Obs: Neste artigo, eu me detive a analisar apenas a questão do exorcismo e da verdadeira “possessão” maligna, uma vez que existem casos parecidos com a “possessão” maligna que, de fato, não é “possessão maligna, antes, são pessoas com diagnósticos de problemas mentais e distúrbios de múltipla personalidade que muitas vezes desconhecem que possuem tal problema de saúde bem como os pastores que atribuem tal problema à “possessão” maligna”.
O exorcismo, que é simplesmente o ato de libertar uma pessoa “possessa”, demonizada ou sob o domínio de Satanás, é uma prática bastante antiga não somente vista no Cristianismo, mas, também, em outras religiões. Os xamânicos, por exemplo, acreditavam em pessoas “possessas”, demonizadas ou sob o domínio de Satanás. Os xamãs, portanto, realizavam exorcismos.
A primeira referência sobre pessoas “possessas”, demonizadas ou sob o domínio de Satanás foi descrita pelos sumérios, um povo oriundo da Suméria, que é considerada a civilização mais antiga da humanidade. Os principais registros que temos acerca de pessoas “possessas”, demonizadas ou sob o domínio de Satanás e de exorcismos está descrito nos evangelhos através do ministério de Jesus e com apenas um relato escrito no livro de Atos através do ministério dos apóstolos. Logo, no inicio do século II, no período pós-apostólico, o exorcismo ou a prática do mesmo alcançou certa proeminência de acordo com alguns registros do Cristianismo histórico. Em vista disso, como, então, saber como era a prática do exorcismo? Quem eram as pessoas que podiam realizar os exorcismos? Como era o processo? Se ordenava que o demônio manifestasse e quem realizava o exorcismo conversava com ele? Como não é o meu objetivo me deter na parte histórica e ter como regra base o método em que as outras religiões empregam na realização do exorcismo, todavia, quero enfatizar o método correto de exorcismo baseado no que as Escrituras ensinam sobre o assunto.
Não obstante, o primeiro relato que temos na Escritura sobre “possessão”, demonização ou alguém sob o domínio de satanás pode ser visto em Marcus 1.21-26, onde Jesus, entrando numa sinagoga para ensinar às Escrituras, se depara com um homem “possesso” ou sob o domínio de um espírito maligno que, talvez no meio ou no final do discurso de Jesus, diz: Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para destruir-nos? Sei quem és tu, o Santo de Deus (vs.24). [Almeida Século 21] Jesus, porém, repreende os demônios, dizendo: Cala-te e sai dele (vs.25). [Almeida Século 21] E, imediatamente, Marcus diz, que o espírito (os) maligno(s) saiu do homem (vs.26). Note que, neste caso, Jesus não ordenou que o demônio MANIFESTASSE; ele apenas REPREENDEU o demônio ordenando-o que saísse do homem. Podemos observar também que, ainda, no capítulo 1.34, é dito que Jesus, ao realizar exorcismos, não “permitia que os demônios falassem, porque eles sabiam quem ele era”. [Almeida Século 21]
Outro caso relatado no evangelho de Marcus é de dois homens gerasenos (Mt 8.28-34; Mc 5.1-20; Lc 8.26-39). De acordo com o relato de Marcus 5.7-13, que descreve apenas um homem, é dito que, ao ver Jesus de longe, ele correu e se prostrou de joelhos aos seus pés, porque Jesus dissera ao demônio que saísse daquele homem (vs.6-8). Em seguida, Jesus pergunta qual é o nome daqueles demônios, que se chamava legião, porque eram muitos [uma legião romana de soldados era composta por cerca de 6000 soldados] (vs.9 para mais detalhes do diálogo, leia os vs.10-12). Portanto, neste evento observamos duas atitudes de Jesus em relação ao exorcismo:
(1) Jesus não ordenou que os demônios MANIFESTASSEM no homem ou nos homens sob o domínio deles. Os demônios simplesmente quando viram Jesus logo MANIFESTARAM.
(2) O diálogo de Jesus com a legião de demônios, além de ser o único evento em que Jesus conversa com um ou vários demônios, não é um ensinamento e nem sequer uma base para se conversar e entrevista-los no momento do exorcismo como vemos nos “cultos” de libertação nas igrejas/seitas neopentecostais, onde se fazem os mais variados tipos de perguntas e, sobretudo, perguntas irrelevantes e patetas aos “supostos demônios”.
O diálogo de Jesus com aquela legião de demônios perguntando seu nome não era porque ele não sabia quem eram aqueles demônios. Jesus, como Deus que é, Onisciente e Soberano sabia quem eram aqueles demônios, entretanto, o diálogo e a pergunta revela-nos o seu poder superior sobre o poder dos demônios. Adolph Pohl corrobora que Jesus não perguntou o nome daqueles demônios por não saber, mas para demonstrar que tudo tem de ser entregue a ele.[1]
O fato de Jesus ter conversado com os demônios neste evento é algo singular na história!
No evangelho de Mateus é descrito no capítulo 9.32-34, logo após Jesus curar dos cegos (Mt 9.27-31), que levaram até Jesus um homem mudo sob o poder de Satanás, isto é, o demônio fez com que aquele homem ficasse mudo. Em seguida, é dito que Jesus expulsou o demônio daquele homem e ele falou. Novamente não vemos nenhuma menção de Jesus ter ordenado que o demônio manifestasse ou que ele conversou com o demônio. Ainda, em Mateus 15.21-28, no caso da filha da mulher cananeia, que também estava sob o domínio ou poder do demônio, Jesus simplesmente proferiu uma palavra para a mãe desta menina que a sua filha estava liberta e, assim, aconteceu imediatamente (veja o paralelo em Mc 7.29-30).
Retornando ao evangelho de Marcus 9.14-29, podemos observar o evento de um garoto que estava sob o poder do demônio, que o fazia ter convulsões, de modo que ele espumava pela boca, rangia os dentes e, por muitas vezes, tentou matá-lo lançando-o no fogo e na água (vs.18, 20, 22). Ao se deparar com este garoto, Jesus liberta-o do poder do demônio não ordenando que ele se manifeste e, tampouco, conversa com ele, mas, simplesmente, dizendo: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai dele e nunca mais entre! Almeida Século 21
No livro de Atos, por sua vez, vemos apenas um único relato acerca de um exorcismo realizado por Paulo, ou seja, no caso em pauta, em Atos 16.16-18, onde o apóstolo repreendeu, [não ordenando que ele se manifestasse e nem conversou com ele] o espírito maligno de uma jovem adivinha, dizendo: Eu te ordeno (ao espírito maligno) em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora ele saiu. Almeida Século 21 Certamente pode ter ocorrido alguns outros casos de exorcismos realizados pelos demais apóstolos, porém, tais eventos não foram registrados por Lucas por vontade divina em virtude dos eventos de exorcismos já contidos nos evangelhos serem suficientes.
Portanto, concluímos, então, que a prática de ordenar que o demônio manifeste e conversar com ele conforme é visto nos cultos de libertação nas igrejas/seitas neopentecostais não é coerente com o tipo de exorcismo que as Escrituras ensinam. Tal prática é uma crença pagã antiga onde se acreditava que o conhecimento do nome de uma entidade espiritual que estava possuindo uma pessoa conferia poderes mágicos ao exorcista que era capaz de expulsá-la do corpo da pessoa possessa e até destruí-la. Champlin ressalta que os nomes de vários deuses pagãos nunca eram proferidos, e eram mantidos em segredo por temor que, conhecidos esses nomes, ficaria prejudicado o poder dessas divindades entre o povo, pois algo de sua distinção era prejudicado.[2] Jesus nem sequer os apóstolos utilizavam tal prática pagã no exorcismo, mas, simplesmente, repreendiam o demônio da pessoa que estava sob o seu poder e domínio ordenando-o que fosse embora. O que passar disso no exorcismo não é do agrado de Deus e, sobretudo, fora dos padrões estabelecidos por ele nas Escrituras.
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NOTAS:
1 Comentário Esperança. Marcus, pág 122.
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