“Creio... Na santa Igreja universal, a
comunhão dos santos”.
Depois
de firmar o credo na Trindade, o símbolo de fé passa então a falar da obra do
Deus triúno, começando por afirmar a crença de que a Igreja é universal,
palavra que passamos a usar para substituir o termo “católica”. Mas, embora
muitos evangélicos torçam o nariz para a palavra, devemos reafirmar o conceito
de catolicidade, algo que os próprios reformadores reafirmaram. Assim sendo, o
que devemos ter em mente quando dizemos crer na Igreja católica ou universal?
O
conceito de catolicidade evoca a união da igreja que transcende o tempo e a
geografia. Esta Igreja por quem Cristo morreu é composta de pessoas de todos os
tempos e vindas de muitos lugares distintos, vinculadas uns aos outros pelo sangue
de Jesus. Nesta massa de gerações e culturas diferentes, por uma ação sobrenatural
do Espírito, existe unidade, que devemos nos esforçar para preservar, como nos
diz o texto sagrado:
“Façam todo o esforço para conservar a
unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim
como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma
só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de
todos e em todos”. - Efésios
4:3-6
Outro
aspecto da catolicidade - ou universalidade – da Igreja é que a sua membresia é
diversificada no que diz respeito a idade, gênero e posição socioeconômica, mesmo
assim, o Espírito de Cristo produz unidade na diversidade, operando em nós a fé
salvífica depositada no Filho de Deus. “Não
há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em
Cristo Jesus” (Gálatas 3.28). Portanto, é de extrema importância pôr em
prática este postulado do Credo, pois, a Igreja é o povo de Deus, comprado e remido
por Cristo, que se ajunta solenemente em adoração ao seu SENHOR. É neste ajuntamento
que Deus se manifesta, e por meio dele opera neste mundo caído.
DESIGREJADO, ISSO PODE?
Existe
um movimento que está crescendo nos últimos anos. São os desigrejados, ou os
“sem-igreja”. Estes saíram da Igreja por focarem nos problemas institucionais,
por terem sido machucados em alguma congregação e até mesmo por nutrir uma
visão romântica (e deturpada) da igreja primitiva. Eles parecem não se dar conta
de que uma igreja como a que havia em Corinto também faz parte deste período, e
nem por isso estava isenta de problemas.
Não
devemos deixar de congregar (Hb 10:25). Como disse o teólogo Michael Horton: “A igreja não é apenas para onde vão os
discípulos; é o lugar onde são feitos os discípulos”. É na convivência com
pessoas diferentes – e algumas delas até não cristãs, embora pareçam ser (lembre-se
da parábola do joio e do trigo), que exercitamos a ética do reino: amando o
próximo, servindo-o com nossos dons, perdoando quando somos ofendidos e
confessando nossos pecados uns aos outros, na disposição de sermos mentoriados.
Também é na igreja que recebemos os sacramentos (batismo e ceia) e a partir
deles somos identificados como o povo da aliança, desfrutando da fidelidade do
Senhor, estando debaixo de suas bênçãos pactuais.
E AS DENOMINAÇÕES?
Dando
uma volta a pé ou de carro pela avenida de qualquer cidade grande no Brasil,
veremos mais de uma igreja, algumas quase coladas umas às outras. E cada uma
portando um nome diferente. A pergunta é: o denominacionalismo não fere a
catolicidade da Igreja?
Em
algum sentido, as muitas denominações demonstram mais divisão do que união, e
isso deve ser lamentado. Pois, as explosões de novas igrejas surgiram de
questões que são secundárias (isso entre os séculos XVII e XIX), e o espírito
sectário fez com que o caminho mais fácil, queé a divisão ao invés da
reconciliação, promovesse esta enxurrada de igrejas distintas. Mas não
advoguemos o fim das denominações. Ao invés disso, vejamos como pode ser
possível manter a unidade em meio desta miscelânea de igrejas que pensam
diferente em algumas questões.
VISÍVEL E INVISÍVEL
A
Igreja católica, que é una, geralmente é chamada de igreja invisível. Este
termo reflete a questão de que somente Deus conhece aqueles que são seus e os mantém
perseverantes até o dia final. Desta igreja há gente de toda língua, tribo e
nação (Ap 5.9), todos arrebanhados por Cristo, ligados uns aos outros como membros
de um só corpo. Veremos esta igreja, tal como ela é, apenas no Reino dos Céus,
após a volta de Cristo que vem para julgar as nações, mas também buscar a sua
amada igreja para estar com ele na eternidade.
Já o
que chamamos de igreja visível é esta que vemos atuando na terra. As
congregações locais e as várias denominações contêm pessoas que são
verdadeiramente cristãs e outras não. Lembremos da advertência de Jesus ao
dizer que "Nem todo aquele que me
diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus” (Mt 7:21). Na parábola do
trigo e do joio, ambos crescem juntos e serão separados apenas na colheita.
Quando Jesus explica a parábola, vemos que a colheita refere-se ao dia do juízo
final, assim, só neste evento que serão separados os verdadeiros dos falsos
membros da Igreja.
Na
presente era, a igreja será imperfeita e as pessoas vão se deparar com pessoas dentro
dela que nem regeneradas são. E até mesmo os cristãos, ainda em processo de santificação
irão falhar nas relações interpessoais. Mas lembremos que o laço que nos une
vem do SENHOR. Por isso podemos superar as nossas diferenças e, mesmo com
nossas particularidades, alcançamos a unidade por estarmos debaixo do mesmo
pacto.
Engraçado
é que olhando para a história, vemos que todo o grupo que se levantou contra as
denominações acabou criando uma nova, logo, não é a abolição do denominacionalismo
que vai nos garantir unidade, mas podemos nos aproximarmos cientes de que
aquilo que nos une é maior do que o que nos separa. Batistas, Presbiterianos,
Anglicanos, Congregacionais, Livres e outros podem somar esforços para promover
os valores cristãos que são inegociáveis, evitando que questões secundárias sirvam
de empecilho para trabalharmos juntos na promoção do Reino.
BASTA DE IGREJAS SEGMENTADAS
Outra
frente de batalha para manter firme a catolicidade da Igreja de Cristo é evitar
segmenta-la. Recentemente, influenciados pelo modelo de mercado, muitos líderes
acabam desmembrando suas igrejas, focalizando determinados nichos para tentar
alavancar o número de membros. Com isso surgiram diversas igrejas que focalizam
os jovens e fazem com que a sua agenda gravite em torno de muito entretenimento
para seduzir o seu público alvo. Outros segmentam o que já está segmentado, e
daí temos a igreja dos surfistas, dos skatistas, dos universitários, dos
tatuados, dos solteiros e etc.
A
Igreja é a composição de velhos e novos, ricos e pobres, homens e mulheres, com
tantas diferenças que se não fosse obra divina, seria impossível de se
conviver. Todavia, é assim que Deus quer que nos ajuntemos para adorá-lo. Basta
de igrejas segmentadas, sejamos unidos em meio as nossas peculiaridades.
UM POVO SANTO
Um
dos papéis distintivos da Igreja nesse mundo é que ela remete a santidade de
Deus. A Igreja é santa e esta santidade não é propriamente nossa. Assim como a
luz que faz a lua brilhar vem do sol, somos santos porque o Deus que nos
arregimentou é santo. Pedro nos diz, em carta:
“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio
real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele
que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. - 1 Pedro
2:9
Portanto,
é necessário nos portarmos de maneira digna, como requer a nossa vocação para a
santidade. A Igreja precisa manter a distinção do mundo e deve perseverar para
manter-se pura em meio a uma geração corrompida. A santidade aqui não significa
perfeição, ela é gradativa, embora, posicionalmente, já somos santos em Cristo,
pois Ele nos santificou quando nos lavou com seu sangue na cruz.
Deus
em sua infinita sabedoria, fez da Igreja o local ideal para o desenvolvimento
de nossa santificação. Os meios de graça, que são a pregação da Palavra mais a administração
dos sacramentos, nos santificam. E na administração destes meios, o nosso Sumo
Pastor separou co-pastores para servir as suas ovelhas diligentemente. É dever
destes pastores inculcar nos fiéis, pela pregação e pelo exemplo, o estilo de
vida santificado. Daí a importância de fazer parte de uma igreja local, se
submetendo a liderança que o próprio SENHOR instituiu para dar conta da
disciplina na Igreja.
CONCLUSÃO
A
Igreja é o Israel de Deus, seu povo santo, que não é mais uma etnia, como na
antiga aliança. As fronteiras foram enlanguescidas e não há mais a distinção
entre judeus e gentios, pois dos dois povos o Senhor fez um só rebanho (Ef
2.14).
Por
sermos povo, não caiamos na tentação da individualidade. A igreja é como se
fosse o ecossistema de Deus. É preciso uma relação de interdependência, de modo
que todo cristão individualmente precisa estar inserido numa igreja local para
desenvolver a sua fé. Assim como determinados seres não se reproduziriam se não
houvesse os elementos que compõem o seu ecossistema, não há desenvolvimento de
fé no cristão que se exclui - por vontade própria - do ajuntamento dos santos.
O
reformador João Calvino costumava dizer que a Igreja é a mãe de todos os
crentes, visto que pela Palavra de Deus, ela nos conduz ao novo nascimento, nos
educando e nutrindo, através no ministério pastoral ordinário. A Igreja é a
coluna da verdade (1 Tm 3.15), pois por meio de seu trabalho evangelístico no
mundo, chegamos a conhecer a Cristo, verdadeiro Deus e salvador dos que nele
depositam sua fé.
Soli Deo Gloria