O Que Entendemos Por Sola Scriptura?

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Por: Dr. Robert Godfrey.

"Como de costume, Roma tenta esclarecer sua posição ao declarar que sua autoridade está na Escritura, na tradição (segundo o Concílio de Trento, são revelações escritas e não-escritas ditadas por Cristo ou pelo Espírito Santo, e preservadas na Igreja Católica em sucessão ininterrupta [3]) e na igreja, simultaneamente. O Vaticano II declarou: "É claro, portanto, que a Tradição Sagrada, a Escritura Sagrada e o ensino da autoridade da igreja, de acordo com o desígnio mais sábio de Deus, estão de tal forma unidos entre si que um não pode permanecer sem os outros, e que todos, em conjunto e cada um de sua própria maneira, sob ação do Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação de almas." [5]


Na verdade, porém, se observarmos cuidadosamente, notaremos que a verdadeira autoridade de Roma não é nem a Escritura nem a tradição, e sim a igreja. O que é a Escritura e o que ela ensina? Somente a igreja pode dizê-lo. Como o teólogo romano João Eck disse - "As Escrituras não são autênticas, a não ser pela ocasião autoridade da igreja". [6] Como o papa Pio IX disse por ocasião do Primeiro Concílio Vaticano, em 1870 - "Eu sou a tradição".[7] A arrogância opressora de tal manifestação é surpreendente, mas confirma nossa alegação de que, para Roma, a única autoridade verdadeira é a igreja: sola eclesia.

Então o Protestantismo levantou-se no século XVI em reação a tais alegações e ensinos da igreja de Roma. Na idade Média, a maioria dentro da igreja acreditava que a Bíblia e a tradição da igreja ensinavam as mesmas doutrinas, ou eram pelo menos complementares. Entretanto, quando Lutero e outros estudaram a Bíblia com cuidado e aprofundamento maiores do que a igreja fizera durante séculos, começaram a descobrir que a tradição, na realidade, contradizia a Bíblia. Descobriram, por exemplo, que:

A Bíblia ensina que o ofício de bispo e presbítero é igual para ambos (Tt 1.5-7), mas a tradição diz que são ofícios diferentes.

A Bíblia ensina que todos pecaram, exceto Jesus (Rm 3.10-12; Hb 4.15), mas a tradição afirma que Maria, mãe de Jesus, era sem pecado.
A Bíblia ensina que Cristo ofereceu seu sacrífio de uma vez por todas (Hb 7.27, 9.28, 10.10), mas a tradição repete o sacrifício de Cristo por meio do sacerdote na missa, sobre o altar.

A Bíblia ensina que não devemos nos enclinar diante de imagens ou estátuas (Êx 20.4,5), mas a tradição defende a idéia de que devemos no curvar diante delas.

A Bíblia ensina que todos os cristãos são santos e sacerdotes (Ef. 1.1; 1Pe 2.9), mas a tradição sustenta que os santos e sacerdotes pertencem a uma classe dentro da comunidade cristã.

A Bíblia ensina que Jesus é o único Mediador entre Deus e o homem (1Tm 2.5), porém a tradição afirma que Maria é co-mediadora com Cristo.

A Bíblia ensina que todos os cristãos devem saber que têm vida eterna (1Jo 5.13), mas a tradição diz que os cristãos não podem e não devem saber que têm vida eterna.

Os reformadores notaram que as palavras de Jesus aos fariseus aplicavam-se igualmente à sua época: "invalidaste a palavra de Deus, por causa da vossa tradição" (Mt 15.6).

Os reformadores descobriram também que a tradição se contradiz. Por exemplo, a tradição da igreja romana ensina que o papa é a cabeça da igreja, um bispo sobre bispos. Mas Gregório o Grande, papa e santo no final do período da igreja antiga, disse que tal ensino veio do espírito do Anticristo ("Afirmo confiante que qualquer que se intular sacerdos universalis, ou desejar ser assim chamado por outrem é, em seu orgulho, um precursor do Anticristo") [8]

Mais diretamente relacionado à nossa discussão é a evidente tensão na tradição acerca do valor de ler a Bíblia. The Index of Forbidden Books (Índice dos Livros Proibidos) do Papa Pio IV, em 1559, declarava:

Uma vez que a experiência ensina que, se a leitura da Bíblia Sagrada na língua vernácula é geralmente permitida sem discriminação, mais prejuízo do que vantagem resultará por causa da ousadia dos homens, o julgamento dos bispos e inquisidores podem, de acordo com o conselho do sacerdote e confessor local, permitir traduções católicas da Bíblia para serem lidas por aqueles que se convencerem de que tal leitura não causará prejuízo, mas sim aumento da fé e a devoção. A permição deve ser dada por escrito. Qualquer pessoa que leia ou tenha uma tradução em seu poder sem esta permissão, não poderá ser absolvido de seus pecados até que devolva essa Bíblia [ao superior]. [9]

Em marcante contraste, o Vaticano II afirma: "Fácil acesso à Escritura Sagrada deve ser proporcionado a todo cristão fiel... Uma vez que a palavra de Deus deve estar disponível em todos os tempos, a igreja, com cuidado materno, olha favoravelmente que traduções apropriadas e corretas sejam feitas em diferentes idiomas, especialmente de textos originais dos livros sagrados." [10] A tradição acredita que a Bíblia é perigosa ou útil? A Bíblia provou-se perigosa no século XVI; muitos que a leram cuidadosamente tornaram-se protestantes!

Tais descobertas sobre a tradição levaram os reformadores de volta para a Bíblia. Ali aprenderam eles que as Escrituras devem permanecer como juiz de todo ensino. A Escritura ensina que ela é a revelação de Deus, sendo, portanto, verdadeira em tudo o que ensina. Entretando, em lugar algum a Escritura diz que a igreja é verdadeira em tudo o que anuncia. Antes, embora a igreja como um todo seja preservada na fé, lobos surgirão no seu seio (At 20.29,30), e até mesmo o homem da ilegalidade sentar-se-á no meio da igreja ensinando mentiras (2Tm 2.4)."

Autor: Dr. Robert Godfrey
Texto extraído do livro "Sola Scriptura: Numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico"; Editora Cultura Cristã.

[3] Tradução do Rev. Schroeder em The Canons and Decrees of the Councial of Trent (Rockford, IL: TAN Books, 1978), p. 17. Para o latim do texto ver Philip Schaff, The Creeds of Christendom (Grand Rapids: Baker, 1985), II:80.
[5] Ibid., p. 118.
[6] João Eck, Enchiridion of Commonplaces, traduzido por Ford Lewis Battles (Grand Rapids: Baker, 1979), p. 13.
[7] Josef Rupert Geiselmann, The Meaning of Tradition (Montreal: Palm Publishers, 1966), p. 16, nota nas pp. 113-114.
[8] Citado em Cambridge Medieval History, seção escrita por W.H.Hutton, editado por H.M.Gwatkin e J.P.Whitney (Nova York: The MacMillan Co., 1967) II:247.
[9] James Townley, Illustations of Biblical Literature, vol.2 (Londres: impresso por Longman, Hurst, Rees, Orme e Brown, 1821), p. 481.
[10] Documents of Vatican II, pp. 125-126.

Fonte: [ UMPCGYN ]

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