Em 2010, quero entrar "de sola"!

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Por: Leonardo B. Galdino

“Entrar solando” (ou, “de sola”) é uma expressão muito comum no mundo do futebol. Ela é usada toda vez que, numa disputa de bola, o jogador entra com as travas (a sola, nesse caso) da sua chuteira por cima da bola, fazendo com que o adversário se intimide na disputa. Se o oponente não se intimidar e resolver fazer o mesmo, aí a coisa pode ficar realmente feia. Um dos dois, ou até mesmo ambos, poderão se machucar seriamente. Jogadas desse tipo são consideradas desleais e até mesmo antidesportivas, e os infratores, além de serem punidos com cartão amarelo ou vermelho no momento da partida, podem até mesmo pegar um “gancho” do Supremo Tibunal de Justiça Desportiva (STJD).

Mas não é dessa forma futebolística que eu pretendo “entrar solando” nesse ano que ora se inicia. Apesar de eu gostar muito de futebol, visualizo uma causa infinitamente mais nobre para desejar fazer isso. Em 2010, desejo ardentemente entrar solando com os famosos “Solas” da Reforma: Sola Scrpitura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria. São essas as “solas” que eu pretendo calçar.

Quero entrar de “Sola Scriptura” em toda e qualquer doutrina ou prática que relegue a Bíblia a um plano inferior e secundário, e não a coloque no seu devido lugar de única regra de fé e prática do povo de Deus. Entrar de “Sola Scriptura” se faz necessário porque muitas pessoas e igrejas ditas evangélicas nos dias de hoje tem dado mais crédito às supostas “novas revelações” do que à verdadeira Revelação canônica de Deus – as Sagradas Escrituras. Do mesmo modo como a igreja medieval se afastou das Escrituras, introduzindo elementos estranhos (“preceitos de homens” – Mc 7.7) ao culto e à teologia, a igreja contemporânea tem incorrido no mesmo erro. E a sola (ou, o Sola) vale também para todos aqueles que questionam e atacam a infalibilidade, inerrância e inspiração da Escrituras, como os liberais, neo-ortodoxos e Cia. Isso só aumenta ainda mais a nossa urgência em reafirmar o brado dos reformadores de “Sola Scriptura”(Somente as Escrituras).

Quero entrar de “Solus Christus” em todo e qualquer ensino que descentralize ou destrone a Cristo do seu devido lugar de honra e glória. Entrar de “Solus Christus” se faz necessário porque Jesus não tem sido mais o centro da pregação em muitos púlpitos. Os “testemunhos” tomaram o lugar da pregação da cruz; os “zaqueus” e os “lázaros” também. Além disso, o espírito ecumênico de nossa época está fazendo com que Cristo não seja mais exclusividade para muitos pessoas. Daí o porquê de muitos televangelistas chamarem a budistas, espíritas, mulçumanos e etc. de “irmãos”. Abandonaram a verdade de que existe apenas um mediador entre Deus e os homens (cf. 1Tm 2.5). A igreja romana fez e continua fazendo o mesmo, ao colocar Maria como adjuntora na salvação. Os reformadores não se conformaram com essas coisas, motivo pelo qual o brado de “Solus Christus” (Somente Cristo) foi vigorosamente entoado.

Quero entrar de “Sola Gratia” no esforço humano (sinergismo) para a sua salvação, tanto quanto nas doutrinas e teologias que o instigam a pensar assim. Entrar de “Sola Gratia” se faz necessário porque muitas pessoas pregam por aí que “Deus já fez a parte dele, basta que façamos a nossa”. Motivados por isso, os pecadores vão a Cristo pensando que estão fazendo um grande favor para Deus ao “cooperar” com ele na salvação. Quanta mentira e ilusão! A Bíblia é suficientemente clara ao afirmar que “não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16). PONTO. Numa cultura onde o semi-pelagianismo e o arminianismo quase que imperam, verdades como as Antigas Doutrinas da Graça não tem encontrado o mesmo espaço que outrora encontrou. Cabe a nós, então, reafirmá-las como o bom o velho “Sola Gratia” (Somente a Graça).

Quero entrar de “Sola Fide” em toda e qualquer teologia, pregação ou ensino que pregue outro meio para a justificação do homem além da fé que o próprio Deus o concede. Pedro se refere aos crentes como aqueles que “obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.1). Ora, o que é a fé salvífica, senão a capacidade que o próprio Deus concede a nós, os eleitos (cf. Tt 1.1), para que creiamos na perfeita justiça do Seu Filho, em prejuízo da nossa própria? Esta foi uma verdade que a igreja romana rejeitou. Quer dizer, ela cria, sim, que somos justificados pela fé, mas não pela fé somente, e isso faz toda a diferença. Foi por isso que Lutero disse que a justificação pela fé é “o artigo de fé mediante o qual a igreja permanece de pé ou cai”. À maneira da igreja romana, muitas igrejas ditas protestantes tem se afastado dessa verdade, pregando que a fé carece de “algo mais”. É por essas e outras que entrar de “Sola Fide” (Somente a Fé) se faz necessário.

Finalmente, desejo entrar de “Soli Deo Gloria” em 2010, e penso que este seja o “Sola” mais caro de todos (inclusive para mim), pois ele derruba toda e qualquer pretensão e arrogância humanas. Depois de discorrer largamente sobre a doutrina da salvação, Paulo conclui a seção doutrinária da sua carta aos Romanos com uma das mais belas doxologias encontradas nas Escrituras:

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria quanto do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (Rm 11.33-36).

Agora dá pra saber de onde os reformadores tiraram todo o seu teocentrismo ao bradarem o “Soli Deo Gloria”. Michael Horton acertadamente escreveu que “pregar a Escritura é pregar a Cristo; pregar é Cristo é pregar a cruz; pregar a cruz é pregar a graça; pregar a graça é pregar a justificação; pregar a justificação é atribuir o todo da salvação à glória de Deus e responder a essa Boa Nova em grata obediência por meio de nossa vocação no mundo". Sinceramente, qualquer sistema teológico de doutrina que procure de alguma forma limitar Deus em seus atributos (arminianos e afins) não pode bradar o “Soli Deo Gloria” sem nenhum senão. Mas não é somente por conta de questões soteriológicas e doutrinárias que se faz necessário reafirmarmos que somente a Deus seja dada a glória. Entrar de “Soli Deo Gloria” se faz necessário porque muitos cristãos (pastores, ovelhas, “apóstolos”, blogueiros, “profetas”, curandeiros, cantores-astros, etc.) tem tentado usurpar o louvor, a honra e a glória que somente a Deus pertencem, chamando a atenção para si mesmos (é a “Síndrome do Zaqueu” – não o da Bíblia, mas o da música). Mas não se iludam os tais, pois o próprio Deus mesmo diz que não dará a sua glória a outrem (Is 42.8). Isso quer dizer que não apenas os construtores da autojustificação, mas também os construtores da auto-imagem são incapazes de dizer que “Somente a Deus a Glória”.

Oro a Deus para que Ele me dê forças para cumprir esse propósito de “entrar solando” nesse ano de 2010. Que eu jamais me esquive de entrar “de Sola” quando a Verdade estiver em jogo. Que eu jamais use de deslealdade quando estiver numa disputa, mas que eu me valha apenas da Sagrada Escritura. E que jamais eu alivie as canelas ou os tornozelos dos erros teológicos que tentam ofuscar os “Solas” que os reformadores nos legaram. Que sejam essas, de fato, as Solas que calcem os meus pés.

Sola Scriptura, Solus Chistus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria!!!

Autor: Leonardo bruno Galdino
Fonte: [ Óptica Reformata ]

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