denominacionalizada só é perceptível a partir do momento que nos engajamos na insinuante tarefa da Apologética ativa, cuja missão superior é oferecer a resposta racional da fé cristã. A Denominacionalização da Teologia e as interpretações bíblicas particularizadas tornam-se graves incômodos para a Apologética. Isso sempre que colocamos em evidência os quatro postulados da Reforma, Sola Gratia, Solo Christus, Sola Fide e Sola Scriptura – diante da poluição bíblica em massa que nos rodeia. Conseguimos então entender que Deus nos chamou não apenas para uma ampla apresentação e pregação da Verdade cristológica externa, mas para no âmago da esfera cristã manter viva a chama da unidade teológica, herança de reformadores como Lutero, Calvino, Zuínglio e Knox, cuja manifestação expressa exaltou verdades bíblicas que hoje revelam o sustentáculo de nossa fé.
A Teologia não pode ser denominacionalizada! Sendo assim ela destrói a mensagem da cruz, tomando a direção contrária ao IDE de Jesus, como assistimos visivelmente por parte dos milhares pregadores no meio evangélico, que insistem em ministrar aos crentes os sermões pleonásticos na “mesmice” da busca de um poder que não tem efeito missionário.
A Teologia não pode ser denominacionalizada! Pois se assim for ignorará cada vez mais a linha de mensagem que leva o crente ao crescimento e a maturidade espiritual.
A Teologia verdadeira é aquela que liberta o homem pelo Conhecimento da Palavra de Deus, mediante a aliança no sangue de Jesus uma vez derramado, possibilitando vidas à experiências verdadeiras com o Espírito Santo, capacitando-as ao entendimento da Verdade em Cristo.
Littera scripta manet!
Fonte: [ NAPEC ].
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