Argumentos para provar a perseverança dos santos



Por Thomas Watson


Provamos por meio “da verdade de Deus”. Deus tanto declarou quanto prometeu.

a. A verdade de Deus

i. Em sua Palavra Deus declarou: “o que permanece nele (no regenerado) é a divina semente” (lJo 3.9), “a unção que dele recebestes permanece em vós” (1Jo 2.27).

ii. Em sua Palavra Deus prometeu. A verdade de Deus, a pérola mais ao oriente de sua coroa, é penhorada na promessa. “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão” (Jo 10.28), “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jr 32.40). Deus ama tanto seu povo que não o abandonará, eles o temerão tanto que não o abandonarão. Se um crente não perseverar, Deus quebrará sua promessa. “Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias” (Os 2.19). Deus não desposa seu povo e depois se divorcia dele, ele odeia o repúdio (Ml 2.16). O amor de Deus aperta o laço de união conjugal tão fortemente que nem a morte nem o inferno podem rompê-lo.

b. O poder de Deus

O segundo argumento é o poder de Deus. O texto diz: “Sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação” (1 Pe 1.5). Cada pessoa da Trindade tem uma participação em fazer o crente perseverar. Deus, o Pai, estabelece (2Co 1.21), Deus, o Filho, confirma (1 Co 1.8), Deus, o Espírito Santo, sela (Ef 1.13). Assim, esse é o poder de Deus que nos guarda. Não somos guardados pelo nosso próprio poder.

Os pelagianos defendiam que uma pessoa, pelo próprio poder, venceria a tentação e perseveraria. Agostinho se opõe a eles, dizendo: “O homem ora a Deus para perseverar, o que seria absurdo se tivesse poder para perseverar por si próprio. E, se todo o poder fosse depositado no ser de um homem, então, por que um não perseveraria tão bem quanto outro? Por que Judas não perseverou como Pedro?” Logo, não é por nenhum poder que somos guardados, a não ser o poder de Deus. O Senhor guardou Israel para que não perecesse no deserto, até que os conduzisse a Canaã. O mesmo cuidado ele tomará - se não de uma maneira miraculosa, então de uma maneira espiritual ou invisível - para preservar seu povo num estado de graça, até os levar à Canaã celestial. Os pagãos representavam o titã Atlas¹ sustentando os céus para que não caísse. Podemos comparar o poder de Deus a esse Atlas, pois o poder de Deus sustenta os santos para que não caiam. Há uma discussão em tomo da possibilidade de um santo cair da graça como aconteceu com Adão. Mas defendo que a graça, pelo poder de Deus, não pode perecer.

c. O amor eletivo de Deus

O terceiro argumento é tomado do amor eletivo de Deus. Aqueles que Deus elegeu desde toda a eternidade para a glória não podem cair. Todo crente verdadeiro é eleito para a glória, portanto não pode cair da graça. O que pode frustrar a eleição ou fazer o decreto de Deus nulo? Esse argumento é firme como o Monte Sião, que não se abala. Alguns dos papistas defendem que aqueles que têm eleição absoluta não podem cair. “O firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem” (2Tm 2.19). O fundamento de Deus não é nada mais do que o decreto de Deus na eleição, e isso permanece firme. Deus não o alterará e outros não podem fazê-lo.

d. A união do crente com Cristo

O quarto argumento é tomado da união dos crentes com Cristo. Eles estão conectados a Cristo como os membros à cabeça pelos nervos e ligamentos da fé, de maneira que não podem ser separados (Ef 5.23). O que uma vez foi dito do corpo natural de Cristo é também verdade quanto a seu corpo místico: “Nenhum dos seus ossos será quebrado” (Jo 19.36). Assim como não é possível separar o fermento e a massa quando estão misturados e unidos, também é impossível para Cristo e os crentes serem separados, uma vez que foram unidos. Cristo e seus membros formam um corpo. Mas, é possível qualquer parte de Cristo perecer? Como pode Cristo perder qualquer membro de seu corpo místico e ainda continuar perfeito? Em resumo, se um crente for separado de Cristo, então, pela mesma regra, por que outros não? Por que não todos? Então, Cristo seria uma cabeça sem corpo.

e. O valor do resgate do eleito

O quinto argumento é tomado da natureza da compra. Um homem não dará dinheiro por uma compra que será perdida. Cristo morreu para que pudesse comprar seu povo para sempre: “Tendo obtido eterna redenção” (Hb 9.12). Você acha que Cristo teria derramado seu sangue para que pudéssemos crer nele por um período e então cair? Você acha que Cristo perderia sua compra?

f. A vitória do crente sobre o mundo

O sexto argumento é a vitória do crente sobre o mundo. O argumento fica assim: aquele que vence o mundo persevera na graça, um crente vence o mundo, portanto persevera na graça. “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5.4). Uma pessoa pode perder uma única batalha no campo, contudo vencer no final. Um filho de Deus pode perder uma única batalha contra a tentação, como aconteceu com Pedro, mas ao final ser vitorioso. Para um santo ser coroado vencedor e para o mundo ser conquistado por ele, deve perseverar.

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Nota:
1 - Atlas: Também chamados de Atlante - foi um dos titãs gregos, condenados por Zeus a suster o céu para sempre. Atlas foi o primeiro rei da mítica Atlântica.

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Fonte: WATSON, Thomas. A fé cristã, estudos no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo: Cultua Cristã, 2009. p. 323-325


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