1
Coríntios 1.8 – “.... o qual também vos confirmará até o fim,
para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo.” (ARA)
Filipenses
1.6 – “Estou plenamente certo de que aquele que começou a boa obra (a
obra da salvação) em vós há de completá-la até o dia de Cristo
Jesus.” (ARA)
Efésios 1.13-14 – “Nele, quando vocês ouviram e creram na
palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados
com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a
redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória.” (NVI)
Podemos
chamar o ato de Deus “guardar” todo aquele pelo qual Cristo morreu e ressuscitou
de perecer eternamente de “preservação dos eleitos”. O cristão, em si mesmo,
não tem o poder de se manter firme em perseverança a vida toda, haja vista que
este possui debilidades em seu caráter e, todavia, está sujeito a cair em
desânimo, em fraqueza espiritual e em pecado, assim como Davi e Pedro caíram,
mas, contudo, foram restaurados por Deus (veja 1 Cor 10.12; Mt 26.41; 2 Cor
12.9-10; Hb 7.28a). Portanto, Deus é quem age no processo da preservação
preservando os seus da apostasia, fazendo com que eles perseverem até o fim na
sua presença (veja Jo 17.12, 15, 20, 24).
2
Coríntios 1.21-22 – “Ora, é Deus que faz que nós e vocês
permaneçamos firmes em Cristo. Ele nos ungiu, nos selou como sua
propriedade e pôs o seu Espírito em nossos corações como garantia do que está
por vir.” (NVI)
Ronald Hanko
atesta que Deus preserva a nova vida da regeneração que está nos eleitos,
como a semente de toda a sua salvação (1 Jo 3:9). Ao preservar isso, ele também
preserva a fé e obediência deles, de forma que continuem a crer e a
guardar os mandamentos de Deus, embora imperfeitamente. Colocando de uma forma
simples: Deus preserva a sua obra de graça em seu povo (Sl 90.17; Sl 138.8).48
Por outro
lado, o eleito também age nesse processo de preservação de modo responsável,
sem nenhuma coerção da parte de Deus fazendo a parte que lhe cabe, ou seja,
“perseverar”. A Escritura nos exorta acerca da responsabilidade que temos de
perseverar na fé, na obediência aos mandamentos de Deus e na comunhão da
igreja. Senão vejamos:
1
Coríntios 16.33 – “Vigiai, permanecei firmes na fé, portai-vos
corajosamente, sede fortes.” (Almeida Século 21)
João 8.31 – “Disse,
pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na
minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos...” (ARA)
Hebreus
10.25, 35; 2.1 – “Não deixemos de congregar-nos como
é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que
o dia (a segunda vinda de Cristo) se aproxima. Não abandoneis, portanto, a
vossa confiança, ela tem grande galardão. Por esta razão,importa que nos
apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos
desviemos.” (ARA)
Todavia,
o cristão é quem persevera, e não Deus quem persevera para o cristão. Deus
preserva o cristão em perseverança pelo seu poder e graça enquanto o cristão
persevera! Estas duas verdades, vistas de modo separado, podem até se
contradizer, mas, unidas, formam o preâmbulo entre a Soberania de Deus e a
responsabilidade humana [uma vez que o cristão não é “livre” nas suas
atitudes, mas responsável de acordo com os propósitos de Deus, e nunca fora do
seu controle Soberano; ou seja, daquilo que foi determinado por Ele que
aconteça] que jamais se contradizem. Observe um exemplo desse preâmbulo
enfatizado por Paulo em (Fp 2.13).
A Confissão
de Westminster, no capítulo 17, ressalta:
Os que
Deus aceitou em seu Bem-amado, eficazmente chamados e santificados, pelo seu
Espírito, não podem cair do estado de graça, nem total nem finalmente; mas com
toda certeza, hão de perseverar nesse estado até o fim e estarão eternamente
salvos.
Aplicação
Dizer
que o cristão pode perder a sua salvação, além de ser uma falácia, seria o
mesmo que dizer que a obra redentora de Cristo foi imperfeita e ineficaz, visto
que o crente pelo qual Cristo morreu e ressuscitou, é passível de perder a sua
salvação, caso não persevere em obediência a Deus até o fim. Entretanto, mesmo
diante de todo o conteúdo em pauta, muitos cristãos ainda podem contestar, isso
devido à falta de entendimento da questão da preservação dos eleitos, ou por
serem obstinados, com o seguinte argumento: E quanto aquele “crente” que esteve
na comunhão da igreja com os irmãos durante um tempo e foi embora, se desviando
da fé cristã e retornando a vida de antes, ou seja, uma vida na prática
deliberada do pecado? Este “cristão” que se desviou perdeu a sua
salvação!
A
resposta para esta objeção é bem simples. Não há em toda a Escritura, tanto no
AT como no NT, um texto sequer que mostre, ainda que implicitamente, que o
crente pode perder a sua salvação. Os que tentam provar o contrário, se baseiam
numa hermenêutica equivocada dos textos que destacam a soteriologia (doutrina
da salvação). Contudo, o que vemos tanto no AT como no NT, são exemplos de
“falsos crentes” que não perderam a sua salvação, mas que nunca foram
salvos. Estes aparentavam serem pessoas convertidas, porém nunca se converteram!
Dentre estes, temos no AT os filhos de Eli – Hofni e Fineias, que eram sacerdotes,
ou, melhor dizendo, “falsos sacerdotes”, assim como vemos hoje muitos “falsos
pastores” (1 Sm 2.12-17, 22) e Saul (1 Sm 13.13-14; 15.10-11, 22-23; 16.14).
No NT, temos dois grandes exemplos de falsos crentes, a saber, Judas Iscariotes
(Jo 6.70-71; 13.10-11; 18) e Himineu e Alexandre, que apostataram da fé (1 Tm
1.18-20). Portanto, concluímos que, uma vez salvo (o verdadeiro cristão), salvo
para sempre!
b) Os eleitos são guardados pelo poder de Deus através
da fé.
Se os eleitos são guardados pelo poder
de Deus de perderem a salvação, todavia, é pela fé que eles são guardados. Não
obstante a fé salvadora é um dom de Deus (Ef 2.8), e este dom não é dado a
todos (2 Ts 3.2), somente aos eleitos destinados para a vida eterna como o
fruto da eleição (At 13.48; Tt 1.1) e como o resultado da regeneração operada
pelo Espírito Santo (1 Jo 5.1). Aqueles que creem em Cristo como Filho de Deus,
Deus e salvador, só creem porque primeiro foram eleitos por Deus para a
salvação, chamados pelo evangelho e, em seguida, regenerados antes de crer. É
impossível crer antes da regeneração devido ao estado de morte espiritual e de
incapacidade em que o homem se encontra para buscar a Deus (Rm 3.10-12; 1 Cor
2.14).49 Desse modo, entendemos que a regeneração precede a fé, ou
seja, a fé é a resposta da regeneração.
Via de
regra, a fé não é a causa meritória da salvação, como se a pessoa, a parte de
Deus, decidisse em si mesma crer. Absolutamente não! A fé é o agente da
salvação; ou seja, é o meio para a salvação dos eleitos. Deus, o Pai, nos
habilita a irmos até Jesus através do ouvir a pregação do evangelho, tanto na
igreja como pela TV, pelo rádio, pela internet ou pela própria leitura das
Escrituras. Sendo assim, a capacidade de crer em Cristo vem de Deus, conforme o
próprio Jesus disse:
João
6.65 – “...ninguém pode vir a mim, a não ser que isto (a
capacidade pela fé vs.64) lhe seja dado pelo Pai.” (NVI)
Apesar de ser Deus que capacita o homem a
crer em Cristo, dando-lhe o dom da fé mediante a regeneração do espírito que
produz a fé através da pregação ou leitura do evangelho, contudo, o homem tem a
sua tarefa a cumprir, isto é – crer! Deus concede o dom da fé para o homem
crer. Não é Deus quem crê para o homem, mas o homem é quem age exercendo a sua
responsabilidade que é administrada por Deus após a regeneração (2 Cor 3.17; Rm
6.6, 18, 22) crendo em Cristo Jesus. Portanto, concluímos que não somos salvos pela
fé, antes, somos salvos por Cristo mediante a fé (vs.21). Não obtemos a
salvação pela fé, mas a fé é o meio pelo qual Deus aplica os benefícios da
salvação em nós.
Aplicação
A
perseverança do cristão na fé é a evidência do poder de Deus guardando-o não
somente de ser sucumbido pelo diabo, da permanência no pecado, mas, sobretudo,
da apostasia. “No momento da salvação, Deus ativa a fé e continua a
preservá-la. A fé salvadora é permanente; nunca morre (Mt 24.13; Hb 3.14)”.50
c) Os eleitos são guardados pelo poder de Deus através
da fé para a consumação da salvação.
No passado,
fomos salvos da condenação do pecado pela justificação (veja Rm 3.24-25;
5.1; 2 Tm 1.9; Tt 3.5). No presente, somos salvos do poder do
pecado pela santificação (veja Rm 8.1; 1 Cor 1.18; Fp 2.12-13; Hb 2.11;
10.10). No futuro, seremos salvos da presença do pecado pela
glorificação (veja Rm 8.17-23; 13.11; Fp 1.8; 2; Hb 10.36-37; 2 Pe 3.13;
Mc 10.28-30). Estes, portanto, são os três aspectos do tempo da salvação
descritos na Escritura.
Visto e
entendido a salvação desta maneira, por qual motivo então, os eleitos são
guardados pelo poder de Deus mediante a fé? Para a consumação da salvação que
se dará na segunda vinda de Cristo. O termo salvação aqui é
sinônimo de herança (vs.4). Ambas as palavras ressaltam a
salvação que está guardada e que ainda há de ser revelada no futuro. Simon
Kistemaker acentua que estamos na expectativa exultante de tomar posse da nossa
salvação. Mesmo quando experimentamos a bondade de Deus por meio da salvação em
princípio, sabemos que a plenitude de nossa herança será conhecida a seu tempo
(Hb 1.14).51
Não
obstante, o termo preparada enfatiza a salvação que foi planejada
na eternidade no conselho trinitariano (das três pessoas da trindade) e
executada por Cristo mediante a sua obra de redenção. O verbo grego revelar αποκαλύπτω (apokaluptõ),
significa tirar o véu, mostrar, fazer conhecer. Este verbo está no uso
acusativo, e refere-se à salvação futura que o crente aguarda (Rm 8.18; 1 Pe
5.1). Certamente este véu será tirado quando Jesus retornar em glória para nos
dar a salvação em toda a sua plenitude. Todos verão a herança da salvação
quando esta se manifestar, porém, somente os eleitos tomarão posse dela (Mt
25.32-46). A expressão último tempo denota o tempo do fim que
se dará com a segunda vinda de Cristo onde a nossa salvação será consumada.
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