O teólogo arminiano Roger Olson postou uma rápida questão para seus interlocutores calvinistas (seja quem for estes):
“Aos meus interlocutores calvinistas eu pergunto: se o livre arbítrio como escolha não causada é logicamente incoerente, o que dizer sobre a decisão de Deus de criar o mundo?”
O Dr. Olson aparentemente acha que isto levanta um problema para os calvinistas, mas eu realmente não tenho certeza por quê. A ideia, presumivelmente, é que a decisão de Deus em criar foi não causada e, portanto a ideia de uma escolha não causada deve ser logicamente coerente. Mas a questão tem várias suposições problemáticas por trás dela.
Em primeiro lugar, poucos defensores contemporâneos do livre arbítrio libertariano (LFW) admitiriam que isto envolva escolhas não causadas. Eu suspeito que a maioria dos filósofos cristãos hoje que sustentam o livre arbítrio libertariano aceitam alguma versão do agente causal. Mas nesta visão, as escolhas livres não são não-causadas; elas são causadas pelo agente (sem causa suficiente antes). Se o Dr. Olson pensa que o livre arbítrio libertariano (LFW) envolve escolhas não causadas (como ele parece crer, dada a forma como ele coloca a questão) então eu diria que ele está em uma minoria até mesmo entre seus companheiros libertários.
Mas deixemos essa questão de lado. O principal problema aqui é que os calvinistas não precisam estar comprometidos com a ideia de que o livre arbítrio libertariano é logicamente incoerente. Sim, há alguns calvinistas que têm esta visão. Mas ela não é implicada pelo calvinismo propriamente dito. Um calvinista pode consistentemente sustentar que o livre arbítrio libertariano é uma ideia coerente, mas que ela na verdade não é esclarecida (isto é, criaturas poderiam ter tido livre arbítrio libertariano, mas na verdade não têm).
Na verdade, um calvinista pode ir mais longe e dizer que enquanto o livre arbítrio libertariano propriamente dito pode ser coerente (isto é, não há nada incoerente com a ideia de livre arbítrio libertariano) é necessariamente falso que quaisquer criaturas têm livre arbítrio libertariano. Ele pode sustentar (como muitos calvinistas fazem) que o livre arbítrio libertariano humano é incompatível com a onisciência divina ou providência divina meticulosa. E se Deus possui seus atributos de onisciência e soberania essencialmente (isto é, ele não poderia falhar em possuir aqueles atributos) então o livre arbítrio libertariano deve ser impossível no sentido lógico amplo: não há mundo possível no qual as criaturas tem livre arbítrio libertariano. (Isto não quer dizer, é claro, que as criaturas não poderiam ter livre arbítrio em algum outro sentido significante). Mas isto não se segue a partir da afirmação de que o livre arbítrio libertariano humano é logicamente impossível que o livre arbítrio libertariano propriamente dito é logicamente incoerente. O calvinista poderia consistentemente sustentar uma das seguintes visões:
1. O livre arbítrio libertariano é logicamente coerente, e Deus tem livre arbítrio libertariano, e necessariamente nenhuma criatura tem.
2. O livre arbítrio libertariano é logicamente coerente, mas Deus não tem livre arbítrio libertariano, e necessariamente nenhuma criatura tem.
Então, é difícil ver por que os calvinistas deveriam estar abalados pela pergunta de Olson. Ele relata uma troca de E-mail com John Frame na qual (como ele recorda) ele extraiu uma concessão do Dr. Frame no sentido de que o livre arbítrio libertariano deve ser coerente se nós admitimos que Deus faz escolhas livres. Mas por que nós deveríamos considerar tal concessão significante? Isto não levanta nenhum problema para o calvinismo.
Uma observação final. A pergunta de Dr. Olson também é pressuposta na hipótese de que nós devemos conceder que Deus tem livre arbítrio libertariano se nós afirmamos que Deus escolheu livremente criar. Mas esta hipótese não está além da questão também. Steve Cowan, por exemplo, argumentou que há alguns problemas com construir a liberdade divina nos termos libertários padrão. Portanto esta hipótese não pode simplesmente ser presumida e passar despercebida. Mas ainda que ela produza a ideia de que Deus tem livre arbítrio libertariano, isto não deveria fazer nenhum calvinista se envergonhar. Os calvinistas têm muitas outras boas razões para negar que as criaturas tem livre arbítrio libertariano sem ter que argumentar que o livre arbítrio libertariano propriamente dito é logicamente incoerente.
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Tradução: Francisco Alison Silva Aquino
Via: Pelo Calvinismo
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