"Testemunhos" ao púlpito: Deus ou mamom?

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Por Ricardo Mamedes

A igreja evangélica em passado por inúmeras transformações nos últimos tempos, de tal maneira que, grosso modo, não se tem mais como caracterizar as diferenças que há entre as tradicionais, pentecostais e neopentecostais, salvo raríssimas exceções. Na maioria das vezes elas se confundem, não em razão da "liturgia" , mas pela falta de qualquer liturgia: pura balbúrdia, verdadeiro caos.

Quem prima pelo estudo das Escrituras tem facilidade em comprovar uma série de desvios doutrinários que vem ocorrendo nessas igrejas. E são tantos que se torna difícil enumerá-los, ou mencioná-los em uma certa ordem de importância.

Neste texto quero avaliar um fato que ocorre nos púlpitos das "igrejas emergentes" e que muito me incomodou há pouco tempo e ainda incomoda. Antes, devo confessar, incomodava mais, visto que eu assistia "tête a tête" ao triste espetáculo. Hoje, pelo menos, Deus agraciou-me com a dádiva de ser poupado do triste "teatro do absurdo", posto que estou frequentando uma igreja presbiteriana voltada exclusivamente para o estudo das Escrituras, e a sua completa observância, inclusive no que concerne a uma rígida liturgia, onde não se aceita qualquer forma de desvio doutrinário, ainda que "disfarçado de luz" (parafraseando as próprias Escrituras).

Estou a falar dos tais "testemunhos" dados ao púlpito, geralmente provocados pelo pastor sob o pretexto de "enaltecer" a Deus ( ou quem sabe lhe dar uma ajudazinha através de um marketing gospel). E então o tom apelativo tem lugar: "- algum irmão tem uma bênção para testemunhar à igreja?" Ou então: "- Deus não fez nada para ninguém, que fé é essa?". E eis que logo aparece um, dois, três, normalmente a exaltar as "maravilhas do Deus que tudo faz em prol dos seus "adoradores", o dono do "ouro e da prata". E dá-lhe ouro e prata!!!

E os tais testemunhos são recheados de mal disfarçada vanglória. Eles exaltam a Deus? Sim, dirão os "evangélicos" de agora. Todavia, não é o que demonstra o contexto escriturístico: o Evangelho é simples e não precisa de qualquer complemento para convencer quem quer que seja da sua eficácia. Deus é Todo-Poderoso, Soberano e Senhor de todas as coisas (não somente do ouro e da prata), por isso mesmo não necessitando de marketing. Aliás, quem precisa das "técnicas de convencimento" são aqueles com sérias dificuldades para crer no Deus Invisível propagado e anunciado pela Bíblia (Hb 11).

Testemunhos em tom apelativo como se veem por aí, inclusive nas denominações históricas, salvo exceções - e aqui quero fazer justiça à Igreja Presbiteriana que não costuma se valer dos referidos "expedientes" - servem exclusivamente para "fazer propaganda da igreja", do pastor, da liderança, ou de todo o conjunto. Eles querem anunciar que "a minha igreja faz milagres"; ou que "Deus atua nesta igreja".

Uma marca dos tais "testemunhos" é a apologia ao "ter", ao invés do "ser". Aqueles que já assistiram aos malfadados testemunhos urdidos nessas igrejas sabem a que me refiro. São automóveis conquistados, doenças curadas, terrenos que num piscar de olhos foram adquiridos como que num passe de mágica ( e olha que o sujeito não tinha dinheiro algum), casas presenteadas, etc. Normalmente o ápice do testemunho se dá no momento em que o incauto diz: "- antes de vir para a igreja eu estava assim (pobrezinho, sem casa, sem carro...), mas agora, o dono do "ouro e da prata..." (discorre então sobre todos os ganhos que lhe foram acrescentados depois que se "converteu" na tal igreja).

É o "deus" do ter, e o nome dele não é Yaweh (Jeová), mas mamom. Essas pessoas, muitas delas levadas ao engano por uma liderança avarenta , mentirosa e oportunista, são desviadas da sã doutrina, ou doutrinadas erradamente. O Apóstolo Paulo nos lembra que "nos foi concedida a graça de padecermos por Cristo e não somente de crermos nele" (Filipenses 1:29).

A fé não se mede por "coisas", ou acúmulo de bens materiais, uma vez que o próprio Cristo nos admoestou a "não acumularmos tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam "(Mateus 6:19), mas que devemos trabalhar para juntar tesouros no céu (v. 20).

Onde está o seu tesouro, nas riquezas de Mamom, ou nas riquezas celestiais de Deus ? Reflita bem, pois "onde estiver o seu tesouro, lá estará também o seu coração" (v. 21).

Devemos ter em Deus o nosso Senhor e não o nosso serviçal. O "dono do ouro e da prata" é antes de tudo o 'dono da nossa salvação". O "Senhor e consumador da nossa fé". E esta, para ser verdadeira, prescinde de obras, de marketing, de testemunhos sobre riquezas materiais, de curas, milagres... O maior milagre é a transformação de vidas, presente de Deus em nós (Fl 2:13). O próprio Apóstolo Paulo jamais buscou riquezas ou fez apologia do "ter", antes, enaltecendo as suas próprias fraquezas, para exaltar a força de Deus em sua vida (2 Coríntios 12:10). Fé verdadeira, nesse diapasão, é exercitada muito mais nos tempos de 'escassez', 'angústia' e 'perseguições', do que propriamente em época de abundância.

Portanto, diz o Apóstolo, "Não vos enganeis, de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna" (Gálatas 6:7-8).

E que fique bem claro, a fim de que não deturpem as minhas palavras, o texto, e, tampouco o Evangelho de Cristo, pois não digo que é pecado "ter". Pecado é "amar o ter"; amar primeiro as "coisas", antes do Criador. Pecado é "usar o ter" como técnica para "chegar ao ser", como se Deus precisasse de uma 'ajudazinha'.

Fonte: [ A verdade liberta, o erro condena ]
Via: [ Ministério Batista Beréia ]

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