Sou pastor de uma igreja que, pela graça de Deus, passou por um processo de reforma, um processo de retorno às Escrituras no que diz respeito à doutrina, ao culto e à prática. Neste processo, uma das doutrinas que nos trouxe um grande impacto foi a doutrina da aliança.
Nós a estudamos por cerca de dois anos, até que nossos filhos vieram a receber o selo da aliança, o santo batismo. Com o aprendizado da doutrina da aliança, logo percebemos que não estávamos educando nossos filhos a partir do pressuposto de que eles pertencem a Deus. Isso nos levou a nos preocuparmos cada vez mais com a educação dos nossos filhos e, por isso, começamos a estudar sobre a educação cristã.
Como pastor e pai, sei que há o grande perigo de abraçarmos a doutrina bíblica da aliança sem, contudo, vermos as implicações da aliança no que concerne à educação de nossos filhos. Creio que a compreensão da doutrina da aliança deve nos levar a uma reforma na educação dos nossos filhos. Por isso, escrevo esta série de artigos na esperança de que o Senhor promova tal reforma, principalmente entre aqueles que confessam a doutrina da aliança. Nos primeiros artigos procuraremos entender nossa responsabilidade como pais, e depois, veremos não só o perigo que nossos filhos estão correndo sendo submetidos a uma educação humanista como também aquilo que podemos fazer a esse respeito.
Inicialmente, precisamos atentar para algo muito importante, precisamos de uma resposta para a seguinte pergunta: de quem é a responsabilidade pela educação dos filhos da aliança? A resposta parece óbvia. E é mesmo. Creio que todos concordarão que os responsáveis são os pais. Mas, mesmo concordando com isso, na prática, muitos pais correm o risco de dividir a educação de seus filhos em duas ou três partes, responsabilizando-se apenas parcialmente.
Quando isso ocorre, os pais tendem a dizer: “Nós não estamos habilitados para ensinar, por exemplo, ciências a nossos filhos, portanto, essa é uma responsabilidade do professor. Nossa responsabilidade é de educar em relação a outros assuntos”. Assim, se pode chegar à seguinte divisão na educação dos filhos e, consequentemente, da vida:
Educação moral. Os pais dizem: “É nossa responsabilidade”. Ainda que, já aqui, haja muita intromissão da escola — intromissão que, por vezes, é tolerada.
Educação intelectual. Os pais dizem: “É responsabilidade da escola”. Neste caso, os pais se limitam a cobrar dos filhos boas notas e algum compromisso com os estudos.
Educação religiosa (bíblica). Os pais dizem: “É responsabilidade da igreja”. Aqui muitos pais se omitem de ensinar a Palavra de Deus a seus filhos de uma maneira consistente, transferindo a responsabilidade para os oficiais da igreja e para as professoras de Escola Dominical.
Tal concepção educacional tem como origem e consequência uma divisão da vida em vários compartimentos. É como se não houvesse unidade entre essas áreas e como se houvesse uma separação entre espiritual e material (gnosticismo). Tal visão não está de acordo com a Palavra de Deus, que nos ensina que tudo pertence ao Senhor (Sl 24) e que até as mínimas coisas devem ser feitas para a glória de Deus (1 Co 10.31).
Essa tricotomia educacional (separação entre campos moral, intelectual e espiritual), pode fazer com que os pais entreguem seus filhos à escola, entendendo que é responsabilidade dela educar seus filhos intelectualmente. Se a escola é pública, o Estado é visto como o responsável pela educação dos filhos. E em nosso país, onde o Estado costuma ganhar um status de deus que deve nos dar tudo e em quem devemos confiar e esperar, tudo isso se agrava. Então se o Estado ocupa nossos filhos tirando-os de casa, se ele provê material escolar, merenda, roupas e, em alguns casos, até dá um dinheiro por filhos matriculados, muitos pais se darão por satisfeitos (q.v. Sl 146). Por outro lado, se é particular, a escola também é vista como responsável pela educação dos filhos. Neste caso, os pais podem dizer: “Nós estamos pagando, então a responsabilidade é da escola”. Com isso, os pais podem imaginar que estão cumprindo com sua obrigação, oferecendo a seus filhos uma “educação de qualidade”. Em ambos os casos, o grande perigo é diminuir a responsabilidade dos pais quanto à educação dos filhos e transferi-la a terceiros. Porque é mais fácil colocar a culpa em terceiros se algo der errado.
Mas o que cada pai cristão precisa lembrar, e especialmente nós que professamos a fé denominada de reformada, e que cremos que Deus estabeleceu uma aliança com seu povo, aliança da qual nossos filhos também participam, é que a responsabilidade de educar nossos filhos é nossa. Cada pai é responsável por educar seus filhos em todos os sentidos, seja no âmbito moral, espiritual ou intelectual.
Portanto, os pais não devem ver a educação de seus filhos partimentada, mas, como um todo pelo qual são responsáveis. É verdade que eles podem pedir ajuda, mas a responsabilidade, perante Deus, continua sendo dos pais. Em Efésios 6.4, lemos sobre esta responsabilidade. A primeira coisa que podemos notar é que o apóstolo Paulo utiliza uma palavra que geralmente é usada para referir-se a “pais” no sentido masculino, o que faz recair um peso maior de responsabilidade sobre o cabeça da família, no que concerne à educação dos filhos. No entanto, precisamos notar que a responsabilidade dos pais (masculino), não exclui a responsabilidade das mães, que devem ser auxiliadoras também nisso. É, portanto, responsabilidade dos pais (pai e mãe) criarem seus filhos. O verbo “criar” tem o significado de “nutrir”, “cuidar”, e a ideia é de ajudar a florescer, ou seja, de ajudar os filhos a alcançarem maturidade em todas as áreas da vida. Podemos pensar nos filhos como pequenas plantas, as quais regamos, aplicamos nutrientes, protegemos, limpamos, em suma, cultivamos com todo cuidado esperando que um dia possam dar frutos. Isso mostra que a participação dos pais na educação de seus filhos é ativa. Se desejam que seus filhos produzam frutos para a glória de Deus, eles devem nitri-los para esse fim.
O texto também nos mostra como devemos fazer isso. Primeiro somos instruídos sobre o que não fazer, isto é, os pais não devem provocar seus filhos à ira. A razão disso nos é fornecida no texto paralelo em Cl 3.21: “... para que não fiquem desanimados”. Portanto, ao criarem seus filhos, os pais devem ter todo cuidado para não encher os corações deles de amargura e desânimo, fazendo com que obedeçam apenas por medo. Pelo contrário, devem dirigir o coração de seus filhos à obediência exigida (Ef 6.1-3), utilizando a “disciplina e admoestação do Senhor”. A palavra “disciplina” (paideia), que também pode ser traduzida por “treinamento”, “instrução”, se refere a tudo aquilo que concorre para o desenvolvimento mental, moral e espiritual da criança, é a educação por meio de regras e normas e que pode envolver recompensas ou castigos. A “disciplina” tem como alvo a vontade da criança. Já a palavra “admoestação” (nouthesia), pode ser traduzida por “advertência”, “instrução”. É a educação por meio de instrução verbal visando a correção do pensamento, da mente. A “admoestação” tem como alvo o intelecto da criança.
Por fim, o texto nos ensina que essa “disciplina e admoestação” devem ser “no Senhor”, isto é, a educação deve se desenvolver sob a autoridade que o Senhor dá e de acordo com a Sua Palavra. Isso nos chama a atenção para o fato de que o Senhorio de Cristo deve ser reconhecido também na educação dos filhos, mesmo aí, não podemos nos submeter a outro senhor.
Portanto, à luz de Efésios 6.4, devemos reconhecer que os pais são responsáveis por “nutrir” seus filhos, para um desenvolvimento pleno, como o próprio Senhor Jesus se desenvolveu como homem (Lc 2.52). Os pais são responsáveis por educar seus filhos e não devem se desfazer desta responsabilidade.
E talvez você pergunte: Se a responsabilidade da educação em todos os âmbitos é dos pais, então qual o papel da escola? A escola e seus professores são meios que os pais podem utilizar para cumprir sua responsabilidade de educar seus filhos. Neste caso, o professor tem autoridade delegada pelos pais para ensinar seus filhos, e ainda que o professor seja também responsável, a responsabilidade final recai sobre os pais. Então se um professor está ensinando a seus filhos que não há nenhum problema em uma união homossexual, que a questão de sexo masculino ou feminino é uma questão de opção, que Deus não existe, que o mundo veio de uma grande explosão, que não existe verdade absoluta, que o aborto deveria ser legalizado, que não existe pecado ou que o homem é inerentemente bom, você, pai, é responsável por isso diante de Deus.
Então, como vocês podem perceber, este é um assunto muito sério. Os pais devem sentir o peso de sua responsabilidade na educação de seus filhos. E já que a responsabilidade é dos pais, então a educação dos filhos é algo para o qual os pais devem dar muita atenção. Eles não podem simplesmente entregar seus filhos à escola, seja cristã ou não, como se não fosse sua responsabilidade a educação como um todo.
Esta é a primeira coisa que os pais que desejam dar a seus filhos uma educação que glorifique a Deus devem ter em mente: a responsabilidade pela educação dos filhos é em todos os sentidos uma responsabilidade deles.
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Fonte: Reforma Hoje
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