Por Vicent Cheung
As pessoas frequentemente me perguntam sobre fatalismo. A maioria delas são pessoas educadas e educáveis que desejam conhecer o que o fatalismo e determinismo são, como eles diferem um do outro, e como minha posição difere do fatalismo.
Aqui estão dois exemplos:
(1) Gostaria de saber qual é a sua posição sobre fatalismo. Fatalismo e determinismo são a mesma coisa?
(2) Gostaria de saber como você diferenciaria o determinismo estrito do fatalismo. A razão pela qual eu pergunto isto é que me parece que a maioria dos calvinistas que sustentam o determinismo suave se esforça para evitar a acusação de serem fatalistas.
Então, há alguns que abertamente me acusam de ensinar fatalismo.
O seguinte será suficiente como minha resposta a ambos os grupos de pessoas.
Embora eu assuma que a maioria das pessoas teria isto em mente, mesmo que eu não mencionasse, por favor, lembre-se que por “determinismo”, estamos nos referindo somente ao determinismo teísta, teológico ou divino, e não ao determinismo naturalista ou científico, o último sendo a posição afirmada pela maioria dos ateus. Estamos considerando o controle que Deus exerce sobre a Sua criação, e não a relação entre ações humanas e causas naturais antecedentes (tais como genética e fatores ambientais).
Por algumas definições, os termos “determinismo” e “fatalismo” são similares.
Por exemplo, alguns dicionários ingleses definiriam estes termos de formas que falhariam em fazer uma clara distinção entre eles. Merriam-Webste é muito ambíguo para o nosso propósito, e Webster's New World Thesaurus considera as duas palavras como sinônimas. Certamente, mesmo aqueles que afirmam o determinismo “suave” e me acusam de ensinar o fatalismo, não aceitariam estas definições ambíguas, visto que então eles se tornariam, na melhor das hipóteses, “fatalistas suaves”.
As definições na literatura teológica e filosófica poderiam ser mais precisas.
Por “fatalismo”, eu me refiro ao ensino de que todos os eventos são pré-determinados por forças impessoais, a despeito de meios, de forma que, não importa o que uma pessoa faça, a mesma consequência resultará.
Por “determinismo”, estou especificamente me referindo ao determinismo teológico ou divino — estou me referindo ao ensino de que o Deus pessoal da Bíblia pré-determinou inteligentemente e imutavelmente todos os eventos, incluindo todos os pensamentos, decisões e ações humanas, predestinando assim tanto os fins como os meios para aqueles fins.
Estas não são definições privadas minhas, mas elas são consistentes com o uso comum na literatura teológica e filosófica.
Por exemplo, o Dr. Alan Cairns, um respeitado pastor e teólogo Presbiteriano, cuja ortodoxia é geralmente inquestionável, e que é ele mesmo um determinista “suave” (p. 186), define “fatalismo” da seguinte forma: “A teoria da necessidade inevitável; a filosofia oriental pagã de que todas as coisas são pré-determinadas por forças cegas e irracionais, e, portanto, não há como o esforço humano mudar algo” (Dicionário de Termos Teológicos; p. 176, “fatalismo”).
Agora, diante dos olhos de Deus, quem ousaria me acusar de ensinar que “todas as coisas são pré-determinadas por forças cegas e irracionais”? Fazer isso seria cometer o pecado de calúnia, e alguns têm realmente cometido este pecado contra mim por suas falsas acusações.
E quem ousaria me acusar de ensinar que todas as coisas ocorrem como pré-determinadas, a despeito dos meios? Eu afirmo que Deus determinou todas as coisas por imutavelmente pré-ordenar e diretamente controlar tanto os fins como os meios.
É perigoso falar de coisas que você não entende, e parece que aqueles que me acusam de ensinar o fatalismo são, de fato, ignorantes do que fatalismo realmente significa.
Assim como alguns Arminianos falsamente acusam os Calvinistas de ensinar o fatalismo, aqueles Calvinistas que afirmam o determinismo “suave” dão meia-volta e me acusam de ensinar o fatalismo, quando tanto estes Calvinistas como aqueles Arminianos não têm ideia do que o fatalismo significa. Estas pessoas não têm a cortesia de nem mesmo dar uma olhada na palavra num dicionário teológico para se certificar a que ela se aplica.
Quanto àqueles de vocês que são atenciosos e ensináveis — diferentemente daqueles que fazem acusações ignorantes e caluniosas, pretendendo ser eruditos quando não o são — eu não acuso vocês por perguntar sobre isto, visto que há muita falsa informação sendo circulada.
Tenha certeza que o que eu ensino, embora seja uma versão mais vigorosa do determinismo que você está acostumado a ouvir, é muito diferente do fatalismo. De fato, ele é tão diferente do fatalismo com o teísmo é diferente do paganismo e ateísmo, visto que eu afirmo que todas as coisas são determinadas por um Deus pessoal e soberano, não por “forças cegas e irracionais”.
Portanto, não permita que pessoas ignorantes te confundam ou te enganem.
Então, eu apontarei também algo que é comumente mal-entendido, a saber, algumas pessoas assumem que uma pessoa tem mais liberdade sob o “determinismo” e que as coisas são mais abrangentemente determinadas no “fatalismo”. Mas isto não é verdade.
O fato é que as coisas são mais determinadas no determinismo divino do que em qualquer outro esquema. Sob o “fatalismo” (como definimos apropriadamente acima), um evento é pré-determinado de tal forma que a mesma conseqüência resultará “não importa o que você faça”, isto é, a despeito dos meios. Mas sob o determinismo divino, embora “importe” o que você faça, “o que você faz” é também imutavelmente pré-determinado em primeiro lugar. E “importa” porque há uma relação definida entre “o que você faz” e o resultado, mas até mesmo esta relação é determinada e controlada por Deus.
(Do que as pessoas me acusarão agora? Eu não posso ser acusado de ensinar fatalismo, visto que estou dizendo que o fatalismo é muito fraco! Mas os caluniadores pensarão em algo...).
Assim, eu afirmo o determinismo divino e não o fatalismo, mas não pela razão que as pessoas algumas vezes evitam o fatalismo. Eu afirmo o determinismo não porque as coisas são menos controladas neste esquema — elas são mais controladas nele — mas eu o afirmo porque ele é a verdade revelada e racional.
Aproveitando, há aqueles que declaram que meu determinismo é “Spinozismo” (seguindo a filosofia de Spinoza). Relacionado a isto está a acusação de que meu ocasionalismo é panteísmo (veja A. A. Hodge em Esboços de Teologia). Mas isto também é estúpido e ignorante.
Se o panteísmo afirma que “tudo é Deus”, então isto significa que quando Deus age em qualquer objeto, Ele sempre está agindo em Si mesmo. Contudo, isto está muito longe do que eu afirmo. Antes, eu afirmo que Deus criou entidades espirituais e materiais que são outras além dEle, mas que Ele, todavia, as sustenta e controla completamente. Dizer que Deus controla X é muito diferente de dizer que Deus é X.
Portanto, assim como com a acusação de fatalismo, estas pessoas não têm idéia do que o panteísmo significa, e me acusar de ensinar explicitamente ou implicitamente o panteísmo não é nada senão calúnia.
***
Nota sobre o autor: Vincent Cheung é o presidente da Reformation Ministries International [Ministério Reformado Internacional]. Ele é o autor de mais de vinte livros e centenas de palestras sobre uma vasta gama de tópicos na teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como um sistema de pensamento compreensivo e coerente, revelado por Deus na Escritura. Ele e sua esposa, Denise, residem em Boston, Massachusetts. http://www.rmiweb.org
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 14 de Maio de 2005.
Fonte: Monergismo
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