A importante diferença entre legalidade, moralidade e licitude

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Pode parecer trivial, mas não é. Legalidade, moralidade e licitude são facetas distintas e que nem sempre são intercambiáveis, ainda mais quando colocadas sob o prisma da Escritura. Esta tríade deve ser constantemente levada em conta e ponderada durante nossos afazeres, sejam no cotidiano ou nalguma situação específica.

Vejamos um exemplo típico:

Um cristão se depara com um imóvel à venda. O preço: 30% do valor de mercado. Ou seja, uma casa que normalmente seria vendida por R$200.000,00, está sendo oferecida por R$60.000,00. Parece um excelente negócio, certo?

Do ponto de vista da legalidade, tal venda pode ser legal, isto é, de acordo com a lei que rege a vontade das partes - pacta sunt servanda (o pacto faz lei entre as partes) - não haveria problema algum em se vender pelo preço que se bem entende. Todavia, poderia configurar sonegação de impostos, levando o Ministério Público a averiguar se, embora tenha havido um contrato no valor firmado, não foram pagos os R$140.000,00 restantes "por fora", a fim de "aliviar" o imposto de renda do comprador e vendedor. 

Do ponto de vista da moralidade, tal venda jamais deveria acontecer, supondo que de fato fosse vendida somente por R$60.000,00, pois ninguém em sã consciência vende algo tão abaixo do preço, exceto se estiver extremamente endividado e precisar do dinheiro "para ontem". O comprador cristão, vendo o sufoco em que o vendedor se encontra, não deveria "acabar por puxar a corda" e o enforcar, mas, sim, oferecer um preço justo pela casa - talvez não os 200 mil iniciais, mas algo próximo.

Do ponto de vista da licitude, tal venda é plenamente lícita, afinal, houve acordo entre as partes. Não havendo algum dos tradicionais vícios de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão, fraude contra credores e a simulação), o negócio é lícito, não havendo que se arguir coisa alguma.

O que isso nos ensina? Nos ensina que nem sempre porque alguma coisa está na Lei (agora me refiro à lei dos homens), significa que é legal ou moral, ainda que lícita.

Ainda outro exemplo:

Um cristão expondo o evangelho em sua Universidade, é proibido de continuar falando de Cristo.

Do ponto de vista da legalidade dos homens, eles veem o cristão como um transgressor, pois mesmo tendo o direito Constitucional à liberdade religiosa (Art. 5º, CF), essa suposta liberdade não pode ferir a liberdade de outrem em não querer ouvir. Desta forma, o cristão oscila entre a legalidade e ilegalidade dos homens, mas tem a legalidade bíblica ao seu lado.

Do ponto de vista da moralidade, o cristão estará sendo imoral, pois à vista dos homens é alguém que deseja impor suas crenças sob os demais (ainda que não seja isso). Para o cristão, porém, falar da Escritura é a mais reta, pura, justa e desejável moralidade, de maneira que mesmo se tendo por imoral, ele continuará a falar - buscando, dentro do possível, respeitar a legalidade dos homens.

Do ponto de vista da licitude, o cristão está realizando algo plenamente lícito, pois a ninguém está obrigando coisa alguma, mesmo que os homens digam que não é moralmente correto ele continuar com sua anunciação do evangelho. 

O que novamente aprendemos? Que nem sempre algo imoral do ponto de vista dos homens, será, necessariamente, imoral sob o foco da Escritura.

Não desejando soar cansativo, vejamos um último exemplo onde vemos a licitude sendo tolhida.

Um cristão deseja escutar algum grupo musical, mas não tendo dinheiro para adquirir o "CD", se vê tentado à baixar toda a discografia da banda gratuitamente, entretanto, de modo "pirata".

Do ponto de vista da legalidade, ele está diante de uma norma legal sem qualquer eficácia, pois ainda que o comércio pirata seja ilegal, já existem decisões dos tribunais que reconhecem a legalidade dos downloads, desde que para uso pessoal. Ou seja, é ilegal, mas ao mesmo tempo é legal. Como muitas vezes as decisões dos tribunais se sobressaem à norma escrita, passou a ser legal.

Do ponto de vista da moralidade, o cristão se vê diante de um problema: passou a ser legal, mas será que é moral? Caso o cristão estivesse do lado do grupo musical, ele gostaria de ver todo seu trabalho sendo pirateado pela internet? Pode ser que sim, mas pode ser que não. Ele fica, então, em fogo cruzado, pois de um lado a Escritura diz que devemos obedecer aos magistrados, por outro lado, ela também diz que devemos não furtar o próximo. Já a legalidade diz que é moralmente aceito fazer o download, ao passo que o grupo musical pode não ver desta forma.

Do ponto de vista da licitude, se percebe que é lícito baixar, pois é legal (passou a ser, em verdade), no entanto, esta licitude é por demais relativa. Assim, embora o cristão tenha a legalidade e a moralidade do mundo ao seu favor, diante de Deus acaba por se tornar ilícito baixar tais músicas em face da não aceitação desta norma legal pelo grupo musical.

Portanto, amado cristão, verifique muito atentamente todas as ocasiões que se descortinam diante você. Nem sempre porque está na Lei dos homens (Código Civil, Penal...), será moral. Não é porque a Lei condena que também será sempre imoral (como pregar o evangelho, por exemplo). De igual forma, não é porque algo é lícito à luz dos homens, que será moral e legalmente correto diante de Deus.

"Todas as coisas [permitidas no evangelho] me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma" (1Co 6.12).

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Autor: Filipe Luiz C. Machado
Fonte: 2 Timóteo 3:16
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Somente teólogos liberais são moralmente liberais?

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Quem pensar que somente os teólogos que usando o método histórico-crítico, ou outro método teológico de tradição liberal, apoiarão o homossexualismo, ou usarão a Bíblia para legitimizar a união estável entre pessoas do mesmo sexo, está enganado. Sabemos que há quem negue o método hermenêutico crítico-histórico, e até sustente uma perspectiva conservadora e inerrante da Escritura Sagrada e, ao mesmo tempo adote incoerentemente uma interpretação de legitimização do homossexualismo, ou seja, que a relação ou união estável entre pessoas do mesmo sexo não é algo proibido na Escritura Sagrada.


Pode-se mencionar, por exemplo, o Dr. Marten Woudstra, falecido ministro da Christian Reformed Church, ex-professor de Antigo Testamento no Calvin Seminary e presidente da comissão de tradução da NIV - que é acusado de ter diluído a tradução onde os textos mencionam homossexualidade [acesse aqui]. Em outro site trás um artigo com o título: Homosexuals On the NIV Translating Committee que reforça a mesma acusação. É sabido da associação do Dr. Woudstra com os Evangelicals Concerned [grupo teologicamente conservador, porém gay nos EUA].

William L. Graig em seu livro "Apologética para questões difíceis da vida" (Edições Vida Nova) no capítulo onde discute sobre HOMOSSEXUALIDADE ele introduz o assunto mencionando uma situação em que um erudito em NT ao ser convidado para palestrar para os Evangelicals Concerned teve o seguinte diálogo: "As pessoas estavam realmente preocupadas a respeito do que você ia falar", disse o anfitrião após o encontro. "Por quê?" - ele perguntou surpreso - "Vocês sabem que não sou homofóbico!". Mas o anfitrião lhe tranquilizou: "Imagina! As pessoas não estavam preocupadas com isso!" E acrescentou: "Na verdade, elas estavam com medo de que você fosse defender o método histórico-crítico". [pág. 142). No site oficial dos Evangelicals Concerned cita-se vários teólogos e links de artigos e debates que tentam legitimizar favoravelmente a homossexualidade e a Bíblia.

Por isso, penso que o método crítico e o liberalismo teológico em suas diferentes e elásticas formas tendem a favorecer o homossexualismo, mas não negaria que teólogos conservadores, que endossem a doutrina da inerrância não cheguem por outras vias na mesma conclusão permissiva. Assim, não vejo de modo simplista e dualista a situação: teólogos liberais sempre serão favoráveis ao homossexualismo, enquanto que os conservadores serão contra!

Obviamente que todo teólogo ao interpretar o texto analisando a intencionalidade do autor, verificando a sintaxe, e examinando-o em seu contexto histórico poderá verificar que em nenhum lugar as Escrituras dão apoio ao homossexualismo. O intérprete pode até não concordar com o que a Bíblia diz, mas ele terá que reconhecer que ela não legitimiza a união estável entre pessoas do mesmo sexo!

P.S.* "The Bible does not speak clearly enough on this issue!" - A Bíblia não fala claramente acerca deste assunto!"

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Autor: Rev. Ewerton B. Tokashiki
Fonte: Estudantes de Teologia
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Baleia Azul?

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Muitos podem estar se perguntando: o que é isso? Do que se trata? E acredito que poucos sabem que esse “Baleia Azul” é um jogo mortal e criminoso. Criado por um grupo conhecido como “#F57” oriundo da Rússia, suspeito de ter induzido mais de 130 adolescentes a cometerem suicídio desde 2015, o Baleia Azul chegou recentemente ao Brasil, e já há três casos recentes de suicídio atribuídos a esse jogo, em Minas Gerais, Mato Grosso e Paraíba.

O jogo começa com um convite para a página privada deste grupo “#F57” no Facebook, e nela um instrutor passa alguns desafios aos seus novos jogadores. No total, são propostos 50 desafios, tais como: escrever com uma faca a sigla #F57 na palma da mão, cortar o próprio lábio, desenhar uma baleia em seu corpo com uma faca, até chegar ao desafio final, que ordena tirar a própria vida. 

Confesso que não fiquei surpreso com a notícia da existência de um jogo como esse, pois num mundo onde o mal habita, devemos esperar de tudo. Mas os comentários que li e ouvi a respeito do jogo me deixaram bastante triste. Muitos comentários do tipo: “Só um idiota pra participar de um jogo assim!”; “quem vai jogar pra tirar a própria vida?”; “jogo de babaca”.

Comentários assim, demonstram a falta de conhecimento de muitas pessoas sobre um grave problema existente em nossa sociedade: “o alto índice de depressão e suicídio na adolescência”. Revela que as pessoas estão alheias ou ignoram as estatísticas sobre essa questão. Notícias como essas: “Suicídio já mata mais jovens que o HIV em todo mundo; “Taxa de suicídio entre jovens cresce 30% em 25 anos no Brasil; “O suicídio agora é o que mais mata adolescentes no mundo”; deveria ser do conhecimento de todos os pais de crianças e adolescentes.

Geralmente, os adultos têm a mania de menosprezar os problemas vividos pelos adolescentes. Já ouvi pais dizerem assim: “Ele não tem motivo para estar depressivo, não é ele quem paga as contas, não tem meta para bater, só tem que estudar”. Quando agimos assim, ignoramos os desafios da adolescência. Vistos sob a perspectiva de um adulto, esses problemas parecem mesmo insignificantes, entretanto, para um adolescente, pode ser algo extremamente aterrorizador. Precisamos compreender que estão entrando em uma fase totalmente nova, desconhecida e cheia de incertezas. Sentem medo, insegurança, rejeição, desconfiança, entre outros sentimentos, e não conseguem se encontrar. Ao invés de receberem ajuda dos adultos, acabam recebendo críticas e sermões desprovidos de sabedoria. Muitos acabam cometendo o suicídio por não suportar mais a dor causada pela depressão, pela angústia e pela falta de esperança. Quando chegam ao suicídio, não estão pensando em acabar com a vida, mas sim em acabar com a dor. São nesses momentos que desafios como o da Baleia Azul são aceitos. Para nós, pode até ser um desafio idiota e sem sentido. Mas para quem já perdeu o sentido da vida e quer acabar com o sofrimento da alma, esse pode ser um último desafio.

Precisamos ser sensíveis às necessidades e desafios dos nossos filhos. Seja pai, mas não deixe de ser amigo. Abra a possibilidade para o diálogo. Procure entender o que eles têm a dizer, antes de falar alguma coisa. Não menospreze o sofrimento. Não pense que seu filho está imune a essa realidade. Se você fechar os olhos, que seja para orar, pedindo a Deus que os proteja desse mal, mas não para o perigo que eles estão correndo. Lembre-se do que o apóstolo Pedro escreveu: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8). Não vamos permitir que ele devore nossos adolescentes!

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Autor: Rev. Rogério Bernardes da Mota
Fonte: Boletim - Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia - Ano XXI - Nº 17
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Calvino e a Prosperidade

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A FÉ NÃO CONTEMPLA A PROSPERIDADE TERRENA, MAS A SALVAÇÃO E A VIDA ETERNA.

Ora, na benevolência divina, à qual dizemos que a fé contempla, entendemos que se obtém a posse da salvação e da vida eterna. Ora, se não pode faltar-nos bem algum quando Deus nos acolhe sob sua proteção, é suficiente segurança de nossa salvação que ele nos testifique o amor que nos tem. "Mostre ele sua face", diz o Profeta, "e seremos salvos" [Sl 80.3,7,19].

Do quê as Escrituras formulam esta síntese de nossa salvação: que, uma vez abolidas todas as inimizades, ele nos recebeu em sua graça [Ef 2.14,15]. Com isto dão evidentemente a entender que, uma vez que Deus esteja reconciliado conosco, não resta o menor perigo de que todas as coisas não nos sucedam bem. Portanto, a fé, aprendendo o amor de Deus, tem as promessas da vida presente e da vida futura [1 Tm 4,8], bem como a firme certeza de todas as coisas boas, a qual, porém, pode ser depreendida da Palavra.

Ora, por certo a fé não promete longevidade, nem honra, nem riquezas nesta presente vida, uma vez que nada destas coisas o Senhor quis que nos fosse destinado; pelo contrário, vivemos contentes com esta certeza: por mais que nos faltem muitas coisas que dizem respeito ao sustento desta vida, Deus, no entanto, jamais nos haverá de faltar. Mas, sua primordial certeza reside na expectação da vida futura que, pela Palavra de Deus, foi posta além de toda dúvida. Entretanto, quaisquer que sejam na terra as misérias e calamidades que esperem aqueles a quem Deus já abraçou com seu amor, não podem impedir que sua benevolência lhes seja a plena felicidade. Daí, quando queríamos exprimir a suma da bem-aventurança, mencionamos a graça de Deus, de cuja fonte nos emanam todas as espécies de bênçãos. E isto, a cada passo, se pode observar nas Escrituras: que somos encaminhados ao amor do Senhor que, vezes sem conta, trata não só da salvação eterna, mas até de qualquer outro bem nosso. Razão por que Davi canta: a bondade divina, quando é sentida no coração piedoso, é mais doce e mais desejável do que a própria vida [Sl 63,3].

Enfim, se tivéssemos tudo, segundo nosso desejo, mas vivêssemos incertos quanto ao amor ou ao ódio de Deus, nossa felicidade seria maldita, e por isso desditosa. Mas se Deus nos mostra seu rosto de Pai, até as próprias misérias nos serão para felicidade, pois se converterão em auxílio para a salvação.

Assim é que Paulo, enfeixando todas as coisas adversas, entretanto se gloria de que não somos por elas separados do amor de Cristo [Rm 8.34-39], e em suas preces sempre parte da graça de Deus, da qual emana toda prosperidade. De maneira semelhante, Davi contrapõe o favor de Deus a todos os temores que nos conturbam. "Se porventura eu andar em meio à sombra da morte, não temerei males, porque tu estás comigo" [Sl 23,4]. E sentimos sempre vacilar-nos o espírito, a não ser que, contentes com a graça de Deus, nela busquemos sua paz, profundamente arraigados no que lemos no Salmo: "Feliz é o povo cujo Deus é o Senhor, e a nação a quem ele elegeu por sua herança" [Sl 33,12].

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Autor: João Calvino
Fonte: CALVINO, João. As Institutas, Edição Clássica, Ed. Cultura Cristã, 2ª ed., 2006, vol. III, pp. 52-53.
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Confessionalidade na cultura da diversidade

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Como ser cristão confessional na cultura da diversidade?


Neste texto, “confessional” significa apegado às confissões doutrinais e, por conseguinte, éticas do Cristianismo que deflui da Reforma Protestante do século 16. Os cristãos reformados abraçam os credos ecumênicos (apostólico, niceno-constantinopolitano e atanasiano), a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster, a Primeira e Segunda Confissões Helvéticas, o Catecismo Belga, o Catecismo de Heidelberg e, mais recente, a Declaração de Cambridge. Incluo também, como “confessionais”, os que abraçam o novo calvinismo holandês preconizado por Herman Bavinck, Geerhardus Vos, Abraham Kuyper, Herman Dooyeweerd e Henderik Rookmaaker, e guardadas as devidas proporções, atualizado por Francis Schaeffer[1] e Nancy Pearcey. Tais confissões e proponentes formularam uma maneira de ler e interpretar a realidade consistente com a Bíblia e com as ciências e a cultura (com a vida prática). Minha convicção é de que, devidamente aplicado, este modo bíblico de lidar com as coisas que existem, abre espaço para a interação edificante com a diversidade.

Posso fazer uma pergunta idiota?

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Você alguma vez já falou algo idiota – algo realmente muito idiota? Você já disse algo tão idiota que você se encolhe só de lembrar? Todos nós fazemos isso vez ou outra, não é mesmo? Poucas coisas são mais dolorosas do que perceber que fomos ignorantes ou arrogantes por meio de afirmações estúpidas ou por perguntas idiotas. Acho que a única coisa mais dolorosa é quando a nossa idiotice é respondida com raiva, ultraje ou zombaria. Essas coisas se somam com a dor e a vergonha do que fizemos.

A humilhação por meio das mídias sociais é a nova força de justiça, um meio de envergonhar alguém que o ofendeu até ele ficar quieto ou se arrepender. Jon Ronson apropriadamente comparou isso aos pelourinhos medievais ou às estacas nas praças coloniais. Ações ou palavras maliciosas são respondidas com um dilúvio de tuítes furiosos, mensagens ofensivas no Facebook, postagens nervosas nos blogs e memes sarcásticos. Algumas ações e comentários são tão perigosos e escandalosos que merecem repreensões imediatas que os desqualifiquem. O problema é que a resposta que damos contra a pior maldade também pode ser a resposta que damos contra alguém que fala ou faz algo meramente idiota. Nós acabamos por dar a mesma resposta como punição a duas coisas muito diferentes.

Jesus sabia algo sobre estupidez, não é verdade? Durante toda sua vida ele teve de lidar com intermináveis afirmações e perguntas estúpidas. Pense em todas as besteiras que as pessoas falaram para ele: o infame jovem rico, que resumiu propriamente toda a lei e ousou falar “Mestre, eu tenho guardado todos esses mandamentos desde a minha juventude”. Ele basicamente disse: “eu nunca pequei contra ti nem contra o Pai ou contra alguém que tu criaste”. Ignorante. “E Jesus, fintando-o, o amou…”. Jesus respondeu com amor e compaixão (Marcos 10.21). A mãe de Tiago e João se aproximou de Jesus em favor de seus filhos e pediu que eles tivessem um lugar proeminente no reino. Tola. Mas Jesus, gentilmente, respondeu, perguntando: “Não sabeis o que pedis. Podes vós beber o cálice que eu estou para beber?” (Mateus 20.22). Marta resmungou uma acusação: “Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha?” Duplamente besta. “Marta, Marta”, suavemente ele respondeu (Lucas 10.40-41).

Jesus respondeu dessa maneira porque essas pessoas eram sinceras, mesmo sendo sinceramente ignorantes. Elas eram tolas, desinformadas, não sabiam de coisas que deveriam saber. Mas não estavam sendo malévolas. Ele tinha espaço para reprovações, claro, mas as suas reprovações estavam reservadas para religiosos hipócritas, para pessoas que ele era singularmente capaz de identificar e confrontar como sendo inimigos de sua obra. Mas, com os outros, ele era gentil e cuidadoso. Ele permitia que dissessem tolices. Para amigos e estrangeiros, Jesus tratou a idiotice com bondade.

Veja, eu acho que Jesus sabia algo: o caminho para a sabedoria está cheio de evidências de nossa inata insensatez. Antes de aprendermos a dizer coisas sábias, falamos coisas tolas. Antes de aprendermos o que é sábio e verdadeiro, inevitavelmente esbarramos no que é estúpido e falso. Nós temos pensamentos idiotas. Fazemos perguntas bobas. Afirmamos asneiras. É isso que fazemos quando estamos aprendendo.

As mídias sociais são o meio pelo qual nos comunicamos hoje. Também é por onde aprendemos. É o modo que encontramos novas ideias, a forma como as discutimos, a maneira como afirmamos nossas convicções. O que lemos nos jornais ou vemos na televisão nós levamos para o Facebook, blogs e Twitter. Lá, nós as ponderamos, avaliamos e decidimos se acreditamos ou não nelas. Mas imagino o tanto de coisas que não falamos e não perguntamos por medo da resposta. O quanto poderíamos saber e o quanto poderíamos discutir se o medo de sermos insultados não nos apartasse de explorar novas ideias ou de fazer novas perguntas? Sobre o que poderíamos falar, o que poderíamos aprender se tivéssemos a garantia da graça de poder fazer perguntas idiotas?

Nós devemos aprender com Jesus o valor de se estender graça às pessoa que falam coisas que soam ofensivas aos nossos ouvidos. Devemos ser pacientes, bondosos e perdoadores. Devemos ser realistas. Antes de esperarmos que as pessoas falem coisas sábias, primeiro devemos deixá-las falar coisas que são tolas.

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Autor: Tim Challies
Fonte: Challies
Tradução: Victor Bimbato
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Páscoa: a pessoa e a ressurreição de Cristo

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Neste próximo Domingo iremos nos reunir como o povo do Rei ressurreto que se agrada em louvá-Lo e iremos celebrar a vitória triunfante do Rei Jesus, que morreu pelos nossos pecados, de acordo com as Escrituras, que foi sepultado e de lá saiu três dias depois, triunfante e vitorioso sobre o pecado e a morte.

Pecado, Graça Comum e Significado: Semântica pós-lapsária na Filosofia da Ideia Cosmonômica

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O objetivo deste texto é demonstrar a formulação Dooyeweerdiana sobre a questão do significado metafísico após a Queda adâmica. 

Herman Dooyeweerd (1894-1977) inicia sua Obra filosófica madura (A new critique of theoretical thought – NC) com uma crítica transcendental do pensamento teórico. O conteúdo restante do primeiro Volume é uma extensa crítica a história do pensamento teórico Ocidental. Os outros dois Volumes são articulações positivas de sua filosofia, principalmente sua ontologia com a inovadora ideia da teoria dos aspectos modais.

Em relação ao Significado, Dooyeweerd diz: “Significado é o ser de tudo o que é criado, até mesmo da natureza da nossa própria identidade, tendo raízes religiosas e origem Divina” (NC, Vol I. p. 4; TA). Portanto, dentro de um quadro teórico bíblico de “Criação-Queda-Redenção”, Dooyeweerd não afirma que a realidade meramente “possui” significado, ou que o significado é atribuído por um eu subjetivo humano, que em sua arbitrariedade postula significa à criação, como se essa fosse uma espécie de “tabula rasa” ou uma lousa em branco esperando alguém produzir significado em seu esvaziamento semântico. Pelo contrário, Dooyeweerd diz que as coisas SÃO significado, e a Origem desse significado é o próprio Deus.

Isso levanta uma problemática dentro dos próprios pressupostos de Dooyeweerd. Se as coisas são significado, e o pecado afetou drasticamente a criação, como fica a relação Significado-Realidade após essa virada pecaminosa?

O filósofo reformado Holandês responde a esse problema no segundo Volume do NC (§4). Dooyeweerd diz que, no tocante a sua natureza humana, Cristo é a raiz da criação renascida, e como tal, a própria plenitude do Significado, o fundamento criacional do significado em toda a realidade temporal. Mas nosso mundo temporal, em sua raiz religiosa apóstata está debaixo da maldição de Deus e da maldição do pecado.

HD continua seu raciocínio dizendo que há uma antítese radical no lado-Sujeito da raiz do cosmo terreno, podendo essa antítese ter sido reconciliada na redenção de Jesus Cristo. Mas o problema continua, pois na nossa realidade temporal, a implacável luta entre o reino de Deus e o reino das trevas prosseguirá até o fim do mundo. O pecado afetou nosso Cosmo em sua própria raiz e em sua refração temporal de significado. Isso não seria motivo suficiente (ou final) para diferenciarmos Significado da Realidade? A antítese radical entre o Reino de Deus e o das trevas não nos compele a aceitarmos o dualismo último entre a realidade e o significado? Será que a realidade pecaminosa ainda é significado?

Para HD, esse é o problema mais profundo da Filosofia Cristã, que necessariamente deve se apoiar na revelação Divina se não quiser cair na atitude da Filosofia imanente. Portanto nossa única garantia de resposta deve provir das Escrituras. Não sabemos como seria a realidade se ela fosse plenamente afetada pelo pecado irrestritamente. Mas graças a Deus esses efeitos desimpedidos não existem em nosso Cosmo terreno. O que nós sabemos é que a totalidade dos efeitos do pecado não rompe a dependência da criação com seu Criador, que em Sua justiça Divina, irá expressar sua reprovação a essa criação de um modo terrível e que, nesse processo, a realidade depravada somente pode mostrar seu modo de ser criacional como Significado. Será Significado em sua apostasia absoluta debaixo da maldição da ira de Deus, não podendo ser nessa própria condição, uma realidade sem significado.

A realidade pecaminosa permanece significado apóstata debaixo da lei e da maldição de Deus. No nosso Cosmo temporal a Graça Comum de Deus se revela (como Kuyper reiteradamente afirma) na preservação da ordem desse Cosmo. E é nessa Graça Preservativa que a refração temporal de significado permanece intacta. 

Nosso mundo caído não pode manter seu significado aparte de Cristo e da Graça comum. Portanto, para concluirmos, Dooyeweerd diz que não há nenhuma parte do espaço, não há nenhuma vida temporal, nenhum movimento temporal nem energia temporal, nenhum poder, sabedoria, beleza, amor, fé ou justiça que essa realidade pecaminosa pode manter como sua própria propriedade sem Cristo Jesus, em Quem a realidade encontra sua plenitude de significado e através de Quem Deus nos dará todas as coisas. O mundo temporal resiste à destruição do poder maligno do pecado pela Graça comum de Deus em Cristo.    
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Autor: Willian Orlandi
Divulgação: Bereianos
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Refutação ao livro “A Cabana”

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Introdução 

Um dos livros que mais tem sido lido e vendido nestes últimos meses é “A Cabana” de William P. Young.[1] Um livro que se propõe a ajudar a entender a trindade e o sofrimento tem sido amplamente aceito no meio evangélico. Uma rápida pesquisa na internet é possível encontrar pessoas testemunhando como o livro ajudou a suportar o sofrimento e a entender quem é Deus. Alguns chegam até a afirmar que tiveram um encontro real com Deus somente depois de ter lido o livro.

A questão a ser tratada neste trabalho é se a visão apresentada neste livro de fato é bíblica. Será apresentado os principais pontos explorados pelo autor e analisado à partir de textos bíblicos. Este trabalho tem o objetivo de mostrar que tipo de influência os leitores tem recebido deste livro. 

O remédio do evangelho para a homossexualidade

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A Bíblia revela que o sexo foi criado por Deus e é bom. Foi ideia dele. Logo as primeiras palavras de Deus registradas e dirigidas à humanidade encapsulam os ensinamentos da Bíblia sobre o sexo: “
Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gênesis 1.28). Este mandamento positivo demonstra que o sexo foi designado para glorificar a Deus, fortalecer o vínculo entre marido e mulher, ser experimentado exclusivamente entre um homem e uma mulher no relacionamento conjugal e propagar a raça humana.

Neste lado da queda, o sexo e a sexualidade são distorcidos em graus menores ou maiores. No entanto, hoje existe a controvérsia intensa sobre a homossexualidade nos círculos evangélicos e, cada vez mais, nas igrejas reformadas também. Não somente a homossexualidade é frequentemente apresentada como boa, mas também é apresentada como algo a ser buscado com a bênção de Deus. É alarmante que a aceitação do comportamento homossexual entre evangélicos professos esteja aumentando. Nós ouvimos de algumas pessoas que o tipo de relações homossexuais que vemos hoje (amorosas, monogâmicas) não são abordadas nas Escrituras. Embora essa tendência pareça continuar, essas visões revisionistas devem ser rejeitadas pelos seguidores de Jesus Cristo.

Quando alguém amado vai para Jesus

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Mais cedo ou mais tarde todos teremos que enfrentar a morte de alguém querido. Cristãos se deparam com essa realidade mais do que os outros porque pertencemos a uma família maior: a igreja. No corpo de Cristo, Deus nos abençoa com muitos irmãos, irmãs, pais e mães – todos queridos e amados cujo vínculo espiritual conosco nunca será cortado (Marcos 3.31-35).

Todos nós temos que contar com a morte. Algum dia todos vamos confrontar nosso próprio fim, mas ao longo do caminho vamos também testemunhar amigos amados e família partirem desta vida para a próxima. A morte é um inimigo real – um inimigo aterrador. “O último inimigo a ser destruído é a morte.” (1 Coríntios 15.26).

Eu vi pessoas morrerem na minha frente. Eu perdi amigos, jovens e velhos. A morte é sempre feia. A morte sempre traz sofrimento. E não há nada de errado em entristecer-se diante da morte. O próprio Jesus chorou diante da morte de seu amigo Lázaro (João 11.35). Deus nos criou de tal forma que a morte é antinatural para nós. Fomos feitos para viver.

Mas quando perdemos alguém amado que é um crente, precisamos nos lembrar de uma verdade importante que irá nos ajudar a lidar com a perda. A tristeza certamente vai nos atingir, mas pela graça de Deus, o sofrimento não vai nos derrotar. Esta verdade vai ao coração da fé cristã e nos oferece discernimento quanto à pessoa de Cristo, o Deus-homem.

Jesus quer você

Em João 17.24, lemos palavras que, em uma reflexão cuidadosa e cheia de oração, deveriam estar em nossos corações quando alguém amado morre. Considere cuidadosamente a linguagem:

Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo.

Como um homem, Jesus tem certos desejos. Ele tinha desejos na terra, e ele ainda tem desejos no céu. Aqui, Jesus tem um desejo que ele faz conhecido ao Pai. Ele fala, como ele frequentemente fez antes, daqueles que o Pai lhe deu (veja João 6.37, 39; 10.29; 17.6,9). Aqueles que o Pai deu a Cristo são as próprias ovelhas por quem o Bom Pastor dá a vida (João 10.11). Jesus ora ao Pai por suas amadas ovelhas na Oração Sacerdotal de João 17, e ele continua a interceder por elas até o dia de hoje (Romanos 8.34). 


E o que Jesus deseja?

Ele deseja que o seu povo esteja com ele. Jesus é completamente feliz e satisfeito reinando do céu, mas de acordo com sua oração em João 17, ele ainda tem um certo desejo não atendido: que seu povo esteja com ele no lar que ele já preparou para eles (João 14.2-4).

Nós podemos perder, mas Jesus ganha

Quando um irmão ou irmã no Senhor morre, devemos lembrar primeiro e principalmente que o Pai respondeu a oração de Jesus. Deus é soberano sobre as mortes de nossos amados, e ele tem propósitos que nós podemos nunca compreender (Deuteronômio 32.39, Tiago 4.15), mas podemos nos agarrar à verdade de que Jesus orou ao seu Pai para trazer seu povo para casa. Quando um crente morre, o Pai está atendendo o pedido que seu Filho fez quando orou, mais ou menos dois mil anos atrás, na noite anterior à entrega de sua vida por seu povo.

Podemos pelo menos dizer isso: Quando alguém amado se vai, Jesus ganha muito mais do que nós perdemos.

Sim, nós perdemos. Nós nunca mais vamos compartilhar daquela doce comunhão com nosso irmão ou irmã nesta vida. A magnitude da perda facilmente frustra nossas palavras. Mas a perda nunca vai além das palavras de Jesus: “Pai, eu desejo que eles também, os que tu me deste, estejam comigo para que vejam a minha glória…”.

Alegria eterna além do túmulo

Jesus sabe que tem uma glória que vai muito além do que qualquer coisa que esse mundo possa oferecer. Ele sabe que um verdadeiro vislumbre dele vale mais do que milhões de mundos. Ele sabe que a visão de sua glória não vai deixar ninguém insatisfeito. Jesus quer que seus preciosos santos entre na verdadeira e eterna felicidade com ele.

Nós certamente experimentamos muitas alegrias nesta vida, mas nada pode ser comparado ao puro deleite da comunhão sem barreiras com Jesus. Somos destinados a uma alegria indizível em sua presença.

Uma resposta à oração

Quando você perde alguém amado no Senhor para o Senhor, você realmente perde – pelo menos por enquanto. Mas aquele irmão ou irmã ganha, assim como Jesus (Filipenses 2.20-23). Nós podemos derramar lágrimas o suficiente para encher baldes, mas a corrente de lágrimas correndo por nossas bochechas vão reluzir de alegria quanto percebermos que a morte de nossos amados não é nada menos do que uma resposta à oração de Jesus.

A morte de alguém amado no Senhor pode trazer um dos maiores testes à nossa fé. Mas podemos confiar que nosso amado está melhor lá com o Amado? Vamos crer que o Filho de Deus está colhendo os frutos de seu trabalho pelos pecadores? Se cremos, então nossa tristeza é uma tristeza piedosa, e Jesus vai converter nossa tristeza em alegria (João 16.20).

Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos.” (Salmo 116.15), e pode ser preciosa para nós também quando nos agarramos à esperança de que a morte nunca irá vencer (1 Coríntios 15.54-55). Jesus se entristeceu para que nós nunca tivéssemos que enfrentar uma tristeza sem esperança em face da morte.

No final, a morte é apenas uma resposta à oração de Jesus.

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Autor: Mark Jones
Fonte: desiringGod
Tradução: Daniel TC
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A Bíblia Aberta: Herança da Reforma

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Quando penso sobre a história do cristianismo, uma palavra sempre vem à mente: a palavra Zelo. O zelo pela Palavra de Deus que os cristãos tiveram para conservá-la cara e pura para que hoje pudéssemos conhecer o Caminho, a Verdade e a Vida Eterna. Mas percebe-se que o zelo varia no decorrer das épocas.

As Escrituras Sagradas são a pura e autêntica revelação da Palavra de Deus aos homens. Aos cristãos cabe o zelo de defendê-la, examiná-la, nela perseverar para que nos seja útil e nela nos seja revelado o caminho da Salvação.

O Zelo estava presente entre os apóstolos e a igreja apostólica quando perseveravam na doutrina. Mas os anos foram passando e o zelo dos cristãos diminuiu. Os homens, assim como Adão já fizera, ousaram ser iguais a Deus. Com as Escrituras fechadas passaram a promulgar "revelações", que se tornavam doutrinas. O zelo pela Palavra esvaziou e a ousadia em "revelar" chegou ao ápice quando as tornaram doutrina com a mesma autoridade da Bíblia, e, por vezes, até superior. Assim, aos poucos, a Bíblia fechada deu espaço às "revelações de doutrinas" promulgadas com fins humanos, pecaminosos e interesseiros atendendo aos anseios de poder e à astúcia política, chegando-se ao extremo de vender perdão dos pecados e o próprio céu como hoje se vende ingressos de cinema ou teatro.

Entretanto, a Palavra de Deus continuava viva e eficaz como espada de dois gumes. Ela não transformava corações e vidas porque estava fechada e inacessível às pessoas. Foi por causa dos interesses heréticos da cúpula da igreja que a Bíblia foi isolada do povo para que ninguém se "tornasse sábio para a Salvação" (1 Timóteo 3.15).

Mas a Igreja do Senhor Jesus tinha a promessa: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16.18). Deus sempre manteve homens fiéis às Sagradas Letras, e, ainda, em tempo oportuno, usou de forma especial seus homens de fé para colocar a Bíblia de volta ao Púlpito, tornando-a o centro da igreja cristã. Para tanto usou homens de diferentes épocas, culminando no Dr. Martinho Lutero, quando desencadeou-se o movimento que conhecemos como Reforma Protestante (31/10/1517).

Foi em Lutero que a Bíblia passou a ser um livro aberto para o povo, quando fez a tradução para a sua língua nacional (Novo Testamento, em 1521, e a Bíblia completa, em 1534). As Escrituras foram colocadas à venda através da recém descoberta imprensa, por um custo 280 vezes menor do que as Bíblias latinas manuscritas. Para Felipe Melachthon, "a tradução da Bíblia foi uma das maiores maravilhas que Deus realizou por intermédio de Lutero, antes do fim do mundo".

O crescimento e a força de retorno às Escrituras não foi mérito isolado da retórica, perspicácia e argumentação dos reformadores (Lutero, Melanchthon, Calvino, Zwinglio e outros) que deram o impulso da recristianização do povo. Foi a Bíblia aberta e compreensível que tornou o povo "sábio para a Salvação". É claro que existiu ambiente político, social e religioso favoráveis, mas a Bíblia aberta nas mãos do povo é que fez a diferença, pois a Bíblia é Deus falando aos corações das pessoas.

O que me preocupa é que hoje o filme começa a se repetir. Estão se proliferando instituições religiosas que, em nome da espiritualidade dos seus líderes, fecham as Escrituras para receberem revelações através da oração, da meditação ou diretamente do Espírito Santo. Em geral faltam critérios e não há quem "examine as Escrituras" para comprovar a veracidade. A Igreja Medieval também não teve a intenção de se afastar da verdade, mas quando a Bíblia foi fechada para serem ouvidas "palavras santas" ditas por "homens de fé", a igreja entrou em decadência. Hoje corremos este risco, pois, além de certas revelações tornarem-se ensino de igrejas, já surgem instituições que detêm ao seu líder o privilégio do contato com Deus e a revelação a ser seguida. Isto, sem contar que muitas doutrinas são ensinadas sem qualquer fundamento bíblico.

Amados pastores e leigos em geral, a nossa preocupação não questiona o poder do Espírito Santo e suas manifestações, pois isto é bíblico, mas chamamos a atenção ao que se faz e atribui ao Espírito Santo para alimentar poder e pensamento de homens. O Espírito, que continua o mesmo, não contradiz a revelação dada à cristandade – A Bíblia. Surgem doutrinas e preceitos sem fundamentação bíblica, ditados em nome de revelações sobrenaturais. Penso que se evidencia a advertência do apóstolo Paulo: "Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho" (Atos 20.29). A Bíblia fechada e homens loquazes são instrumentos importantes para Satanás perturbar a igreja cristã.

Zelemos pela revelação Bíblica, devolvida ao povo com a Reforma; ela é a Herança dos Céus para a Salvação da Humanidade (Jo 20.30,31). Nesta obra não estamos sozinhos nem isolados, mas esta é uma obra própria de Deus para que as portas do inferno jamais prevaleçam contra a Igreja. O discernimento é um Dom de Deus que ele nos dará para o bem da igreja.

Para nós dirige-se a Palavra: "Vigiai e Orai" (Mateus 26.41) e a promessa: "Estarei convosco" (Mateus 28.20).

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Autor: Rev. Airton S. Schroeder
Fonte: Presbiterianos Calvinistas
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