Humildade para com os nossos semelhantes, amor e gratidão para com Deus — são estes os frutos de uma compreensão da graça discriminativa de Deus. A eleição, portanto, influencia-nos para nos tornar melhores crentes.
Ao mesmo tempo, por mais cheia de auxílio que esta verdade possa parecer àqueles que já são crentes, será que ela não vai desencorajar os que ainda não o são? Os que buscam tornar-se crentes poderão arguir: "Se eu não estiver entre os eleitos de Deus, então não importa o quanto eu deseje ser salvo, pois jamais o serei".
Este pode parecer um argumento plausível, mas na verdade é um grande erro. Deixe-me ilustrar o que quero dizer. Suponhamos que um alimento é repentinamente apresentado a um homem faminto. Teria sentido ele dizer: "Não sei se Deus pretende que eu seja alimentado por este determinado alimento. Por isso, não importa o quanto eu o deseje, não posso comê-lo". Não seria muito mais sensato dizer: "Tenho um forte apetite. O alimento é o meio de satisfazer o meu apetite. Portanto, eu comerei este alimento".
Ora, Cristo é o pão da vida, o alimento das nossas almas. Este alimento celestial é provido pela graça oferecida no evangelho, e livremente apresentado a todos os que têm fome, sem exceção. Que tem de fazer, então, o pecador espiritualmente despertado senão, sendo habilitado pelo Senhor, tomar, comer e viver para sempre? Os pecadores não são encorajados a crer em Jesus em troca de saberem que são eleitos. Não, as novas da misericórdia de Deus são dirigidas aos pecadores considerados como prontos para perecerem.
Todos, sem exceção, que conhecem sua situação perigosa e sentem sua incapacidade, são convidados, sem demora, a aceitarem as bênçãos espirituais, antes mesmo de pensarem a respeito de sua eleição. Assim, esta verdade não deve aterrorizar um despertado ou qualquer pessoa que tenha consciência de seu pecado. Os que estão indiferentes a respeito de suas almas, ou têm elevada opinião sobre sua própria bondade, de qualquer maneira jamais se incomodarão com a eleição!
No entanto, não poderia alguém dizer: "Se eu estou entre os eleitos, então necessariamente serei salvo, não importa como eu me comporte". Por acaso este ensino das Escrituras referente à graça discriminativa não encoraja o crente a viver descuidadamente?
Às vezes, você pode encontrar pessoas que dizem crer na eleição e cujas vidas são cheias de impiedade. Tais pessoas, porém, estão enganando a si mesmas. A eleição não significa meramente que um certo número de pessoas irá, seguramente, para o céu. A razão da eleição é que o povo de Deus fosse santo e irrepreensível diante dEle (Ef. 1:4), ou seja, a eleição significa que um certo número de santos alcançará o céu.
Deus não indicou apenas o lugar (o céu) para onde os eleitos irão, porém, mostrou também o caminho pelo qual eles chegarão lá, Paulo escreve: "Devemos sempre dar graças a Deus... por vos ter elegido desde o princípio, para a salvação, pela santificação do Espírito, e fé na verdade" (2 Tess. 2:13). Assim, uma parte essencial da experiência espiritual dos eleitos deve ser a "santificação" e a "fé na verdade". Onde estes elementos não estiverem presentes, não há eleição.
Há um outro argumento semelhante a este último, o qual se costuma apresentar contra a verdade da eleição. É o seguinte: qual é a utilidade da pregação, da oração e da auto-negação? Se os eleitos já estão certamente escolhidos, não há necessidade destas coisas. A resposta a este argumento é a mesma que demos ao argumento anterior, ou seja, Deus usa deliberadamente a pregação, a oração e a autonegação para efetuar aquele viver santo para o qual Ele escolheu o Seu povo. Posso mostrar o absurdo desse argumento por meio de outra ilustração.
Vamos concordar que há um Deus que governa todos os nossos negócios humanos por Sua providência. Se Ele planejou tudo aquilo que fará, então a objeção de que "se alguém é eleito, esse alguém não precisa ser santo", também se aplica a todos os negócios da vida diária. Se Deus planejou todos os negócios humanos, então quer com saúde ou doentes, quer bem sucedidos ou falhos em nossos negócios, quer habilidosos ou não na execução de nossas tarefas, tudo é governado pela providência.
Contudo, quem será tão insensato para dizer: "Não importa se eu como, durmo ou estudo, desde que as circunstâncias de minha vida já foram determinadas pela providência!" Uma vez que não raciocinamos tão absurdamente em relação aos afazeres de nossa vida natural, por que o faríamos em relação aos interesses de nossa vida espiritual?
O perfeito conhecimento de Deus inclui todos os detalhes de nossas vidas, tanto quanto o nosso destino final. Não podemos separar os pormenores do fim. Deus prevê que chegarão aos céus somente aqueles que, segundo Sua previsão, se tornam santos por esforço espiritual diário; e ninguém Ele prevê no inferno, exceto aqueles pecadores que diariamente rejeitam Sua verdade.
Alguns, porém, acrescentam o argumento: "Este ensino torna Deus injusto, desde que Ele é misericordioso para com alguns e não para com todos. Deus Se tornou desleal". Eu respondo: a injustiça só pode estar presente quando a recompensa proveniente de um compromisso assumido, deixa de ser dada. Se um magistrado aplica a lei rigorosamente, no caso de um pobre e, indulgentemente, no caso de um rico, ele é injusto. Todavia, se ele como um benfeitor é generoso para com os necessitados entre seus vizinhos, nunca diríamos que é obrigado a ser generoso para com todos os necessitados. Isto seria impertinência de nossa parte!
Se é apenas um problema de doação graciosa, não pode haver injustiça — mesmo que todos não recebam. E isto é ainda mais verdadeiro com relação a Deus, pois Ele é o Criador que tem o direito absoluto de fazer o que quiser com o que é Seu — e Sua natureza perfeita nos assegura que Ele nada faz de errado.
Deixe-me perguntar-te: todos os homens pecaram ou não? Se pecaram, então todos são culpados perante Deus. Se admitimos isso, então mesmo que todos perecessem Deus seria justo. E a eleição de alguns para a salvação não causa dano aos não eleitos. Assim, a "não-eleição" não é uma punição injusta.
Dizer que Deus não pode deixar ninguém perder-se, é dizer que todos têm direito à salvação. No entanto, ninguém tem direito à salvação. Ela é somente pela graça.
A verdade é que o argumento "Deus é injusto ao eleger alguns e não todos", procede da auto-estima que nós, erradamente, temos de nós mesmos e da visão míope que temos de Deus. Será o altíssimo e sublime Deus tão limitado que não possa fazer o que Lhe agrada?
Deixe-me, agora, mostrar-te o valor real e prático da eleição para nós. Primeiro, a verdade tem algo a dizer ao pecador descuidado. Você já viu que todos são culpados aos olhos de Deus, e que Ele escolheu alguns para a salvação, deixando outros sofrerem as justas consequências de seus pecados.
Como você pode saber que este não é o teu caso! Ser rejeitado por Deus é estar perdido para sempre. Você ainda está desinteressado? Ora, você está nas mãos de um Deus ofendido e, contudo, não tem idéia certa daquilo que Ele fará contigo! Se você teme a possibilidade do inferno, deve saber que é exatamente isso que merece. Você tem boas razões para tremer. Medite sobre estes fatos terríveis! Que o Senhor possa ajudar-te a "fugir da ira vindoura" (Mat. 3:7).
***
Sobre o autor: Abraham Booth (1734- 1806) nasceu em Blackwell, condado de Derbyshire, Inglaterra. Quando tinha vinte e quatro anos, casou-se com Elizabeth Bowmar, filha de um fazendeiro, e logo após abriu uma escola num subúrbio de Nottingham. A pregação de alguns Batistas levou-o a um senso religioso e, em 1755, ele foi batizado por imersão. Em 1760, Booth tornou-se superintendente da congregação em Kirby-Woodhouse. Até então ele era um arminiano convicto, porém a partir daí ele mudou de posição, passando para as doutrinas sustentadas pelos Batistas Particulares. Sua obra “O reinado da graça” foi escrita em 1768. Logo depois disso a Igreja Batista Particular em Little Prescot Street, Londres, convidou-o a ser seu pastor, e nela foi ordenado em 1769. Booth faleceu em 1806, tendo sido pastor por trinta e cinco anos. Durante seu pastorado, foi fundada uma academia que hoje está em Oxford, conhecida como Regents Park College, destinada ao treinamento ministerial. Seus vários escritos foram coligidos e publicados em três volumes em 1813. A atual Igreja Batista Church Hill em Walthamstow, Londres – descendente direta da igreja em Little Prescot Street – ainda possui placa memorial erigida em homenagem a Booth pelos membros daquela igreja.
Fonte: Igreja Batista Graça e Paz
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Ao mesmo tempo, por mais cheia de auxílio que esta verdade possa parecer àqueles que já são crentes, será que ela não vai desencorajar os que ainda não o são? Os que buscam tornar-se crentes poderão arguir: "Se eu não estiver entre os eleitos de Deus, então não importa o quanto eu deseje ser salvo, pois jamais o serei".
Este pode parecer um argumento plausível, mas na verdade é um grande erro. Deixe-me ilustrar o que quero dizer. Suponhamos que um alimento é repentinamente apresentado a um homem faminto. Teria sentido ele dizer: "Não sei se Deus pretende que eu seja alimentado por este determinado alimento. Por isso, não importa o quanto eu o deseje, não posso comê-lo". Não seria muito mais sensato dizer: "Tenho um forte apetite. O alimento é o meio de satisfazer o meu apetite. Portanto, eu comerei este alimento".
Ora, Cristo é o pão da vida, o alimento das nossas almas. Este alimento celestial é provido pela graça oferecida no evangelho, e livremente apresentado a todos os que têm fome, sem exceção. Que tem de fazer, então, o pecador espiritualmente despertado senão, sendo habilitado pelo Senhor, tomar, comer e viver para sempre? Os pecadores não são encorajados a crer em Jesus em troca de saberem que são eleitos. Não, as novas da misericórdia de Deus são dirigidas aos pecadores considerados como prontos para perecerem.
Todos, sem exceção, que conhecem sua situação perigosa e sentem sua incapacidade, são convidados, sem demora, a aceitarem as bênçãos espirituais, antes mesmo de pensarem a respeito de sua eleição. Assim, esta verdade não deve aterrorizar um despertado ou qualquer pessoa que tenha consciência de seu pecado. Os que estão indiferentes a respeito de suas almas, ou têm elevada opinião sobre sua própria bondade, de qualquer maneira jamais se incomodarão com a eleição!
No entanto, não poderia alguém dizer: "Se eu estou entre os eleitos, então necessariamente serei salvo, não importa como eu me comporte". Por acaso este ensino das Escrituras referente à graça discriminativa não encoraja o crente a viver descuidadamente?
Às vezes, você pode encontrar pessoas que dizem crer na eleição e cujas vidas são cheias de impiedade. Tais pessoas, porém, estão enganando a si mesmas. A eleição não significa meramente que um certo número de pessoas irá, seguramente, para o céu. A razão da eleição é que o povo de Deus fosse santo e irrepreensível diante dEle (Ef. 1:4), ou seja, a eleição significa que um certo número de santos alcançará o céu.
Deus não indicou apenas o lugar (o céu) para onde os eleitos irão, porém, mostrou também o caminho pelo qual eles chegarão lá, Paulo escreve: "Devemos sempre dar graças a Deus... por vos ter elegido desde o princípio, para a salvação, pela santificação do Espírito, e fé na verdade" (2 Tess. 2:13). Assim, uma parte essencial da experiência espiritual dos eleitos deve ser a "santificação" e a "fé na verdade". Onde estes elementos não estiverem presentes, não há eleição.
Há um outro argumento semelhante a este último, o qual se costuma apresentar contra a verdade da eleição. É o seguinte: qual é a utilidade da pregação, da oração e da auto-negação? Se os eleitos já estão certamente escolhidos, não há necessidade destas coisas. A resposta a este argumento é a mesma que demos ao argumento anterior, ou seja, Deus usa deliberadamente a pregação, a oração e a autonegação para efetuar aquele viver santo para o qual Ele escolheu o Seu povo. Posso mostrar o absurdo desse argumento por meio de outra ilustração.
Vamos concordar que há um Deus que governa todos os nossos negócios humanos por Sua providência. Se Ele planejou tudo aquilo que fará, então a objeção de que "se alguém é eleito, esse alguém não precisa ser santo", também se aplica a todos os negócios da vida diária. Se Deus planejou todos os negócios humanos, então quer com saúde ou doentes, quer bem sucedidos ou falhos em nossos negócios, quer habilidosos ou não na execução de nossas tarefas, tudo é governado pela providência.
Contudo, quem será tão insensato para dizer: "Não importa se eu como, durmo ou estudo, desde que as circunstâncias de minha vida já foram determinadas pela providência!" Uma vez que não raciocinamos tão absurdamente em relação aos afazeres de nossa vida natural, por que o faríamos em relação aos interesses de nossa vida espiritual?
O perfeito conhecimento de Deus inclui todos os detalhes de nossas vidas, tanto quanto o nosso destino final. Não podemos separar os pormenores do fim. Deus prevê que chegarão aos céus somente aqueles que, segundo Sua previsão, se tornam santos por esforço espiritual diário; e ninguém Ele prevê no inferno, exceto aqueles pecadores que diariamente rejeitam Sua verdade.
Alguns, porém, acrescentam o argumento: "Este ensino torna Deus injusto, desde que Ele é misericordioso para com alguns e não para com todos. Deus Se tornou desleal". Eu respondo: a injustiça só pode estar presente quando a recompensa proveniente de um compromisso assumido, deixa de ser dada. Se um magistrado aplica a lei rigorosamente, no caso de um pobre e, indulgentemente, no caso de um rico, ele é injusto. Todavia, se ele como um benfeitor é generoso para com os necessitados entre seus vizinhos, nunca diríamos que é obrigado a ser generoso para com todos os necessitados. Isto seria impertinência de nossa parte!
Se é apenas um problema de doação graciosa, não pode haver injustiça — mesmo que todos não recebam. E isto é ainda mais verdadeiro com relação a Deus, pois Ele é o Criador que tem o direito absoluto de fazer o que quiser com o que é Seu — e Sua natureza perfeita nos assegura que Ele nada faz de errado.
Deixe-me perguntar-te: todos os homens pecaram ou não? Se pecaram, então todos são culpados perante Deus. Se admitimos isso, então mesmo que todos perecessem Deus seria justo. E a eleição de alguns para a salvação não causa dano aos não eleitos. Assim, a "não-eleição" não é uma punição injusta.
Dizer que Deus não pode deixar ninguém perder-se, é dizer que todos têm direito à salvação. No entanto, ninguém tem direito à salvação. Ela é somente pela graça.
A verdade é que o argumento "Deus é injusto ao eleger alguns e não todos", procede da auto-estima que nós, erradamente, temos de nós mesmos e da visão míope que temos de Deus. Será o altíssimo e sublime Deus tão limitado que não possa fazer o que Lhe agrada?
Deixe-me, agora, mostrar-te o valor real e prático da eleição para nós. Primeiro, a verdade tem algo a dizer ao pecador descuidado. Você já viu que todos são culpados aos olhos de Deus, e que Ele escolheu alguns para a salvação, deixando outros sofrerem as justas consequências de seus pecados.
Como você pode saber que este não é o teu caso! Ser rejeitado por Deus é estar perdido para sempre. Você ainda está desinteressado? Ora, você está nas mãos de um Deus ofendido e, contudo, não tem idéia certa daquilo que Ele fará contigo! Se você teme a possibilidade do inferno, deve saber que é exatamente isso que merece. Você tem boas razões para tremer. Medite sobre estes fatos terríveis! Que o Senhor possa ajudar-te a "fugir da ira vindoura" (Mat. 3:7).
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Sobre o autor: Abraham Booth (1734- 1806) nasceu em Blackwell, condado de Derbyshire, Inglaterra. Quando tinha vinte e quatro anos, casou-se com Elizabeth Bowmar, filha de um fazendeiro, e logo após abriu uma escola num subúrbio de Nottingham. A pregação de alguns Batistas levou-o a um senso religioso e, em 1755, ele foi batizado por imersão. Em 1760, Booth tornou-se superintendente da congregação em Kirby-Woodhouse. Até então ele era um arminiano convicto, porém a partir daí ele mudou de posição, passando para as doutrinas sustentadas pelos Batistas Particulares. Sua obra “O reinado da graça” foi escrita em 1768. Logo depois disso a Igreja Batista Particular em Little Prescot Street, Londres, convidou-o a ser seu pastor, e nela foi ordenado em 1769. Booth faleceu em 1806, tendo sido pastor por trinta e cinco anos. Durante seu pastorado, foi fundada uma academia que hoje está em Oxford, conhecida como Regents Park College, destinada ao treinamento ministerial. Seus vários escritos foram coligidos e publicados em três volumes em 1813. A atual Igreja Batista Church Hill em Walthamstow, Londres – descendente direta da igreja em Little Prescot Street – ainda possui placa memorial erigida em homenagem a Booth pelos membros daquela igreja.
Fonte: Igreja Batista Graça e Paz
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