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Por Alex Belmonte
Vivemos uma época de muitas
nomenclaturas ministeriais no meio evangélico brasileiro. Alguns líderes
de diferentes denominações cristãs, mesmo atuando nas mesmas funções,
usam termos e nomes diferentes como apóstolos, pastores, bispos,
presbíteros e muitos outros. Infelizmente conseguimos identificar que
alguns ministros usam algumas nomenclaturas bíblicas por uma busca de
autoridade eclesiástica e um suposto poder espiritual, criando assim uma
visível contradição quanto ao real significado do título e dos nomes na
Bíblia.
O que
pretendo aqui é expor de forma clara a etimologia de cada título, bem
como seu uso prático na Bíblia, interpretando conforme o contexto das
Escrituras e comparando-os aos dias atuais. É bem certo que você se
impressionará com alguns desses significados devido ao grande equívoco e
falta de harmonia bíblica criada por nossos mestres-servos.
Estaremos abordando os significados dos
seguintes termos: Pastor, presbítero, bispo, apóstolo, diácono,
reverendo, missionário e cooperador. Escolhi lembrar do cooperador pois
existe também algo muito impressionante nesse termo, contrário em nossos
dias.
Pastor, Presbítero e Bispo
No contexto do Novo Testamento, os
termos pastor, presbítero e bispo, incrivelmente descrevem os mesmos
servos. Trata-se de líderes atuando em igrejas locais, cuidando do
rebanho de Deus, a Igreja de Cristo (Atos 20.17,28; 1ª Pedro 5.1-3; Tito
1.5-7). As várias palavras, mesmo diferentes, identificam os mesmos
homens, mas é importante entender que cada palavra tem seu próprio
significado. Essas variações de sentido ajudam a mostrar aspectos
diferentes do trabalho dos ministros que cuidavam de uma congregação.
Para uma compreensão bem definitiva,
irei apresentar os significados desses termos, dentro de uma ordem
cronológica de surgimento e uso comum nos tempos bíblicos.
O Pastor – As primeiras
vezes que aparecem o termo pastor na Bíblia se referem a alguém
cuidando de um rebanho (Gn. 13.7; Gn. 13.8; Êx. 2.17). Mas a partir do
registro do 1º livro dos Reis 22.17 em diante, o nome é usado como forma
figurativa para expressar situações referentes ao cuidado: “Então disse
ele: Vi a todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm
pastor; e disse o Senhor: Estes não têm senhor; torne cada um em paz
para sua casa”.
O salmista Davi, o mais expressivo
pastor de ovelhas das Escrituras também fez uma belíssima comparação: “O
Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl. 23.1ss).
Concluímos então que a figura do Pastor
no Antigo Testamento não estava ligada à uma autoridade espiritual,
visto que nessa esfera se destacavam sacerdotes, profetas e outros
levantados pelo Senhor. O pastor de fato era alguém responsável para
cuidar do rebanho, que a partir da Antiga Aliança, não eram pessoas e
sim animais. Mas o termo figurativo ficou marcado, pois fora dito pelo
Senhor até mesmo no Pentateuco (Nm. 27.17).
Quando chegamos ao cenário histórico do
Novo Testamento vemos os líderes sendo chamados para “pastorear” o
rebanho de Deus. E essa nomenclatura passou a ser usada justamente por
causa das próprias palavras de Cristo, quando usando a figura de
metáfora, disse de Si mesmo: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua
vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não
são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as
arrebata e dispersa as ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas
ovelhas, e das minhas sou conhecido”. (Jo. 10.11-14).
Jesus usou a comparação por que sabia
muito bem acerca do cuidado do pastor com as ovelhas nos campos. Ser
pastor a partir daquele momento, na visão bíblica e neotestamentária,
significava cuidar de vidas da mesma forma que Cristo demonstrou no
cuidado e ensino no seu ministério na terra. Ele consolou pessoas,
guiou, orientou, pregou, cuidou da alma ferida e alimentou multidões.
Foi humilde perdoando, lavando os pés dos discípulos para mostrar
exemplo, protegendo e dando a sua vida. Essas são características não
apenas dos pastores, mas de qualquer pessoa que tenha a responsabilidade
de cuidar do rebanho do Senhor.
O Presbítero – do grego πρεσβυτερος (presbyteros), “ancião”
em algumas versões da Bíblia, descreve alguém de idade mais avançada,
experiente. A palavra é usada no Novo Testamento para identificar alguns
dos líderes entre os judeus. No livro de Atos e nas epístolas, os
homens que pastoreavam e supervisionavam as igrejas locais foram
frequentemente chamados de presbíteros (Atos 11.30; 14.23; 16.4; 20.17;
21.18; 1ª Timóteo 5.17,19; Tito 1.5; Tiago 5.14; 1ª Pedro 5.1; 2ª João
1; 3ª João 1). Necessariamente eram os cristãos mais maduros da
congregação. Usavam seu conhecimento e experiência para servir como
modelos e ensinar o povo de Deus.
Nas referencias que apresentamos,
interligando as palavras pastor e presbíteros, temos as mesmas pessoas
pelo seguinte fato: Os presbíteros foram chamados para pastorear o
rebanho de Deus. Isto é, os pastores do Novo Testamento eram os mesmos
líderes (presbíteros) que estavam à frente do cuidado da igreja. E mais,
recebiam muito bem para isso conforme 1ª Timóteo 5.18 que diz: “Os
presbíteros que administram bem a igreja são dignos de dobrados
honorários, principalmente os que se dedicam ao ministério da pregação e
do ensino”. (Versão King James). Observe que muitos presbíteros que
eram de fato os pastore,s pregavam e ensinavam.
O Bispo – o termo vem do grego antigo επίσκοπος, (episkopos)
“inspetor”, “superintendente”. Em 1ª Pedro 2.25, a referência ao Senhor
indica uma função além do pastoreio, enquanto pastor. Várias outras
passagens usam essa palavra para descrever uma responsabilidade maior do
mesmo pastor que foi escolhido para guiar os discípulos de Cristo no
seu trabalho na igreja (Filipenses 1.1; 1ª Timóteo 3.2; Tito 1.7).
Mas o texto de Atos 20 e seus versículos
é claríssimo na interligação das pessoas do pastor, presbítero e bispo.
No verso 17 Paulo convoca os presbíteros para uma reunião, sendo que no
verso 28 ele chama os presbíteros de bispos, encojando-os ao zelo no
pastoreio – “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de
Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”.
O que na verdade revela o texto é que Paulo está diante de presbíteros (pastores) que tinham a função de supervisionar (epískopos-bispos)
várias igrejas. Sendo assim, pastores, bispos e presbíteros não são
três ofícios diferentes, e sim três palavras que descrevem aspectos
diferentes dos mesmos homens. Os bispos de hoje devem ser, de acordo com
o texto, aqueles que chamamos de presidentes da igreja Sede, que deve
estar na condição de uma igreja-mãe com várias congregações.
Apóstolo – esse título
parece ser o mais cobiçado em nossos dias. Houve uma avalanche no
surgimento de apóstolos tão grande como em nenhum outro momento na
história da Igreja. Mas biblicamente e historicamente analisado há
muitos equívocos quanto ao chamado e função nessa nomenclatura
“apostólica”.
O termo grego ἀπόστολος, (apóstolos) significa enviado.
Em se tratando de originalidade literária, o termo usado por Jesus aos
escolhidos para a pregação e propagação do Evangelho, denota uma missão
para os lugares mais distantes, onde ainda não chegara a mensagem de
Salvação – “Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações” (Mateus
28.19ª).
Os textos mais surpreendentes e
reveladores das Escrituras, nos versículos de Atos 15, mostram
presbíteros (pastores e bispos) ao lado dos apóstolos, deixando claro
que nenhum líder da igreja teve a ousadia de se auto intitular apóstolo,
pois sabiam que se tratava de uma nomenclatura exclusiva de Jesus aos
doze enviados – “Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e
contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre
eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos presbíteros, sobre aquela questão”.(Atos 15.2). “E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e presbíteros, e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles”. (Atos 15.4). “Congregaram-se, pois, os apóstolos e os presbíteros para considerar este assunto”. (Atos 15.6). “Então pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros,
com toda a igreja, eleger homens dentre eles e enviá-los com Paulo e
Barnabé a Antioquia, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens
distintos entre os irmãos”. (Atos 15.22). “E por intermédio deles
escreveram o seguinte: Os apóstolos, e os presbíteros e os irmãos, aos irmãos dentre os gentios que estão em Antioquia, e Síria e Cilícia, saúde”. (Atos 15.23).[negritos do autor].
Partindo do relato de Atos, que é o
contexto primitivo, para a História da Igreja nos períodos da idade
média e moderna, não encontramos nenhum registro de uso do termo
apóstolo, a não ser o reconhecimento da Igreja a pessoas que estavam na
condição ministerial dos apóstolos de Cristo, quanto a lugares e
condições como Willian Carey, Charles Finney, George Whitefield e outros
desse nível.
Os apóstolos de Cristo não levantaram novos apóstolos, mas pastores e líderes na igreja.
Mas isso não significa que não podemos usar o termo apóstolo
em nossos dias. Basta seguirmos a etimologia da palavra, a função
designada e, a contextualização do termo, o que nos trará o resultado do
nome Missionário. Ou seja, os verdadeiros apóstolos
dos nossos dias são os missionários que estão distantes, enfrentando os
desafios de culturas diferentes, passando aflições até mesmo com suas
famílias, para que o Evangelho salvador alcance corações longínquos.
Considere isso biblicamente correto.
Reverendo – o termo vem do latim reveréndus
indicando alguém que deve ser reverenciado. É um tratamento dado as
autoridades eclesiásticas de algumas igrejas cristãs históricas.
Já houve muitos debates acerca desse
título, pois alguns o consideram um termo equivalente à reverência dada à
Deus, o que é puro engano, pois a real etimologia da palavra “reverência”
em se tratando da raiz do “reverendo” é “respeito profundo”,
“acatamento”, “consideração”. Não se pode confundir reverência com
adoração, pois são palavras de significados bem distantes. Temos
reverência no culto, mas o culto não é Deus, é para Deus. Temos
reverência diante de um tribunal, mas o tribunal não é Deus. Com isso
fica claro que a reverência é algo natural tanto para as questões
espirituais como humanas.
Mas a grande pergunta é: Pode o ministro ser chamado de Reverendo?
A observância no título de reverendo
aplicado aos líderes da igreja, numa visão de respeito e consideração,
pode ser melhor explicado tendo com exemplo a interpretação real do
termo bíblico “santo” do hebraico Kadosh, utilizado para mostrar um atributo comunicável de Deus.
Kadosh significa também algo sagrado, ou
um indivíduo que foi consagrado perante outras pessoas. Existem
diversas variações para Kadosh: Kadesh significando sagrado, Kidush que significa santificação, ou consagração, as palavras Yom kadosh significando dia Santo e, Kadish
que significa santificação. Observe que todas as palavras estão
relacionadas à Deus, mas mesmo assim, no Novo Testamento, somos chamados
também de “santos”, principalmente nas epístolas, e isso não significa
que nos igualamos à Deus, pelo contrário, santos porque somos separados
para Ele.
Dessa forma, a palavra Reverendo não
indica que alguém deva ser reverenciado ao nível de Deus, mas ser
respeitado e considerado na função chamada por Deus.
Diácono – a palavra no grego διάκονος, (diákonos) é “ministro”,
“servo”, “ajudante” e denota uma categoria de obreiro assistencial,
cerimonial, preservador, orientador, servidor etc.
Mas se engana quem pensa que a instituição do diaconato está definida em Atos capítulo 6. O vocábulo diakonein
nesse texto não é técnico, tratando apenas de “servidores” incumbidos
de distribuir os fundos às viúvas necessitadas. Se fossemos partir dessa
aplicação do texto concluiríamos que a função dos diáconos seria dentro
desse limite, o cuidado com as viúvas.
Os textos que revelam as funções
ministeriais dos diáconos estão nas epístolas de Paulo aos Filipenses e a
Timóteo: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em
Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos”
(Filipenses 1.1). Atente que logo no verso 1 Paulo revela o contexto
ministerial do diaconato, que o coloca na posição de oficial da igreja
ao lado do bispo. O texto junto ao contexto histórico revela que os
diáconos auxiliavam os pastores em suas funções, sendo importante
lembrar que, quando um ministro tinha a necessidade de se ausentar da
liderança e pastoreio da congregação, quem assumia a direção era
justamente o diácono, que nessa hora era reconhecido pela mesma
capacidade.
A carta à Timóteo é mais reveladora
ainda, quando Paulo declara e orienta: “Os diáconos igualmente devem ser
dignos, homens de palavra, não amigos de muito vinho nem de lucros
desonestos”.(1ª Timóteo 3.8) “Devem ser primeiramente experimentados;
depois, se não houver nada contra eles, que atuem como diáconos”(Vs.10),
“O diácono deve ser marido de uma só mulher e governar bem seus filhos e
sua própria casa”.(Vs.12).
Usando o texto mais uma vez dentro de
seu contexto fiel, podemos resumir que as orientações dadas aos diáconos
veem logo após a dos bispos (presbíteros, pastores), concluindo que o
diácono tem o mesmo nível de responsabilidade desses, sendo o verdadeiro
auxiliar do ministro.
O diaconato é um ministério de verdadeira excelência!
O Cooperador – Você já
se perguntou alguma vez por que o apóstolo Paulo ao final de algumas
epístolas faz menção dos cooperadores? Pois bem, pasme: os cooperadores
eram os cristãos mais capacitados (ministerialmente) para o auxílio em
todas as áreas da igreja!
Era comum nos tempos bíblicos a menção
de pessoas importantes ao final de uma epístola ou registro relevante. O
primeiro exemplo vem da carta aos Romanos, onde o apóstolo além de
apresentar uma extensa lista de cooperadores, faz questão de frisar que,
ele não escreveu a carta, mas apenas ditou para Tércio, o grande
cooperador (Rm. 16.22).
Cooperadores ilustres são mencionados
com grande destaque: “Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus
cooperadores” (Filemom 1.24). “Saudai a Priscila e a Áqüila, meus
cooperadores em Cristo Jesus” (Romanos 16.3). “As igrejas da Ásia vos
saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áqüila e Priscila, com a
igreja que está em sua casa”. (1ª Coríntios 16.19).
De fato, os cooperadores que as
epístolas mencionam possuíam capacidade maior que muitos dos irmãos,
pois eles ajudavam na organização do culto, na abertura de novos
trabalhos, na comunicação, na pregação, evangelização, nas viagens,
assistência aos obreiros em geral. Eram homens e mulheres com visão
muito ampla e espírito de trabalho e cooperação além das expectativas.
O tratamento que vemos hoje com os
atuais cooperadores (principalmente nas igrejas pentecostais) está muito
fora da realidade bíblica. Precisamos valorizar e reconhecer os
trabalhos dos verdadeiros cooperadores.
Conclusão – diante da
investigação bíblica aqui exposta, respeitando os princípios e regras da
hermenêutica, numa exegese séria e fiel, devemos considerar que alguns
líderes que usam nomenclaturas ministeriais não condizentes com a
observância das Sagradas Escrituras, desrespeitam os termos
estabelecidos por Deus e, ignoram as designações de ordem eclesiais
estruturadas pela igreja neotestamentária.
O que nos parece de verdade é uma
inversão de significados e termos mal entendidos, onde muitos se
esquecem do verdadeiro sentido do chamado para liderar vidas.
O ministro ideal é aquele que,
primeiramente, é considerado por seus liderados como o maior dos servos.
Os seguidores, de bom grado, concedem, a esses líderes a autoridade
para liderá-los, porque vêem nele alguém altruísta e voltado para os
demais. Como ministro de Deus, sua tarefa é levar as pessoas a buscarem
uma transformação e não apenas formular e impor leis, por meio de um
suposto poder espiritual gerado por títulos. Ele realiza uma mudança de
cada vez.
O líder percebe que as pessoas são seu
único e maior bem na igreja, e executa suas tarefas fortalecido pelo
Espírito Santo. Usa o poder do amor para transmitir novos valores.
Desejamos como ovelhas, muito mais
líderes guiados pelo Espírito, do que homens movidos por títulos que em
muitos casos exalto o próprio ego.
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