Podemos repreender Satanás e os demônios?

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Por Leonardo Dâmaso

A prática de repreender Satanás em nome de Jesus, bem como os seus demônios que causam ou são os demônios da doença, da miséria, da prostituição, do adultério e dos vícios em geral [que são obras da carne, e não espíritos malignos Gl 5.19-21], determinando que eles vão embora da vida da pessoa vitimada por eles, é vista exclusivamente no meio evangélico pentecostal e neopentecostal. Muitas destas denominações religiosas, com algumas poucas exceções por parte dos pentecostais tradicionais da primeira fase do pentecostalismo que conservaram suas doutrinas iniciais, são aderentes do movimento de batalha espiritual, difundido mundialmente a partir da década de 1960.

Origem do conceito de repreender demônios

O movimento herético animista de batalha espiritual alcançou grande popularidade mediante dois romances escritos por um novelista – Frank Perretti, chamados Este Mundo Tenebroso (vols. 1 e 2), os quais relatam o renhido confronto espiritual de um grupo de cristãos contra espíritos malignos territoriais que tentavam estabelecer domínio em pequenas cidades nos Estados Unidos. Todavia, o conceito de batalha espiritual [especificamente o da quarta linha, caracterizada pela terceira fase do Espírito] envolvendo a luta com demônios, ministério de libertação, quebra de maldições e mapeamento espiritual ganhou destaque, tendo maior popularidade no Brasil, através do seu maior precursor, o teólogo Peter Wagner, que escreveu muitos artigos e livros sobre o tema. 
     
Não obstante, algumas das principais “doutrinas” do movimento de batalha espiritual já era praticada no início do século 20. “Nas três primeiras décadas, o missionário inglês James O. Fraser, trabalhando em meio ao povo Lisu, na China, um povo envolvido com magia negra, espiritismo e animismo, utilizou estratégias como dar ordens em voz alta a Satanás e seus demônios para quebrar o domínio desses espíritos sobre os Lisu. Partindo de sua experiência no campo missionário Fraser desenvolveu na base da “tentativa e erro”, alguns métodos para combater, pela oração, a influência dos espíritos malignos que atormentavam esse povo tribal. O que convenceu Fraser de que estava no caminho certo foi que esse método “funcionava”.¹ Apesar de existir 4 linhas dentro do movimento de batalha espiritual que diferem umas das outras [os carismáticos, dispensacionalistas, batalha espiritual moderada e batalha espiritual popular da terceira fase do Espírito], contudo, todas elas são unânimes nos pontos básicos de suas “doutrinas”.  

Jesus e as repreensões a demônios

Geralmente, o argumento popular utilizado pelos aderentes do movimento da batalha para repreender os demônios que causam os mais variados tipos de males na vida das pessoas que são atacadas por eles, é que o próprio Jesus, o Deus filho encarnado, repreendeu os demônios, pois ele veio a este mundo para desfazer as obras do diabo (1Jo 3.8).

Indubitavelmente, Jesus repreendeu os demônios algumas vezes em seu ministério terreno. Se estudarmos no Novo Testamento o verbo grego repreender (έπιπιμάω - epitimaõ), especificamente nos Evangelhos, iremos perceber que ele é aplicado no contexto das repreensões aos demônios somente a Jesus (no caso de repreensões aos discípulos, veja Mc 8.33; Lc 9.55; 19.39; para outros tipos de repreensões veja Mt 16.22; 19.13; 20.31; Mc 8.32; 10.13, 48; Lc 17.3; 18.15, 39; 23.40). Ele repreendeu um tipo de doença apenas uma vez, quando curou a sogra de Pedro de uma febre altíssima (Lc 4.39). Repreendeu a tempestade [o vento e o mar], que imediatamente cessou (Mt 8.26; Mc 4.39). Repreendeu os demônios para que não se revelasse aos outros quem ele era – o Filho de Deus (Mt 12.16; Mc 3.12) e, em outras circunstâncias, nos exorcismos para que ficassem calados e saíssem da vida de suas vítimas (Mt 17.18; Mc 1.25; 9.2). No livro de Atos, por sua vez, e nas cartas de Paulo, Pedro, João, Judas e Hebreus não encontramos qualquer um dos apóstolos usando o termo repreender ou ensinando a prática do mesmo. Embora vemos descrito no livro de Atos o ríspido confronto de Paulo com o falso profeta Barjesus ou Elimas, todavia, ainda assim, ele não disse: “Eu te repreendo” (At 13.4-12), conforme vemos muitos pastores e cristãos pentecostais e neopentecostais repreendendo nos cultos de libertação e no dia a dia quando se deparam com alguma situação que, no entendimento deles, seja de origem demoníaca.

Análise teológica do termo repreender

O motivo pelo qual não podemos estender o ato de repreender aos cristãos para cercear a ação dos demônios é em virtude da falta de evidências explícitas nas Escrituras para esta prática e porque repreender os demônios é uma prerrogativa exclusiva de Cristo, apenas, pois foi Jesus quem venceu Satanás e os demônios e os expôs publicamente a derrota triunfando sobre eles na cruz pela sua morte e ressurreição (Cl 2.15). O termo repreender neste contexto tem a ver com a obra redentora de Cristo Jesus em derrotar Satanás na cruz. É por isso que não encontramos nenhum apóstolo repreendendo Satanás e os demônios, mas, sim, utilizando outros termos para realizar exorcismos, como ordenar (At 16.18) e expelir os demônios (MT 10.1; Mc 6.7; Lc 9.1), os quais diferem do significado do termo repreender usado no contexto da obra de redentora de Jesus em vencer Satanás.  

Jesus é Deus e Senhor sobre toda sua criação. Se os cristãos usam Jesus como modelo e quem lhes deu autoridade para repreender demônios e doenças, via de regra eles deveriam também repreender tempestades, furacões e tsunamis, uma vez que possuem autoridade e que Jesus, conforme vimos anteriormente, também repreendeu a fúria destes elementos naturais. Contudo, pelo o que sei ninguém até hoje na história foi capaz de fazer isso, nem mesmo os apóstolos; somente Jesus.

Por outro lado, muitos cristãos podem tentar refutar esta posição recorrendo ao Evangelho de Marcus 16. 17, onde o próprio Jesus diz, segundo os cristãos pentecostais e neopentecostais:

E estes sinais acompanharão os que creem: em meu nome [no nome de Jesus] expulsarão demônios” [ou seja, é o famoso chavão: “Em nome de Jesus, eu te repreendo demônio”, nota do autor]. (Almeida Século 21)

Embora possa ser interpretado como uma referência aos apóstolos, é importante destacar que, tendo em vista os problemas textuais que levantam dúvidas quanto a sua autenticidade, os versículos 9-20 do capítulo 16 do Evangelho de Marcus não constam em alguns manuscritos antigos. Existem também finais diferentes para este trecho do Evangelho de Marcus em outros manuscritos. Portanto, devemos ser cautelosos antes de lançar mão desta passagem como prova irrefutável de que os cristãos podem repreender os demônios, uma vez que foram os apóstolos que receberam autoridade do próprio Jesus para tal prédica.

O exemplo de Miguel com o Diabo

Em Judas 9 é relatado que o arcanjo Miguel, discutindo e disputando com o diabo sobre o corpo de Moisés, não foi ousado em pronunciar contra ele injúrias, e nem disse Eu te repreendo em nome de Jesus ou, tampouco, eu te repreendo, apenas. Pelo contrário, Miguel disse: “O Senhor te repreenda”!

O arcanjo Miguel é o mais poderoso dos anjos de Deus. Ele é o chefe do exército dos anjos de Deus. Ele é um ser sem pecado e mais poderoso que os seres humanos e está na presença de Deus. Na ocasião em que se deparou em um confronto com o diabo acerca do corpo de Moisés [é bem provável que Satanás queria roubar o corpo de Moisés para incitar Israel a idolatria], o arcanjo Miguel não se atreveu a proferir palavras infames contra ele como muitos cristãos fazem hoje por falta de conhecimento, tais como: “Você não vale nada, seu desgraçado”! Você é um leão sem dentes! Você é um cabeça rachada [chavão popular no meio pentecostal e neopentecostal, nota do autor] etc. Antes, Miguel entendia que somente Cristo Jesus e Deus Pai podem repreender Satanás, e se limitou apenas em dizer: O Senhor te repreenda (veja outro exemplo em Zc 3.1-2)!  
        
Conclusão

Portanto, de acordo com as Escrituras, entendemos que:

(1) Existe a batalha espiritual, porém, a batalha espiritual bíblica, que é diametralmente oposta do que enfatiza a batalha espiritual do movimento herético e místico difundido pelo seu maior percussor – Peter Wagner.

(2) Não foi dada autoridade aos cristãos para repreender Satanás e os demônios, entretanto, eles podem realizar o exorcismo em nome de Jesus caso se deparem com alguma pessoa possessa.

(3) O ato de repreender [no sentido de ter derrotado] Satanás e os demônios e suas atuações é uma obra exclusiva de Jesus que ocorreu no passado, em seu ministério, morte e ressurreição e ainda ocorrerá na sua segunda vinda, quando ele derrotar Satanás e os demônios definitivamente lançando-o no lago de fogo (Ap 21.10). Satanás e os demônios já foram e são derrotados, mas ainda serão derrotados para sempre.

(4) Ao invés dos cristãos quando forem exorcizar alguém possesso e também orar equivocadamente assim: “Eu te repreendo, Satanás; ou, em nome de Jesus, eu te repreendo desta vida Satanás”, os cristãos podem exorcizar e orar corretamente assim: Senhor Jesus, repreenda Satanás. Repreenda a ação de Satanás da vida desta pessoa libertando-a. Creio ser esta a melhor forma de se orar no caso de exorcismos.  

Quando se viram ameaçados pelos lideres religiosos em Jerusalém, os cristãos da igreja primitiva em Atos não repreenderam algum demônio que poderia estar por trás da oposição que estavam enfrentando, [o que pode ter acontecido, uma vez que o diabo se opõe aos que evangelizam e ensinam o verdadeiro e puro evangelho de Cristo Jesus], simplesmente eles se voltaram para Deus em oração e pediram para que ele olhasse para as ameaças que receberam para não mais anunciar o evangelho (At 4.29-31).


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Nota:
1 Augustus Nicodemus Lopes. O que você precisa saber sobre Batalha Espiritual, pág 29.   

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Divulgação: Bereianos
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Jesus ensina o “Calvinismo Extremado”

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Por James R. White


Se crer que o homem está “tão morto” [1] no pecado que ele é incapaz de vir a Cristo por si mesmo é “Calvinismo extremado”, então, o Senhor Jesus antecedeu em 1500 anos a Calvino com a Sua pregação na sinagoga em Cafarnaum, registrada em João 6. Aqui temos o Senhor ensinando quase tudo o que Norman Geisler identifica como “Calvinismo extremado”. Jesus ensina que Deus é soberano e age independentemente das "livres escolhas" dos homens. Ele, da mesma forma, ensina que o homem é incapaz de ter a fé salvadora, aparte da capacitação do Pai. Ele então limita este trazer [do Pai, João 6:44] aos mesmos indivíduos dados pelo Pai ao Filho. Ele então ensina a graça irresistível sobre os eleitos (não sobre os “dispostos”) quando Ele afirma que todos aqueles que são dados a Ele, virão a Ele. João 6:37-45 é a mais clara exposição na Bíblia do que EML [Eleitos, Mas Livres] chama de “Calvinismo extremado”. E ainda, EML ignora a maioria das passagens, oferece uma resposta ao versículo 44 que é simplesmente incompreensível, e oferece uma sentença em resposta ao versículo 45. Já vimos que João 6:37 é citado algumas vezes, mas nenhuma interpretação dele é oferecida.

Há uma boa razão porque EML tropeça neste ponto: não há nenhuma exegese não-reformada significante disponível sobre a passagem avaliada. Não obstante as inúmeras tentativas dos exegetas Arminianos de encontrar alguma solução para esses versículos, nem mesmo uma única solução plausível tem sido oferecida que não requeira uma completa desmantelação do texto, uma redefinição das palavras ou uma inserção de conceitos extremamente estranhos. Uma coisa é absolutamente certa: Jesus ensinou a completa soberania da graça às pessoas que estavam reunidas na sinagoga de Cafarnaum, há aproximadamente dois milênios. Se desejarmos honrar a Sua verdade, não podemos fazer menos do que disso.

Ouçamos Jesus ensinar o “Calvinismo extremado” quase 1500 anos antes de Calvino nascer, nas palavras do evangelho de João.

João 6:37-40

"Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia."

A despeito da riqueza dessa passagem, um esforço honesto será feito para que sejamos breve no comentário fornecido. [2] O cenário é importante: Jesus fala a uma multidão reunida na sinagoga de Cafarnaum. Eles tinham seguido-O após a alimentação dos cinco mil no dia anterior. Eles estavam buscando mais milagres, e mais alimento. Jesus não saciou as suas "necessidades físicas", mas foi diretamente ao assunto real: quem Ele era e como Ele é o centro da obra de redenção de Deus. Ele identifica-se como o "Pão da Vida" (v. 35), a fonte de todo alimento espiritual. Em nosso cenário moderno, podemos não sentir a força de Suas palavras como eles devem ter sentido naquela manhã. "Quem é este homem para falar dessa forma de Si mesmo?", eles devem ter pensado. Nem mesmo os maiores profetas de Israel instruíram as pessoas a ter fé neles mesmos! Nem mesmo um Abraão ou um Isaías desejaria reivindicar ter descido do céu, nem jamais diriam "aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede". Devemos tentar sentir o impacto impetuoso dessas palavras à medida que elas foram faladas.

O bendito Senhor foi totalmente duro com a Sua audiência. Ele sabia que eles não possuíam uma fé verdadeira. "Mas como já vos disse, vós me tendes visto, e contudo não credes" (v. 36). Eles tinham visto-O com os seus olhos, mas a menos que a visão física seja unida com a iluminação espiritual, ela não será de proveito algum. Freqüentemente a importância dessa declaração é negligenciada. O verso 36 é um ponto crítico no capítulo. Jesus agora explica a incredulidade deles. Como é que esses homens poderiam estar diante do próprio Filho de Deus, o Verbo feito carne, e não crer? Qualquer pessoa que não toma seriamente a morte do homem no pecado deveria contemplar essa cena. O próprio Criador em forma humana está diante de homens que eram bem versados nas Escrituras e aponta para a incredulidade deles. Ele então explica o porque e, todavia, pouquíssimos hoje ouvirão e crerão.

Todo o que o Pai me dá virá a mim”. Essas são as primeiras palavras que vieram do Senhor na explicação da incredulidade do homem. Não ousamos nos engajar na brincadeira de amarelinha em cima desse texto e ignorar a própria ordem do ensino que Ele provê. A primeira afirmativa é uma da completa soberania divina. Cada palavra diz muita coisa.

Todo o que o Pai me dá”. O Pai dá alguns a Cristo. Os eleitos são vistos como um todo singular [3] , dados pelo Pai ao Filho [4] . O Pai tem o direto de dar uma pessoa ao Filho. Ele é o soberano Rei, e esta é uma transação divina.

Todos os que são dados pelo Pai ao Filho vêm ao Filho. Não alguns, não muitos, mas todos.

Todos aqueles dados pelo Pai ao Filho virão ao Filho. É vital ver a verdade que é comunicada por essa frase: o ato do Pai dar ao Filho precede e determina a vinda da pessoa a Cristo. A ação de dar pelo Pai vem antes da ação de vir a Cristo pelo indivíduo. E visto que todos daqueles assim dados virão infalivelmente, temos aqui tanto a eleição condicional bem como a graça irresistível, e isto no espaço de nove palavras! Torna-se um óbvio exercício na eisegesis [interpretação pessoal de um texto (especialmente da Bíblia), usando suas próprias idéias; não confundir com exegese] dizer: "Bem, o que o Senhor realmente quis dizer é que todos que o Pai viu que creriam em Cristo, virão a Cristo". Esta é uma declaração sem sentido. Visto que o ato de vir é dependente da ação de dar, podemos ver que simplesmente não é exegeticamente possível dizer que não podemos determinar a relação entre as duas ações. O ato de dar de Deus resulta no vir do homem. A salvação é do Senhor.

Mas note também que é para o Filho que eles virão. Eles não virão para um sistema religioso. Eles virão a Cristo. Esse é um relacionamento pessoal, uma fé pessoal, e, visto que aqueles que vêm são descritos através de toda a passagem pelo particípio do tempo passivo, ela não é apenas uma vinda que acontece uma só vez. Essa é uma fé contínua, um olhar contínuo para Cristo como a fonte da vida espiritual. Os homens a quem o Senhor estavam falando "vieram" a Ele por um tempo: em breve eles O deixariam e não O seguiriam mais. O verdadeiro crente está vindo a Cristo sempre. Essa é a natureza da fé salvadora.

E o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. O verdadeiro crente, aquele que "vem" a Cristo, tem essa promessa do Senhor: usando a forma mais forte de negação possível [5] , Jesus afirma a eterna segurança do crente. Jesus é Aquele que dá vida e levanta os Seus no último dia. Ele promete que não há qualquer possibilidade de que alguém que esteja vindo a Ele em verdadeira fé possa encontrá-Lo indisposto para salvá-lo. Mas essa tremenda promessa é a segunda metade de uma sentença. Ela é baseada sobre a verdade que foi primeiramente proclamada. Essa promessa é para aqueles que são dados pelo Pai ao Filho e a ninguém mais. Certamente, veremos no versículo 44 que ninguém senão aqueles que são assim dados, virão a Cristo em fé de qualquer jeito: mas há certamente aqueles que, como muitos daquela audiência em Cafarnaum, estão dispostos a seguir por um tempo, dispostos a crer por um tempo. Essa promessa não é deles.

A promessa aos eleitos, contudo, não pode ser mais preciosa. Visto que Cristo é capaz de salvar perfeitamente (Ele não depende da vontade ou da cooperação do homem), Sua promessa significa que o eleito jamais pode se perder. Visto que Ele não lançará fora, e que não há poder maior do que o Seu, aquele que vem a Cristo encontrará nEle um Salvador todo-suficiente e perfeito. Essa é a única base da "segurança eterna" ou da perseverança dos santos: eles olham para um Salvador que é capaz de salvar. E a capacidade de Cristo para salvar que significa que o redimido não pode se perder. De fato, se houvesse uma relação sinergística, não poderia haver nenhum fundamento para uma absoluta confiança e segurança.

Muitos param no verso 37 e perdem a tremenda revelação que somos privilegiados de receber nos versos seguintes. Por que Cristo nunca lançará fora aqueles que vêm a Ele? O verso 38 começa com uma conjunção que indica uma continuação do pensamento: o verso 38 e 39 explicam o verso 37. Cristo guarda todos aquele que vem a Ele porque Ele está cumprindo a vontade do Pai. “Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. O Messias divino sempre faz a vontade do Pai. O capítulo precedente no Evangelho de João deixa isto muito claro. Há perfeita harmonia entre a obra do Pai e a do Filho.

E qual é a vontade do Pai para o Filho? Em termos simples, a vontade do Pai é que o Filho salve perfeitamente. “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia”. É vital lembrar que isso continua a explicação do porque Ele não lança fora aquele que vem a Ele. Devemos ver isso, pois alguém pode ser tentado a dizer que o Pai confiou todas as coisas nas mãos do Filho, e que essa passagem não está dizendo nada mais de que o Filho agirá de forma apropriada com respeito àqueles que o Pai Lhe deu. Mas o contexto é claro: o verso 37 fala do pai "dando" os eleitos ao Filho, e o verso 39 continua o mesmo pensamento. Aqueles que são dados, infalivelmente virão ao Filho no verso 37, e são esses mesmos, os eleitos [6] , que são ressuscitados no último dia. Ressurreição é uma obra de Cristo, e nessa passagem, é comparada com o doar da vida eterna (veja v. 40). Cristo dá vida eterna a todos aqueles que são dados a Ele e que, como resultado, vêm a Ele.

Devemos perguntar ao Arminiano que promove a idéia de que uma pessoa verdadeiramente salva pode se perder: isto não significa que Cristo pode falhar em fazer a vontade do Pai? Se a vontade do Pai para o Filho é que Ele não perca nenhum daqueles que Lhe foram dados, não se segue inexoravelmente que Cristo é capaz de realizar a vontade do Pai? E isto não nos força a crer que o Filho é capaz de salvar sem a introdução da vontade do homem como autoridade final no assunto? Pode algum sinergista (alguém que ensina, como o Dr. Geisler o faz, que a graça de Deus opera "sinergisticamente" e que o livre-arbítrio do homem é uma parte vitalmente importante do processo da salvação, e que nenhum homem é salvo a menos que esse homem deseje isso) crer nessas palavras? Pode alguém que diz que Deus tenta salvar tantos quantos "possível", mas não pode salvar ninguém sem a cooperação do homem, crer no que esse verso ensina? Não é a vontade do Pai que Cristo tente salvar, mas que Ele salve perfeitamente um povo particular. Ele não perderá nenhum de todos aqueles que o Pai lhe deu. Como pode ser isso se, na verdade, a decisão final descansa com o homem, e não com Deus? É a vontade do Pai que resulta na ressurreição para a vida de qualquer indivíduo. Isso é eleição nos mais fortes termos, e ela é ensinada com clareza nas Escrituras.

O verso 39 começa com “A vontade daquele que me enviou é esta”, e o verso 40 faz o mesmo: “A vontade do Pai que me enviou é esta”. Mas no verso 39 temos a vontade do Pai para o Filho. Agora temos a vontade do Pai para o eleito. “Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”. Espantosamente, arrancam esse texto fora do seu contexto, se equivocam com a referência ao "todo aquele que vê...todo aquele que crê nEle", e dizem, "Veja, não há eleição divina aqui! Qualquer um pode fazer isso!". Mas é óbvio que, quando o texto é tomado como um todo, esta não é a intenção da passagem. Quem é aquele que "vê" o Filho e "crê" nEle? Ambos os termos estão no presente particípio, referindo-se a uma ação contínua, da mesma forma como vimos na "vinda de alguém" a Cristo no verso 37. Jesus ressuscitará no último dia todos aqueles que Lhe foram dados (v. 39) e todos aqueles que estão olhando e crendo nEle (v. 40). Devemos crer que há grupos diferentes? Certamente que não. Jesus ressuscita somente um grupo para a vida eterna. Mas visto que isso é assim, não se segue que todos aqueles dados a Ele olharão para Ele e crerão nEle? Mais do que certo que sim. A fé salvadora, então, é exercida por todos aqueles dados ao Filho pelo Pai (uma das razões pelas quais, como veremos, a Bíblia afirma claramente que a fé salvadora é um dom de Deus).

João 6:41-45

"Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu; e perguntavam: Não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: Desci do céu? Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim."

Os judeus estavam murmurando por causa desse ponto no discurso: eles rejeitaram a Sua reivindicação de origem divina, assumindo em vez disso que Ele era apenas um mero homem, o filho de José. Jesus não se desvia de Sua apresentação por causa dos pensamentos e confusão vagueadoras deles. Ele os instrui a parar de murmurar (v. 43) e então explica a incredulidade persistente deles.

Ninguém pode vir a mim”. Literalmente Jesus diz: "Nenhum homem é capaz de vir a mim". Essas são palavras de incapacidade e elas são colocadas num contexto universal. Todos os homens compartilham isso em comum: eles são carentes da capacidade de vir a Cristo em e de si mesmos. A incapacidade compartilhada é devido a uma natureza caída compartilhada.  Isto é o "morto em pecado" (Efésios 2:1) e "incapaz de agradar a Deus" (Romanos 8:8) de Paulo. É a doutrina Reformada da depravação total: a incapacidade do homem ensinada pelo Senhor que conhece os corações de todos os homens. Se o texto terminasse aqui, não haveria nenhuma esperança, nenhuma boas novas. Mas ele não pára aqui.

"Ninguém pode vir a mim, a menos que o Pai que Me enviou, o traga" [versão do autor - New American Standard Version]. As boas novas é que há um "a menos" em João 6:44, assim como há um "Mas Deus" em Efésios 2:4. Em ambos os casos não é o livre-arbítrio do homem que vem para salvar, mas o livre-arbítrio de Deus. Todos os homens seriam deixados numa posição sem esperança de "incapacidade para vir" a menos que Deus aja, e Ele o faz trazendo os homens a Cristo. Fora desta capacitação divina (conforme 6:65) nenhum homem pode vir a Cristo. Nenhum homem pode "querer" vir a Cristo fora desse trazer divino.

Certamente, a resposta imediata de muitos é, "Sim, deveras, Deus deve prover algum tipo de graça preveniente, algum tipo de trazer, antes que alguém possa escolher crer". Mas é isto o que o texto está dizendo? Lembre-se que essas palavras vêm imediatamente após a afirmação de que todos que o Pai dá ao Filho, virão ao Filho (v. 37). Os eruditos Reformados afirmam que aqueles que são trazidos são aqueles que são dados pelo Pai ao Filho: isto é, os eleitos. Eles apontam para o contexto imediato que identifica aqueles que vêm a Cristo como os eleitos. Mas o resto do versículo 44 explica porque isso deve ser assim: "e Eu o ressuscitarei no último dia". Quem Jesus ressuscitará no último dia? O verso 39 diz que Ele ressuscitará todos aqueles dados a Ele pelo Pai; o verso 40 diz que Ele ressuscitará todos aqueles que estão olhando e crendo nEle; o verso 44 diz que Ele ressuscitará todos aqueles que são trazidos pelo Pai. A identidade daqueles ressuscitados no último dia para a vida eterna é absolutamente co-extensiva com a identidade daqueles que são trazidos! Se uma pessoa é trazida, ela será também ressuscitada para a vida eterna. Obviamente, então, não pode ser afirmado que Cristo, neste contexto, está dizendo que o Pai está trazendo todo ser humano em particular, porque 1) o contexto limita isto àqueles dados pelo Pai ao Filho, 2) esta passagem ainda está explicando a incredulidade dos Judeus, a qual não teria nenhum sentido se de fato o Pai está trazendo esses incrédulos a Jesus, e 2) se assim fosse, o universalismo seria o resultado, porque todos que são trazidos são da mesma forma ressuscitados no último dia.

João Calvino é admitido, até mesmo por seus inimigos, ter sido um tremendo exegeta das Escrituras. Claros e criteriosos, os comentários de Calvino continuam a ter nesses dias grande utilidade e benefício para o estudante das Escrituras. Aqui está seu comentário sobre João 6:44:

Vir a Cristo sendo aqui usado metaforicamente para crer, o Evangelista, a fim de colocar a metáfora na cláusula adequada, diz que as pessoas que são trazidas são aquelas cujos entendimentos Deus iluminou e cujos corações Ele dirigiu e transformou à obediência de Cristo. A declaração se resume nisto: que não devemos nos maravilhar se muitos recusam abraçar o Evangelho; porque nenhum homem jamais será de si mesmo capaz de vir a Cristo, mas Deus deve primeiro trazê-lo pelo Seu Espírito; e, portanto, segue-se que nem todos são trazidos, mas que Deus concede essa graça àqueles que Ele elegeu. É verdade, todavia, com respeito ao tipo desse trazer, que ele não é violento, de forma que compele os homens por uma força externa; mas ainda é um impulso poderoso do Espírito Santo, que faz com que os homens que anteriormente eram indispostos e relutantes, sejam dispostos. É uma falsa e profana afirmação, portanto, dizer que ninguém é trazido, senão aqueles que estão dispostos a serem trazidos, como se o homem por si mesmo se fizesse obediente a Deus por seus próprios esforços; porque a disposição com a qual os homens seguem a Deus é o que eles já tinham por si mesmos, que foi formada em seus corações para obedecê-Lo". [7]

Jesus continua esse pensamento no verso 45, citando uma profecia de Isaías, e diz: “Todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”. Ouvir e aprender do Pai é paralelo com ser trazido no verso 44. Jesus usou o mesmo tipo de terminologia quando Ele ensinou que somente aqueles que "pertencem a Deus" podem ouvir Suas palavras (João 8:47).

Resumindo, então, Jesus certamente ensinou a absoluta soberania de Deus, a incapacidade do homem, a eleição incondicional de um povo para salvação, a graça eficiente de Deus que infalivelmente traz salvação aos eleitos e a perseverança final desses eleitos para a vida eterna. Esse é um dos textos chaves que apoiam a posição Reformada identificada como "Calvinismo extremado" em EML.

A Resposta de EML

Assim como com todas as outras passagens chaves (Romanos 8,9, Efésios 1 e João 6), EML não oferece nenhum exegese da passagem baseada contextualmente e cuidadosamente. Vimos na introdução que João 6:37, embora citado, nunca é discutido. Nada é dito sobre seu testemunho da eleição incondicional ou da graça irresistível. Ele é simplesmente ignorado. O livro é coberto de reivindicações de apresentar um estudo definido do assunto da soberania divina e do livre arbítrio. Tal estudo requereria uma obra extensiva sobre aquelas passagens chaves. Nada é oferecido, e o que é oferecido não é exegético em sua natureza.

Somente três argumentos são oferecidos no livro em resposta a João 6:44, e um a João 6:45. Visto que a relação ao restante da passagem não é nem mesmo mencionada, não é surpresa que as passagens não sejam analisadas exegeticamente dentro do seu contexto. De fato, pouco é dito sobre as reais palavras do texto. Em vez disso, o significado claro é explicado fazendo-se referências a outras passagens. Comecemos com João 6:44:

Em segundo lugar, João 12:32 deixa claro que a palavra "atrair" não pode significar "graça irresistível" sobre o eleito por uma simples razão: Jesus disse: "Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim". Nenhum calvinista autêntico crê que todos os homens serão salvos. [8]

Esta é a resposta mais comum: ao invés de seguirem o curso do sermão entregue por Jesus, os Arminianos imediatamente abandonam João 6 e citam João 12:32. O significado de "atrair" [ou "trazer" - no inglês a palavra usada em João 6:44 e João 12:32 é a mesma, ou seja, "draw"], totalmente discernível a partir do texto de João 6, é lida a partir de um significado assumido em João 12. Este é um método faltoso de exegese por muitos motivos. Mas mesmo aqui, a tentativa dos Arminianos falha, porque João 12:32 não ensina o universalismo mais do que João 6:44 o faz. Note o contexto da passagem:

"Ora, entre os que tinham subido a adorar na festa havia alguns gregos. Estes, pois, dirigiram-se a Felipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus. Felipe foi dizê-lo a André, e então André e Felipe foram dizê-lo a Jesus." (João 12:20-22)

João 12 narra os eventos finais do ministério público de Jesus. Depois desse incidente particular, o Senhor passaria um período de ministério privado aos Seus discípulos exatamente antes dEle ir a cruz. As palavras finais do ensino público do Senhor são estimuladas pela chegada dos gregos que estavam procurando Jesus. Essa importante mudança de eventos causa o ensino que se segue. Jesus está agora sendo procurado pelos não-judeus, os gentios. É quando Jesus é informado sobre isso que Ele diz, "É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem."

Este, então, é o contexto que nos leva às palavras de Jesus no verso 32:

"Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou. Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de vós. Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer." (João 12:27-33)

Há duas chaves para se entender porque o que os Arminianos entendem dessa passagem é extremamente indefensável: a primeira é que temos que ver que foi a chegada dos gregos procurando Jesus que ocasionou essas palavras. Os exegetas reformados crêem que "todos" se referem aos judeus e gentios, não a cada indivíduo particularmente, e o contexto aponta para essa direção. Mas mais devastadora para o entendimento Arminiano é uma simples questão: a cruz atrai todas as pessoas individualmente? É isso o que a Bíblia realmente ensina sobre a cruz? Certamente que não! A cruz é loucura para os gentios e uma pedra de tropeço para os judeus, como Paulo ensinou:

"Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é pedra de tropeço para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus." (1 Coríntios 1:22-24)

Paulo conhecia essa verdade da mesma forma como Jesus a ensinou: "para os que são chamados, tanto judeus como gregos... ". Para quem Cristo é o poder e a sabedoria de Deus? Para "os chamados". O que é a pregação da cruz para aqueles que são chamados? Algo que os atrai [ou traz], ou que os repele? A resposta é óbvia. A cruz de Cristo é loucura para o mundo. Essas considerações, juntamente com o contexto imediato dos gentios procurando Cristo, deixa claro que Jesus estava dizendo que se Ele fosse levantado na crucificação, Ele traria todos os homens, judeus e gentios, para si mesmo. Isso é o mesmo que dizer que havia ovelhas que não eram daquele rebanho (João 10:16), os gentios, que se tornaram um corpo em Cristo (Efésios 2:13-16).

Finalmente, se lemos essa errante interpretação de João 12:32 apoiada em João 6:44 (e para fazer assim, requere-se algum tipo de demonstração de que a simples palavra "atrair" [trazer] deve ter o mesmo exato significado e objetos em ambos os contextos, algo que EML nem mesmo tenta provar) faremos exatamente como Geisler afirma: criaremos o universalismo, mas não porque a visão Reformada é um erro. Já temos visto que todos que são trazidos são também ressuscitados no último dia. Ao invés de usar esse argumento para derrubar o claro ensinamento de 6:44, EML deveria ver que o grupo que está sendo traído não é cada indivíduo em particular, mas os eleitos (como indicado pelo contexto), e que o resultado é deveras a visão Reformada da graça irresistível:

Em terceiro lugar, a palavra "todos" não pode significar somente alguns homens em João 12.32. Pouco antes (João 2:24,25), quando Jesus afirmou conhecer a "todos", estava claro que não se referia apenas aos eleitos. Por que, então, deveria "todos" significar "alguns" em João 12:32? Se quisesse dizer "alguns", facilmente teria feito assim. [9]

Novamente, esse tipo de argumentação é completamente falaciosa. Primeiro, João diz que Jesus "conhecia todos os homens", não apenas "todos os homens pecaminosos". Essa é simplesmente uma leitura incorreta do texto. Em segundo lugar, EML não tenta provar que a frase "todos os homens" em João 2:24 é para ser entendida como sinônimo com o uso dela em João 12:32.

Finalmente, o fato de ser atraídos por Deus estava condicionado à fé. O contexto dessa atração (6:37) é "aquele que crê" (6:35) ou "todo o que nele crer" (6:40). Os que crêem que são capacitados por Deus para ser atraídos a Jesus. Jesus acrescenta: "É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai" (6:65). Um pouco depois, ele diz: "Se alguém decidir fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por mim mesmo" (João 7:17). Disso fica evidente que o entendimento que possuíam do ensino de Jesus e de serem atraídos ao Pai resultam da própria livre escolha deles.

Como vimos com Romanos 9:16, é simplesmente impressionante que uma passagem que é tão diretamente contraditória à teoria Arminiana do livre-arbítrio possa ser transformada numa afirmação de "livre escolha". De todas as declarações em EML, admitimos que esta é uma das mais difíceis de entender, porque ela tem a menor conexão possível com o assunto que supostamente está tratando. Lembre-se que esse verso começa com a frase, " Ninguém pode vir a mim", e todavia, a primeira linha da resposta é, "Finalmente, o fato de ser atraídos por Deus estava condicionado à fé." Esta afirmação sem fundamento não tem conexão com o texto, seja qual for, e a tentativa de prová-la somente compõe o erro eisegético. Dado que esta é uma passagem vital e a resposta tão indicativa da incapacidade dos escritores Arminianos de manuseá-lo, apontaremos cada erro como ele é apresentado:

O contexto dessa atração (6:37) é "aquele que crê" (6:35) ou "todo o que nele crer" (6:40).

Realmente, a palavra "trazer" não aparece em 6:37; ao invés disso, esse verso (que não recebe resposta em EML) diz que o Pai dá um povo ao Filho, e como resultado disso, aquele povo infalivelmente, sem fracasso, vem ao Filho. Esse verso definitivamente fornece um importante elemento do contexto: um ignorado por EML. Somos informados que esse contexto é "aquele que crê" (6:35) ou "todo o que crer" (6:40). Temos visto que aqueles que crêem assim o fazem, nesse texto, porque o Pai lhes deu ao Filho. Temos visto que Jesus está explicando porque esses homens não crêem (6:36). Esses elementos contextuais são ignorados por EML. Ao invés disso, a importantíssima afirmação do livre-arbítrio é inserida na passagem sem nenhuma tentativa de prover um fundamento para assim o fazer. Mas isso é seguido com a mais impressionante de todas as afirmações em EML:

Os que crêem que são capacitados por Deus para ser atraídos a Jesus.

Para ser honesto, essa sentença não faz nenhum sentido. Ela soa como se estivesse dizendo que ser "trazido" a Deus não é salvífico: isto é, é mais parecida com um "trazer para mais perto de Deus" em devoção ou alguma coisa semelhante. Em qualquer caso, o significado certamente não tem nada a ver com o texto: obviamente, vir a Cristo é crer nEle: eles são sinônimos em João. Assim, essa passagem não está dizendo que Deus "traz" crentes para uma relação mais íntima com Cristo. Pelo contrário, ela está dizendo que ninguém é capaz de vir a Cristo em fé, a menos que seja trazido pelo Pai, e que todos que são trazidos serão ressuscitados, porque todos que o Pai dá ao Filho, virão ao Filho com fé salvadora. Esta vinda é obviamente o ato da fé salvadora, porque Jesus diz que aquele que vir a Ele, Ele não lançará fora.

Além do mais, deve ser assinalado que não há nada na passagem sobre fé acontecendo antes do ser trazido: o trazer resulta em fé. Não há nada no texto sobre Deus capacitando dos homens a serem trazidos. Deus traz, ponto. Não podemos fazer nada, senão apontar quão completamente inversa a essa interpretação é a do texto real. Mas, continuemos:

"E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai". (João 6:65)

Esta é simplesmente uma redeclaração de 6:44 com a mudança de "dado" (NASB: "lhe concedido"; como na ARC e na ARA) por "trazido". Em ambos os casos a mesma verdade está sendo apresentada. O que é perdido na citação é o fato que Jesus "está dizendo" isto, usando o tempo perfeito, indicando que Ele estava repetindo isto. Os discípulos tinham ido embora, e Jesus explica a deserção e incredulidade da multidão da mesma forma como antes: ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai. E já temos visto que o pai concede isto aos eleitos de Deus somente.

Um pouco depois Ele diz: "Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim mesmo". (João 7:17)

O contexto de João 7 é completamente diferente, e nenhuma tentativa é feita para explicar o porque os dois versos são relevantes um ao outro. Mas aparte disso, é evidente que a idéia é que pecadores podem "livremente" fazer a vontade de Deus. E justamente quem escolherá fazer isso? Aqueles que foram dados pelo Pai ao Filho. Aqueles que não são dos eleitos nem mesmo ouvem Suas palavras,

Disso fica evidente que o entendimento que possuíam do ensino de Jesus e de serem atraídos ao Pai resultam da própria livre-escolha deles.

Não temos idéia de como essa declaração pode ser logicamente conectada, mesmo através da mais tortuosa linha de raciocínio, com o texto que está sendo examinado. Como alguém pode partir de "ninguém pode" e chegar até "resultam da própria livre-escolha deles", não podemos dizer. Não podemos nem mesmo imaginar o que é se quer dizer por "entendimento que possuíam". Essa é uma referência a João 6 ou João 7? "Entender ensino" e "ser trazido" são duas coisas completamente diferentes de dois contextos completamente diferentes, todavia, eles são unidos impressionantemente numa conclusão confusa que brada a palavra "eisegese".

EML falha completamente em prover uma resposta a esta gloriosa passagem que ensina a graça soberana com grande simplicidade. E dado o mau uso de outras passagens já citados (Mateus 23:37, 1 Timóteo 2:4, 2 Pedro 3:9), pode verdadeiramente ser dito que EML não tem base exegética sobre a qual se fundamentar.

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Notas:

[1] Eleitos, Mas Livres , página 47.
[2] O leitor pode consultar minha breve obra, Trazido pelo Pai (Crowne Publications, 1991), para uma exegese mais completa desta tremenda passagem.
[3] A forma neutra é usada quando o grupo inteiro está em vista; quando cada pessoa individualmente está em vista com referência a sua resposta de fé, o masculino particípio é usado, mostrando o elemento pessoal da fé.
[4] Dois tempos são usados pelo Senhor nesta passagem: aqui o tempo presente é usado, "todo o que Pai me dá ..."No verso 39, contudo, o tempo perfeito é usado, "todos aqueles que Ele me deu..."
[5] Aqui ocorre o aoristo subjuntivo de forte negação,  "Eu nunca lançarei fora". A idéia é a negação enfática da possibilidade de um evento futuro.
[6] Jesus usa o neutro novamente para se referir aos eleitos como um grupo inteiro, embora o fato de que este grupo é formado de indivíduos seja visto em sua ressurreição para vida e na sua vinda individual a Cristo.
[7] João Calvino, Comentário sobre o Evangelho de João, A Coleção Completa de João Calvino (Ages Digital Library, 1998)
[8] Eleitos, Mas Livres , página 93.
[9] Ibid.

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Extraído e traduzido do livro A Liberdade do Oleiro [Uma Defesa da Reforma e uma Refutação de Eleitos, Mas Livres de Norman Geisler] - Capítulo 7.

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 29 de Maio de 2004.

Fonte: Monergismo
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Evangélicos nas novelas da Rede Globo

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Por Thomas Magnum


Acho muito interessante do ponto de vista sociológico o interesse da Globo em posicionar a religião Evangélica em suas novelas. Visto também seu interesse pelos artistas do meio gospel, e até produzindo um selo fonográfico que atenda essa fatia do mercado brasileiro. O segmento "Evangélico" brasileiro causa um interesse mercadológico considerável, visto que o explosivo crescimento de igrejas no Brasil, desde o surgimento da segunda e terceira ondas evangélicas no país. Com o avanço do neopentecostalismo e de movimentos cristãos protestantes no país realmente se tem despertado crescente interesse da mídia pelos evangélicos. 

Por esse tema, temos ouvido muitos comentários sobre o aparecimento de artistas evangélicos na novela "Amor a Vida", para muitos, isso seria um ponto positivo pois a emissora estaria dando espaço a esse fragmento da população brasileira, e observando a fragmentação do mercado que esboça demanda de "produto evangélico". Mas, é interessante notarmos também como os noveleiros posicionam os evangélicos em suas novelas, quem já viu um kardecista pobre numa novela da Globo? Quem já viu um evangélico rico numa novela da globo? Em que novela se tinha um personagem evangélico financeiramente bem sucedido? Ou um pastor com passado obscuro ou um patife? Em que novela ouve algum personagem evangélico com uma vasta formação acadêmica? 

Bom, a Globo retrata indiscutivelmente e laboratorialmente um retrato de igrejas suburbanas e de cunho pentecostal ou neopentecostal, algumas vezes "respeitosamente" outras não. Pintando um quadro geral que os evangélicos em sua maioria são pessoas pobres e incultas que buscam na religião um escape para os sofrimentos da vida e retratam a velha fala marxista de que a religião é o ópio do povo, as igrejas sempre são em bairros pobres ou favelas. É claro que sociologicamente a pequisa global é consideravelmente verdadeira, mas, acaba-se retratando com vertigens erradas o protestantismo e a ideologia social, politica e educacional que ele tem desde a reforma protestante. 

Ao retratarmos a história das igrejas brasileiras com Robert e Sara Kalley fundadores do congregacionalismo no Brasil e Ashbel Green Simonton fundador do presbiterianismo vemos a enorme contribuição socioeducativa que esses personagens da história da igreja brasileira deram a nação. A ignorância histórica a respeito da importância dos protestantes no Brasil é enorme, visto a grande contribuição holandesa calvinista em nossa terra, estreitamente em Pernambuco, e a grande contribuição das igrejas pentecostais principalmente da Assembléia de Deus no sertão brasileiro, de fato não são consideradas pelo interesse midiático. Portanto devemos ser críticos e demasiadamente críticos, não simplesmente com os meios de comunicação, mais o que está por trás disso.

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Sobre o autor: Thomas Magnum é formado em teologia e graduando em jornalismo, pesquisador na área de religiosidade brasileira, é casado a oito anos com Kelly Gleyssy e mora em Recife.

Divulgação: Bereianos
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Bate Papo Reformado com Rev. Augustus Nicodemus Lopes (Questão 6)

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O presente vídeo é o sexto da série: "Bate Papo Reformado" com: Rev. Augustus Nicodemus Lopes. A série é composta por 12 vídeos. 

Questão 6:

Escatologia. No Brasil há o predomínio do dispensacionalismo, defendido pela maioria dos pentecostais e muito empregado por adeptos de teorias conspiratórias. Todavia, reformados, adotam, geralmente, o amilenismo ou o pós-milenismo. Por que esses dois (ou apenas um, no seu caso seria o amilenismo) tem maior respaldo bíblico?



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- Veja também a questão 1
- Veja também a questão 2
- Veja também a questão 3
- Veja também a questão 4
- Veja também a questão 5

Um Calvinista e um Fundamentalista entram em um bar…

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Por Tim Challies


Isso não é uma piada, você sabe. Ao fazermos o nosso caminho por essa vida, encaramos alguns inimigos poderosos. No segundo capítulo de Efésios, Paulo descreve o passado pré-cristão das pessoas daquela igreja. Ao fazer isso, ele lhes conta que três forças poderosas estavam posicionadas contra eles: o mundo, a carne e o diabo.

Essas pessoas tinham uma grande inclinação para o mal que vinha do seu mais profundo interior (“a paixão da nossa carne”), enfrentavam um poderoso oponente do lado de fora deles (“o príncipe das potestades do ar”), e, ao mesmo tempo, todo o ambiente era contrário a eles (“este mundo”). Eles estavam fora da comunhão de Deus e, por isso, eram “filhos da ira”.

"Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais." [Efésios 2.1-3]

Já há algum tempo, e especialmente desde que li o livro Precious Remedies Against Satan’s Devices [Remédios Preciosos Contra as Artimanhas de Satanás] de Thomas Brooks, tenho refletido como seriam essas forças – e que de algum modo ainda estão – contra mim. Ainda que por meio da fé em Jesus Cristo eu esteja livre do domínio dessas forças, não fui ainda completa e finalmente liberto da influência delas. Cada uma continua contra mim, e às vezes – muitas vezes – sou vencido, escolhendo o pecado em lugar da santidade. Logo, não é de se admirar, que o Livro Comum de Oração anglicano conduz os cristãos nessa oração: “De todos os enganos do mundo, da carne, e do demônio, livra-nos, bom Senhor”.

Tenho uma teoria sobre essas três influências e a maneira como diferentes cristãos as compreendem. Há muitas tribos teológicas dentro do cristianismo e creio que cada uma delas tem um equilíbrio imperfeito da sua compreensão de como essas forças operam contra nós. Deixem-me dar apenas três exemplos. Cada exemplo é imperfeito, claro, mas creio que haja um traço de verdade em cada caso.

Fundamentalistas tendem possuir uma grande suspeita do mundo – um mundo que está cheio de pecado e oposição inflexível contra Deus e os Seus propósitos. Na minha experiência, os fundamentalistas são rápidos em ver o mundo e considerá-lo responsável pelo pecado e pela tentação do pecado; a partir daí eles lutam duramente contra o mundanismo e veem os prazeres desse mundo e entretenimentos com grande e permanente suspeita. Se os fundamentalistas estão fora do equilíbrio, é pela ênfase da influência do mundo em detrimento a influência da carne e do diabo.

Pentecostais tendem lançar a culpa do pecado e da tentação na cara do diabo e nas forças demoníacas. Eles frequentemente levam em alta conta as ações e influências demoníacas. Quando enfrentam a tentação do pecado, ou quando sentem ou encontram oposição, eles são rápidos em ver a influência de Satanás e encontrar meios de permanecer firmes diante desse tipo de poder. Se eles estão fora de equilíbrio, isso está no destaque que se dá à influência maligna do diabo e de suas forças e em reduzir as influências do mundo e da carne.

Calvinistas têm uma profunda consciência da sua própria depravação. Afinal, o calvinismo começa com o T do TULIP – Total Depravação. Cremos que a humanidade está completamente corrompida, de forma que o pecado abrange cada parte nossa. Na Sua graça, Deus nos impede de nos tornarmos tão pecaminosos quanto poderíamos ser, mas todos continuamos pecadores no maior grau possível; o coração, a mente, a vontade, o desejo, a disposição – tudo isso – está marcado pela Queda. Ao considerarmos os inimigos de nossas almas, somos propensos a nos focar na carne, supondo que a tentação surge de dentro muito mais do que vindo de fora. Se estivermos fora de equilíbrio, isso se dá pela ênfase da influência da carne e na redução das influências do mundo e do diabo.

Todos nós, estou convencido, precisamos compreender que o mal toma várias formas, que ele surge de dentro e surge de fora, que enfrentamos inimigos físicos e espirituais. Enfatizar um em detrimento dos outros é baixar a nossa guarda. Talvez, a melhor resposta não seja reduzir as nossas próprias ênfases, mas elevar as outras. Quando compreendermos a vasta gama de forças contra nós, vamos compreender melhor o poder de Cristo em vencê-las, nos armaremos melhor para resistir e vamos aguardar melhor o dia da volta do Senhor quando essas influências serão final e completamente destruídas.

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Traduzido e gentilmente cedido por Charles Grimm (Cricket Translations) | Reforma21.org | Original aqui
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Fui a Jerusalém buscar poder!

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Por André R. Fonseca


A febre hoje é judaizar... e quem procura judaizar a igreja comete tremenda judiação! Mas desde o toque no shofar dos cânticos de alguns anos atrás, crentes e mais crentes são atraídos pela proposta de adotar liturgias cada vez mais judaicas. O número de igrejas que se transformam em verdadeiras sinagogas não para de crescer. Lamentável... Mas o que é ainda mais lamentável é a busca de alguns por poderes e unções especiais viajando para Jerusalém. Outro dia vi um pastor dizer no Facebook que só agora a igreja começava a receber a bênção financeira que ele tinha ido buscar em sua viagem para a Terra Santa! Tem também aquela coisa de vender a água do rio Jordão em frascos especiais, colocar o nome de enfermos no livro que será levado para o monte das oliveiras, etc, etc, etc. São as indulgências do século XXI... Tem até graça essa turma continuar insistindo na Igreja Católica como a Babilônia apocalíptica. Acho que eles não têm espelhos!

Mas que história é essa de ir buscar poder e unção em Jerusalém? Não foi Jesus mesmo quem disse que já havia chegado o tempo que não se adoraria mais nem em Jerusalém nem no monte Gerizim, porque os verdadeiros adoradores adorariam o Pai em espírito e em verdade? Jesus não inaugurou um novo tempo de adoradores sem limitações geográficas? Se nem mesmo o judeu, na nova aliança, segundo o autor de Hebreus, precisa peregrinar até Jerusalém para sacrificar, por que o crente tupiniquim vai achar que sua oração em Jerusalém terá unção especial? Estaria Deus limitado pela geografia? Voltamos ao período dos patriarcas, do pré-exilio babilônico, quando se pensava que os deuses eram territoriais?

Quando os judeus foram levados para o cativeiro babilônico, a visão de Ezequiel era clara: Deus não está limitado, preso em Israel. Deus, montado sobre um querubim, está aqui também na Babilônia e vem ao nosso socorro!

A mensagem da cruz não é diferente. Cristo cumpriu sua missão de dar vida aos adoradores por meio de sua morte, agora, como nova criatura, por meio de um nascimento espiritual, os verdadeiros adoradores podem adorar verdadeiramente a Deus independente do lugar para adoração. Não é o monte Gerizim tão pouco Jerusalém, o que importa é ter nascido de novo para adorar em espírito e em verdade aqui mesmo no Brasil.

Autor: André R. Fonseca 
www.andreRfonseca.com
Twitter: @andreRfonseca

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Um evangelismo eficiente

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Por Renato César


Primeiramente, devo esclarecer que a expressão evangelismo eficiente refere-se aos meios, não aos fins. Quero dizer com isso que as propostas de evangelismo, nada novas, que apresentarei não são garantia de maior alcance de resultados, mas certamente irão proporcionar a transmissão de uma mensagem mais consistente e precisa.

Considero o método de evangelismo em locais públicos utilizado por muitas igrejas ineficiente porque, em geral, o público-alvo está ouvindo a mensagem não porque tenha sede de ouvi-la, mas porque não tem outra alternativa. É similar ao que algumas pessoas fazem ao ouvir músicas evangélicas em suas casas ou mesmo em seus celulares: aumentam o volume do som a fim de compartilhar o evangelho com a vizinhança. Além de ser uma atitude claramente desrespeitosa, é mais provável que em vez de atrair pessoas a Cristo acabe por causar indignação em quem se sente incomodado com o som alto.

O evangelismo de massa que vemos em Atos tem pouco a ver com isso que vemos hoje em locais públicos. Quando os apóstolos pregavam, o povo ouvia atentamente porque era uma mensagem completamente nova e, especialmente, porque era atraído pelo Espírito Santo de Deus. Igualmente, Jesus não bradava sua mensagem aos quatro ventos enquanto transeuntes cruzavam seu caminho sem dar-lhe atenção. Mesmo quando havia rejeição ao evangelho, essa rejeição não decorria da indiferença dos ouvintes à mensagem, mas porque eles discordavam exatamente de seu conteúdo.

O Brasil é hoje uma país evangelizado. É claro que há ainda regiões muito carentes do evangelho, mas certamente as grandes cidades não estão entre elas. Duvido que se ache com facilidade alguém que não tenha ouvido que Jesus morreu numa cruz para salvar pecadores. Católicos e evangélicos, bem ou mal, compartilham as boas novas em TVs, rádios, internet e quaisquer outros tipos de mídia que se possa imaginar.

A questão, então, não é apenas falar de Cristo, mas transmitir a mensagem da cruz de maneira realmente consistente, mostrando àqueles que estão dispostos a ouvir sua real necessidade de arrependimento e de crer no Cristo morto numa cruz e ressurreto ao terceiro dia. Mas esse tipo de evangelismo só é possível se houver um contato minimamente próximo e prolongado para que se possa explicar, por exemplo, que o Cristo não foi apenas um homem, mas também foi Deus, e que esse mesmo Deus, que se revela em três pessoas, pode habitar em nós por meio do Espírito Santo.

O evangelho, especialmente nestes dias em que se disseminam facilmente tantas deturpações bíblicas, não deve ser passado de qualquer forma, e a melhor maneira de transmiti-lo é ensinando-o, às vezes, individualmente, de maneira paciente e personalizada. Para tanto, alguns métodos evangelísticos são mais propícios, como a utilização de pequenos grupos de evangelismo ou a realização de estudos bíblicos individuais, além, é claro, da pregação tradicional dirigida a ouvintes realmente interessados em ouvir e compreender a mensagem da cruz.

Pequenos grupos são especialmente úteis porque favorecem o evangelismo por amizade. Lamentavelmente, essa metodologia de evangelização, que deu resultado no início da Igreja (ainda que os cristãos assim se reunissem devido às circunstâncias) e em tantos outros lugares, foi deturpada e transformada por alguns em doutrina majoritária, quando na verdade diz respeito muito mais a um modelo de reunião que procura aliar filosofias administrativas à pregação do evangelho, tornando a atuação missionária das igrejas mais eficiente. Da mesma forma, estudos direcionados já demonstraram ser um técnica eficiente na transmissão de qualquer mensagem. O crescimento das Testemunhas de Jeová comprova a eficiência dessa técnica.

Contudo, é preciso ter em mente que o objetivo deve ser aprimorar o evangelismo, e não tornar o método ponto central nos resultados obtidos, desprezando assim a ação do Espírito Santo e a soberania de Deus para a salvação.

Finalmente, devemos nos lembrar que este é um assunto bem mais complexo e difícil de discutir do que parece. Sair por aí pregando sem critérios ou mesmo sem um planejamento prévio é renegar todo o conhecimento e aprimoramentos adquiridos pelo homem no ambiente secular. Ao contrário do que alguns sugerem, fazer uso de métodos e estratégias para tornar a pregação do evangelho mais eficiente, assim como um bom pregador faz ao preparar seu sermão, não é sintoma de desprezo pela ação do Espírito Santo, mas sinal de que se leva muito a sério o “Ide” de Jesus.

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Sobre o autor: Renato César é cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE. Contatos: renatocesarmg@hotmail.com

Divulgação: Bereianos