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Por Magno Paganelli
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Em A República (Livro VII),
Platão reproduz uma metáfora contida num diálogo entre Sócrates e seus
interlocutores Glauco e Adimanto, irmãos mais novos de Platão. A
metáfora é conhecida como a metáfora da caverna, mito da caverna ou alegoria da caverna
e conta a situação de homens que nasceram e cresceram dentro de uma
caverna, nada sabendo sobre o mundo externo. Esses homens ficam de
costas para a entrada, presos, imóveis, e olham fixamente a parede do
fundo da caverna, Nela são projetadas sombras de outros homens que, além
do muro, mantêm acesa uma fogueira. Pelas paredes da caverna também
ecoam os sons que vêm de fora, e esses sons são associados às sombras.
Os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.
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Um dos
prisioneiros consegue se libertar e avança na direção do muro. Ele o
escala e consegue sair da caverna, descobrindo não apenas que as sombras
eram feitas por homens como eles, e em seguida o mundo e a natureza, o
sol, e as aves, enfim, tudo o mais. Mas um dilema se instala: se voltar e
anunciar sua descoberta pode ser desacreditado, tido como herege,
preso, espancado e morto. Vamos parar aqui.
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O mito da caverna tem sido interpretado
como uma metáfora para a situação daqueles que há séculos vivem e
confiam na religião, a caverna. Todo conhecimento religioso é obtido a
partir do empirismo, daquilo que percebemos com os sentidos e intuição,
sem o saber científico. Muitos que estão privados do saber científico às
vezes pensam que tudo sabem, que o conhecimento que possuem é
suficiente para que entendam e expliquem tudo.
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No mito da caverna os homens
que lá viviam achavam que a realidade da caverna era a única realidade
existente. É preciso romper com esse mundo fechado, ter coragem para
fugir na direção da luz para descobrir o mundo real. No caso,
entendia-se que a luz que projetava sombras distorcidas na parede era a
visão que eles tinham da realidade, distorcida do mundo real. E isso não
ocorre somente com os prisioneiros de Platão, mas também com os que
negam o saber científico, com os que nada sabem e pensam que tudo sabem.
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Mas… espere um pouco. Não é a mesma
ciência que nos dá certezas e convicções? Saber apurado e sólido, livre
das ilusões e mitos? É a ciência que nos faz ver o mundo como ele é à
partir da… observação insistente, repetida, catalogada e interpretada à
luz…à luz de quê? À luz daquele saber preso a Leis e Padrões e Métodos,
nada fora daquilo que ela mesma usa para validar o próprio saber
científico.
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Assim, Platão esteve certo o tempo todo e pseudo cientistas tomaram de assalto o mito da caverna
para atacar quem vive pela fé. Pois é a fé – e não a ciência – que leva
o homem para fora do seu mundo, para encontrar-se com estados e
realidades fora desse ambiente onde vive. O homem não sai da caverna
porque tem certezas – sai da caverna porque crê haver algo além das
luzes projetadas, sai porque crê haver muito mais do que aquilo que
esteve observando todo o tempo. Não são os crentes, os religiosos, que
acreditam e esperam viver um dia num mundo melhor, e até mesmo num céu
lá fora desse mundo?
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Penso que Platão estava realmente certo.
A filosofia da época não queria muita intimidade com a religião. A
ciência de hoje, a legítima ciência, nada tem com a religião; são campos
de atuação distintos e não conflitantes. Dão respostas à perguntas que
reclamam cada qual o seu domínio. Mas há pseudo cientistas entre a
ciência e a religião, muitos infiltrados até mesmo nos domínios desta, e
que tentam miná-la porque pensam que aqueles que conhecem uma luz mais
intensa, mais forte que a luz do sol ao meio dia, trouxeram e mantêm
ideias fictícias, ilusórias demais para um mundo seguro, científico e
tecnológico como o mundo da pós-modernidade do século 21.
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Platão, porém, além de filósofo, pelo jeito também foi profeta. Viva a fé!
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