Lutero e o Ensino da Depravação Total

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Quando Lutero, no século XVI, deu início ao que ficaria conhecido por Reforma Protestante, ele foi completamente impactado pelo seguinte verso, presente em Romanos 1:17: “O justo viverá pela fé”. Foi com esta palavra que o “papado” começou a morrer dentro daquele monge alemão, que também havia se tornado um excelente professor de exegese, em Wittenberg.

A justificação pela fé, para Lutero, era o resumo de toda a doutrina cristã. Os méritos humanos não são capazes de tornar nenhum ser humano justo diante de Deus. Lutero acreditava no que veio a ficar conhecido por Depravação Total (DT). Essa depravação havia tomado o homem na queda. Na sua antropologia, Lutero afirma que nós somos possuidores de corpo e alma vivente, sendo que o pecado afetou tanto um como o outro. Para o reformador alemão, portanto, já nascemos com os desejos maus enraizados em nossos corações. Essa foi uma das grandes controvérsias que Lutero teve com o humanista Erasmo de Roterdã.

Igualmente, a teologia luterana contemplava um homem que peca por já ser um pecador, e não que se tornava um à medida que cometia os seus delitos. Lutero explica, ainda, que o pecado original está encravado em cada pessoa, de forma que não podemos nos desatrelar dele. Por esta razão é que o pecado é pessoal e natural. O ser humano é um ser corrompido, envenenado e pecaminoso. Os efeitos contidos na queda e a herança que ela relegou a todos os humanos fizeram com que Lutero escrevesse a seguinte pérola:

Assim, Adão e Eva eram puros e saudáveis. Tinham uma visão tão aguçada que podiam enxergar através de uma parede e ouvidos tão bons que podiam ouvir qualquer coisa a 3 km de distância. Todos os animais eram-lhes obedientes: até mesmo o sol e a lua sorriam para eles. Mas depois o diabo veio e disse: “Vocês se tomarão como os deuses”, e assim por diante. Eles pensaram: “Deus é paciente. Que diferença faria uma maçã?”. E num estalar de dedos ela estava diante deles. E isso ainda nos está pendurando a todos pelo pescoço.[1]

Embora esta citação possua linguagem especulativa quanto às façanhas físicas do homem antes do lapsus, ela ilustra muito bem o entendimento luterano acerca da DT. A sua concepção de depravação está atrelada com o seu ensino acerca da justificação. Desta forma, para o reformador, Deus aceita a justiça de Cristo, por isso, mesmo os nossos pecados não sendo removidos, eles não são mais denunciados contra nós. Esta é a clássica diferença entre o “tornar justo”, defendido por Agostinho, e o seu “declarar justo”. A justificação ocorre pela fé, somente, e quem a recebe passa a ser, ao mesmo tempo, justo e pecador. Sobre este paradoxo, Lutero afirma:

Somos verdadeira e totalmente pecadores, com respeito a nós mesmos e ao nosso primeiro nascimento. Inversamente, já que Cristo nos foi dado, somos santos e justos, totalmente. Então, de diferentes aspectos, somos considerados justos e pecadores ao mesmo tempo. Assim, podemos concluir que Lutero aniquilou a teologia romanista da salvação meritória, ao doutrinar que a justificação se dá somente pela fé. Também podemos celebrar o seu legado na luta contra a falsa doutrina do livre-arbítrio.[2]

Entendida a capacidade vinda de Deus para tomar decisões ordinárias, resta evidente que, para cumprirmos as responsabilidades no mundo, o livre-arbítrio permanece. O que ele é incapaz de realizar é fazer com que o homem salve a si mesmo. Nesse sentido, o livre-arbítrio está totalmente corrompido, tornando-se, assim, escravo do pecado e do próprio Satanás. Essa vontade escravizada nos faz desejar o que é mau. Apenas com o auxilio da Graça somos libertos. A tragédia da existência humana se resume no fato de que o homem não regenerado se considera livre, e, deste modo, se entrega cada vez mais àquilo que o aprisiona. Esse trágico quadro que Lutero pintou resume o seu ensinamento a respeito da DT e leva-o ao entendimento da salvação mediante a graça: “Não somos libertos por qualquer poder que em nós mesmos exista, mas tão somente pela graça de Deus”.[3]

Neste ano em que a Reforma completará seus 500 anos, é preciso resgatar esta doutrina, que foi sendo solapada das igrejas brasileiras através de ensinamentos equivocados e heréticos. Precisamos falar mais da DT pois, como nos diz Berkhof: “O correlativo natural da doutrina da depravação total é o ensino da total dependência do homem da graça divina quanto à renovação. Lutero, Calvino e Zwínglio apresentaram frente unida quanto a isso”[4]. E para glória de Cristo, devemos resgatar o Evangelho da Graça preservando o legado do protestantismo.

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Notas:
[1] Citado por Thimoty George no excelente livro Teologia dos Reformadores, p. 69.
[2] Ibdem, p. 73.
[3] Nascido Escravo, p.39.
[4] A História das Doutrinas Cristãs, p.134.

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Autor: Pr. Thiago Oliveira
Divulgação: Bereianos
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Se conhecemos, então a Trindade existe: um argumento transcendental a partir e para a Trindade

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O argumento a partir e para a Trindade é a peça central do método apologético de Cornelius Van Til.[1] A inspiração para esse argumento é o problema filosófico que iniciou-se nos pré-socráticos[2], chamado de “problema de um e muitos”. Na visão de Van Til, apenas o teísmo – na verdade, apenas o teísmo cristão, com sua visão trinitária de Deus – pode fornecer uma solução para este problema. O que se segue é uma explicação exemplificada do problema. Com a advertência de que exigirá do leitor paciência e reflexão para entender cada parágrafo antes de passar para o próximo.

Uma característica intrigante da realidade é que ela existe em aspectos de unidade e pluralidade: por exemplo, João e Maria manifestam a unidade em virtude do fato de serem humanos e de pluralidade em virtude do fato de que não são os mesmos humanos, mas duas pessoas distintas. Além disso, para ter conhecimento de João, preciso ser capaz (pelo menos em princípio) de compreender tanto o que o unifica com outras coisas no mundo como o que o distingue dessas outras coisas. Se, em princípio, não posso compreender o que distingue João de outras coisas, por que qualquer conhecimento que eu possuir de João seja considerado realmente conhecimento de João, ao invés de Maria ou qualquer outra coisa? E se, em princípio, eu não posso nem mesmo entender o que unifica João com outras coisas (por exemplo, que ele tem qualidades que não são somente dele, mas podem ser exemplificadas[3] por outras coisas, como Maria), por que eu deveria pensar possuir qualquer informação significativa sobre ele?

Segue-se como um princípio geral que, para ter conhecimento de objetos no mundo, o mundo deve ser tal que sua unidade e pluralidade sejam relacionadas, mas distintas. Por essa razão, as expressões de unidade e pluralidade no mundo devem manifestar-se pela unidade (através de relações comuns) e pluralidade (através de distinções).

ARGUMENTOS CONTRA OS PLURALISTAS

A questão que surgiu na Grécia antiga questiona qual o aspecto da realidade é o final[4]: unidade ou pluralidade? Suponhamos que a pluralidade é final. Segue-se que a realidade, em última análise, consiste em um agregado de coisas que são completamente diferentes e não relacionadas entre si, uma vez que qualquer coisa que sirva para conectá-las equivaleria a um princípio unificador mais final, que por hipótese não existe. Na verdade, é ilusório falarmos de um “agregado” de “coisas”, uma vez que tais termos pressupõem uma unidade subjacente pelo qual as coisas podem ser “agregadas” como instâncias de “coisa”. No entanto, como eu observei em princípio nada pode ser conhecido sobre coisas completamente diferentes e não relacionadas.

Outros problemas podem ser derivados a partir deste princípio de pluralidade final. O pluralista abraça uma visão da realidade como uma esfera do acaso dentro do qual todas as verdades empíricas, racionais e éticas existem em indiferença relativa para com o outro, não há nenhuma coerência ou ligação entre um e outro. Problematicamente, isso nos dá todas as razões para duvidar de nossas capacidades cognitivas para conhecermos algo. Pois que princípio garante que nosso raciocínio é equipado para entender o mundo como ele realmente é, visto que todas as coisas são desconexas, incluindo a minha razão e a realidade? Se mesmo o menor pedaço de realidade fugir a compreensão da razão, haveria uma área de realidade totalmente desconhecida para todos. E ainda, esta área pode ter alguma influência sobre a realidade que parece termos conhecimento. Por isso, não teríamos nem mesmo conhecimento daquilo que pensávamos ter conhecimento. Van Til considera Kant como indubitavelmente correto em assegurar que a mente do homem e os fatos do universo nunca deveriam ter sido separados.[5]

Podemos pensar também que o mundo só é inteligível se houver princípios abstratos imutáveis. Precisamos pressupor, por exemplo, o princípio da não-contradição[6], até para nos comunicarmos. Sem esse princípio, a Trindade poderia existir e não existir, na verdade, até a comunicação seria impossível. Pois quando eu digo que algo é, não significa que não é. O significado pressupõe o princípio imutável da não-contradição. Mas, numa metafísica pluralista, esse princípio é algo evidente por si mesmo como existindo sem ter qualquer relação com a realidade, pois não há nada que unifique os dois. Assim, a realidade está completamente a mercê do acaso[7] e sujeito a contradições. Talvez a única característica confiável da realidade é o fato de estar constantemente flutuando e passando para o seu oposto. Mas um universo que está constantemente e imprevisivelmente mudando pode muito bem passar para a não-existência completamente, no qual cada característica do universo, incluindo a própria mudança, seria perdida.

Na teoria, o pluralista considera os fatos como objetos básicos e mais imediatos do conhecimento. Ele, por sua vez, se considera um recipiente igualmente vazio e indiferente desses fatos. Mas, na prática, esse ponto de vista revela-se auto-destrutivo. Cada tentativa de identificar conscientemente um fato bruto revela a dependência de qualidades universais (unas) – por exemplo, “ele é um homem”, “isto é vermelho”, etc.

ARGUMENTOS CONTRA OS MONISTAS

Suponhamos que a unidade é final. Segue-se que a realidade é fundamentalmente monista[8]: é uma coisa indiferenciada. Porém, em princípio, mais uma vez, nada pode ser conhecimento sobre tal coisa, porque não pode haver algo a partir do qual distingui-lo, incluindo o “nada” – pois nesse caso até a distinção entre ser e não-ser é dissolvida. Além disso, não poderíamos sequer nos conhecer. Pois para conhecermos qualquer coisa significativa sobre si mesmo, é preciso ser capaz de julgar que se exemplificam certas qualidades e não outras; contudo, se a realidade é uma unidade final, não pode haver distinção genuína entre uma qualidade e outra.

Até as ideias racionais[9] do monista, como “homem”, precisariam ser contrastadas e unificadas entre si em fatos concretos diferentes para serem definidas. O que poderia significar conhecer “homem” a parte de uma consciência empírica de que ele é incompatível com “os animais irracionais” e ainda perfeitamente capaz de união com outras qualidades universais diferentes como “gordo” ou “baixo”. Nesse caso, os universais não são autodefinidos, mas têm sua definição mediada por combinações factuais. Somos levados à conclusão de que os universais são ininteligíveis e indistinguíveis quando tomados em si e por si mesmos.

Em ambos os casos, uma vez que a realidade não pode ser conhecida em seu nível mais básico, a compreensão de qualquer coisa dela é obscura. Na verdade, em ambos os casos, como dito, a noção de “coisa” seria ininteligível.

Mas será que qualquer deus poderia criar a realidade de maneira una e múltipla? Pense em um deus unitário. Nada pode ser precisamente predicado de uma divindade estritamente unitária, uma vez que a multiplicidade envolvida na predicação está em desacordo com sua natureza. Uma coisa que não tem nada a distinguir é impensável, mas igualmente impensável é uma coisa que está tão separado de todas as outras coisas que não tem nada em comum com elas. Se tal ser tivesse uma definição negativa de como ela existe em contraste com a criação, ele só demonstraria sua dependência do universo temporal para ter diferenciação e relação que ele não tem em si mesmo. E mesmo que esse deus fosse considerado como tendo distinções internas entre princípios, faculdades, motivos, interesses que são distintos de sua pessoa, ele então seria um efeito de princípios sub-pessoais.[10] Tal deus não pode ser uma deidade verdadeira.

ARGUMENTO TRANSCENDENTAL A PARTIR E PARA A TRINDADE

Por que Van Til pensa que o teísmo cristão escapa desse dilema? Seu pensamento é que, em uma ontologia[11] teísta cristã, nem a unidade nem a pluralidade é final em relação ao outro, mas sim os dois aspectos da realidade são co-finais, na medida em que eles são expressões da tri-unidade de Deus. Deus exibe tanto unidade última quanto pluralidade última: ele é um em “essência” e três em “pessoa”. Além disso, a criação reflete a unidade e a pluralidade de seu Criador de uma forma derivada e análoga.

Assim, o “único” Deus não pode cair no esquecimento como um universal abstrato e indistinto, pois Ele é definido concreta e infinitamente em relação às “três” pessoas. Os “três” também não se rebaixam em particulares irracionais que evitam a definição, pois são exaustivamente definidos pela dinâmica trinitária. Nada, então, ficaria fora da compreensão pessoal de Deus, incluindo a relação entre Seu ser tríplice e seu autoconhecimento abrangente. Deus seria uma pessoa auto-contido, auto-definida e auto-suficiente.

Dessa maneira, não é que tal esquema crie uma compreensão abrangente do universo possível para nós, mas sim torna possível a Deus, que por sua vez pode nos fornecer uma compreensão parcial e derivada do universo. Em todo o caso, o ponto principal aqui é que somente uma ontologia na qual unidade e pluralidade são co-finais no nível mais fundamental pode permitir o conhecimento.

Se quisermos ter coerência em nossa experiência, deve haver uma correspondência de nossa experiência com a experiência eternamente coerente de Deus. O conhecimento humano, em última análise, repousa sobre a coerência interna dentro da divindade; nosso conhecimento repousa sobre a Trindade ontológica como o seu pressuposto.

A surpreendente conclusão é que até a negação da existência da Trindade, afirma-o. Todo ato de conhecimento ou predicação pressupõe a existência da harmonia absoluta e pessoal da unidade e da pluralidade, dentro do Deus Trino. Negações que a Trindade existe são afirmações de posse de conhecimento e atos de predicação. Portanto, o Deus Triúno existe.[12]

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Notas:
[1]Cornelius Van Til foi o fundador do método apologético chamado pressuposicionalismo. Neste mesmo blog você pode encontrar mais informações sobre essa metodologia em minha autoria.
[2] Os pré-socráticos foram os primeiros filósofos. Movimento que surgiu na Grécia Antiga.
[3] Como, por exemplo, ambos serem uma pessoa. “Exemplificados” é um termo que os filósofos usam para se referir que um universal está instanciado em algum particular.
[4] Por “final” eu quero dizer aquilo que é último ou definitivo, o que tem primazia.
[5] Você pode observar que a visão pluralista de mundo costuma ser o pressuposto dos cientistas contemporâneos que se professam ateus.
[6] Este princípio afirma que algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo e no mesmo sentido.
[7] Esse argumento serve para qualquer outro princípio lógico que tem a utilidade de tornar o mundo inteligível, isto é, entendível para a mente humana.
[8] Monismo afirma a unidade da realidade como um todo.
[9] Por ideias racionais, eu me refiro a tanto universais quanto a princípios lógicos e éticos.
[10] Isto é, ele não é uma pessoa em si mesmo. Mas o resultado de diversas partes juntas que em si mesmo são menores que uma pessoa. A exemplo temos o Exodia do desenho animado Yu-Gi-Oh! que só se torna quem ele é devido a junção de suas partes, e ele é o efeito dessas partes. Mas, novamente, falar de “partes” aqui seria ilusório conforme argumentei em pontos anteriores. Outro artigo será necessário para esclarecer melhor o argumento contra um deus estritamente unitário.
[11] “Ontologia” é o estudo daquilo que existe.
[12] Está é uma versão de um argumento transcendental para a existência de Deus. Esse modo de argumento transcendental busca as condições de possibilidade para a experiência inteligível. E dado que Deus é essa condição, tanto a afirmação quanto a negação de sua existência irá afirmá-lo.

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Sobre o autor: Gabriel Reis é Aspirante ao seminário na 1ª Igreja Presbiteriana do Brasil em Duque de Caxias-RJ. Graduando em filosofia pela UFRJ. Namora a Márcia Dias. Sonha em atuar no campo missionário transcultural junto com sua futura esposa. E fundador da Página Apologética Reformada.
Fonte: Gospel Prime
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Entre Calvino e Rousseau: O Ocidente e Sua Fragmentação no Multiculturalismo

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Há poucos dias, P. Andrew Sandlin escreveu um ensaio em seu blog argumentando corretamente que o problema americano não é a imigração, mas o multiculturalismo. De fato, os EUA é uma nação de imigrantes. Antes do marcusianismo[1] (que Sandlin chama de "marxismo libertário") e da Escola de Frankfurt, porém, todos os imigrantes, com maior ou menor dificuldade, sujeitavam-se à cultura e às leis americanas, enraizadas, nas palavras do teólogo, em um "protestantismo conservador genérico".

A imagem que se construiu daquele país no resto do mundo é falsa em grande medida. Vemos o comportamento de suas celebridades, as opiniões de seus jornais e o caráter de seus filmes como os verdadeiros representantes da cultura daquele povo, quando a realidade é outra muito diferente. Erik von Kuehnelt-Leddihn, austríaco, monarquista e católico conservador, enxerga uma essência muito peculiar do povo americano dentro da modernidade. Para ele, trata-se de um povo profundamente influenciado pelo calvinismo, que foi, por sua vez, uma espécie de "bote salva-vidas" do medievalismo. Em seu artigo "The Western Dilemma: Calvin or Rousseau?" [O Dilema Ocidental: Calvino ou Rousseau?], ele escreveu:

"Se nós chamarmos os estadistas do fim do século XVIII de Founding Fathers of The United States [Pais Fundadores dos Estados Unidos], então os Peregrinos e Puritanos são os avôs e Calvino, o bisavô. Dizendo isso, ninguém precisa excluir a Virginia, porque o anglicanismo tem fundamentos essencialmente calvinistas ainda reconhecíveis em seus Trinta e Nove Artigos, e os Pais Peregrinos, como os puritanos em geral, representavam um tipo de anglicanismo re-reformado. Embora a moda deísta oitocentista possa ter penetrado em alguns círculos intelectuais, o espírito predominante dos americanos antes e depois da Guerra de Independência era essencialmente calvinista em ambos os aspectos brilhantes ou feios. Eles eram um povo trabalhador, sóbrio, sincero, intensivamente nacionalista, conscientes e orgulhosos de seus padrões morais, que incluíam a "ética protestante do trabalho". Como uma nação de tais virtudes eles despertaram a admiração do mundo e em sua própria auto-estima foram convencidos de que sua nação tinha uma missão messiânica de salvar o mundo através de uma 'novus ordo seclorum'."

Para alguns intelectuais, entre eles o próprio Erik von Kuehnelt-Leddhin, mas também R. J. Rushdoony, uma das razões que conduziram os Peregrinos para o Novo Mundo foi o desejo de fugir da modernidade e do Iluminismo. Para Kuehnelt-Leddihn, mesmo os católicos americanos são culturalmente calvinistas. Ele relata que imigrantes católicos irlandeses e italianos, quando chegavam aos EUA, eram vistos pelos outros católicos como pagãos. O austríaco acredita que a Reforma preservou o espírito medieval genuíno, enquanto o catolicismo amalgamou-se com o Renascimento. O Racionalismo e o Iluminismo seriam netos do Escolasticismo e do Renascimento, respectivamente, e ambos teriam sido gerados nas entranhas do mundo católico, só posteriormente atacando de forma mais agressiva o mundo afetado pela Reforma na Europa. Mas o mesmo não aconteceu nos EUA. Nas colônias, os puritanos encontraram liberdade religiosa e política, marcante em suas leis até hoje. Mesmo que o humanismo, e mesmo a Maçonaria, tenham desempenhado um papel relevante em sua história, o espírito calvinista é o seu espírito original. Para Erik, o americano médio talvez nunca tenha sido um homem moderno no sentido completo. Foi apenas depois da Guerra Civil, e muito mais consistentemente no século XX, há uma mudança radical de perspectiva.

Fora dos EUA, contudo, a visão que se alimenta dos EUA é a pior possível. Não apenas por causa da agenda anti-americana da esquerda nas escolas, mas também, por causa dos filmes, os próprios cristãos acabam alimentando uma ideia muito equivocada daquela nação. Quando Alexis de Tocqueville esteve nos EUA, ele viu que a grandeza daquela nação estava sobretudo na vitalidade das igrejas. De fato, há nos EUA hoje uma força crescente e cada vez mais radical de anti-cristianismo. Por outro, há ainda um cotidiano completamente maquiado e desprezado por Hollywood e pela imprensa. A arte e a comunicação hoje são dominados por humanistas que, agindo segundo uma agenda própria, tentar descaracterizar a história daquela nação. Os historiadores humanistas, semelhantemente, têm feito um esforço considerável para amenizar a influência cristã na história americana, omitindo, inclusive, a participação de cristãos durante a Guerra Civil. O fato é que apenas poucas áreas – consideravelmente populosas, é verdade – a cultura cristã está mais enfraquecida. E esses têm sido os porta-vozes daquela nação. "Hollywoood" vende "Californication", cantou Anthony Kiedis. O humanismo americano tem recebido uma conotação igualmente escatológica e quer tomar aquela nação inteira de assalto. Há uma mentalidade religiosa que quer livrar aquela grande nação de sua herança.

O multiculturalismo tem exatamente esse propósito, a saber, a destruição da influência cristã no Ocidente. Divorciar a América de seu passado cristão é negar que a unidade daquele povo fosse cultural e entregar essa unidade a um quadro político vazio, a ser preenchido por qualquer conteúdo. No fim das contas, trata-se de conceder ao Estado aquela força que provém antes de uma religiosidade comum, o que, na prática, é impossível de ser feito sem que haja um desastre a longo prazo. Como Rushdoony assevera, o primeiro conflito é antes de tudo religioso – entre cristianismo e humanismo. Sem entendermos as forças antitéticas agindo no Ocidente depois do fim do mundo medieval, i.e., a Reforma e o humanismo, nascidas do cristianismo medieval e do Renascimento, é impossível falar do Ocidente de forma realista, e haveremos, como os islâmicos que odeiam esse legado, de entender que a escatologia do mundo ocidental segue rumo a uma "californização" e que isso seria de alguma forma culpa do cristianismo. Para Rushdoony, a origem do anti-cristianismo que vemos hoje está no Renascimento e no uso de Aristóteles por aqueles que queriam livrar-se da religião cristã. A secularização, em grande medida, é apenas a substituição paulatina de Agostinho pelo Estagirita, pela cosmovisão e noética de ambos.

Sandlin conclui que a solução realmente sólida para o problema que aquele país enfrenta hoje é a reeducação do povo em sua verdadeira herança, no resgate de seu espírito calvinista. Para ele, a causa da crise é que eles "falharam como uma cultura para preservar sua herança" e Trump possivelmente não está preparado para resolver essa questão. A mesmíssima solução é a apontada por Erik von Kuehnelt-Leddihn: o dilema do mundo ocidental há de ser resolvido com o retorno ao pensamento de João Calvino, especialmente no que se refere à sua antropologia.

"A Nova Esquerda continuará seu jogo até que seu tempo finde, e isso será quando a dissolução rousseauniana engolfar-nos ou – como deveríamos esperar – quando dos profundos recessos do subconsciente americano aquelas memórias do outro genebrino [no caso, Calvino] levantarem-se para uma nova vida" (Erik von Kuehnelt-Leddihn, "The Western Dilemma: Calvin or Rousseau?").

O futuro do mundo será resolvido entre Calvino e Rousseau.

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Nota:
[1] A referência aqui é a Herbert Marcuse. 

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Autor: Antonio Vitor
Divulgação: Bereianos
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Liberais, Fundamentalistas e Moderados

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No atual processo de secularização da Igreja, antigas terminologias eclesiásticas são utilizadas para rotular os que estão envolvidos. Os que tentam secularizar a Igreja são chamados de liberais pelos resistentes. O liberalismo teológico, também conhecido como modernismo, teve sua origem na Alemanha, no final do século XIX. As suas características principais são: (1) adaptar o cristianismo a cultura e ao pensamento contemporâneo através de uma nova linguagem; (2) a Bíblia não é o registro infalível da revelação sobrenatural de Deus, mas um livro histórico e, portanto, não possui autoridade absoluta; (3) a negação da transcendência divina e defesa da sua total imanência na criação - panteísmo; (4) a valorização da experiência religiosa subjetiva em detrimento da fé e da obediência a Bíblia; (5) o otimismo humanista que prega a evolução ética da sociedade pelo esforço humano, por meio da implantação do reino terrestre divino. Não se deve confundir Liberalismo com Neo-Ortodoxia. 

Os que resistem a secularização da Igreja são chamados de fundamentalistas pelos liberais. O Fundamentalismo foi um movimento que surgiu nos Estados Unidos, logo após a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de reafirmar o protestantismo ortodoxo, defendendo-o do liberalismo teológico, da alta-crítica e do darwinismo. Na série de doze volumes chamada Os Fundamentos, a ortodoxia era reafirmada por meio do combate a teologia liberal. Os autores eram das diversas denominações evangélicas (presbiterianos, batistas, anglicanos etc) e os editores responsáveis eram do Instituto Bíblico Moody e do Instituto Bíblico de Los Angeles. Não se deve confundir o Fundamentalismo com o Evangelicalismo.

No Brasil, como produto made in Brazil, temos aqueles que se intitulam hoje de moderados, ou seja, não são nem liberais nem fundamentalistas. Moderado é o adjetivo que qualifica a pessoa que age prudentemente, sem exageros, comedidamente. O termo latino moderatio significa a capacidade ou virtude de permanecer na exata medida. O apóstolo Paulo recomenda aos cristãos: "Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens" (Fp 4.5). A palavra grega denota o espírito magnânimo que supera ofensas, ou um espírito paciente. Jesus é o exemplo supremo (2 Co 10.1). No atual contexto eclesiástico, porém, moderação ganha novos significados, diferentes dos acima citados.

Primeiro, toda a pessoa que não têm uma posição teológica definida e não defende princípios é reconhecida hoje como moderada. Filosoficamente, diríamos que o moderado é aquele que convictamente tem como posição não ter uma posição definida. Um exemplo bíblico é o do povo de Israel, na época do profeta Elias: "Então, Elias se chegou a todo povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém, o povo nada lhe respondeu" (1 Rs 18.21). Observe que o texto apresenta dois perfis: o de Elias claramente definido: o SENHOR é Deus; e o do povo indeciso claudicando entre dois pensamentos ou duas proposições teológicas: o povo nada lhe respondeu. A indefinição do povo de Israel representa o moderado de hoje.

Segundo, toda pessoa que age politicamente hoje é chamado de moderado. É o politicamente correto ou o que tem jogo de cintura. O fato de não ter convicção, esse tipo de moderado passa a agir pela conveniência, isto é, pelo interesse ou o seu maior benefício pessoal. A convicção estará sempre onde o lucro for maior. O apóstolo Paulo repreendeu a Pedro por atitude semelhante: "Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tomara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles" (Gl 2.11-13). Infelizmente, na Igreja hoje, a posição teológica dependerá sempre do emprego oferecido ou ameaçado.

Terceiro, toda pessoa que foge da luta cristã é chamada hoje de moderada. Entende-se por esse prisma que o rebanho de Deus e a sã doutrina não precisam ser defendidas. Entretanto, conforme a Bíblia, a fé cristã é por natureza confrontadora e é dever de cada cristão pelejar pela fé: "Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 3). O verdadeiro pastor é aquele que, em benefício do rebanho, enfrenta o lobo. Jesus reconhece que a característica principal do mercenário é a covardia: "O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa" (Jo 10.12). Aquele que foge à luta em prol da proteção do rebanho de Deus, não é visto por Jesus Cristo como moderado, mas, sim, como mercenário.

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Autor: Rev. Arival Dias Casimiro
Fonte: Resistindo a Secularização, SOCEP 2002. Págs. 60-63.

Leia também:
Confessionalismo ou Pluralismo?
A Disciplina Eclesiástica
A Metáfora do Cabelo Pintado
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Deus odeia a imoralidade sexual

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Aqueles que amam também devem odiar. Aqueles que amam o que é bom, o que é benéfico, o que é honroso, devem odiar o que é mau, o que é prejudicial, o que é lamentável. Nós somos definidos tanto pelas coisas que amamos, quanto pelas coisas que detestamos. E o que é verdade para nós também é para Deus (ou melhor dizendo, o que em primeiro lugar é verdadeiro para Deus também é para nós). Para que Deus ame, Ele também deve odiar.

A Bíblia nos fala de muitas coisas que Deus odeia. Às vezes, ela diz diretamente “Deus odeia isso”; outras, descreve tais coisas com palavras como “abominável” ou “detestável”. Quando colocamos tudo isso junto, encontramos cerca de oito grandes categorias de coisas que Deus odeia. Já vimos que Deus odeia idolatria. Hoje eu quero mostrar que Deus também odeia a imoralidade sexual.

Deus odeia a imoralidade sexual

Os seres humanos são seres sexuais. Nós somos muito mais do que isso, é claro, mas não somos menos. Nossa sexualidade é uma parte de quem somos, um bom presente de Deus para unir marido e mulher e expandir a raça humana. Como tudo o mais que temos, a nossa sexualidade é um dom que nos foi dado em confiança. Devemos nutri-lo fielmente, usando-o nos caminhos comandados por Deus, recusando seu uso de formas que Ele proíba. Deus estipula que o sexo deve existir somente no casamento de um homem com uma mulher e ainda estipula de que ele deve, de fato, acontecer no casamento (1 Coríntios 7:1-5). Assim como é pecaminoso ter relações sexuais fora do casamento, é pecaminoso não ter relações sexuais dentro do casamento.

Deus ama quando os seres humanos usam o dom da sexualidade nos caminhos que Ele ordena, mas, em seguida, necessariamente odeia quando eles o abusam de outras maneiras. Especificamente, ele odeia os atos de homossexualidade e bestialidade (Levítico 18:22-23), assim como o transvestimento (Deuteronômio 22:5). Ele odeia ofertas provenientes de prostituição ou, neste caso, a prostituição no contexto ritualístico (Deuteronômio 23:18). Podemos aplicar isso a um contexto moderno, observando que o dinheiro gasto ou ganho ilicitamente desonra a Deus, mesmo quando dado a uma causa nobre.

Deus também odeia o divórcio, a separação dos laços do casamento (Malaquias 2:14-16). Malaquias 2 é uma passagem complicada cuja tradução é contestada, mas podemos estar confiantes disso: o que pode estar opaco no Antigo Testamento, em que o divórcio era permitido, está absolutamente claro no Novo Testamento, em que o divórcio é proibido, exceto no caso de adultério (ver Marcos 10:1-12). Deus, sobretudo, odeia o divórcio quando o objeto é a exploração de outra pessoa, como em Deuteronômio 24:4, onde parece que a ênfase é em um marido que se casa para receber o dote de sua esposa, se divorciando, e depois se casando com ela uma segunda vez para receber um segundo dote.

Para resumir: Deus odeia o pecado sexual, Ele odeia qualquer contaminação do dom da sexualidade, e Ele odeia qualquer desonra do casamento, o único contexto certo para a sexualidade.

Por que Deus odeia a imoralidade sexual?

Por que Deus odeia a imoralidade sexual? Porque de alguma forma o pecado sexual é mais grave do que outras formas de rebelião. Em 1 Coríntios 6:18, lemos essas palavras surpreendentes: “Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo.” Os estudiosos da Bíblia debatem o significado das palavras, mas isso é muito claro: o pecado sexual debocha da união física e espiritual presente no relacionamento sexual. Como a Reformation Study Bible aponta, “no ensino de Paulo, a união física envolvida na imoralidade sexual tem consequências especiais porque interfere na nossa identidade cristã como pessoas que foram unidas a Cristo através do Espírito Santo.” Aqueles que estão unidos a Cristo não podem estar unidos a uma prostituta ou qualquer outra pessoa com a qual não estejam casados.

O pecado sexual degrada e abusa do corpo que Deus utiliza como seu templo. “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” (1 Coríntios 6:19-20). É importante ressaltar a linguagem similar que Paulo usa para descrever a idolatria e a imoralidade sexual. Ambos são sinais de profunda rebelião contra Deus.

Julgamento de Deus sobre os devassos

Deus é perfeitamente claro em seu julgamento sobre a imoralidade sexual. Grande parte do primeiro capítulo de Romanos 1 é dedicado a provar que o julgamento de Deus cai sobre aqueles que cometem o pecado sexual e que, ao longo do tempo, caem mais e mais nesse erro. “Conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.” (Romanos 1:32). Na verdade, Paulo chega a afirmar que o aumento do pecado sexual é a própria forma de julgamento através da qual Deus deixa as pessoas mais perdidas em seus pecados. 1 Coríntios 6:9 insiste que nem os devassos, nem os homossexuais verão o céu, o que se repete em Gálatas 5:19-21, Efésios 5:5 e Apocalipse 22:15. O autor da carta aos Hebreus demanda, “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros.” (Hebreus 13:4). Aqueles que cometem imoralidade sexual enfrentarão o julgamento justo e eterno de Deus.

Esperança para os imorais sexuais

No entanto, há esperança, mesmo para os devassos. Em sua primeira carta a Timóteo, Paulo discute o propósito da lei de Deus e diz que a lei foi dada para “impuros, sodomitas, raptores de homens” (1:10). Deus provê para todos os pecadores! A lei foi dada graciosamente para expor seus pecados, seus desejos pelo pecado, e sua incapacidade de parar de pecar. Mas, é claro, a lei não era suficiente, então Paulo muda imediatamente da completude da lei para a bondade do evangelho, para o que ele se refere como “o evangelho da glória do Deus bendito”. O evangelho insiste que nenhum de nós está além da redenção, nenhum de nós está além da salvação, se nos voltarmos para Cristo e seu perdão. “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1:15). Não há pecador inalcançável à sua graça.

Fugi da impureza”, diz Paulo (1 Coríntios 6:18). Devemos fugir desse pecado e, por meio do evangelho, nós podemos.

Versículos-chave sobre a imoralidade sexual

Se você gostaria de se envolver em algum estudo mais aprofundado, aqui estão os versículos-chave sobre o ódio de Deus à imoralidade sexual:

  • Deus planejou o casamento e a sexualidade em torno do sexo masculino e do sexo feminino (Gênesis 2: 24-25)
  • Deus odeia os atos homossexuais (Levítico 18:22)
  • Deus odeia atos sexuais entre humanos e animais (Levítico 18:23)
  • Deus odeia o uso de roupas do sexo oposto (Deuteronômio 22:5)
  • Deus odeia e não aceitará ofertas provenientes da prostituição (Deuteronômio 23:18)
  • Deus odeia a exploração através do divórcio (Deuteronômio 24:4)
  • Deus odeia o divórcio (Malaquias 2:14-16)
  • Deus odeia a imoralidade sexual em todas as suas formas (Gálatas 5:19-21, Efésios 5:5, Apocalipse 22:15)
  • Deus criou o corpo para a pureza e não para a imoralidade (1 Coríntios 6:13)
  • Deus nos ordena a fugir da imoralidade sexual (1 Coríntios 6:18)
  • Deus oferece o perdão para os devassos (1 Coríntios 6:9-11)
  • Deus ordena a exclusividade da relação sexual dentro do casamento (Hebreus 13:4)

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Autor: Tim Challies
Fonte: Challies.com
Tradução: Kimberly Anastacio
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Meu herege de estimação

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Gostos pessoais nunca deveriam ser colocados em pé de igualdade ao Evangelho. Quando a subjetividade dos gostos pessoais se infiltra no contexto da igreja, a possibilidade de problemas é tão certa como o fulgor do sol do meio-dia. O Evangelho deveria ser o norteador de absolutamente tudo que acontece na igreja, justamente porque a igreja deveria estar sendo conduzida sob a direção do Evangelho. O grande problema que pode ser observado e que se torna um desafio para nossos dias é que os falsos ensinos e falsos mestres estão se multiplicando como fogo em palha, justamente pelo clamor e anseio de gostos pessoais.

O Jesus real ofende todo mundo!

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A ofensividade de Cristo é um ponto nevrálgico numa época de tanta “sensibilidade” ególatra como a nossa. Se essa ofensividade sempre foi um problema, imagine hoje?

O Jesus dos Evangelhos é ofensivo por ser muito inclusivo. Ao mesmo tempo, o Jesus dos Evangelhos é ofensivo por ser excessivamente exclusivo.

A igreja muitas vezes, os religiosos, os bons cidadãos... são ofendidos por Sua inclusividade, e o mundo e nossa cultura são ofendidos por Sua exclusividade.

Assim, todos ficamos até certo ponto inclinados a enfraquecer a ofensa, seja minimizando Seu chamado inclusivo ou minimizando Suas reivindicações exclusivas. Mas devemos saber com clareza que, sempre que saímos de um lado ou do outro, acabamos com um Jesus à nossa imagem – um ídolo.

Somos chamados a celebrar a inclusividade de Jesus e Sua exclusividade, pois esta é a polaridade que torna Jesus tão irresistivelmente atraente e o evangelho ser evangelho.

Os Evangelhos retratam Jesus como um Messias que constantemente e deliberadamente irritou muitos dos mais religiosos e melhores cidadãos de seus dias. Os mais respeitáveis.

Jesus não se inclina para a elite religiosa. Ele não vai respeitar suas categorias de quem está dentro e quem está fora. Ele não se juntará a eles para condenar” os pecadores comuns enquanto se excluem. Ele come com coletores de impostos, prostitutas... os párias da sociedade. Ele não tem medo de se aproximar deles.

A inclusividade de Jesus choca os líderes religiosos, os melhores cidadãos. Ele abre as portas do reino aos pecadores de todas as raias, e Ele fala duramente contra os religiosos por sua “justiça” auto-declarada de exclusividade pelos seus próprios méritos.

Evangélicos muitas vezes falam sobre como as reivindicações exclusivas de Cristo são ofensivas para nossa cultura hoje, mas às vezes não sentimos como a inclusividade de Cristo era tão ofensiva em seu contexto do primeiro século. E, ao perder essa verdade, é improvável que detectem as formas em que lançamos barreiras e erguemos muros em torno do “evangelho”.

A postura inclusiva de Jesus para com as mulheres (desprezadas naquela cultura), para com os doentes, para com os marginalizados, para com os piores pecadores representa um desafio para a igreja de hoje, tal como aconteceu com os fariseus há dois mil anos.

A prostituta na igreja pode estar mais perto de Deus do que o melhor cidadão de nossa sociedade, escreveu C. S. Lewis, ecoando as palavras de Jesus de que os coletores de impostos e prostitutas estavam entrando no reino na frente dos fariseus. Até que a inclusão radicalmente ofensiva da graça de Deus penetre em nossos ossos, nunca nos uniremos a Jesus nas margens da sociedade, acolhendo e abençoando pecadores ARREPENDIDOS de todos os tipos.

Mas o mesmo Jesus que chama os cansados ​​para virem a Ele para descansar é Aquele que exige que neguemos a nós mesmos – não algumas coisas, mas a nós mesmos, e o sigamos até nossa morte.

Ele diz que Ele é o único caminho para Deus, a Verdade, a Vida. Ninguém vem a Deus senão por meio d'Ele. Percebeu?

Seu caminho é estreito.

A porta é apertada.

Ele é o Pão do Céu, e a menos que você O consuma com fome, deleite e prazer, você perecerá.

Se você está ofendido pela natureza chocante dessas reivindicações exclusivas, então você pode ir embora, assim como as multidões fizeram em João 6.

Você vê? Com uma mão, Jesus está acenando a todos em todos os lugares para irem a Ele. Com a outra mão, Ele está afastando as pessoas. Você contou o custo? A menos que você se arrependa, você perecerá! Você está disposto a desistir de seus direitos e dobrar o joelho agora e para sempre?

Sejamos francos. A exclusividade é ofensiva quando estamos acostumados a ter nossas escolhas, quando pensamos que a tolerância deve significar nos aceitar como nós somos e concordar com o que somos. Jesus parece pensar que Ele é especial, que a graça de Deus vem somente por Ele, e que Ele nada deve a nós – mas que devemos tudo a Ele.

O único coração que pode receber tal graça é o coração que recebe o dom do arrependimento. Arrependimento é a troca de sua agenda, do seu  “reino” pessoal para a agenda do reino de Jesus Cristo, e isso é uma agenda que inclui TODAS as esferas de sua vida - como você vive, como você ama, como você dá, como você adora, como você se comporta sexualmente, como você fala, como você O segue como Senhor.

Não se engane, Jesus é duplamente ofensivo. Jesus disse que Ele veio chamar os pecadores ao arrependimento. Muitos na igreja estão ofendidos que o chamado de Jesus é para os pecadores e que não há diferença – “todos pecaram!”. Ninguém está numa situação melhor e todos dependem da Graça Soberana. O mundo está ofendido que Ele chama pelo arrependimento, negação a si mesmo, abandono do pecado... por isso só o Chamado Eficaz quebra a inimizade a Deus daqueles (todos os homens) que amam as trevas. Pois “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.” - Romanos 8:7

É por isso que o mundo e a cultura minimizam Suas reivindicações exclusivas até que Jesus seja reduzido a um guerreiro da justiça social, contra a pobreza, pela ecologia... e  que afirma as pessoas como elas são. E é por isso que muitos na igreja minimizam Seu chamado soberano inclusivo até que Jesus seja reduzido a um distintivo de honra para os que acreditam, pelos que se diferenciaram dos outro pelo “livre-arbítrio”, humildade... que por sua própria obediência se tornam bons diante de Deus.

A boa notícia é que Jesus pode mudar a todos nós. Por graça soberana, Ele abre o punho fechado do hipócrita religioso, e Ele estreita a visão do pecador de “mente aberta” até que Ele seja o único ponto na vista de todos, a única coisa preciosa. Como? Ao destruir a auto-justiça através de Sua morte e ressurreição.

Você vê, a igreja se auto-justifica quando encontra em si o que a diferenciou do mundo e não vê que só a Graça Soberana fez isso sozinha.  Quando condena o chamado inclusivo e soberano aos pecadores que Deus quiser chamar eficazmente. E o mundo se auto-justifica quando condena o chamado exclusivo ao arrependimento, negação de si mesmo, tomar a Cruz... ao querer ser aceito como é... Mas os Evangelhos nos dão um Jesus que explode a justiça em todas as suas formas quando Ele dá Seu corpo para ser golpeado e ferido e pendurado em uma cruz.

Portanto, não desista do desafio inclusivo ou exclusivo de Jesus. É o que o torna diferente de todos os outros. É o que é tão atraente sobre Ele. É o sinal de que Ele é verdadeiramente Deus, que Ele nos ama o suficiente para não nos deixar sozinhos.

Num dia em que é comum a igreja oferecer um Jesus exclusivo sem Sua inclusividade e o mundo é provável crer em um Jesus inclusivo sem Sua exclusividade (se acomodando ao homem e não o chamando para morrer), eu digo: “Dê-me o Jesus duplamente ofensivo do Novo Testamento, por favor. Deixe Ele ofender a todos nós” – Precisamos do Jesus real.

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Autor: Josemar Bessa
Fonte: Fides Reformata
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