Resumo
Van Til em sua originalidade concentra um desenvolvimento numa apologética centrada em Deus, sem transigir, continuando sua comunicação com os incrédulos e vivendo um cristianismo autentico. Sendo seu objetivo centrado na ideia pressuposicional, seu alvo era mostrar que a cosmovisão cristã é a única racional e objetivamente válida. O cerne da abordagem e conceito da apologética de Van Til possui duas características: o apologista para argumentar e provar que as reivindicações não são coerentes devem assim dominar o terreno do incrédulo. Em segundo lugar, o apologista convida, oferece ao incrédulo uma cosmovisão bíblica, o incrédulo reconhece o terreno cristão, então os argumentos são provados por um significado bíblico e assim são estabelecidos de forma coerente com as Escrituras.
Introdução
Cornelius Van Til (1895-1987), um dos apologistas mais originais e brilhantes do século 20, nasceu em Grootegast, Holanda (1895) e emigrou com a família para os Estados Unidos em 1905. Filósofo cristão e teólogo reformado, pastor da Christian Reformed Church e um dos professores fundadores do Westminster Seminary, em setembro de 1929, onde lecionou apologética até aposentar-se, em 1974. Ao longo da sua vida publicou 30 obras, entre as quais The Reformed Pastor and Modern Thought (1971), lançado no Brasil pela Cultura Cristã com o título O Pastor Reformado e o Pensamento Moderno (2010).
No tocante à disciplina, ele foi reformador, passando boa parte de seu tempo em desafiar as escolas existentes e articular a abordagem apologética que se tornou conhecida como “pressuposicionalismo”. Van Til sucintamente estabelece toda a sua filosofia em termos simples, mais profundos: "Hoje, de fato, estou convencido de que toda a história e a civilização seriam ininteligíveis para mim, não fosse pela minha crença em Deus. Isso é tão verdade, que me proponho a argumentar que se Deus não estiver na base de tudo, não se pode encontrar sentido em nada” [2].
Pressuposicionalismo – Cornelius Van Til
A verdade é que existe um abismo que separa as duas visões de mundo, entendendo essa distancia, incluindo que não há como estabelecer um terreno comum. A pergunta que nos resta a fazer é: Como então manter para a defesa da fé uma comunicação com os incrédulos? Que não tenha que recuar as exigências da sua própria posição? É nesse ponto que Van Til nos oferece uma linha que permite o dialogo apologético sem abrir mão de qualquer antítese das cosmovisões opostas.
Ele desenvolveu uma apologética que inicia em Deus, causando assim a comunicação com os incrédulos sem deturpar os conceitos firmados. De forma tão original e verdadeiramente teísta, foi acusado de fideísmo, se referido a uma visão que é conseqüência de uma atitude de fé, sem nenhum apoio de justificativas racionais ou evidencias. Tinha a critica das pessoas, como aquele que não podia discutir racionalmente em favor da fé cristã. Porém, isso não é coerente com esse apologista, nunca afirmou que os argumentos apologéticos, por si só pudesse conduzir alguém do ceticismo a fé. Não há como haver argumentos isolados e evidentes por si mesmo, fatos irracionais ou qualquer outra prova, pois ele acredita tudo isso pertencer a uma estrutura maior.
Denominando sua abordagem de "método indireto", afirmando que uma pessoa não pode ir direto aos fatos, como se fossem auto-evidentes. Van Til acredita que é preciso reconhecer seu fundamento e seguir a partir dele. É exigido que todas as idéias e argumentos sejam reconhecidos, partindo de uma idéia básica, uma estrutura que faz sentido. Sujeito a todo tipo de contestação quando essa estrutura não está em conformidade com a verdade das escrituras. Um dos exemplos preferidos de Van Til é a ideia que os incrédulos usam "óculos cor-de-rosa" para vê seu mundo, sendo assim visto por uma lente, através dela. Impossível a neutralidade, pois tudo em nossa consciência resulta de algum tipo de pressuposição, Van Til acredita com firmeza em fatos, provas, evidências, porém não de forma isolada.
Van til, em Christian Apologetics[3], diz: "O ponto de partida, o método e a conclusão estão sempre implicados em no outro". Ao ouvir isso temos uma antítese, a questão diante disso será essa: seria possível construir essa ponte, uma comunicação em que podemos concordar com algum ponto, mesmo tendo nossas estruturas opostas com os incrédulos? Van til faz uma de suas contribuições e afirma que a nossa constituição como imagem e semelhança de Deus, como a revelação natural que nos cerca, temos, portanto uma consciência de Deus. João Calvino chamou isso de "semente da religião[4]" que Deus semeou em todos os homens.
Para Van til, isso é significado por um ponto que temos de “imediato contato" com os incrédulos. "No fundo da sua mente todo homem sabe que é uma criatura de Deus e é responsável perante Deus" [5]. Então entendemos que é possível uma apelação para um profundo conceito de verdade sobre o conhecimento de Deus, no intimo de cada um, sem ceder a um terreno neutro comum.
Tudo se torna evidencia para a cosmovisão cristã, de acordo com a abordagem de Van Til, uma vez que tudo na criação proclama a obra de Deus, até nossa autoconsciência está enraizado no conhecimento de Deus. Essa abordagem é chamada "pressuposicional" porque procura ir além da superfície e desnudar as precondições do ponto de vista do outro, podemos concluir então que a pressuposição e evidencias constituem junto um argumento poderoso de evangelização para a verdade da revelação de Deus.
A fé subjetiva não é defendida por Van Til, nem o direito de ser diferente, porém a verdade objetiva, demonstrável é a mais coerente. Significando, portanto a visão de Van Til que é simplesmente bíblica, não é nem moderna nem pós-moderna. Quando olhamos a abordagem de Van Til do conhecimento, percebemos que não se inicia com noções filosóficas abstratas, o ponto de partida tem inicio com a teologia sistemática, destinada a ser uma estrutura das doutrinas bíblicas sobre Deus, a humanidade, a criação, a queda e a redenção em Cristo.
Van Til é justamente reconhecido por muitas idéias sensacionais, que perdem seu efeito se forem isoladas da grande ênfase dada à redenção, que permeia sua obra. Sua grande ênfase na antítese entre crença e descrença, o lugar da graça comum, sua oposição à “metodologia casamata” (construindo um caso, um passo de cada vez, do reino da “razão” para o reino da “fé”), esses elementos não podem se sustentar sozinhos. A história do evangelho contém todos esses elementos e torna-se uma forma solícita para evangelização o que de fato é apologética para Van Til.
Na sua cosmovisão cristã o que emana é o cristianismo bíblico, partindo de uma teologia reformada, com todos os argumentos pautados e referidos biblicamente. A crença de Van Til de que a “Apologética defende o cristianismo tomando como um todo”; o fato de que a “Apologética deveria ser perseguida numa forma aprendida”; o ensino que a “Apologética e Teologia são interdependente”; e que “Teologia e Filosofia não podem ser severamente separadas” (como oposto ao dogma Católico Romano); seu compromisso com a máxima Agostiniana de que “Razão e Fé estão ambas unidas em submissão pactual à Escritura”; sua alegada aderência ao testemunho reformado (como expresso na CFW) de que a “Escritura carrega sua própria evidência em si mesma”; sua afirmação da “impossibilidade da neutralidade” entre o cristianismo e outras cosmovisões; e suas “comparações e criticas dos métodos apologéticos”. Van Til analisa a afinidade da apologética com os principais conceitos da fé reformada, sobretudo, da teologia sistemática (teontologia, antropologia, cristologia, soteriologia, eclesiologia e escatoloia), pois é a disciplina que mais interage com a apologética. Ele observa que a cosmovisão cristã reformada é completamente distinta das demais, visto que é a única capaz de alcançar pleno significado para a vida. De acordo com Van Til, existem ofensas e equívocos nas teologias rivais e teorias não cristãs.
A cosmovisão cristã reformada tem para Van Til uma rica aproximação com a “filosofia cristã”, ainda que em um esboço genérico. Abas com a necessidade de apresentar uma visão da vida e do mundo de forma completa. Do mesmo modo que, a ciência e teologia estão associadas, de fato, sem as bases das pressuposições cristãs a ciência se torna inadequada, sendo assim, tanto a ciência como a filosofia dependem de pré-requisitos fornecidos pelo cristianismo para a correta interpretação do mundo e dos fatos da existência.
No centro da apologética “vantiliana”, há duas direções, dois princípios. Chamamos o primeiro de “método indireto”. Impossibilitando o dialogo com aqueles que na estão sob a mesma realidade de visão. Uma teologia natural para Van Til não é base para pressupostos, não tem como construir uma base em cima de uma teologia racional, deve-se ser revelacional. O segundo ponto é o da analogia. Para Van Til significa uma expressão que resume um modo de pensar que quer permanecer fiel a Deus o criador. Não existe a possibilidade de interpretar a realidade se não for pela revelação de Deus. Evitar a idéia que podemos raciocinar com a lógica exclusivamente humana. De acordo com Van Til, no entanto, à luz do principio da analogia, você pode aceitar esta aparente contradição sem cair no irracionalismo, porque nosso conhecimento de Deus depende disso e não é autônomo. Van Til pondera sobre como fazer para defender essa cosmovisão diante dos incrédulos, para isso, ensina e analisa o “ponto de contato” adotado por outras teologias e conclui com a posição Cristã reformada.
Esse “senso da divindade” para Van Til faz toda a diferença, recorrer para a afirmação bíblica acerca do conhecimento de Deus disponibilizado na criação e também implantado no homem natural. È posto como ponto de contato por excelência, o homem. Pelo fato de que é criada a imagem de Deus, de forma que para o pensamento vantiliano, esse ponto de contato é o único que “escapa ao dilema da ignorância absoluta ou onisciência absoluta”. Conclui então que a mente humana é “inerentemente revelacional”, não auto-suficiente nem totalmente capaz de conhecer.
É interessante também afirmar a abordagem apologética utilizada por Van Til no que discerne em conduzir o homem ao conhecimento da verdade, para ele, não há como o apologeta de confissão reformada concordar com a metodologia do incrédulo, pois o método cristão-reformado defende a cosmovisão proveniente do cristianismo como realmente é. Empregado um método da argumentação por pressuposição, Deus pela sua soberania e conselho dirigiu todos os fatos à verdade sob seu regulamento. É destacado o método “indireto de raciocínio por pressuposição”, uma vez que discorda do homem natural e não recorre a uma discussão direta de “fatos” e “leis”.
A questão da autoridade e razão, Van Til afirma que o homem natural entende e posiciona a autoridade. Principio de autoridade conforme as Escrituras, para o apologista, a Escritura afirma a sua autoridade absoluta como a única luz para interpretar os fatos da realidade e fornecer a sua real relação com a plenitude da existência, de forma alguma a sujeitando sobre a razão. Dando conta da idéia, de que é a própria razão que deve achar a sua função à luz das Escrituras. Afinal, o homem não é autônomo e sua razão, sofreu os efeitos noéticos da queda, fazendo assim à sujeição a verdade absoluta, à revelação sobrenatural de Deus, as Escrituras Sagradas.
Enfim, notamos a supremacia do pressuposcionalismo, como forma de abordagem apologética integral, nossa fé exige que “estamos sempre prontos” (1Pe3.15) para responder as perguntas que nos cercam. O pressuposicionalismo, portanto, surge como uma voz diferente do racionalismo e da desconstrução. Conhecer e buscar entender a vontade de Deus, expressa e expandida em Sua Palavra. A aplicação da apologética vantiliana é aqui relevante e original.
REFERÊNCIAS
VAN TIL, Cornelius. Apologética cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. Original em inglês: Christian apologetics. 2. Ed. Org. William Edgar. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2003.
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[1] A autora do artigo é aluna do STPN, Seminário Teológico Pentecostal do Nordeste, Recife, Pernambuco.
[2] Cornelius Van Til, Why I Believe in God - Filadélfia: Committee no Christian Education of the Orthodox Presbyterian Church, s.d., 3.
[3] (nutley, Nj.: Presbyterian ano Reformed,1976) 97
[4] Institutas da religião cristã 1.4.1
[5] Christian Apologetics.
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Fonte: Apologética SPTN
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