Restaurando a Simbologia do Arco entre as Nuvens

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"Disse também Deus a Noé e a seus filhos: Eis que estabeleço a minha aliança convosco, e com a vossa descendência,e com todos os seres viventes que estão convosco: tanto as aves, os animais domésticos e os animais selváticos que saíram da arca como todos os animais da terra. Estabeleço a minha aliança convosco: não será mais destruída toda carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra. Disse Deus: Este é o sinal da minha aliança que faço entre mim e vós e entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações: porei nas nuvens o meu arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra.Sucederá que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, e nelas aparecer o arco,então, me lembrarei da minha aliança, firmada entre mim e vós e todos os seres viventes de toda carne; e as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda carne. O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus e todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra. Disse Deus a Noé: Este é o sinal da aliança estabelecida entre mim e toda carne sobre a terra." Gn 9.8-17

Há muita mística em torno da real simbologia do arco íris. Ele é associado a doendes, potes de ouro, deuses mitológicos e tem se tornado um símbolo gay muito popular, tão marcante que logo relacionamos a sua imagem aos grupos homossexuais. Ele é exposto em bandeiras, camisetas, sites e etc como uma estampa do orgulho e da alegria gay. A simbologia original desse fenômeno sofreu uma evolução e perversão em relação ao que ele verdadeiramente representa. De certa forma, a simbologia bíblica está se diluindo no contexto secular de nossos dias. Muito longe de isso ser uma mera mudança de significado no símbolo, é, principalmente, uma alteração estabelecida para se sobrepor àquilo que Deus disse sobre o arco íris e o que ele representa para nós, os homens. Não estou sugerindo, por exemplo, que os militantes gays conhecem o texto de Gn 9 e deliberadamente contra atacam o seu ensino como se eles quisessem escrever uma nova Escritura ou reinterpretá-la. Ainda não tenho evidências para dizer tal coisa. Mas tenho convicção de que não devemos ser indiferentes quanto àquilo que a Bíblia chama de "a operação do erro" (2 Ts 2.11), que faz do divino algo profano, da verdade uma mentira e da justiça a injustiça. O arco entre as nuvens precisa, para os cristãos, ser interpretado corretamente, pois há nesse simbolo uma grande mensagem que não é mundana, mas de justiça e paz divina.

"Então, disse Deus a Noé: Sai da arca..." (8.15,16ss). A tormenta das águas do dilúvio já havia passado. A ordem de Deus para que Noé saísse da arca indicava que agora ele e sua família poderiam voltar a viver como viviam. A terra certamente não estava como antes. As condições climáticas, a paisagem e todo o relevo haviam sofrido transfomações e Noé e seus filhos deveriam recomeçar as suas vidas, trabalhar e terem filhos. Um recomeço ainda sombrio e marcado pela grande catástrofe do dilúvio. Seus pais, tios, irmãos ali não estavam, pois não haviam achado graça diante de Deus (6.8). Certamente Noé, mesmo sendo obediente ao Senhor (6.22;7,5), refletia com temor e pensar em seu coração sobre tudo o que tinha acontecido em seus dias, pois como uma testemunha ocular da pavorosa chuva e com as perdas de amigos e parentes ele havia de refletir. Mas Deus o havia orientado antes de entrar na arca e agora Deus o orientaria depois de aberta a sua porta.

O que lemos no texto bíblico após Noé descer em terra seca, é a construção de um altar, o oferecimento de sacrifícios a Deus e o firmamento da aliança de Deus com os homens. Mais a frente, Deus abençoa Noé e seus filhos com a fecundidade e fala também diretamente ao homem qual seria a sua relação com os animais e como ele deveria se portar em relação a vida do próximo (8.1-7). Logo após esses fatos, então, é realizado uma aliança entre Deus e todos os seres viventes. A aliança estabelecida entre os lados diz que as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda carne que há sobre a terra. Esse acordo é perpétuo, irrevogável e manifestado em um sínal visível: o arco. Deus diz que quando trouxesse nuvens sobre a terra e nelas aparecesse o arco, Ele assim se lembraria da Sua aliança. Dessa forma, o texto diz expressamente que a ira de Deus não mais se manifestaria como se manifestou nos dias de Noé. A catástrofe do dilúvio, portanto, é o evento único na história humana e jamais se repetiria. Diante de tudo isso, uma das coisas que chamam a atenção é o símbolo dessa aliança: o arco entre as nuvens.

Como um fenômeno físico, o arco irís aparece geralmente no fim de uma chuva pela refração da luz nas gotículas de água. Isso, por si só, é uma característica evidente para quem observa o efeito luminoso nos dias de hoje. Porém, levando em consideração os leitores originais do texto bíblico, essa interpretação é por demais descontextualizada. Marc Girard, em seu livro "Símbolos na Bíblia" (editora Paulus), relaciona exegeticamente a palavra arco (qeshet) a uma "arma de combate". O arco, ao se posicionar no horizonte e para cima, expressa um sinal de paz. Girard, então, diz que "contrariamente aos deuses da tempestade e da guerra do paganismo, Iahweh decide não atirar seus projéteis na direção da terra e dos humanos; ele suspende seu arco, com as flechas voltadas todas para o alto". Somado a essa idéia, o mesmo autor ainda nos diz que "o arco do Gênesis ultrapassa muito o alcance de um simples 'sinal'. Ele simboliza (no sentido mais estrito) a relação, a comunicação mais estabelecida entre a terra e os céus, depois da experiência de ruptura total ocasionada pelo pecado. Daí o termo aliança. É, pois, um símbolo de verticalidade cósmica, uma ponte colocada gratuitamente entre o céu e a terra". Em um sentido cristológico e amplo do texto, é possível associarmos o arco a Jesus, porém essa inferência é indireta e não favorece ao sentido histórico do texto. Mesmo Girard compreendendo essa simbologia do arco adotando uma data de escrita do livro de Gênesis em torno do século VI a.C (data essa questionável e que não leva em conta a autoria do Pentateuco por Moisés), temos um vislumbre do que de fato o arco (qeshet) poderia representar no mundo antigo.

Portanto, o arco íris é um símbolo que, desde os dias de Nóe até hoje, significa a paz entre o santo Deus e os seres viventes corrompidos, estabelecido logo após o ato de justiça e de ira divina no dilúvio. O texto de Gn 9.15a nos diz que Deus se lembraria a sua aliança firmada entre os seres viventes quando Ele trouxesse o arco entre as nuvens. Essa aliança não foi revogada e o arco íris ainda é criado pelo próprio Deus. E por isso nós também devemos nos lembrar daquilo que Deus fez contra aqueles cujo desígnio do coração era mau (6.5,13;8.21), os fazendo desaparecer da terra, e a favor daqueles que encontraram graça diante de Deus, os salvando da Sua ira! Noé e sua família poderiam olhar para o arco íris estampado no céu, chuva após chuva, e se lembrarem do livramento que Deus os concedeu e da Sua ira contra aqueles que vivem intentando o mau em seus corações e não são justos aos Seus olhos. Semelhantemente a Noé, nós também devemos levantar um altar a Deus e adorá-lo pelo livramento que Ele nos dá em Cristo Jesus (1 Ts 1.10), "pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem.Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca,e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem" (Mt 24.37-39).

Deus não mais destruirá a humanidade com as águas de um dilúvio. Mas Ele prometeu que voltará com poder e muita glória para restaurar toda a Sua criação e julgar os homens mediante Sua Palavra. Que o Senhor nos faça compreender e nos faça lembrar dessas verdades até o dia de Sua vinda.

Amém!

Autor: Danilo Neves de Almeida
Fonte: [ Mocidade da 1 IPC - GYN ]
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