Retende o que é bom

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Por Renato César

Muitos cristãos costumam fazer uma nítida diferenciação entre as “coisas” do mundo e as de Deus. Por vezes a seleção do que vem a ser do mundo é baseada em critérios um tanto bizarros, como os nomes de marcas de produtos ou a suposta origem pagã das mais diversas formas de expressão popular, desde vocábulos até festas culturais. Não quero afirmar que se deve aceitar tudo de forma imparcial ou coadunar com práticas claramente antibíblicas unicamente por serem peculiaridades de uma cultura específica. Mas o fato a ser observado é que por muito pouco, às vezes por pura criatividade, cristãos abominam costumes, músicas, regionalismos e muitas outras supostas coisas do mundo, deixando de absorver o que há de bom do lado de fora de seu contexto religioso.

Felizmente, a própria Bíblia nos precaveu contra os possíveis abusos que poderíamos cometer em nossa busca por santidade. Paulo, em 1 Ts 5:21, nos orientou a examinarmos tudo e retermos o que há de bom. Esse breve ensino contém bem mais que as poucas palavras nele usadas pelo apóstolo. O mundo de fato é mau (1Jo 2:15) e jaz no maligno (1Jo 5:19), mas serão esses textos bíblicos, entre outros que trazem a mesma perspectiva negativa do mundo, a justificativa para excluir o mundo, que está lá fora, de nosso convívio? Mais séria que essa questão é a seguinte: Será que algum cristão que acha que os crentes devem se abster do mundo vive realmente dessa maneira?

Para ambas as perguntas a resposta é NÃO. Nem é preciso aprofundar-se nestes pontos, pois é doutrina elementar nas escolas dominicais e estudos bíblicos para neófitos. Em resumo, o que devemos evitar é a contaminação com os valores do mundo. O fato é que é praticamente impossível não depender de alguma forma do que o sistema reinante no mundo tem a nos oferecer. Alguém mais radical que opta por ouvir apenas músicas religiosas deveria vestir apenas roupas feitas por crentes, com fios oriundos de fábricas cristãs cuja matéria-prima fosse originada de produtores cristãos. Essa é, definitivamente, uma perspectiva completamente absurda!

Todo esse arrodeio até aqui, caro leitor, é para dizer algo simples e óbvio, mas muitas vezes mascarado pela religiosidade de alguns crentes ditos espirituais. Não há nada no mundo que seja impuro por essência, mas tudo depende do uso que se faz e da motivação do coração. Striptease não é um ato pecaminoso, mas se você vai a boates ver mulheres vendendo seus corpos a prática então se torna pecaminosa. Igualmente, ler livros seculares, seja de ateus ou de autores de outra religião qualquer que não o cristianismo não se configura em pecado. Pecado é não ler por preguiça.

Se em você, que lê este breve artigo, ainda resiste algum resquício de preconceito para com qualquer “coisa do mundo”, tente, antes de emitir julgamento, avaliar se há algo bom a se extrair para sua vida. Mas este é um conselho apenas para os cristãos sinceros. Alguém que decide envolver-se com o pecado a pretexto de extrair algo bom está pecando desde o início e não apresenta a marca do cristão converso e arrependido.

Eu sinto falta de ouvir sermões que citem pessoas famosas de nosso tempo que venceram por vivenciarem princípios bíblicos, mesmo que não tivessem consciência disso. Sinto falta de ouvir trechos de escritos de autores não cristãos que confirmem a veracidade da mensagem cristã até mesmo entre os incrédulos. Gostaria de ouvir o “Tente Outra Vez” de Raul Seixas numa perspectiva cristã, ou uma pregação que estivesse entremeada por citações de filósofos ou personagens de referência de nosso tempo, cristãos ou não. Há muita coisa boa no mundo que nós ainda não aprendemos a reter e, por isso, na tentativa de sermos mais santos acabamos, sem perceber, deixando de seguir o conselho que a própria Bíblia nos dá.

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Sobre o autor: Cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE.
Artigo enviado por e-mail.
Contatos com o autor: renatocesarmg@hotmail.com
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O solascriptura-tt.org e suas acusações (série 2 de 5)

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Por André R. Fonseca

A pedido de um leitor, estou publicando este artigo em resposta ao documento que pode ser baixado neste link. Recomendo a leitura do documento em análise ou, pelo menos, acompanhe a leitura do artigo com o documento, para não se perder. Este artigo é o segundo da série de cinco artigos que visa servir de contraponto e defesa para os argumentos apresentados no site solascriptura-tt.org. Recomendo a leitura do primeiro artigo da série clicando aqui.

Muitos irmãos, sem o domínio do conhecimento que eles abordam, facilmente se escandalizam. São afirmações com tom muito alarmante que impressionam, mas podem ser facilmente questionadas com o mínimo de conhecimento sobre o assunto. Eles qualificam o trabalho da crítica textual do Novo Testamento como obra de demônio, um ataque satânico contra a Palavra de Deus; e, para eles, Palavra de Deus é o mesmo que Almeida Corrigida e Fiel. 

Se eles não são ignorantes o suficiente para dizer que “Corrigida” aplica-se à Palavra de Deus e não à Tradução Almeida, eles poderiam quebrar o galho e também reconhecer que, em Crítica Textual, não se questiona a Palavra de Deus, mas o conjunto de manuscrito que deveria servir de base para as traduções. Se questionar a qualidade entre Texto Recebido e Texto Crítico é uma afronta à Palavra de Deus (King James lá fora, e ACF para os tupiniquins), queria saber quem teve a audácia de “corrigir” a Palavra de Deus na edição Almeida CORRIGIDA e Fiel. Logo percebemos que a ignorância de fatos é mera conveniência! Mas vamos ao texto em análise. 

O autor do texto anexado como download acima apresenta as quatro possíveis traduções que podemos realizar do texto bíblico: 1) a tradução literal, 2) tradução por equivalência formal, 3) tradução por equivalência dinâmica e 4) tradução por paráfrase. 

A definição que o autor faz de cada método de tradução está correto, mas depois ele induz o leitor a dois erros que comprometem todo o conteúdo de seu estudo. Vamos abordar cada um deles. 

Primeira indução ao erro: Ele diz que paráfrase não é tradução. Segue a citação do trecho: "Não se trata de uma tradução propriamente. É, na verdade, um texto que representa o entendimento (a maneira de ver) que aquele que fez a paráfrase teve do texto original." 

Agora, vamos à definição de paráfrase, segundo o dicionário eletrônico da Porto Editora: “nome feminino 1. ato ou efeito de parafrasear 2. explicação ou nova apresentação de um texto ou documento que procura tornar mais compreensível a informação nele contida 3. LINGUÍSTICA enunciado ou texto que reformula, com fins explicativos ou interpretativos, a mesma informação de outro enunciado ou de outro texto, mas utilizando outros recursos linguísticos 4. tradução livre e desenvolvida.” 

Logo, podemos concluir que temos a paráfrase da mesma língua e a paráfrase em tradução de uma língua para outra. Quando ele diz que a NTLH (BLH) é uma paráfrase e defende a tese de que paráfrase não é tradução, então a NTLH deveria estar escrita em grego. Vou explicar! Se para o autor a paráfrase não é tradução, mas uma representação do texto segundo a interpretação do tradutor, então não haveria tradução, e a representação deveria estar escrita em grego! Se a paráfrase foi feita a partir dos textos gregos, ela deveria estar em grego, por simples paráfrase, sem tradução. 

Como a NTLH está em legível português, ela seria mera paráfrase sem tradução caso fosse uma paráfrase feita a partir do texto Almeida, por exemplo. Aí, sim! Uma representação do entendimento a partir da Almeida em português, sem traduzir nada do grego. Seria uma paráfrase da Almeida para facilitar a leitura para pessoas com menos instrução que têm dificuldade com a leitura da Almeida. Mas não é isso o que acontece. A NTLH é uma tradução por paráfrase dos textos originais grego e hebraico. O autor do texto em análise faz uma pequena, mas significativa, confusão dos termos "tradução" e "método"! Porque a NTLH é um texto em português a partir do texto grego/hebraico, trata-se de uma perfeita e inquestionável tradução. Se não fosse uma tradução, deveria estar toda em hebraico e grego. Entendeu? E por simplificar e refazer o texto original, valorizando o sentido acima da literalidade, trata-se de uma tradução por método de paráfrase. 

O segundo erro: outra confusão que leva o leitor a achar que a divergência entre as versões bíblicas são resultado do método empregado na tradução e não pela adoção de base de manuscritos diferentes. 

Para o primeiro exemplo, ele mostra que o Texto Crítico não traz a palavra "primogênito", presente no Texto Recebido. E logo faz as citações enunciadas pelas respectivas versões que trazem o Texto Crítico ou o Texto Recebido. Fica claro que a questão da divergência é devido à adoção de conjuntos de manuscritos diferentes. Mas, para o restante dos casos, ele faz o enunciado a partir dos métodos de tradução, fazendo parecer que o problema está no método e não entre os manuscritos TC e TR. Vejamos, como exemplo, seu comentário de colossenses 1:14: 

Ele apresenta os textos gregos para o TR e TC, sublinhando no Texto Recebido o que teria sido omitido no Texto Crítico. E coloca apenas uma tradução literal feita a partir do TR! Por que ele não apresenta a tradução literal das duas bases de textos grego, TR e TC? A tradução da Almeida Revista e Atualiza é tão formal quanto a ACF, só que tem por base o TC e não o TR que a ACF segue. Tradução por tradução (por método formal) as duas estão corretíssimas e igualmente precisas - cada uma de sua própria base de texto grego! A ACF é tão fiel em sua tradução do Texto Recebido, quanto a ARA é fiel em sua tradução do Texto Crítico. 

O autor ainda afirma que o TR é mais confiável, mas já argumentei no primeiro texto da série que isso não é verdade, leia o artigo aqui. Também recomendo a leitura deste outro artigo: http://www.andrerfonseca.com/2011/12/um-clubinho-farisaico-em-defesa-das.html

Ele também defende que a melhor tradução, quanto ao método, é a tradução formal. Este assunto já foi tratado por mim neste artigo: O que seria uma tradução fiel ao original?

Para finalizar, quero expandir os comentários finais do autor do texto em análise: "Nossa Responsabilidade"

1. “Avaliar com critério qual tradução usar.” Isso é verdade! Uma vez que não são todos os crentes que podem desfrutar de uma leitura bíblica e estudos a partir das línguas originais, as traduções são meras ferramentas linguísticas. Dependendo do emprego, uma tradução poderá ser considerada mais adequada do que outras. Lembrando que há traduções tendenciosas e erradas, como é o caso da tradução dos Testemunhas de Jeová – mas essa é outra história. 

2. “Não desprezar as traduções existentes. Elas podem ser excelente fonte de instrução.” Sábias palavras. Graças a Deus podemos ter à nossa disposição tantas bíblias e versões. Todas têm seu valor e utilidade, basta saber empregar a ferramenta certa para cada tipo de trabalho. Eu prefiro levar minha NTLH para alguns trabalhos de discipulado com irmãozinhos na fé que não têm a mínima condição de ler uma Almeida. Ou instruir crianças e adolescentes na superficialidade do texto bíblico que não demanda da precisão exegética de uma Almeida clássica. Assim como prefiro trabalhar alguns estudo bíblicos a partir da Almeida Revista e Atualizada para alguns grupos específicos. 

3. “Ter sempre junto a nós um texto que seja traduzido a partir do TR, através de Equivalência Formal, no qual possamos confiar 100% (será o nosso fiel da balança).” Aqui ele escorrega feio! A confiabilidade do TR é muito questionável e os métodos de tradução literal e formal já deixaram de ser reconhecidos como os melhores há muito tempo. Desde Ferdinand de Saussure, a linguística tem evoluído muito, e há significativa contribuição da linguística, filologia e outras disciplinas no campo de tradução. Recomendo a leitura do meu artigo sobre o assunto tradução fiel ao original: http://www.andrerfonseca.com/2012/05/o-que-seria-uma-traducao-fiel-ao.html

4. “Zelar para que nossos filhos tenham acesso à pura Palavra de Deus.” Parte deste zelo deve advir do cuidadoso estudo sobre o assunto, não deixando se enganar pelo estardalhaço que alguns fazem sem apresentar o mínimo de racionalidade para tratar o caso. É verdade que Jesus disse: “tenham fé em mim e no Pai”, mas não pediu burrice e ignorância como prerrequisitos! 

5. “Não recriminar os que não conhecem toda a história (muitos líderes não conhecem).” Que história? Quais líderes? Quem são esses que ficam martelando os dois coitados (Westcott e Hort) o tempo todo e se esquecem de toda a história de desenvolvimento da Crítica Textual, ignoram os métodos questionáveis empregados por Erasmo de Roterdã para a composição do Texto Recebido e mais uma série de outros fatos? Só podem ser os tietes de Almeida que não conhecem toda a história, e fica difícil não enxergar isso...

Próximo artigo da série está programado para publicação no dia 4 de agosto.

Autor: André R. Fonseca 
www.andreRfonseca.com
Twitter: @andreRfonseca
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1ª Semana Teológica no JMC - Ateísmo

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Neste vídeo, o Rev. Augustus Nicodemus Lopes fala sobre Ateísmo no seminário JMC, na 1ª Semana Teológica de 2013. Assista:



Fonte: Seminário JMC
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As exigências de Deus para os mestres e suas famílias

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Por Frank Brito


“Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa; Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade”. (I Timóteo 3.14-15)

A primeira carta de Paulo a Timóteo foi escrita com o objetivo de instruí-lo sobre como a Igreja deveria ser organizada caso ele demorasse demais para chegar e lidar com o assunto pessoalmente. Ele escreveu a Tito com a mesma intenção: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam”. (Tt 1.5) Um dos assuntos mais importantes de I Timóteo é a respeito das características pessoas daqueles que são ordenados à posição de liderança na Igreja:

“Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo. Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância; guardando o mistério da fé numa consciência pura. E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos e suas próprias casas. Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus”. (I Timóteo 3:1-13)

É importante ter em mente que as características que Paulo cita aqui não são exigências de Deus exclusivamente para os que assumem posição de liderança na igreja. Em todas suas cartas Paulo deixa claro que todo cristão deve buscar as características pessoais que ele lista aqui. O motivo pelo qual ele cita essas virtudes não é porque os pastores são os únicos que precisam tê-las, mas porque os pastores, estando em posição de liderança, precisam refleti-las de maneira extraordinária, de forma que sirvam de exemplo para todos os demais. Todo cristão precisa ser honesto, por exemplo. Mas o pastor, estando em posição de liderança, precisa ser um modelo de honestidade para que os todos imitem. O pastor precisa pregar com as palavras, mas também precisa servir de modelo da aplicação prática do que ele próprio prega, para que seja imitado pelos outros, como disse Paulo, “Irmãos, sede meus imitadores, e atentai para aqueles que andam conforme o exemplo que tendes em nós” (Fp 3:17). Aqueles que pregam, mas não fazem, estão sob a condenação de Jesus Cristo contra os escribas e fariseus: “não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem“ (Mt 23:3).

O propósito deste artigo não é analisar todas as características mencionadas por Paulo, mas somente as características relacionadas à família. As características mais enfatizadas por Paulo para os que almejam a posição de autoridade são relacionadas à vida do homem em família, em seu própria lar. Sobre isso, há muita polêmica em torno da exigência de ser “marido de uma só mulher”. O que isso significa? Paulo não está se referindo a homens que se divorciaram e estão no segundo casamento. Ele está se referindo à poligamia, isto é, ter mais de uma esposa ao mesmo tempo. O pastor não pode ter duas, três ou quatro esposas. Ele pode ter uma só esposa. Alguns erradamente inferem, com base nisso, que essa proibição é somente para pastores e não para os cristãos comuns. Mas como foi dito acima, as características que Paulo cita aqui não são exigências de Deus exclusivamente para os que assumem posição de liderança para a igreja. Assim como todo cristão tem que ser “vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro”, também todo homem cristão só pode se casar com “uma só mulher”. A poligamia foi um erro histórico, pois como disse Jesus, o desejo de Deus para o casamento é conforme a lei que Ele estabeleceu na criação:

“Não tendes lido que o Criador os fez desde o princípio homem e mulher, e que ordenou: Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão dois numa só carne?” (Mateus 19:4-5)

É provável que os falsos mestres entre os judeus tenham sido a principal motivação para Paulo enfatizar a necessidade monogâmica entre os pastores cristãos. No início da carta, ele escreveu:

“Como te roguei, quando parti para a macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina, nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora. Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas; querendo ser mestres da Lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam. Sabemos, porém, que a Lei é boa, se alguém dela usa legitimamente”. (I Timóteo 1:7-8)

Aqui ele atacou aqueles que “querendo ser mestres da Lei, não entendiam nem o que dizem e nem o que afirmavam”. Sem dúvidas, ele estava se referindo aos falsos mestres judaicos, como era o caso dos escribas e fariseus (cf. Mt 15). Na carta a Tito ele deixa isso ainda mais claro ao se referir aos “da circuncisão”: “Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância” (Tt 1:10-11). O que Paulo estava dizendo, então, é que os mestres cristãos não podiam ser como os falsos mestres entre os judeus. Se os falsos mestres judeus, ao ensinar a Lei, não entendiam nem o que diziam nem o que afirmavam, os líderes cristãos precisavam usar da Lei legitimamente. Nos Evangelhos, somos informados que os falsos mestres judaicos distorciam a Lei para divorciar de suas esposas por qualquer motivo que quisessem (Mt 19:3-7), algo que já havia sido condenado pelo profeta Malaquias (Ml 2:13-16). Por motivos parecidos, os falsos mestres entre os judeus eram polígamos e é provavelmente isso que levou Paulo a enfatizar a necessidade da monogamia entre os pastores cristãos. O testemunho de Justino Mártir, um importante teólogo cristão do segundo século, confirma que esse era um dos grandes motivos de polêmica com os judeus. Em uma de suas mais importantes obras, “Diálogo com o Judeu Trifão”, Justino ataca os líderes judaicos dizendo:

“É melhor que você siga a Deus e não seus mestres imprudentes e cegos, que até o tempo presente permitem que cada homem tenha quatro ou cinco esposas, e se qualquer um ver uma mulher bonita e desejar possuí-la, eles citam as obras de Jacó…” (Justino Mártir, Diálogo Com o Judeu Trifão, Capítulo CXXXIV)

O argumento de Paulo contra a poligamia pressupõe que o desejo de Deus para o casamento é conforme o padrão estabelecido por Deus na criação, conforme lemos em Gênesis 1-2. Este é o pano de fundo para entender tudo o que o Apóstolo ensina no decorrer de suas cartas sobre o casamento. Ele diz que é necessário “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia” (I Tm 3:4). Isso tem base no padrão estabelecido por Deus na criação, como ele explica aos Efésios:

“Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo”. (Efésios 5:22-28)

Feministas frequentemente usam o padrão bíblico de submissão feminina para acusar o Cristianismo de incentivar o machismo. A Bíblia, todavia, condena o machismo tanto quanto condena o feminismo. O feminismo é anti-cristão porque prega a insubmissão da mulher ao homem. Mas o machismo também é anti-cristão porque estabelece a tirania do homem contra a mulher. Como ensinou o Apóstolo Paulo aos Romanos, “as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1). Sendo assim, a autoridade do marido não é ilimitada, mas é concedida por Deus, tendo a obrigação de se conformar às exigências dEle. Por este motivo, “vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja“. O dever do marido é amar sua esposa a ponto de dar a vida por ela, com Cristo deu Sua vida pela Igreja. O argumento de Paulo aqui é baseado na ordem da Criação: “Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos“. Por quê? Porque “serão dois numa só carne” (Mt 19:5).

Com base nisso, Paulo, no decorrer de suas cartas, lista diversas obrigações do marido em relação a esposa, como expressão deste amor que o marido deve ter por ela. Aos Coríntios, Paulo fala das obrigações sexuais do casal: “Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência” (1 Co 7:5). A relação sexual é um componente essencial do casamento. Seu propósito não é somente gerar filhos (Gn 1:28), mas também fazer com que o casal tenha alegria e prazer um com o outro. O casal, então, tem a obrigação, da parte de Deus, de buscar fazer um ao outro feliz. Deus leva isso tão a sério que na Lei somos informados que se um homem era recém casado, ele não deveria ir para guerra como soldado. Ele deveria ficar um ano em casa alegrando sua esposa: “Quando um homem for recém-casado não sairá à guerra, nem se lhe imporá encargo algum; por um ano inteiro ficará livre na sua casa para alegrar a mulher, que tomou” (Dt 24:5). A necessidade de alegrar a esposa, então, é imposta por Deus e a relação sexual é um parte dessa obrigação. Aos Efésios, ele diz também que o amor inclui a obrigação de alimentá-la e sustentá-la em suas necessidades (Ef 5:29). Pecam, então, os maridos que negligenciam as necessidades materiais e econômicas da família. Em I Timóteo, ele deixa claro o tamanho da seriedade disso: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel” (I Tm 5:8). No contexto, a ênfase é claramente no cuidado material e econômico. Quem nega isso à sua esposa, deve ser tratado pela comunidade como pior do que um infiel. Isso está incluído no que Paulo diz em I Timóteo sobre os critérios para o ministério pastoral quando ele fala contra os “avarentos”. Isso não é tudo. A Bíblia também impõe sobre o homem a necessidade de cuidado espiritual. Aos Coríntios, Paulo colocou sobre os maridos a responsabilidade de ensinarem suas esposas em casa sobre a Palavra de Deus (I Co 14:35). Este tipo de coisa não foi ensinada somente por Paulo. Pedro escreveu: “Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações” (I Pd 3:7). Aqui Pedro diz que Deus leva tão a sério o tratamento que o marido dá a mulher que, caso ele dê um tratamento errado, Deus se recusará a ouvir suas orações.

Mas Paulo, ao falar das exigências de Deus para a família, não fala somente da relação do homem com sua esposa. Ele fala também da relação do homem com seus filhos. Assim como o casamento humano é análogo ao casamento entre Cristo e a Igreja, a paternidade humana é análoga à paternidade de Deus. É importante entender a distinção entre uma coisa e outra. Tanto a esposa quanto os filhos são sujeitos ao marido. Mas não da mesma maneira. Pais têm determinados direitos sobre seus filhos pelo fato de serem seus pais e o casal tem determinados direitos sobre o outro pelo fato de serem marido e mulher. Deus, por exemplo, dá ao marido o direito de se relacionar sexualmente com a esposa, mas ele não tem o direito de se relacionar sexualmente com os filhos (Lv 18:7), o que é uma abominação. Da mesma forma, Deus dá aos pais o direito de açoitar os filhos por desobediência (Hb 12:6-8), mas jamais deu o mesmo direito ao marido em relação a esposa. O pai que, com sabedoria, bate nos filhos desobedientes é um pai zeloso pela educação de seus filhos. Todavia, o marido que bate em sua esposa é um tirano, faz uso de uma autoridade que Deus nunca lhe deu e, portanto, cai na condenação do Apóstolo Paulo contra o “espancador” (I Tm 3:3). Segundo a Lei de Deus, deveriam sofrer o mesmo nas mãos dos magistrados civis (Lv 24:40). Tanto a esposa quanto os filhos são sujeitos ao marido, mas dentro dos limites de autoridade estabelecidos por Deus. Aqueles que excedem estes limites, em relação aos filhos ou em relação à esposa, contrariam a vontade de Deus.

Deus criou a relação entre pais e filhos para ser um espelho da relação entre as três pessoas da Santíssima Trindade. A obediência que os filhos devem ter aos pais é análoga à obediência de Cristo a Deus-Pai e ao Espírito, por meio de quem foi concebido (Sl 40:7-8; Mt 4:1, 26:39-42; Jo 5:30, 6:38;Fp 2:8; Hb 10:7). O amor que os pais devem ter pelos filhos e que os filhos devem ter pelos filhos é análogo ao amor de Cristo por Deus e de Deus por Cristo (Jo 3:35, 5:20, 15:9). A Bíblia é clara que “os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão” (Sl 127:3). “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1:28) é o primeiro mandamento de Deus ao homem registrado na Bíblia. Também foi o primeiro mandamento dado a Noé depois que ele saiu da arca (Gn 9:1).

Em resumo, o argumento de Paulo é que a relação que um homem tem com a própria família – sua esposa e filhos – é um dos principais testes para saber se um homem tem condições de assumir o ministério pastoral. As exigências não restringem aos mestres. São para todos os cristãos. Mas os mestres são um modelo para todo o povo e, portanto, precisam manifestar essas características de maneira extraordinária. E ai daqueles que não demonstram. “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tg 3:1).

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Avaliando com a Bíblia a visita e pronunciamentos do Papa Francisco

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Por Solano Portela


Nota: Sermão pregado na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro em 28.07.2013, baseado em um texto meu anteriormente postado no BLOG, atualizado para o contexto da visita do Papa ao Brasil, no final de julho de 2013.

Leitura: Mateus 9.35-38

E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.

Introdução:

Certamente temos visto multidões, idosos e jovens, enfrentando a chuva, a lama, o frio, a ausência de transporte, a insegurança das cidades, para ver o Papa em sua visita ao Brasil, que começou na segunda-feira, 22.07.2013, e se estende até o último domingo do mês. A mídia tem divulgado a visita com tanta intensidade, que se você estava neste planeta, nestas últimas semanas, não pode ter ignorado a presença do Papa no Brasil. Por exemplo, a revista semanal de maior circulação e repercussão (VEJA) trouxe reportagens de capa sobre o acontecimento em duas semanas seguidas. Como avaliar a pessoa do Papa, a sua visita e os seus pronunciamentos? Como entender as expressões de fé e devoção encontradas nos olhares das multidões? O texto de Mateus 9.35-38 fala de multidões às quais não faltava religiosidade! Ao lado da curiosidade, havia devoção, ensino dogmático, religião, mas eram ovelhas "que não tinham pastor"! A sinceridade, mesmo presente, não era passaporte para a verdade! E o pastor de que se fala no texto, é um só - Cristo Jesus, fora do qual não há salvação. Quem é o Papa atual?

O cardeal argentino, Jorge Mario Bergoglio foi escolhido Papa (e assumiu o nome de Francisco) em um dia considerado por muitos “cabalístico” (13.03.13). Havia uma expectativa em muitas pessoas e na mídia de que o novo líder da Igreja Católica fosse um Papa “progressista”. Estes se espantaram com a sua posição em relação à união de gays; à questão do homossexualismo, que hoje em dia é propagada como “apenas” uma opção sexual; e sobre o aborto. Ele é contra, ponto final! Alguns católicos se espantaram porque ele não colocou, de início, o envolvimento social como prioridade máxima da Igreja. Em vez disso, contrariou a mensagem que tem soado renitentemente ao longo das quatro últimas décadas, especialmente em terras brasileiras, proclamada pelos politizados “teólogos da libertação”, ou da natimorta “teologia pública”. Ele aparentou priorizar as questões espirituais!

Desde o início do seu “Papado” certas declarações chamaram a atenção, também, dos evangélicos. Por exemplo, ele disse que a missão da Igreja é difundir a mensagem de Jesus Cristo pelo mundo. Na realidade, ele foi mais enfático ainda e afirmou que se esse não for o foco principal, a Instituição da Igreja Católica Romana tende a se transformar em uma “ONG beneficente”, mas sem relevância maior à saúde espiritual das pessoas! Depois, o viés mudou um pouco, especialmente nesta visita ao Brasil. A ênfase passou para uma postura de vida ascética e humilde, demonstrando uma frugalidade que, em uma era de opulência, corrupção, apropriação de valores alheios e desprezo pelos valores reais da vida, também soa saudável e pertinente!

Ei! Disseram alguns evangélicos – essa é a nossa mensagem!!

Bom, não seria a primeira vez na história que um prelado católico reconhece que a Igreja tem estado equivocada em seus caminhos e mensagem. Já houve um monge agostiniano que, estudando a Bíblia, verificou que tinha que retornar às bases das Escrituras e reavivar a missão da igreja na proclamação do evangelho, libertando-a de penduricalhos humanos absorvidos através de séculos de tradição. Estes possuíam apenas características místicas, mas nenhuma contribuição espiritual e de vida que fosse real às pessoas. Assim foi disparado o movimento que ficou conhecido na história como a Reforma do Século 16, com as mensagens, escritos e ações de Martinho Lutero, em 1517. Lutero foi seguido por muitos outros reformadores, que se apegaram à Bíblia como regra de fé e prática.

Será que estamos testemunhando uma “segunda reforma” dentro da Igreja Católica? Se algumas dessas declarações do Papa Francisco forem levadas a sério, por ele próprio e por seus seguidores, vai ser uma revolução. Mas é importante lembrar, entretanto, que proclamar a mensagem de Jesus Cristo é algo bem abrangente e sério. Existem implicações definidas e explícitas nessa frase. E a questão que não quer calar é: será que a Igreja Católica está disposta a se definir com coragem em pelo menos nessas cinco áreas cruciais? Examinemos uma a uma.

1. AS ESCRITURAS: Rejeitar apêndices aos livros inspirados das Escrituras. Ou seja, assumir lealdade apenas às Escrituras Sagradas, rejeitando os chamados livros apócrifos. Proclamar as palavras de Jesus, nesta área, é aceitar tão somente o que ele aceitou. Em Lucas 24.44, Jesus referiu-se às Escrituras disponíveis antes dos livros do Novo Testamento, como “A Lei de Moisés, Os Profetas e Os Salmos” – essa era exatamente a forma da época de se referir às Escrituras que formam o Antigo Testamento, em três divisões específicas (Pentateuco, livros históricos e proféticos e livros poéticos) compreendendo, no total, 39 livros. Representam os livros inspirados aceitos até hoje pelo cristianismo histórico, abraçado pelos evangélicos, bem como pelos Judeus de então e da atualidade. Ou seja, nenhuma menção ou aceitação dos livros apócrifos, não inspirados, que foram inseridos 400 anos depois de Cristo, quando Jerônimo editou a tradução em Latim da Bíblia – a Vulgata Latina[1]. Evangélicos e católicos concordam quanto aos 27 livros do Novo Testamento, mas essas adições à Palavra são responsáveis pela introdução de diversas doutrinas estranhas, que nunca foram ensinadas ou abraçadas por Jesus e pelos apóstolos. Além disso, na Igreja Católica, a própria TRADIÇÃO tem força normativa igual à Bíblia. Proclamar a palavra de Jesus ao mundo começa com a aceitação das Escrituras do Antigo e Novo Testamento, e elas somente, como fonte de conhecimento religioso e regra de fé e prática. Se não nos atemos a conhecer as Escrituras verdadeiras, caímos em erro, como alerta Jesus a alguns religiosos do seu tempo, que apesar de citarem as Escrituras, se apegavam mais às tradições do que à Palavra de Deus: “Não provém o vosso erro de não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus?” (Marcos 12.24). O livro do Apocalipse, no final da Bíblia, traz palavras duras tanto para subtrações como para ADIÇÕES às Escrituras: (22.18) “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; (22.19) e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro”.

2. A MEDIAÇÃO COM DEUS: Rejeitar a mediação de qualquer outro (ou outra) entre Deus e as Pessoas, que não seja o próprio Cristo. Não acatar a mediação de Maria, e muito menos a designação dela como co-redentora, lembrando que o ensino da palavra é o de que “há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 2.5). Na realidade, a Igreja precisa obedecer até à própria Maria, que ensinou: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (João 2.5); e Ele nos diz: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao pai, senão por mim” (João 14.6). Foi um momento revelador da dificuldade que o Papa tem na aderência a essa mensagem da Bíblia, observar sua homilia pública (angelus) de 17.03.2013. Após falar várias coisas importantes e bíblicas sobre perdão e misericórdia divina, finalizou dizendo: “procuremos a intercessão de Maria”... Ouvimos as próprias palavras do Papa: “No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério de Sucessor de Pedro”.[2] Em Aparecida, nesta visita ao Brasil, ele também disse: “Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano”. “Que Deus os abençoe e Nossa Senhora Aparecida cuide de você”. Não é assim que irá proclamar a palavra de Jesus ao mundo, pois precisa apresentá-lo como único e exclusivo mediador; nosso advogado; aquele que pleiteia e defende a nossa causa perante o tribunal divino. Para o Papa, “a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria”, mas o Povo de Deus sabe, que a igreja verdadeira segue a vontade de Deus, expressa em Sua Palavra.

3. O CULTO ÀS IMAGENS: Rejeitar as imagens e o panteão de santos composto por vários personagens que também são alvo de adoração e devoção devidas somente a Cristo. Essa característica da Igreja Católica está relacionada com a utilização de imagens de escultura, como objeto de adoração e veneração; e também precisaria ser rejeitada.[3] Ela contraria o segundo mandamento e desvia os olhos dos fiéis daquele que é o “autor e consumador da fé - Jesus” (Hebreus 12.2). Proclamar a palavra de Jesus ao mundo significa abandonar a prática espúria e humana da canonização de mortais comuns, pecadores como eu e você, em complexos, mas inúteis processos eclesiásticos, que não têm o poder de aferir ou atribuir poderes especiais a esses santos. Proclamar a mensagem de Jesus, seria abandonar a adoração e devoção à “Nossa Senhora Aparecida” e a tantas outras “Nossas Senhoras” e ídolos que integram a religião Católico-Romana. Vejam o que nos diz a Bíblia:

Salmo:
115.3 No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada.
115.4 Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens.
115.5 Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem;
115.6 têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram.
115.7 Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta.
115.8 Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam.
115.9 Israel confia no SENHOR; ele é o seu amparo e o seu escudo.
Habacuque:
2.18 Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos?
Jeremias:
10.3 Porque os costumes dos povos são vaidade; pois cortam do bosque um madeiro, obra das mãos do artífice, com machado;
10.4 com prata e ouro o enfeitam, com pregos e martelos o fixam, para que não oscile.
10.5 Os ídolos são como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve, porquanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, e não está neles o fazer o bem.

4. O DESTINO DAS PESSOAS: Rejeitar o ensino de que existe um estado pós-morte que proporciona uma “segunda chance” às pessoas. A doutrina do purgatório não tem base bíblica e surgiu exatamente dos livros conhecidos como apócrifos (em 2 Macabeus 12.45), sendo formalizada apenas nos Concílios de Lyon e Florença, em 1439. Mas Jesus e a Bíblia ensinam que existem apenas dois destinos que esperam as pessoas, após a morte: Estar na glória com o Criador – salvos pela graça infinita de Deus (Lucas 23.43 –  “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” – e Atos 15.11 -  “fomos salvos pela graça do Senhor Jesus”), ou na morte eterna (Mateus 23.33 – “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?”), como consequência dos nossos próprios pecados. Proclamar a palavra de Jesus ao mundo é alertar as pessoas sobre a inevitabilidade da morte eterna, pregando o evangelho do arrependimento e a boa nova da salvação através de Cristo, sem iludir os fiéis com falsos destinos.

5. AS REZAS: Rejeitar os “mantras” religiosos, que são proferidos como se tivessem validade intrínseca, como fortalecimento progressivo pela repetibilidade. É o próprio Jesus que nos ensinou, em  Mateus 6.7: “... orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos”. É simplesmente incrível como a ficha não tem caído na Igreja Católica, ao longo dos séculos e, mesmo com uma declaração tão clara contra as repetições, da parte de Cristo, as rezas, rosários, novenas, sinais da cruz etc. são promovidos e apresentados como sinais de espiritualidade ou motivadores de ação divina àqueles que os repetem. Proclamar a palavra de Jesus ao mundo é dirigir-se ao Pai como ele ensina, em nome do próprio Jesus, no poder do Espírito Santo, abrindo o nosso coração perante o trono de graça (Filipenses 4.6: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças”).

Conclusão:

Assim, enquanto acompanhamos a visita, é verdade que podemos admirar a coragem deste homem, Jorge Bergoglio, que tem se pronunciado claramente contra alguns pecados aberrantes que estão destruindo a família e a sociedade. No entanto, muito falta para que a Palavra de Deus e os ensinamentos de Jesus façam parte real de sua mensagem e de uma igreja transformada pelo poder do Espírito Santo – como vimos em cada uma dessas áreas mencionadas (e em outras, também).

Em toda essa situação, podemos aprender algumas coisas: (1) Pedir a Deus que dê forças às nossas lideranças evangélicas, e a nós mesmos, para termos intrepidez no interpelar de governantes e da mídia, quando promovem leis e comportamentos que contradizem totalmente os princípios que Deus delineia em Sua Palavra. Estes princípios sempre são os melhores para o bem da humanidade, na qual o povo de Deus (incluindo nossos filhos e netos) está inserido. (2) Exercitar cautela em nossa apreciação e entusiasmo das ações e palavras do Papa – a idolatria e diminuição da intermediação de Cristo continuam bem presentes em sua visão religiosa e na Igreja que o tem como líder. Envolvimentos de evangélicos nessas celebrações são totalmente desprovidas de base bíblica - representam um descaso por essas profundas diferenças doutrinárias que representam a diferença entre a vida e a morte espiritual das pessoas. (3) Clamar a Deus por misericórdia e salvação real para o nosso povo e para a nossa terra. Como é triste em ver tantos olhos e esperanças fixados em santos, mitos, misticismo e na pessoa humana, em vez de no Deus único soberano. O Deus da Bíblia é a esperança de nossas vidas. É ele que nos alcança e nos fala em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito Santo. Esse nosso Deus é real e eterno e não temporal como o Papa.

Solano Portela

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Notas:

[1] A Vulgata Latina (382 – 402 d.C.), tradução para o latim, da Bíblia, contém 73 livros (e não 66) além de adições de capítulos em alguns livros do Antigo Testamento, que não constam dos textos hebraicos, nem da Septuaginta (tradução para o Grego, do Antigo Testamento, realizada em torno de 280 a.C.). Estes livros adicionais são chamados de livros apócrifos (duvidosos, fabulosos, falsos). O próprio Jerônimo colocou notas de advertências, quanto à canonicidade e validade dessas adições, mas essa cautela foi suprimida nos séculos à frente. Sua aceitação como escritura canônica, no seio da Igreja Católica, foi formalizada pelo Concílio de Trento, em 1546 d.C. Desapareceu, assim, a compreensão de que aqueles livros estavam ali colocados por “seu valor histórico” ou devocional. É possível que se Jerônimo soubesse, que na posteridade seriam considerados parte integral da Bíblia, provavelmente não os teria incluído em seu trabalho. 

[2] Todas essas citações foram extraídas da Homilia no Santuário da Aparecida, proferida em 24.07.2013. http://www.news.va/pt/news/santuario-da-aparecida-homilia-do-Papa-24-julho-20 , acessado em 26.07.2013.
[3] Na mesma homilia já referida, o Papa disse: “A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe”?

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Solus Christus, não solus papa!

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Por Pr. Alan Kleber


“Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!”

Com essas palavras o papa Francisco, Bispo de Roma, impactou o povo brasileiro com seu primeiro discurso no Brasil, por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude (JMJ2013). Até mesmo os evangélicos contagiados com tanta empolgação fomentada pela imprensa, espalharam sua célebre frase nas redes sociais, “twitando” ou postando no Facebook. De fato, se tomássemos apenas esta única afirmação do papa poderíamos acreditar que para ele, somente Cristo (i.e, Solus Christus) é o único, suficiente, soberano e primaz cabeça da Igreja, certo?

O problema é que o papado não é somente não cristão, mas também abertamente anti-cristão. Historicamente, os papas ensinam aos seus fiéis que eles podem com suas obras chegar ao Céu porque o papa, o vigário de Cristo na terra, entende a Escritura para ensinar a verdade acerca da fé e prática. Para ele Cristo simplesmente não é suficiente. Os homens devem fazer sua parte também. Veja por exemplo, o dogma romano encontrado nas seções 10 a 12 sobre a doutrina da justificação do Concílio de Trento:

Cân. 10. Se alguém disser que os homens são justificados sem a justiça de Cristo, pela qual ele mereceu por nós; ou que é por ela mesma que eles são formalmente justos — seja excomungado.

Cân. 11. Se alguém disser que os homens são justificados ou só pela imputação da justiça de Cristo, ou só pela remissão dos pecados, excluídas a graça e a caridade que o Espírito Santo infunde em seus corações e neles inerem; ou também que a graça pela qual somos justificados é somente um favor de Deus — seja excomungado.

Cân. 12. Se alguém disser que a fé que justifica não é outra coisa, senão uma confiança na divina misericórdia, que perdoa os pecados por causa de Cristo ou que é só por esta confiança que somos justificados — seja excomungado.

Seria Cristo ou o papa Francisco o verdadeiro Cabeça da Igreja?

Ao aceitar o pontificado, o papa Francisco reivindicou ser o Cabeça da Igreja. Sua teologia romana é consistente com a doutrina romana. Os Concílios da Igreja de Roma ensinam que:

- A “jurisdição sobre a igreja universal de Deus” pertence ao papa (Vaticano I, Capitulo 1);

- Que essa autoridade deve “permanecer ininterruptamente na Igreja” e que ele, o papa, “possui o primado sobre todo o mundo… e [é] o verdadeiro vigário de Cristo na Terra” (Vaticano I, caps 2 e 3);

- Que o Papa é a “fonte e fundamento visíveis para a unidade na fé e comunhão” Também se diz que “em virtude de seu oficio, isto é, como Vigário de Cristo e pastor de toda a igreja, o Pontífice Romano tem poder completo e supremo e universal sobre a Igreja” (Vaticano II).

Mas não para por aí

Você lembra do problema das indulgências que levou Martinho Lutero a publicar suas famosas 95 Teses contra os abusos papais? Pois bem, leia um trecho abaixo do Decreto onde o papa Francisco concede o “dom das indulgências” aos participantes da JMJ2013:

“O Santo Padre Francisco, desejando que os jovens, em união com as finalidades espirituais do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, possam obter os esperados frutos de santificação através da «XVIII Jornada Mundial da Juventude», … manifestando o coração materno da Igreja, do Tesouro das satisfações de nosso Senhor Jesus Cristo, da Bem-Aventurada Virgem Maria e de todos os Santos, concordou que os jovens e todos os fiéis adequadamente preparados pudessem usufruir do dom das Indulgências”.

“a. — concede-se a Indulgência plenária, que pode ser obtida uma vez por dia nas habituais condições (confissão sacramental, comunhão eucarística e oração segundo a intenção do Sumo Pontífice) e também aplicadas como sufrágio pelas almas dos fiéis defuntos, para os fiéis verdadeiramente arrependidos e contritos, que com devoção participarem nos ritos sagrados e nos exercícios piedosos que se realizarão no Rio de Janeiro”.

Segundo a teologia romana, as indulgências são: "…a remissão diante de Deus da pena temporal merecida pelos pecados, já perdoados quanto à culpa, que o fiel, em determinadas condições, adquire para si mesmo ou para os defuntos, mediante o ministério da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui o tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos" (Catecismo da ICAR, n. 312).

Como vimos, Roma não mudou. Seus anátemas contra todo aquele que crê em Cristo como seu único e suficiente Salvador permanecem. A salvação somente pela graça mediante a fé (Ef 2.8,9) é trocada pelo esforço humano, por obras meritórias. O Senhorio do Rei dos reis continua sendo usurpado pelo papado. Logo, a Palavra de Cristo, infalível e verdadeira permanece substituída por dogmas, tradição e superstição humanas.

Conclusão

Quanto a nós, protestantes, cristãos herdeiros da Reforma, resta-nos lembrar o fundamento da nossa fé e doutrina, vida e piedade, alicerçado no fundamento dos apóstolos e profetas, tendo Jesus como sua pedra fundamental. Concluo com esta última citação de algumas das Teses de Lutero:

32 - Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.

33 - Há que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dadiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus (33a tese).

34 - Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.

35 - Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.

36 - Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.

37 - Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.

Solus Christus.

Fonte de pesquisa:

http://www.monergismo.com/textos/credos/lutero_teses.htm
http://www.catequisar.com.br/texto/materia/fe/144.htm
http://tottustusmaria.com/maria/downloads/trento.pdf
http://www.vatican.va/roman_curia/tribunals/apost_penit/documents/rc_trib_appen_doc_20130709_decreto-indulgenze-gmg_po.html

Fonte: E a Bíblia com isso
Via: Despertar de um avivamento

Para ler mais a respeito, não deixe de ler outros artigos clicando aqui.
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1ª Semana Teológica no JMC - Adventismo

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Neste vídeo, o Ev. Luciano Sena fala sobre Adventismo no Seminário JMC, na 1ª Semana Teológica de 2013. Assista:


Fonte: Seminário JMC
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Uma palavra aos maridos reformados que têm esposas não-reformadas

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Por Gaspar de Souza


É uma alegria descobrir a Fé Reformada. É uma alegria descobrir que o Deus Criador e Triúno planejou nossa Salvação desde a Eternidade. Como é gratificante o descobrir os Cinco Sola da Reforma – Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fides, Solus Christus, Soli Deo Gloria. Em ver a beleza da “Cadeia de Ouro” do TULIP – acróstico para a Soteriologia Reformada: Depravação Radical da natureza humana; Eleição Incondicional; Expiação Particular; Graça Irresistível e Perseverança dos Santos, que eu prefiro chamar de Perseverança do Salvador. Como é bom descobrir os escritos de Calvino, dos Puritanos, de ler John Owen, Jonathan Edwards, Richard Baxter, os sermões de fogo de Spurgeon. É impressionante ver a harmonia das Confissões de Fé e Catecismos, a beleza da Confissão Belga, a robustez da Confissão de Fé de Westminster, a sistematização das Helvéticas e Savoy (esta, bem parecida com a CFW!), a didática piedosa do Catecismo de Heidelberg, a solidez prática dos Catecismos de Westminster. Ao saber que autores de um passado não tão distante foram gigantes da fé, tais como o Dr. Martin Lloyd-Jones, considerado um dos últimos puritanos e exímio expositor bíblico; a firmeza teológica do Rev. James I. Paker; a fina apologética dos Dr. Cornelius Van Til e Dr. Gordon H. Clark; a sagacidade teológica dos Hodges, Dabney e Bavinck. É como ficar como os que sonham....

Porém, não tem sido incomum a aqueles que, anteriormente em outra tradição teológica, normalmente Arminiana Tradicional ou Arminiana Pentecostal, ao descobrirem a Fé Reformada, passam à arrogância e desprezo pelos que não compartilham de sua tradição recém-descoberta. Até entendo que haja lá os seus gracejos, como aquele do “evangelismo arminiano”, onde se apresenta um homem tentando ressuscitar um esqueleto.

Mas confesso que não são as brincadeiras que me preocupam. O caso é mais sério. É caso de família e família é a coisa mais séria neste caso. É o caso dos que se convertem à tradição Reformada, mas têm esposas que continuam em suas tradições, especialmente Pentecostais.

A reclamação parece ser geral: os maridos se tornam insuportáveis, ranzinzas, chauvinistas, intolerantes e, para proselitar suas esposas, não poupam palavras duras e humilhantes – travestidas de piedade, claro –, não apenas contra sua fé, mas até mesmo contra sua pessoa. Agora, ela é a insubmissa por não aceitar imediatamente o “novo e vivo caminho” da fé de seu marido. Agora ela é a herege por não aceitar os cinco pontos. Agora o seu culto é idólatra por desprezar o princípio regulador do Culto e não aceitar acompanhá-lo imediatamente aos Cultos Reformados com Pregações Expositivas, coisas que ela, possivelmente, totalmente ignora. Ela é culpada por resistir e não aceitar os Solas da Reforma e não ir muito com a cara dos Puritanos. O resultado final não é proselitismo, mas sectarismo, porque ele não se importa de causar a divisão com aquela que Deus mesmo uniu a ele.

Aos meus irmãos casados, não resta senão achar-se sob o fardo da providência de ter uma esposa não-Reformada. Talvez algumas palavras a tais maridos reformados sejam necessárias e, assim, eles fujam da caricatura reformada que podem transmitir às suas esposas. Se quiserem ganhar as suas esposas, certamente não será pela força (Zc. 4.6).

Primeiramente, lembre-se de que ela é a sua esposa. Antes de ser reformada, arminiana, pentecostal etc., aquela que está com você sob o laço da aliança é a sua esposa. E, neste relacionamento, segundo as Escrituras, ela é a parte mais frágil, exigindo de você entendimento no convívio do lar, tendo-a em honra (1Ped. 3.7). Como você, a fim de forçá-la a acompanhá-lo na nova fé, costuma lembrá-la da submissão devida, não custa nada lembrar a você, querido irmão, que há uma submissão de sua parte a ela (Ef. 5.21). Como sei que você gosta dos Puritanos, leia o que disse um deles, antigo membro da Assembleia de Westminster (1643), o Rev. Wiiliam Gouge (1575 – 1653). Este irmão escreveu um tratado com cerca de 600 páginas cujo título nos faz pensar: Of Domestical Duties (1622). Ali, no primeiro volume, ao expor o texto de Efésios 5.21 – “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus” – o distinto puritano disse sobre a vocação particular, em que se encontra a relação marido e esposa, que a submissão do Marido à Esposa “é por morar com ela com entendimento, dando honra à esposa como vaso mais frágil” e isto deve ser feito sob a direção do “temor do Senhor”. Ainda diz o velho puritano: “como uma esposa deve saber sua responsabilidade, seu marido deve saber muito mais a sua própria, porque ele é para ser um guia, um bom exemplo para sua esposa, ele deve viver com ela com entendimento [...] negligenciar sua responsabilidade é mais desonroso a Deus, porque pela virtude de sua posição, você [marido] é a imagem e a glória de Deus (1Co 11.7)." De fato, parafraseando o autor, negligenciar esta responsabilidade é pernicioso, pois não é apenas a esposa que será atingida, mas toda a família, pois, estando o marido em tal posição de cabeça, pode cometer abuso de autoridade sem ter alguém sobre si que contenha sua fúria.

Segundo, antes de ela ser sua esposa, ela é imagem de Deus. Eu preferi dizer que ela é imagem de Deus, pois é possível que algum marido reformado tenha esposa que “não-cristã”. Sendo assim, se o marido reformado entender a sua grande responsabilidade com aquela que não compartilha da mesma fé com ele, muito mais deverá compreender a sua imensa obrigação para com aquela que é a sua irmã em Cristo.

Outro Puritano, Isaac Ambrose () também um dos Divines, escreveu Prima: The First Things. Este compêndio trata sobre a “doutrina da regeneração, do novo nascimento e o real começo da vida piedosa”. Ali, comentando o Quinto Mandamento, cujo título “Os Pecados contra o Quinto Mandamento”, acerca dos “Deveres Exigidos”, o primeiro ponto que o Divine Isaac expõe é a responsabilidade familiar. Mas, você sabe sobre a responsabilidade de quem ele apresenta primeiro? Sobre a responsabilidade do marido. “Se tu és marido, tenha amado sempre a tua esposa”. E ainda, “se tu és marido, não tens por vezes maltratado tua esposa, ou a ferido, ou a ofendido em pensamento, palavras ou atos?” Como texto-prova para a primeira declaração, o Rev. Isaac cita 1Pe. 3.7. Parece haver uma predileção dos Puritanos por este texto quando exortam aos maridos. Marido, pondere ainda nas palavras deste mesmo puritano: O marido, acerca de sua esposa, “deve amá-la em todo tempo; ele deve amá-la em todas as coisas; o amor deve temperar e adoçar sua linguagem, seu cuidado, suas ações para com ela; o amor deve ser mostrado em seu governo, censura, admoestações, instruções, autoridade, familiaridade com ela; o aumento de tal amor não deve ser por sua beleza, ou notabilidade, mas especialmente porque ela é sua irmã em na Religião Cristã; e uma co-herdeira com ele no reino do céu; por causa de suas graças e virtudes, porque ela deu à luz aos seus filhos, os herdeiros de seu nome e natureza, e por causa da união e conjunção do casamento” (The Works of Isaac Ambrose, vol. 1, Of Families Duties, Of of the Duties of the Husband and Wife, p. 187).

Terceiro, antes de pensar em sua autoridade como marido, e na submissão de sua esposa como esposa, procure ver que você é como Cristo nesta relação. Por dizer que você é como Cristo, lembre-se que é apenas em semelhança. E nesta semelhança, não esqueça que sua esposa é como a Igreja de Cristo. O Senhor Jesus Cristo mantém um relacionamento com sua Noiva que chegou a assumir a responsabilidade da própria Igreja. Há um princípio da masculinidade bíblica, reflexo da masculinidade do Verdadeiro Homem Jesus, que o marido deve ser o “primeiro a amar, o primeiro a perdoar e o primeiro a sofrer [...] assumindo a responsabilidade pelo pecado não importando se a ‘culpa’ é dele ou não” (PATRICK, Darrin. O Plantador de Igreja. São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 19). Se você, marido cristão, olhar no mesmo texto que facilmente você usa contra sua esposa, logo em seguida ao falar sobre a submissão dela, fala das responsabilidades de suas responsabilidades. Você já reparou a desproporção de versículos para sua esposa e para você? É que você é mais perigoso e mais rebelde em assumir a sua submissão para com ela, do que ela para com você.

Você como Cristo deve entregar-se por sua esposa (Ef. 5.25), deve santificá-la e purificá-la pela palavra (v.23), fazê-la para si (v. 27). Você deve sustentá-la, alimentá-la, cuidá-la, protegê-la (inclusive de você!)(v. 29, 30). Quero que você veja que, ao compará-la com a Igreja, deveria ficar claro para o marido que o seu desmando para com a esposa torna-se algo pessoal com o Senhor delas. Cristo olha para as esposas como sinais de sua Igreja.


O Puritano Isaac Ambrose comentou: “Os maridos deveriam amar suas esposas, mesmo que não existisse nada em suas esposas que o movessem, mas simplesmente porque elas são suas esposas. Cristo amou a igreja antes que a igreja pudesse amá-lo" (idem). A última frase, “Cristo amou a igreja antes que a igreja pudesse amá-lo”, deveria levar o marido reformado a lembrar de todos os Pontos dos Cinco: Cristo escolheu sua Igreja, não foi escolhido por Ela e Sua Igreja ainda não era Igreja, não era povo (Dt. 7.7; 1Pe. 2.10; Rm. 9.25). Jesus Cristo entregou-se por ela, ainda quando ela não o amava; o Senhor Jesus, como amor eterno a atraiu, não colocou nela um cabresto (Jr. 31.3); o Seu amor por ela é perseverante, mesmo diante dos tropeços e tropicões de sua amada. É o Amor de Cristo que sustenta a Noiva, não o inverso. Por que a Igreja ama a Cristo? Porque é, primeiramente, amada por Ele. Por que a Igreja se submete a Cristo? Porque Cristo a lidera em Amor.

Caro irmão, antes de ganhar sua esposa para a “nova fé” que você abraçou, tente ganhá-la para o seu coração. Antes de ela ser reformado na fé, reforme-se no amor por ela. Se a nova fé que você abraçou não o fizer amá-la cada vez mais, a sua fé é vã e inútil (Tg. 2.26). Se a nova fé apenas fornecer a você amor de palavras, mas não ação, você é um mentiroso, pois não ama de verdade(1Jo 3.18). Certo reformado moderno, Rev. Joyce Álvarez Léon, faz um brilhante comentário sobre o amor e a fé no matrimônio: “O amor segue a fé. Sem fé não pode haver amor. Quando falo de amor, não estou me referindo somente ao amor romântico, ou o amor emocional, ou o amor que diz: se me trata bem, então amarei você; se me trata mal, não amarei você. O amor do qual estou falando é um amor que se dá sem esperar nada em troca, um amor que ainda que receba uma tapa, continua amando. Um amor que não busca outra coisa senão o bem da pessoa amada, mesmo que isso requeira um grande sacrifício por parte da pessoa que ama. Este é o tipo de amor que revoluciona qualquer lar. É o amor de Deus. Este é o tipo de amor que o mundo não conhece porque provém de Deus e tem sido derramado sobre os que têm recebido a Cristo pelo Espírito Santo que nos foi dado” (La Familia Cristiana como Luz e Sal e su Vencidario, 2008, p. 8).

Marido Reformado, por mau trato com sua esposa, você pode colocar abaixo todo trabalho de Reformadores Piedosos, dando testemunho mentiroso sobre eles pelo modo como você vive com ela. Como o Puritano Richard Baxter havia dito: “A paz e a prosperidade das nossas Igrejas depende grandemente de umas boas relações familiares [...] Portanto, se quiseres que a obra do Evangelho floresça, recomendo-te que faças tudo o que possas para promover a piedade no lar ”

Conforme Leland Ryken (Santos no Mundo) comentou sobre o caráter da liderança do marido: “Senhorio, para os Puritanos, não significava tirania. Era liderança baseada no amor. Benjamin Wadsworth escreveu que um bom marido fará ‘seu governo sobre ela tão fácil e suave quanto possível, e lutará mais para ser amado que temido’. De acordo com Samuel Willard, um bom marido reinará de tal forma ‘que sua mulher possa deleitar-se na [sua liderança], e não tê-la como escravidão mas, como liberdade e privilégio’”.

Por que não falei da submissão da esposa ao marido? Porque isso, Marido, você já sabe.

- Sobre o autor: Rev. Gaspar de Souza é pastor da Igreja Presbiteriana dos Guararapes e blogueiro do Eis Nosso Tempo.

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