O 'Mundo' de João 3:16 não significa todos os homens sem exceção

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Por Rev. David J. Engelsma


Agora é comum entre pessoas reformadas que, quando se confessa a eleição de Deus de alguns para a salvação, o amor especial de Deus pelos eleitos e o desejo exclusivo de Deus de salvar os eleitos, a confissão é imediatamente contestada por um apelo a João 3:16:

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."

Na verdade, essa é quase a regra. Aquele que assim apela a João 3:16 tem a intenção de afirmar que Deus ama todos os homens, sem exceção, e que Deus deseja salvar todos os homens, sem exceção. O pressuposto básico subjacente a este apelo a João 3:16, como um argumento contra a eleição, é que a palavra, mundo, em João 3:16 significa "todos os homens, sem exceção"

Nós anunciamos, declaramos e proclamamos aqui que essa suposição é falsa. É antibíblica. E ela leva a um ensino que fundamentalmente se desvia do Evangelho.

A palavra "mundo", em João 3:16 não significa "todos os homens, sem exceção".

Rogamos a nossos irmãos e irmãs reformados que insistem em conceber "mundo" em João 3:16 como "todos os homens, sem exceção", e utilizam este texto contra a confissão do amor particular de Deus pelo eleito, a enfrentarem a posição doutrinária que têm tomado. Esta é a posição deles:

Deus ama todos os homens, sem exceção, com um amor que dá o seu Filho unigênito para a salvação, isto é, com um amor (salvífico) que deseja que eles sejam salvos do pecado e tenham a vida eterna no céu.
Deus deu o seu Filho unigênito por todos os homens, sem exceção, ou seja, Jesus morreu por todos os homens, sem exceção. 
No entanto, muitas pessoas que Deus ama, que Deus deseja salvar, e por quem Jesus morreu, perecem no inferno, não salvas. 
Portanto:
1 - muitas pessoas estão separadas do amor de Deus; 2 - o desejo de Deus de salvar é frustrado no caso de muitas pessoas; 3 - a morte de Jesus não conseguiu salvar muitos por quem o Filho de Deus, de fato, morreu.
razão para este triste estado das coisas é que tais pessoas se recusaram a crer em Jesus, embora eles fossem capazes de fazêlo em virtude de seu livre arbítrio.
Por outro lado, a razão pela qual os outros são salvos não é porque Deus os amou, desejou a sua salvação, e deu Seu Filho para morrer por eles (pois Ele também amou os que perecem, desejou a salvação deles, e deu Seu Filho por eles), mas que, por meio de seu livre arbítrio, escolheram crer.
Concluindo, a condenação dos ímpios é a derrota e decepção de Deus, ao passo que a salvação dos crentes é a própria obra deles. 

Quando homens defensores de "todos os homens, sem exceção" citam João 3:16, esta é a forma como eles estão lendo:

"Porque Deus amou todos os homens, sem exceção, que deu o seu Filho unigênito para morrer por todos os homens, sem exceção, com o desejo de que todos os homens, sem exceção, sejam salvos, para que todo aquele que crê, por seu livre arbítrio, não pereça, mas tenha a vida eterna."

Sempre que alguém desafia a confissão do amor particular e exclusivo de Deus pelos Seus eleitos, citando João 3:16, devemos concluir com pesar que ele defende a posição doutrinária estabelecida acima e deseja confessá-la publicamente, a fim de, assim, derrubar a doutrina reformada da predestinação, expiação limitada, depravação total, graça eficaz e a preservação dos santos (o que é apenas uma forma elaborada de dizer, a salvação pela graça somente o Evangelho).

A palavra mundo no Evangelho de João não significa "todos os homens, sem exceção" . Comprove:

João 1:29: "Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!"Por acaso Cristo por meio de Sua morte tirou o pecado de todos os homens, sem exceção? Se ele tirou, todos os homens, sem exceção, serão salvos.
João 6:33. "Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo". Por acaso Jesus dá vida (não, inutilmente oferece vida, mas eficazmente dá vida) a todos os homens, sem exceção? Se ele dá, todos os homens, sem exceção, têm a vida eterna.
João 17:9: "Eu [Jesus] não estou rogando pelo mundo". Jesus se recusa a orar por todos os homens, sem exceção? 

Este último texto aponta que a palavra, mundo, no Evangelho de João, nem sempre têm o mesmo significado. Em João 3:16, o mundo é amado por Deus, com um amor que dá o Filho de Deus por sua causa; em João 17:9, o Filho de Deus se recusa a rogar pelo mundo. Os santos não devem chegar a um entendimento do mundo de João 3:16 por meio de uma suposição rápida, mas pela interpretação cuidadosa da passagem à luz do resto da Escritura.

Qual é então a verdade sobre o mundo de João 3:16?

Amado por Deus com um amor divino, todo poderoso, eficaz, fiel e eterno, o mundo é salvo. Todo ele! Todos eles!
Redimidos pela preciosa, digna, poderosa e eficaz morte do Filho de Deus, o mundo é salvo. Todo ele! Todos eles!

A salvação de todas as pessoas incluídas no mundo de João 3:16 é devido unicamente ao amor eficaz de Deus e a morte redentora de Cristo por eles; enquanto que aqueles que perecem nunca foram amados por Deus, nem redimidos por Cristo, ou seja, eles não fazem parte do mundo de João 3:16.

O mundo de João 3:16 [2] é a criação feita por Deus no princípio (agora desordenado por causa do pecado) juntamente com os eleitos de todas as nações (agora por natureza filhos da ira tanto quanto os outros) como sendo o cerne do mesmo. Com respeito às pessoas dele, o mundo de João 3:16 é a nova humanidade em Jesus Cristo, o último Adão (Cf. 1Co 15:45). João chama esta nova raça humana "o mundo", a fim de mostrar e enfatizar, não só o povo judeu, mas todas as nações e povos (Cf. Ap 7:9). As pessoas que compõem o mundo de João 3:16 são todos aqueles, e só aqueles, que se tornarão crentes aquele que crê; e é o eleito que crê (Cf. At 13:48).

Esta explicação de João 3:16 não é uma nova interpretação estranha sonhada por hipercalvinistas contemporâneos, mas a explicação que foi dada no passado pelos defensores da fé que chamamos reformada, ou seja, por aqueles que confessavam a graça soberana de Deus na salvação dos pecadores.

Esta foi a explicação dada por Francis Turretin[3]:

"O amor tratado em João 3:16 [...] não pode ser universal para todos e para qualquer um, mas especial para alguns [...] porque a finalidade do amor de Deus é a salvação daqueles a quem Ele busca com tal amor [...] Portanto, se Deus enviou Cristo para esse fim, que por meio d'Ele o mundo fosse salvo, Ele necessariamente ou falhou em Seu objetivo, ou o mundo precisa ser salvo, de fato. Mas é certo que não é o mundo inteiro, mas somente aqueles escolhidos do mundo que são salvos; logo, a menção deste amor é devidamente aos escolhidos [...] 
Por que então o mundo não deveria ser entendido aqui, não como universal para indivíduos, mas indefinidamente para qualquer um, tanto judeus quanto gentios, sem distinção de nação, língua ou posição social, para que se possa dizer que Ele amou a raça humana; enquanto que Ele não desejava destruí-la completamente, mas decretou salvar certas pessoas, não somente de um povo como anteriormente, mas de todos os povos indiscriminadamente, embora os efeitos desse amor não seja estendido a cada indivíduo, mas apenas para algumas, ou seja, os escolhidos do mundo?"[4]

Sobre a palavra, mundo, na Escritura, Abraham Kuyper escreveu:

"Porque, se há alguma coisa que é certa a partir de uma leitura um pouco mais atenta da Sagrada Escritura, e que pode ser defendida como firmemente estabelecida, é, realmente, o fato irrefutável, que a palavra mundo na Sagrada Escritura apenas significa 'todos os homens' em raríssimas exceções, e quase sempre significa algo completamente diferente. 

Em uma explanação, mais específica, sobre o "mundo" de João 3:16, Kuyper chegou a dizer que a menção é ao "próprio cerne" da criação, o povo eleito de Deus, "o qual Jesus arrebata de Satanás".

"[...] a partir deste cerne, desta congregação, deste povo, um 'novo mundo', uma 'nova terra e novo céu', um dia surgirão, por uma obra maravilhosa de Deus. A terra não serve apenas para permitir com que os eleitos sejam salvos, para em seguida, desaparecer. Não, os eleitos são homens; esses homens formam um todo, um acervo, um organismo; esse organismo está fundamentado na criação; e porque esta criação é agora o reflexo da sabedoria de Deus e da obra de suas mãos, a administração dela por Deus não pode se tonar em nada, mas no Grande Dia a vontade de Deus para esta criação será perfeitamente realizada."[5]

Essencialmente, esta é a mesma interpretação de Arthur W. Pink[6]:

"Passando agora para João 3:16, deveria ser evidente, a partir das passagens que acabamos de citar, que este versículo não vai suportar a construção que é costumeiramente colocada sobre ele. 'Porque Deus amou o mundo de tal maneira'. Muitos supõem que isto significa, toda a raça humana. Mas 'toda a raça humana' inclui toda a humanidade, desde Adão até o fim da história da Terra: alcança o passado bem como o futuro! Considere, então, a história da humanidade antes de Cristo nascer. Incontáveis milhões de pessoas viveram e morreram antes do Salvador ter vindo à terra, viveram aqui 'não tendo esperança e sem Deus no mundo', e, portanto, foram para uma eternidade de aflição. Se Deus os 'amou', onde se encontra uma prova, a menor prova que seja, disso?"
"A Escritura declara: 'No passado [a partir da torre de Babel até depois do Pentecostes] Ele [Deus] permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos' At 14:16. A Escritura declara que 'Visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam'. Rm 1:28. Para Israel Deus disse: 'Escolhi apenas vocês de todas as famílias da terra' Am 3:2. Levando em conta estas claras passagens, quem será tão tolo a ponto de insistir que Deus no passado amou toda a humanidade?! O mesmo se aplica com igual força para o futuro [...] Mas o objetor volta para João 3:16 e diz: 'Mundo significa mundo'. É verdade, mas nós mostramos que 'o mundo' não significa toda a família humana. O fato é que 'o mundo' é usado de maneira geral [...]." 
"Agora, a primeira coisa a se observar em conexão com João 3:16 é que nosso Senhor estava falando ali com Nicodemos, um homem que acreditava que as misericórdias de Deus eram restritas à sua própria nação. Cristo ali anunciou que o amor de Deus em dar o Seu filho tinha um objeto maior em vista, que fluía além do limite da Palestina, chegando aos 'confins da terra'. Em outras palavras, este foi o anúncio de Cristo que Deus tinha um propósito de graça para com os gentios bem como para com os judeus. Portanto, 'Porque Deus amou o mundo de tal maneira', significa que o amor de Deus é internacional em seu escopo." 
"Mas isso significa que Deus ama cada indivíduo entre os gentios? Não necessariamente, pois, como vimos, o termo 'mundo' é geral e não específico, relativo e não absoluto [...] o 'mundo' em João 3:16, em última análise, refere-se necessariamente ao mundo do povo de Deus. Somos obrigados a dizê-lo, pois não há nenhuma outra solução alternativa. Não pode significar toda a raça humana, pois metade da raça já estava no inferno quando Cristo veio à Terra. É injusto insistir que significa cada ser humano que está vivendo agora, pois todas as outras passagens no Novo Testamento, onde o amor de Deus é mencionado, é limitado a Seu próprio povo pesquise e veja!" 
"Os objetos do amor de Deus em João 3:16 são, precisamente, os mesmos objetos do amor de Cristo em João 13:1: 'Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim'. Podemos admitir que a nossa interpretação de João 3:16 não é um romance inventado por nós, mas um que nos foi dado, quase uniformemente, pelos reformadores e puritanos, e muitos outros depois deles.[7]"

Nós apenas podemos estranhar que os reformados tenham tão rapidamente se afastado da verdade do soberano, particular e eletivo amor de Deus em Jesus Cristo; verdade a qual não foi só confessada "pelos reformadores e puritanos" antes deles, mas também tem sido confessada pela própria igreja reformada em seu credo, os Cânones de Dort.

Quem os enfeitiçou?

Quanto a nós, estamos determinados, por causa do amor à verdade, a se opor à mentira sobre o amor de Deus em Jesus Cristo por todos os homens, sem exceção; a tentar resgatar aqueles que tem sido levados cativos por esta doutrina; e a pregar e testemunhar, perto e longe, a tempo e fora de tempo, o amor de Deus pelo mundo que salva o mundo, a morte do Filho de Deus que redimiu o mundo, o propósito de Deus para a salvação de pecadores a qual está consumada, e a salvação dos pecadores escravizados por meio do soberano poder da graça de Deus somente, para o conforto de todo cristão e para a glória de Deus.

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Notas:
[2] Em grego: cosmos, de onde vem a nossa palavra no inglês, cosmos, refere-se ao nosso "ordenado, harmonioso e sistemático universo".
[3] Francois Turretin (1623-1687) um teólogo reformado de Genebra. 
[4] Theological Institutes.
[5] [Dat De Genade Particulier Is (That Grace is Particular). My translation of the Dutch.]
[6] Arthur W. Pink (1886-1952).
[7] A Soberania de Deus - A. W. Pink

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Fonte: "Deus Amou o Mundo de Tal Maneira Que Deu Seu Filho..." - Homer Hoeksema (Apêndice)
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Bate Papo Reformado com Rev. Augustus Nicodemus Lopes (Questão 2)

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O presente vídeo é o segundo da série: "Bate Papo Reformado" com: Rev. Augustus Nicodemus Lopes. A série é composta por 12 vídeos.

Questão 2:

"O texto de Romanos 9 é interpretado por grupos não reformados como se referindo à eleição do povo de Israel. Num sentido oposto, o calvinismo defende a ideia da chamada individual. Por qual(is) motivo(s) deve prosperar a perspectiva reformada?"


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Fonte: Fé Reformada

- Veja também a questão 1
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A Apologética Pressuposicional usa um Raciocínio Circular?

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Por Massimo Lorenzini


Este artigo responde a objeção comum de que a apologética pressuposicional usa um raciocínio circular (por exemplo, usando a Bíblia para provar a Bíblia). Minha resposta é que todo mundo usa um raciocínio circular. Quando um pressuposicionalista começa com a cosmovisão cristã para defender a mesma, isto é, de fato, circular. Quando se usa um raciocínio circular, geralmente é um argumento fraco. No entanto, quando estamos falando de um critério intelectual final, uma certa quantidade de circularidade é inevitável. Permitam-me expor um pouco a citação do artigo de Michael Kruger denominado "The Sufficiency of Scripture in Apologetics", que apareceu na edição do "The Master's Seminary Journal" (disponível online em: www.tms.edu) na Primavera de 2001:

“Negar circularidade quando se vai para uma autoridade última é sujeitar-se a um infinito regresso de razões [ou argumentos]. Se uma pessoa sustenta certa visão, A, então quando A é desafiado, ele apela para as razões B e C. Mas, naturalmente, [as razões] B e C certamente serão desafiadas quanto ao porque elas deveriam ser aceitas, e então a pessoa teria de oferecer D, E, F e G como argumentos para B e C. E o processo segue continuamente. Obviamente isso tem de parar em algum lugar porque um regresso infinito de argumentos não pode demonstrar a verdade das conclusões de alguém. Assim, toda cosmovisão (e cada argumento) deve ter um último, não questionado, ponto de partida de auto-autenticação. Outro exemplo: imagine alguém perguntando a você se a vara de metro em sua casa tem realmente um metro de comprimento. Como você demonstraria tal coisa? Você poderia levar ela para seu vizinho e compará-la com sua vara de metro e, [então], dizer: “Veja, tem um metro”. No entanto, a próxima questão é óbvia: “Como você sabe se a vara de metro de seu vizinho [e a sua] tem realmente um metro?” Esse processo seguiria infinitamente a menos que houvesse uma vara de metro última (a qual, se não me engano, realmente existiu em dado momento e foi medida por duas finas linhas marcadas sobre uma barra de platina-irídio). É essa vara de metro última que define um metro. Quando se pergunta como alguém sabe se a vara de metro último tem um metro, a resposta é obviamente circular: a vara de metro última [tem] um metro porque ela [tem] um metro. Essa mesma coisa é verdade para a Escritura. A Bíblia não apenas acontece de ser verdade (a vara de metro em sua casa), ao invés ela é o próprio critério para a verdade (a vara de metro última) e, portanto o ponto final de parada na justificação intelectual.”

Então, quando começamos com a Bíblia para defender a Bíblia, isto é feito com a convicção de que a Palavra de Deus é o critério supremo da verdade. Quando um evidencialista começa com o racionalismo (e ás vezes também com o empirismo), ele também está discutindo em círculo, só que ele nem sequer reconhece esse fato.

Pode-se observar que o evidencialismo é circular porque ele começa com a racionalidade. No entanto, o evidencialista nem sequer se preocupa em provar a racionalidade, ele simplesmente a pressupõe! Assim, quando o evidencialista começa com a racionalidade para provar a Bíblia, ele está demonstrando que acredita (mesmo que inconscientemente) que a racionalidade é o critério supremo da verdade.

Por outro lado, o pressuposicionalista diz que a Bíblia é auto-autenticadora. Não existe nenhuma outra autoridade de autenticação ou verificação. Quando uma criança de cinco anos diz ao seu pai: “Por que eu tenho que fazer o que você disse?” O pai não precisa responder com outra coisa senão: "Porque eu disse!”. Para a criança, não há nenhuma autoridade superior. Para o cristão, não há autoridade maior do que a Palavra de Deus. O próprio Deus não pode se referir a uma autoridade maior do que si mesmo:

"Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo" (Hebreus 6:13)

A Apologética é uma questão mais moral do que intelectual. Ela tem a ver com o arrependimento de um uso autônomo da razão buscando submeter o pensamento a Deus. Deve-se arrepender não apenas do conteúdo do que se acredita, mas também do método pelo qual se pensa. A questão aqui então é a própria epistemologia. Qual é a escala pela qual pesam os fatos? É a escala de Deus ou a nossa? Se usarmos a nossa própria escala, os fatos a respeito de Deus e a verdade definitiva sempre será achada em falta por causa da natureza depravada do homem. O estudo cuidadoso da doutrina da depravação total mostra que nenhuma quantidade de evidência dada a um pecador, uma pessoa rebelde, caída, vai ser suficiente para levá-la ao arrependimento e á fé.

O pecador não regenerado construiu para si uma parede que é como um escudo para proteger-se da verdade de Deus. A Apologética evidencialista é totalmente inadequada para a tarefa de remover os tijolos dentro da parede do incrédulo. Só uma abordagem pressuposicional de apologética é capaz de atacar de maneira eficaz, e desmantelar a fortaleza do relativismo, a apatia e o cinismo que o pecador incrédulo tem erguido com um esforço para barricar-se da verdade.

No entanto, eu não estou dizendo que uma apologética pressuposicional é suficiente para levar alguém á Cristo. A abordagem do pressuposicionalismo é aplicar uma apologética para o coração e a mente pós-moderna; sacudi-la de seu sono relativista, e assim, pressionar sobre ela a demanda da santa Lei de Deus e da gloriosa esperança do Evangelho de Jesus Cristo. Mas sem a obra regeneradora do Espírito Santo, mesmo a defesa mais poderosa da fé é inútil.

Você pode notar que a apologética pressuposicional busca ser consistente com a teologia bíblica. A doutrina da depravação humana por si só é suficiente para mostrar a inadequação da apologética evidencialista para levar um homem ao verdadeiro arrependimento e fé em Cristo. Este fato tem sido sempre fiel e sempre verdadeiro, não importa o que a visão de mundo predominante é, mas é especialmente verdadeiro quando se trata do pensamento descrente pós-moderno.

Enquanto a antropologia bíblica confirma o fato de que o evidencialismo é inadequado e incompatível com as Escrituras, outras doutrinas fundamentais também conduzem ainda mais a este fato. Ao considerar os métodos apologéticos, deve-se também levar em consideração as doutrinas da revelação geral e especial, Teologia adequada, Hamartiologia, Soteriologia e Cristologia. No entanto, eu não vou entrar em uma explicação de como essas doutrinas se relacionam com a apologética aqui.

A teologia é verdadeiramente fundamental na determinação de uma metodologia apologética. Sua compreensão da teologia informa sua epistemologia. A epistemologia é a chave para a compreensão da apologética. O pensamento do homem não é neutro, mas é escurecido, caído, e hostil a Deus. O homem, por natureza, odeia a Deus e faz tudo em seu poder para se esconder d'Ele. Portanto, o homem deve arrepender-se do seu pensamento autônomo, pecaminoso e depender da revelação de Deus, a fim de chegar ao conhecimento da verdade. Evidência, por si só, não é capaz de trazer um homem pecador para a salvação ou para a verdade. Ele irá interpretar todos os fatos pecaminosamente, em vez de submeter-se a interpretação dos fatos de Deus.

Você só pode saber se sua epistemologia é correta se ela se enquadra na norma divina, que é inerente ao homem via imagem divina (sensus divinitatis) e também testemunhada por impressão digital de Deus em toda criação (revelação geral). No entanto, a maior precisão epistemológica pode ser tida apenas através das Escrituras (revelação especial). Só quando você está consciente de sua epistemologia - verificada pelo padrão divino de revelação, você pode estar em uma posição para julgar alegações de verdade. Caso contrário, se você rejeita o padrão divino, você não tem nenhuma garantia de que a sua epistemologia é correta e precisa, [logo], você não estará em posição para pesar qualquer tipo de pretensão de verdade. Tudo se torna irremediavelmente sem sentido e fútil, e o pensamento racional em si é impossível.

Se o cristianismo é verdadeiro (e é), então devemos argumentar a partir da base do mesmo. Não podemos conceder a um pecador rebelde um terreno neutro sobre o qual pesam as evidências de Deus, pois não há terreno neutro. O uso autônomo da razão é o problema, não a solução! Pense nisso, o raciocínio humano autônomo levou á queda do homem no jardim. Como poderia alguma vez levar a Deus? Uma pessoa pode ter autonomia epistemológica somente se ele possui autossuficiência intelectual. O homem não é intelectualmente autossuficiente nem é existencialmente autossuficiente ou independente. Em vez disso, o homem é uma criatura finita, dependente de Deus. Ele é dependente de Deus para ter o oxigênio, comida e água, para sua existência (Atos 17:25).

Este mundo é de Deus. Não há simplesmente um terreno neutro para se ficar em cima e avaliar a evidência de Deus. Toda a criação é uma evidência! (Rm 1:18-20). Todos nós vivemos, nos movemos e temos nosso ser em Deus (Atos 17:28). Imagine que toda criação de Deus é como uma enorme bolha. Uma pessoa não pode ir para fora desta bolha e examiná-la. Não há terreno neutro, externo para ficar em cima. Não há nenhuma maneira de julgar os fatos atomisticamente e neutramente. Fatos só têm o seu significado dentro da visão de mundo mais ampla. Uma visão de mundo determina a interpretação dos fatos. Se alguém tem uma cosmovisão naturalista, os fatos serão interpretados de maneira que seja consistente com esta visão de mundo. O Pressuposicionalismo ataca o fundamento desses incrédulos, suas visões de mundo. Ele chama o descrente a se arrepender de seus pensamentos ímpios e pensar os pensamentos de Deus. 

Crentes e não-crentes não têm um terreno epistemológico comum. Eles não compartilham as mesmas escalas, que pesam os fatos. Eles têm um terreno ontológico comum - como criaturas criadas á imagem de Deus. Portanto, o único terreno comum é ontológico e não epistemológico. Isto se torna o ponto de contato com o incrédulo - o fato de que eles são criados á imagem de Deus e estão cientes dessa verdade por mais que eles tentam suprimir (Rm 1:18-20).

Eu me simpatizo com a posição evidencialista porque eu também fui um evidencialista a maior parte da minha vida cristã. Eu simplesmente não conhecia outra maneira de abordar a apologética. Mesmo depois de muita exposição da apologética pressuposicional, eu levei alguns meses para entender e finalmente abraçar. Posso dizer-lhe que, uma vez que eu entendi, foi como um avanço muito grande, e eu caí no amor para com ela. Estas verdades não são facilmente visíveis. Você pode ter que lutar com elas por algum tempo antes de vê-la. Ela exige que você dê um passo atrás e olhe para as questões verdadeiramente fundamentais (teologia sistemática, epistemologia) e como elas afetam a sua metodologia apologética.

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Fonte: Frontline Ministries, acessado no dia 09/10/2013 ás 21:12
Tradução: Fabrício de S. Zamboni e Emerson Campos Pinheiro
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A Inconsistência dos Sinergistas sobre Eleição e Presciência

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Por John Hendryx


Os Sinergistas ensinam que a ELEIÇÃO é como se segue: Deus previu quem se renderia ao Espírito, e então elegeu para a salvação todos aqueles que Ele previu que assim o fariam. Neste esquema, o absoluto livre-arbítrio do homem natural é necessário para preservar a responsabilidade humana. Mas este conceito de presciência realmente reduz a mesmo à nada. Não há nenhum Sinergista vivo que possa consistentemente crer nesta teoria de presciência, e ainda continuar ensinando suas visões com respeito à salvação. Por que então? Considere o seguinte:

1. Nenhum Sinergista pode consistentemente dizer que Deus previu quem seria salvo e então pregar que Deus está tentando salvar todos os homens. Certamente se Deus sabe quem Ele pode salvar ou quem quer ser salvo, então, quem ousará dizer que Ele está tentando salvar alguém mais? Certamente é tolice dizer que Deus está tentando fazer algo que Ele sabe que nunca poderá ser realizado. Eu tenho ouvido alguns Sinergistas acusarem aqueles que crêem no monergismo de que o Evangelho pregado para os não-eleitos é zombaria, visto que Deus não lhes elegeu. Se há algo válido nesta objeção, então ela igualmente se aplica a eles também, que pregam para aqueles que Deus sabe que não serão salvos. Deus ordena que o Evangelho seja pregado a todos, se claramente entendemos ou aceitamos Seu motivo no assunto.

2. Nenhum Sinergista pode consistentemente dizer que Deus previu que pecadores se perderiam e então dizer que não está dentro da vontade de Deus permitir que aqueles pecadores se percam. Porque Ele os criou então? Que os Sinergistas considerem esta questão. Deus poderia ter da mesma forma facilmente Se privado de criar aqueles que Ele sabia que iriam para o Inferno. Ele sabia que eles iriam para o Inferno antes dEle os criar. Visto que Ele foi em frente e os criou com total conhecimento de que eles se perderiam, está evidentemente dentro da providência de Deus que alguns pecadores se percam, e Ele evidentemente tem algum propósito nisto, o qual nós seres humanos não podem discernir completamente. O Cristão humanista pode reclamar o quanto quiser da verdade que Deus escolheu permitir que alguns homens tivessem como destino final o Inferno, mas esta verdade continua sendo um problema tanto para eles como para qualquer outra pessoa. Na realidade, este é um problema que os Sinergistas devem encarar. Se eles encararem isto, terão que admitir ou o erro de sua teologia ou negar juntamente com isto a presciência de Deus. Mas eles poderão dizer que Deus criou aqueles para perecer, mesmo contra Sua vontade. Isto faria Deus sujeito ao Destino.

3. Nenhum Sinergista pode consistentemente dizer que Deus previu quem seria salvo e então ensinar que Deus puniu a Cristo com o propósito de redimir cada homem em particular que já viveu. Certamente deveríamos creditar a Deus como tendo tanto senso quanto um ser humano. Que ser humano faria um grande, porém inútil e imprestável sacrifício? Os Sinergistas dizem que Deus puniu a Cristo pelo pecados daqueles que Ele sabia que iriam para o Inferno. Esta teoria da expiação – embora os Sinergistas não mencionem isto – envolve o assunto do sofrimento de Cristo exclusivamente para o propósito da salvação do homem – o aspecto substitutivo. Eles falham em ter qualquer apreciação do aspecto da propiciação.

4. Nenhum Sinergista pode consistentemente dizer que Deus previu quem seria salvo e então pregar que Deus o Espírito Santo faz tudo o que Ele pode para salvar todos os homens no mundo. O Espírito Santo estaria desperdiçando tempo e esforço para tentar converter um homem que Ele sabe desde o principio que irá para o Inferno. Você ouve os Sinergistas dizerem sobre como o Espírito tenta alcançar os homens e, se eles não se entregarem a Ele, eles “cruzam a linha” e ofendem ao Espírito, de forma que Ele nunca tentará salvá-los novamente. No fundo, o Sinergista transforma a Deidade Divina numa criatura finita.

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Modificado a partir do Artigo Christian Humanism Cuts Its Own Throat 

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Fonte: WithChrist.org
Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
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Bate papo zona sul - com Rev. Augustus Nicodemus

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Confira a entrevista com o Rev. Augustus Nicodemus, realizada por Jorge Alberto da Igreja Congregacional da Zona Sul de Campina Grande/PB, falando de vários assuntos. Gravado durante da 14º edição da consciência cristã realizada em Campina Grande, PB. Assista:


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O calvinismo faz de Deus um “monstro moral”?

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Por Michael Horton


Dentre as caricaturas do calvinismo há uma afirmação muito difundida de que ele torna Deus o autor do mal, do sofrimento, do pecado e até mesmo da queda da humanidade. Em seu recente livro, contra o calvinismo, Roger Olson cautelosamente distingue o ensino oficial do calvinismo de onde ele acha que este logicamente conduz. Porém, há mais de três dezenas de frases em seu livro sobre calvinismo conduzindo pela boa e necessária lógica a uma divindade que é um “monstro moral,” indistinguível do diabo.

Eu respondo a esta acusação diretamente em meu volume, pelo calvinismo. Uma profunda revisão do meu livro de uma perspectiva arminiana veio a minha atenção hoje e esta questão novamente me veio. (A propósito os calvinistas falam tanto sobre predestinação mais por causa das acusações niveladas repetidamente contra ele do que por conta de sua alegada centralidade).

Se Deus sabia que Adão e Eva iam transgredir sua lei, por que ele não mudou as circunstâncias de modo que eles tivessem feito uma escolha diferente?

Por que Deus criaria pessoas que ele sabia que seriam condenadas pelo seu pecado original e real?

As questões multiplicam.

Assumir essa questão em um blog spot é um pouco perigoso. Para uma afirmação da posição reformada e sua base bíblica, eu encaminharia os leitores ao pelo calvinismo.

Porém, há um ponto que é digno de ponderar brevemente: teologias não-calvinistas são muito vulneráveis sobre essa questão. A teologia arminiana clássica partilha com o calvinismo - na verdade com todos os ramos da cristandade - que o pré-conhecimento de Deus compreende todos os eventos futuros. Não há nada que aconteça, nada que você e eu faça, foge do pre-conhecimento eterno de Deus.

Agora volte e leia aquelas questões acima. Observe que elas não se referem à predestinação, mas à mera presciência. Elas fazem um desafio vexatório não apenas aos calvinistas, mas a qualquer um que acredita que Deus sabe exaustivamente e eternamente tudo que acontecerá. Em outras palavras, todos aqueles que afirmam o pré-conhecimento exaustivo de Deus tem exatamente o mesmo problema como qualquer calvinista. Se Deus sabe que Adão pecará - ou que você e eu pecaremos - e pode conservar do acontecimento, mas não o faz, e o pré-conhecimento de Deus é infalível, então é simplesmente tão certo quanto se ele tivesse predestinado isso. Na verdade, é o mesmo que ser predestinado. Então a única diferença é se é determinado sem propósito ou com propósito.

Roger Olson expõe seu próprio ponto de vista: “Deus é soberano no sentido de que nada pode acontecer sem que Deus permita” (100). Então, se a queda aconteceu então Deus a permitiu. A queda “não era uma parte da vontade de Deus a não ser ao permiti-la relutantemente” (99). OK, mas então a queda era em algum sentido uma parte da vontade de Deus. Os calvinistas reconhecem que não era parte da vontade revelada (ou moral) de Deus, mas que ele de bom grado a permitiu como parte do seu plano. Roger Ainda está procurando algo entre: Deus “permiti-la”, mas não é uma “permissão de boa vontade” (64). À parte do fato de que qualquer ato de Deus em permitir algo já é um ato de vontade - uma escolha, meu ponto principal aqui é que a afirmação mais fraca de Roger é ainda forte o suficiente para ter problemas conosco. Roger concorda que Deus sabe de tudo que acontecerá. Deus até supervisiona tudo que acontecerá. Nada escapa da sua vigilância. “Eu acredito, como a Bíblia ensina e todos os cristãos deveriam acreditar, que nada pode acontecer sem a permissão de Deus” (71).

E ainda, Roger rejeita a afirmação de R.C. Sproul, “o que Deus permite ele decreta permitir” (78). Agora, o que poderia ser mais óbvio que o fato de que quando alguém com a autoridade para fazer senão permitir algo contrário à sua vontade revelada, ele está decidindo, escolhendo, decretando permiti-la? Aqui novamente, a noção de Roger de uma noção presumivelmente relutante é um oximoro. Permitir algo é fazer uma determinação positiva, embora isso de modo nenhum a faz responsável pela ação. Então qual é a diferença real entre dizer, com Roger, que “nada pode jamais acontecer que Deus não permita,” e com R. C. Sproul, “o que Deus permite, ele decreta permitir”?

Há na verdade uma trilha de hiper-calvinismo nas margens da cristandade agostiniana, que torna o decreto de Deus permitir em um decreto de realizar ou provocar. Ai, então: Deus é o autor do pecado. Próxima questão? Isto certamente resolve o enigma intelectual. Ou, pode desatar o nó em outra direção. Alguns têm ido além do arminianismo no ponto de vista sociniano de que Deus não sabe as ações futuras dos agentes morais livres. Conhecido como “teísmo aberto,” esta negação da onisciência de Deus reconhece que o arminianismo e o calvinismo são incapazes de resolver este dilema. Eles adequadamente veem que se Deus pré-conhece tudo da eternidade, incluindo nossos atos livres, então esses atos são certos de acontecer. Pré-conhecimento implica predestinação, então eles rejeitam a doutrina cristã clássica da onisciência de Deus.

Hiper-calvinistas e hiper-arminianos compartilham a mesma impaciência com mistério. Nenhuma posição se dobra reverentemente diante da revelação de Deus, reconhecendo suas claras afirmações da soberania divina e responsabilidade humana sem responder todas as nossas questões filosóficas. Contradições são repugnantes à fé, mas toda doutrina importante na escritura está envolta em mistério. Hiper-calvinismo e hiper-arminianismo estão dispostos mesmo a pôr escritura contra escritura, rejeitando alguns ensinos claros em favor de outros, pela satisfação racional. Ainda ambos, em diferentes formas, apresentam erros mortais - na verdade, blasfêmias - contra o caráter de Deus.

Felizmente, o debate entre Roger e eu não é hiper-calvinismo x hiper-arminianismo. A diferença real entre calvinismo e arminianismo é se Deus tem um propósito quando ele permite o pecado e o sofrimento. Novamente, ambas visões afirmam que nada acontece à parte da permissão de Deus. Porém, o calvinismo ensina que Deus nunca permite nenhum mal que ele não tenha já determinado cooperar para o nosso bem (Rm 8.28). Nada que ele permite pode terminar em mal. O que nós diríamos de uma divindade que “relutantemente permitiu” um terrível desastre ou tragédia moral, sem uma determinação para vencer aquele mal como o bem? Mas isto toma um plano e aquele plano deve necessariamente abranger o mal que ele está para conquistar.

Qualquer visão que faz Deus o autor do pecado faz na verdade tornar o objeto de nossa adoração em um monstro moral. Porém, qualquer divindade que simplesmente permanece relutantemente permitindo coisas horríveis pelos quais ele não tem um propósito maior em vista, é igualmente repreensível. Em um, Deus é soberano, mas não bom; no último, nem Deus é. Uma vez que você reconhece que Deus pré-conhece um ato pecaminoso e escolhas ao permiti-lo (porém relutantemente) quando ele poderia não ter escolhido, a única consolação é que Deus nunca o teria permitido a menos que ele já tivesse determinado por que ele permitiria e como ele tem decidido vencê-lo para sua glória e nosso bem. Felizmente, a escritura não revela que Deus faz exatamente aquilo. Roger argumenta que Deus “escolhe permitir” o sofrimento e o pecado (72). O calvinista diz que Deus escolhe permiti-los por uma razão. É permitir em vez de criar, mas é permissão com um propósito. Permissão sem propósito faz Deus um “monstro moral” na verdade.

A teologia reformada tem mantido consistentemente que a escritura ensina a soberania exaustiva de Deus e a responsabilidade humana. Deus não causa o mal. Na verdade, Deus não força ninguém a fazer nada contra a vontade dele ou dela. E ainda, nada fica de fora do sábio, amoroso, bom e justo plano “daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Que a soberania de Deus e a responsabilidade humana são verdades, nenhum estudante sério das escrituras pode negar. Como eles podem ser verdadeiros está além da nossa capacidade de entender. Como Calvino coloca, depois, seguindo Lutero, qualquer esforço de desvendar o mistério da predestinação e a responsabilidade humana além da escritura é uma “busca fora do caminho.” “Melhor mancar ao longo deste caminho,” diz Calvino, “do que correr com toda velocidade fora dele.”

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Fonte: White Horse
Tradução: Francisco Alison Silva Aquilo 
Divulgação: Bereianos
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Por que as campanhas e correntes “evangélicas” são prejudiciais à fé cristã e, sobretudo, antibíblicas?

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Por Leonardo Dâmaso


As campanhas ou correntes que vemos presentes na liturgia dos cultos, exclusivamente nas igrejas neopentecostais e em algumas igrejas pentecostais, são elementos e métodos pragmáticos utilizados pela teologia da prosperidade, cujo intuito principal é suprir as necessidades ou solucionar os diversos problemas na vida do cristão e também do não crente, tais, como – problemas no casamento, problemas financeiros, problemas na área sentimental e problemas na saúde. 

Nas diversas campanhas e correntes, vemos que os pastores se utilizam de elementos místicos, como – a rosa ungida, o sal grosso, a famosa água fluidificada ou, ainda, “rezada” pelo padre ou “orada” pelo pastor, o lenço, o manto e a meia ungida, o cajadinho de Moisés, a botija de azeite, o óleo ungido dentre outros; além de votos financeiros incentivados pelos próprios pastores em prol de uma benção mais rápida em uma área específica da vida, onde eles dizem que, através da oferta financeira pela fé, Deus atenderá mais rápido a pessoa abençoando-a, porque Deus será “obrigado” a abençoar devido à atitude de fé da pessoa.

Contudo, não há nos quatro evangelhos um ensino sequer de Jesus sobre a prática de fazer campanhas ou correntes, e, tampouco, no livro de Atos e nas cartas de Paulo, Pedro, João, Hebreus, Judas dentre outras. Nenhum dos apóstolos fez campanhas do tipo como vemos hoje nas igrejas neopentecostais e pentecostais. Não obstante, as campanhas ou correntes que vemos hoje têm a sua origem e foram extraídas pelos pastores e líderes evangélicos do catolicismo, porém, lá, eles chamam as campanhas ou correntes de “novenas”. Portanto, abraçando esta ideia de novenas, a igreja evangélica apenas mudou o nome de “novena” para  campanha ou corrente de 7, 8 ou 12 elos. 

No candomblé, na umbanda e no espiritismo vemos algo parecido. Nestas religiões também se fazem campanhas, correntes ou algum tipo de trabalho por alguma necessidade da pessoa, utilizando elementos parecidos como é utilizado nestas igrejas conforme vimos acima, além da pessoa ofertar (ou pagar) pelo “trabalho” (ou benção) também. Vale a pena ressaltar que, muitos elementos utilizados no candomblé, na umbanda e no espiritismo também foram extraídos pelos pastores e líderes evangélicos e inseridos nos cultos das “igrejas” neopentecostais e pentecostais, onde um deles é a prática de “revelação” (extrabíblica), que é uma prática bem antiga, sendo vista no montanismo, que foi considerado pelo primeiro Concílio de Constantinopla (ano 381) não como algo que procedia de Deus, mas como uma seita pagã no século 4. Podemos ver tanto no candomblé, na umbanda e no espiritismo o trevo de quatro folhas, pé de coelho ou algum tipo de objeto místico derivado destas religiões que, nas igrejas neopentecostais e pentecostais são substituídos pelo cajado de Moisés, pela arca da aliança dentre tantos outros.

Todavia, as campanhas e correntes, além de serem oriundas de religiões pagãs, conforme vimos, sobretudo, ferem os princípios bíblicos, desvirtuando, assim, o foco da igreja para as “necessidades individuais” das pessoas em detrimento da comunhão uns com os outros e da adoração verdadeira a Deus em espírito em verdade nos cultos, independente do pedido em oração pelo suprimento das necessidades individuais. As campanhas e correntes inserem, ainda que de modo inconsciente na mente das pessoas que o culto não é algo que o cristão oferece a Deus, como a adoração sincera, por exemplo, mas que o culto é Deus oferecendo ao homem bênçãos e a solução dos seus problemas, o que é uma inversão de valores! Vemos nestas igrejas que aderem as campanhas e correntes abarrotada de pessoas que, na sua maioria, não conhecem uns aos outros e nem tem este interesse, uma vez que estão preocupadas consigo mesma e só estão buscando a Deus ali pelas suas necessidades pessoais. Em suma, são pessoas egoístas e, na maioria dos casos, irregeneradas ou não convertidas! 
      
As campanhas e correntes tem em seu cerne a individualidade das pessoas em vez da comunhão com Deus em primeiro lugar, e, em seguida, a comunhão uns com os outros! Portanto, concluímos que as campanhas e correntes são um veneno de Satanás para corromper a fé de muitos cristãos verdadeiros que se encontram enganados nestas instituições ditas evangélicas que não posso nem considerá-las como a verdadeira igreja de Cristo, devido a estarem peremptoriamente desviadas do verdadeiro, puro e simples evangelho ensinando mais heresias do que a verdade!

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Divulgação: Bereianos
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O que preciso para fazer um sermão?

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Por Daniel Clós Cesar


Já de início quero deixar claro que não se trata de um texto de cunho teológico acadêmico, tampouco trata-se de um tutorial para preparação de uma pregação. São apenas anotações de alguém que eventualmente prega a Palavra do Senhor.

Uma vez que outra me deparo com a pergunta: Como você preparou essa pregação? Ou ainda: Como faço para preparar uma pregação?

Não acredito que exista uma receita, e não quero desmerecer alguns seminários teológicos que passam verdadeiras receitas de pudim de micro-ondas ou bolo de caneca, mas acredito que preparar uma pregação é mais que colocar pó de Tang em 1 litro de água gelada e misturar. Parece que todo mundo sabe disso, mas sério, alguns púlpitos são tão repetitivos que se alguém pegar no sono não será obra das trevas, mas da falta de luz sobre o pregador.

Conhecer a Palavra do Senhor: parece óbvio, mas é óbvio somente no discurso. A grande maioria dos pastores brasileiros sequer leu a Bíblia por inteiro uma única vez na vida, na minha opinião, um cristão alfabetizado que nunca leu a Bíblia ama tanto o evangelho quanto as trevas amam a luz. Se você é cristão e a Palavra do Senhor não faz parte do seu cotidiano, você é um farsante... voltando: na sua grande maioria, muitos pastores são apenas reprodutores de pregações e ensinos repassados de segunda ou terceira mão (vistos em um congresso ou visita a uma igreja), pois muitas vezes ouviram de alguém que também faz o que eles fazem, reproduz.

A Palavra do Senhor é viva, logo, toda pregação deve ser original. Faço algumas ressalvas antes de continuar. Original aqui não significa “original”, mas sim: nova/novidade. A originalidade dos pastores brasileiros (não tão originais pois são cópia muito ruim da gospelândia estadunidense) traduz-se em invencionices e bizarrices, não me refiro a isso, mas a novidade da Revelação que é viva na Palavra do Senhor. Creio num evangelho simples, onde o poder da Palavra não está na erudição do homem capacitado intelectualmente, mas na revelação da Palavra dada ao homem espiritualmente capacitado.

Não se vê, em geral, novidade nos púlpitos, o que se vê é uma mera repetição de valores morais de “heróis” bíblicos. O que se vê são homens que dedicam muito tempo a atividades ministeriais e pouco ou nenhum tempo para meditação e estudo da Palavra do Senhor. Preparam-se apenas para a pregação, não para a Salvação. Por este motivo os apóstolos decidiram: “(...) Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. (...) e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra". (Atos 6.2-4). É claro que a demanda da igreja hoje é diferente. Mas, se um pastor ou pregador tem tantos compromissos por semana, quanto tempo ele dedica a Palavra do Senhor? Não faltam igrejas cheias de ovelhas no pasto mas sem nenhum cereal no celeiro. Sem alimento adequado a igreja enfraquece. Ovelhas fracas não se reproduzem. Sem prole a igreja morre.

Minha vida na igreja começou a pouco mais de três décadas. A igreja é um lugar muito mais natural para mim que meu próprio ambiente de serviço, tenho mais tempo dentro dela que no mercado de trabalho, e o que vi nesses trinta-e-poucos-anos? Algumas dezenas de pregações simplesmente repetidas. Veja, não estou falando de um pregador/palestrante que dá a mesma aula ou estudo bíblico, estou falando de pastores e pregadores que deliberadamente copiam pregações de outros pastores. Na internet está cheio, os jargões e ideias que cercam alguns textos bíblicos, por mais absurdos e heréticos que sejam, proliferam como peste no youtube e outras redes sociais.

Também não creio que apenas um profundo conhecimento da Palavra seja suficiente para preparar um sermão. Pessoas com um profundo conhecimento bíblico apesar de escassas não são raras, agora, com muito conhecimento, profunda certeza da fé e paixão pelo evangelho... como ficou raro. O que encontramos muitas vezes são esses três adjetivos divididos em pessoas diferentes e um lutando contra o outro. O teólogo que não desce do seu pedestal para ensinar o neófito; o cheio de certezas mas que desconhece o que crê (a grande maioria) e o apaixonado pelo evangelho, tão apaixonado que esquece que os outros precisam ouvir as boas novas, tão apaixonado que dorme sobre a Bíblia sem encontrar nenhuma utilidade para ela... ele é apaixonado, mas tolo.

Para preparar um sermão é necessário, acima de tudo, uma convicção da Salvação. Uma certeza infinita (até onde pode nossa mente alcançar) da soberania de Deus sobre sua vida, a ponto de todo seu desejo estar voltado para apenas ser um meio para aquilo que o Espírito Santo tem para a igreja. Como isso é difícil, ainda que sejamos fieis (o que não somos), nossa carne luta ferozmente para de alguma forma nosso “eu” ter algum crédito. Eu mesmo enquanto escrevo este texto, analiso as palavras que uso para que ele seja lido e aceito. Meu “eu” espera elogios e provavelmente ficará perturbado com críticas contrárias, mas vejam, não deveria ser esta minha preocupação. Se o que entrego vem do Senhor, essa preocupação deveria ser Dele. Isso apenas aponta minha falha constante em ser fiel com o Senhor, minha incapacidade de crer de todo o coração e de tornar a Palavra meu único alimento.

Pois bem, é assim que preparo um sermão. Buscando enquanto o escrevo, corrigir o meu erro. Expondo meu pecado, aguardando a misericórdia do Senhor. Crendo em seu auxílio, perdão e salvação, resultado de um arrependimento. Como chego neste ponto? Enquanto leio a Palavra do Senhor e em oração converso com Ele, tudo que sou torna-se terrivelmente exposto, muito do que ele é torna-se maravilhosamente conhecido por mim. A Palavra então torna-se o bisturi que abre a ferida e a gaze que estanca o ferimento. Deus, Ele mesmo, destroça o vaso e restaura da forma que lhe apraz. Acredito que é assim que homens imperfeitos e pecadores mas usados por Deus preparam seus sermões. Pregam antes para si mesmos, pois se não houver nenhuma transformação e conversão em mim, como haverá em outros?

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O perigo que mora dentro de nós

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Por Renato César


Quem assistiu o filme “Advogado do Diabo” provavelmente se lembra do pecado predileto do príncipe dos demônios: a vaidade. O autor de Eclesiastes sabia muito bem dos perigos que a vaidade trás consigo, e não à toa sua fórmula “tudo é vaidade”, repetida diversas vezes ao longo do livro, tornou-se célebre até os dias atuais. Afinal de contas, quem está imune ao envaidecimento? O próprio Jesus foi tentado por Satanás nesta área, e não por acaso. Satanás conhece muito bem o tendão de aquiles do ser humano. Mas Jesus não caiu na mesma tentação na qual tantos de nós caímos.

A vaidade está muito além da preocupação com a aparência física. Quando ela se instala em nossos corações, torna-se um pecado que cresce dentro de nós sorrateiramente, aproveitando-se de nossas conquistas e sucessos para nos fazer imergir na ilusão de que somos ou temos alguma coisa proveniente de nós mesmos. Não demora muito para que outros pecados como o orgulho e a soberba nos sobrevenham, afastando-nos mais e mais da dependência da graça de Deus e empurrando-nos para um sentimento de autossuficiência diabólico.

Conta-se que certa vez, ao ser elogiado por um sermão pregado, Spurgeon teria respondido que o Diabo o elogiara da mesma maneira instantes antes. Certamente o príncipe dos pregadores sabia do risco que corria. Dentro do ser humano decaído passou a habitar a semente do auto-engradecimento, que se regada apenas um pouco tende a crescer com muita facilidade.

A prova dessa conclusão está patente nos tantos exemplos de homens e mulheres proeminentes no meio evangélico que passaram por uma nítida transformação em seus posicionamentos e postura, especialmente ao criticar outros irmãos ou denominações. A humildade e mansidão deram lugar à altivez e agressividade em muitos púlpitos e palcos. Nós, que estamos “aqui embaixo”, ficamos a nos perguntar como um cristão pode mudar tanto, mas temos de reconhecer que a maioria de nós agiria exatamente da mesma maneira se estivéssemos no lugar deles.

Por vezes dentro das igrejas prevalece a luta pelo poder, e se você, leitor, já se envolveu com liderança alguma vez, sabe muito bem o que estou dizendo. A motivação para ocupar cargos eclesiásticos, para muitos crentes, não é servir, mas ser servido, visto e respeitado. Lamentavelmente, estes estão mais preocupados com sua imagem diante dos demais membros do que em cumprir efetivamente o papel que lhes cabe. E, assim, muitos líderes acabam por centralizar tudo em torno de si, a ponto de boicotar irmãos que possam, de alguma forma, ameaçar sua reputação. Tentam matar seus liderados veladamente, fazendo-nos lembrar da perseguição que Saul empreendeu contra Davi motivado unicamente por ciúme e inveja, pecados também atrelados ao da vaidade.

Não é fácil ser humilde e reconhecer-se como dependente da graça de Deus quando somos bem sucedidos. O envaidecimento nos vem discretamente, e cresce a cada elogio que recebemos. Por isso, devemos ser cuidadosos sempre que as conquistas e vitórias vierem, pois o sucesso, bem mais que o fracasso, pode trazer risco à nossa espiritualidade, fazendo-nos pensar que somos alguma coisa, porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo (Gl 6:3). O Diabo até pode ser ardiloso e sagaz, mas não precisa de muitos recursos além de nossa natureza já inclinada ao pecado para nos fazer enveredar por um caminho de autodestruição, porque “o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido” (Is 2:12).

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Sobre o autor: Renato César é cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE. Contatos: renatocesarmg@hotmail.com

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