Alguns exegetas sofrem do que chamo de Síndrome de Etimologia Compulsiva. O principal sintoma é acreditar que a etimologia é onipotente para explicar o significado de todas as palavras encontradas na Bíblia em grego ou hebraico. Depois que novas ferramentas eletrônicas viabilizaram a consulta da etimologia das palavras a partir do texto grego ou hebraico até mesmo nos celulares, o número de casos da Síndrome de Etimologia Compulsiva aumentou. Vejamos dois sintomas típicos da Síndrome de Etimologia Compulsiva – aquela mania de explicar tudo a partir da pesquisa etimológica.
Todos nós criamos peixes em aquários e nadamos em piscinas; mas, para o exegeta que sofre da Síndrome de Etimologia Compulsiva, o correto seria criar os peixes nas piscinas e nadar nos aquários. A etimologia da palavra piscina vem do latim piscinæ, ou seja, viveiro de peixes; e a etimologia da palavra aquário vem de aquarius para designar algo que é relativo à água. A prática da natação é relativa à água, é um esporte aquático. Aquário e aquático são palavras da mesma origem etimológica. Bem, isso tudo é muito lógico somente na cabeça do exegeta com Síndrome de Etimologia Compulsiva. Concorda?
Certa vez um testemunha de Jeová tentava me convencer que cronologia é a composição das palavras gregas cronos (tempo) e logos (palavra). Seu erro foi querer desdobrar a palavra logos em lego, que significa falar ou contar. Sua conclusão foi que cronologia significa o contar (cômputo) do tempo, querendo justificar sua busca por calcular quando seria o início do milênio do reinado de Cristo. Lego pode ser contar na acepção de relatar ou falar, mas sempre dentro do campo semântico da palavra falar, nunca de calcular! Existe o contar com significado de falar – eu conto uma história, e existe contar de calcular – eu conto as moedas do bolso. Quando ele insistiu que sua etimologia estava correta, repliquei: OK... vou contar uma história: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11... resumindo, 98, 99, 100. Entendeu?
Um dos grandes legados da reforma protestante foi a luta pelo direito de livre exame das Escrituras Sagradas. Não podemos transformar esse direito ao livre exame em uma livre interpretação inconsequente e descompromissada com a busca pela verdade – não apenas através de nossas experiências com Deus, mas também pelo exercício de nosso intelecto em todo o seu potencial alimentado e ajustado pelo Espírito Santo.
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Autor: André R. Fonseca
www.andreRfonseca.com
Twitter: @andreRfonseca
Fonte: Teologia et cetera
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2 comentários
Texto claro e os exemplos não deixam dúvidas do quanto se pode errar em não saber aplicar bem as ferramentas que temos em mãos.
ResponderDistintos irmãos, graça e paz!
ResponderNão temos dúvidas de que o conhecimento, seja secular ou eclesiástico, é importante para o nosso crescimento.
No entanto, em relação às Escrituras, com todo o respeito aos equilibrados exegetas, o que há de professores de Faculdades e Seminários Evangélicos precisando de fazer "Teoterapia", é coisa assustadora.
Assim dizemos, pois como modestíssimo autodidata em Teologia Sistemática, temos escutado alguns desses pródigos", não somente na denominação a qual pertencemos, mas também em outros eventos falando coisas absurdas, isto é, de maneira contumaz.
Aos que querem ir além do que a Bíblia se nos esclarece, geralmente citamos:Deuteronômio 29. 29.
Em Cristo,
Tadeu de Araújo
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