Confiança na Palavra

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Por: Martyn Lloyd Jones

Devemos ter confiança e segurança! Em quê? Na Bíblia como a Palavra de Deus. Por quê? Porque é a Palavra de Deus, porque é a revelação de Deus; porque não se trata de teorias e idéias de homens com relação à verdade; porque não é o que os homens descobriram e alcançaram como resultado do seu grande estudo e erudição e meditação. É o que o Deus vivo revelou aos homens, mostrou-lhes e mandou-os pregar. Lembremo-nos do contraste que Martinho Lutero fez entre a filosofia e a revelação. Assim se expressou ele: "A filosofia relaciona-se com o que pode ser conhecido pela razão humana. A teologia relaciona-se com o que se "crê", com o que é apreendido pela fé".

Esta é a Palavra de Deus, esta é a verdade de Deus. É oriunda do céu, não dos homens, e, portanto, é invencível. Temos que aprender a dizer o que este grande apóstolo disse em sua Epístola aos Gálatas, no capítulo primeiro: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunci¬ado, seja anátema" (versículo 8). "Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho. O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo" (versículos 6 e 7). "Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo" (versículos 11 e 12). "Uma dispensação do evangelho", diz ele aos Coríntios e a outros, "me é confiada". Esta era a sua posição geral, e deve ser a nossa. Esta é a Palavra de Deus! Isto é revelação! É infalível porque é de Deus. Esta é a primeira arma da nossa guerra. É algo para ser proclamado; não para ser defendido, e sim para ser proclamado; é para ser proferido com santa ousadia; é para ser "declarado" aos homens. Não precisamos de "diálogos"; precisamos de declaração.

E qual é a sua mensagem? Bem, o que desejo salientar particularmente é que precisamos ter a mensagem plena. A semelhança deste grande apóstolo, temos que transmitir todo o conselho de Deus. Creio que muito da nossa situação presente se deve ao fato de que não temos feito isso. Só temos pregado partes dele. Temos tido medo de escandalizar. Temos sido superficiais. Temos estado tão interessados em conseguir resultados visíveis, que temos retido certos aspectos vitais da verdade. Tem que ser todo o conselho, o evangelho pleno.

Em que consiste? Começa com a lei. A lei de Deus. A pregação começa com a lei; deve começar com a santidade de Deus, com a lei de Deus, com as exigências de um Deus justo, a ira de Deus. Essa é a maneira de levar os homens e as mulheres à convicção de pecado; não modificando a verdade, não apresentando a verdade com uma cultura aparente, que a dilui. Devemos confrontá-los com o fato de que eles são homens, e que são homens falíveis, que são homens que estão morrendo, que são homens pecadores, e que terão que comparecer à presença de Deus, no tribunal do juízo eterno, e terão que prestar contas dos atos praticados estando no corpo, e devemos confrontá-los com o fato da ira de Deus, já revelada "sobre toda a impiedade e injustiça dos homens" (Roma¬nos 1:18). Devemos apregoá-lo sem temor nem favor, com a santa ousadia que caracterizava os primeiros apóstolos.

E então devemos apresentar-lhes a doutrina global da graça de Deus na salvação em Jesus Cristo. Devemos mostrar que nenhum homem será salvo pelas obras da lei, por sua própria bondade ou justiça, ou por ser membro de igreja, ou por qualquer outra coisa, mas unicamente, completamente, inteiramente pelo dom gratuito de Deus em Jesus Cristo, Seu Filho. Devemos dizer-lhes que o Filho eterno de Deus veio do céu a este mundo, nasceu miraculosa e singularmente da virgem, nasceu sujeito à lei, e prestou perfeita obediência a essa lei, que Ele levou sobre Si a culpa dos nossos pecados e recebeu o castigo que nos cabia, e que unicamente por isso somos salvos. Devemos dizer-lhes que Ele morreu, que Ele foi enterrado num túmulo, que ressuscitou literalmente no corpo, manifestou-Se a testemunhas escolhidas, ascendeu ao céu, sentou-Se à mão direita de Deus, e que Ele está aguardando até que Seus inimigos se tornem o estrado dos Seus pés; que Ele virá outra vez, cavalgando as nuvens do céu, rodeado pelos santos anjos, que Ele destruirá todos os Seus inimigos e implantará o Seu reino glorioso e eterno. Temos que pregar a doutrina global, sem deixar nada: a convicção de pecado, a realidade do juízo e do inferno, a livre graça, a justificação, a santificação, a glorificação.

Também devemos mostrar que há na Bíblia uma cosmovisão. Devemos demonstrar que somente aqui se pode entender a história; a história passada, a história presente, a história futura. Mostremos esta grande cosmovisão, e o propósito eterno de Deus. Preguemos isso às pessoas. Esqueçamos a sua ciência e cultura e erudição. Digamos a elas, isto é história, foi o que aconteceu, e isto é o que deve acontecer; Deus o disse. Demos a elas o evangelho global e a sua mensagem.

Ao mesmo tempo, sejamos muito cuidadosos, no sentido de o estarmos dando ao homem todo. Que é que eu quero dizer? Quero dizer que o evangelho não é só para o coração do homem, e sim que se deve começar com a cabeça e apresentar a verdade a ela. A verdade vem primeiro à mente e ao entendimento. Exponhamos a verdade. Não imaginemos que evangelizar é apenas contar histórias, divertir o povo e usar certas técnicas psicológicas. Mostremos que é uma grande mensagem dada por Deus, e que nós, por nossa vez, passamos à mente, ao coração, à vontade. Há sempre este perigo de deixar de lado uma ou outra parte da personalidade humana. Alguns são puramente intelectuais em sua abordagem, alguns são inteiramente emocionais ou sentimentais, alguns estão sempre concitando as pessoas a se decidirem ou a se renderem - toda a ênfase dada à vontade. Todos eles estão errados. "Mas graças a Deus", diz este grande apóstolo em Romanos 6:17, "que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues". Certifiquemo-nos que visamos ao homem completo: sua mente, suas emoções e sua vontade.

Finalmente, tratemos de compreender que as armas da nossa guerra não são carnais, mas poderosas em Deus, poderosas com o poder de Deus. Tratemos de compreender que podemos ser ortodoxos e, todavia, estar mortos. Tratemos de compreender que podemos ser altamente intelectuais e teológicos e, contudo, inúteis. Tratemos de compreender que até mesmo a nossa proclamação desta Palavra com a nossa própria força e poder é finalmente nula e vazia. "Poderosas em Deus"! No poder de Deus! E nisto que o grande apóstolo insiste constantemente. É por isso que ele diz em 1 Coríntios, capítulo 2; "E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder" (versículos 3 e 4). Se alguma vez houve um homem que poderia usar o seu cérebro, a sua razão, a sua lógica, e confiar nessas coisas, era esse homem; porém não o fez. Ele tremia ante a possibilidade de fazer isso. O poder, a autoridade e a demonstração deviam ser "de Deus". "Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus" (versículo 5).

Ouçam-no de novo em 1 Coríntios 4:19-20. Diz ele: "Mas em breve irei ter convosco, se o Senhor quiser, e então conhecerei, não as palavras dos que andam inchados, mas a virtude (ou "o poder"). Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtude" (ou "em poder"). É o extraordinário poder do Espírito Santo; e sem isto, nada podemos fazer. "O nosso evangelho", diz ele, "não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza" (1 Tessalonicenses 1:5).

Isso é tão essencial como a ortodoxia e a exatidão da doutrina e da crença. Sem isso não podemos fazer nada. No princípio do século dezoito, alguns homens ortodoxos puderam ver a decadência da posição, e perguntaram: que podemos fazer para salvaguardar a verdade? Resolveram implantar as chamadas Preleções Boyle. Que eram? Destinavam-se a defender a fé cristã. Um grande bispo, vocês se lembram, escreveu um livro que conhecemos como a Analogia do Bispo Butler. Ela estava querendo defender a fé cristã. E outro homem, chamado Paley, fez a mesma coisa.

Mas o que salvou a situação não foram esses livros, bons como eram. Que foi que salvou a situação? Posso dizer-lhes. Foi o Espírito Santo vindo sobre George Whitefield em sua ordenação. Foi o coração de João Wesley sendo "estranhamente aquecido" na Rua Aldersgate, em 24 de maio de 1738. Foi o derramamento do Espírito de Deus. Foi o poder! "Poderosas em Deus"! Pois aí está o vero poder que tinha derrubado, humilhado e persuadido o próprio apóstolo, o orgulhoso e farisaico Saulo de Tarso, confiante em sua justiça própria. Ele tinha que ser abatido, tinha que ser humilhado tinha que ser lançado ao chão; e é somente o poder de Deus, o pode do Cristo ressurreto, que pode fazer isso, mediante o bendito Espírito Santo. Aconteceu o mesmo com o grande Agostinho, o mesmo com Lutero, o mesmo com Calvino, o mesmo com Blaise Pascal E a mesma coisa com todos eles, com todos os seus intelecto gigantescos, e a sua cultura e o seu entendimento. E é tão verdadeiro isto esta noite como sempre foi no transcorrer dos séculos.

Eu e vocês não devemos temer de maneira errada pela arca do Senhor. O futuro está assegurado. Isto não é complacência; é fé cristã; é otimismo cristão; é segurança cristã. Esta é a nossa posição. Isto é o que Deus, creio eu, está nos dizendo esta noite, conforme Isaías 41:10-14: "Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus: eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. Eis que envergonhados e confundidos serão todos os que se irritaram contra ti; tornar-se-ão nada, e os que contenderem contigo perecerão. Buscá-los-ás, mas não os acharás; e os que pelejarem contigo tornar-se-ão nada, e como coisa que não é nada os que guerrearem contigo. Porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita, e te digo: não temas, que eu te ajudo. Não temas, ó bichinho de Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu redentor é o Santo de Israel".

Povo cristão, quando nos dermos conta de que as armas da nossa guerra "não são carnais" e que, ao mesmo tempo, são "poderosas em Deus, para destruição das fortalezas", de todos os "conselhos" e de "toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus" - quando nos dermos conta disso, estaremos prontos a concordar com Charles Wesley, quando ele diz:

Reina o Salvador Jesus,
Deus da verdade e amor; Quando limpou nossas manchas,
Nas alturas Se assentou.
Seu reino não pode falhar;
Governa a terra e o céu; As chaves da morte e do inferno
Dadas a Jesus serão.
A destra de Deus está
Até que os Seus inimigos
Sujeitem-se ao Seu comando
E caiam sob os Seus pés.
Alegrai-vos na esperança;
Jesus, o Juiz, virá
E levará os Seus servos
Para o Seu lar eternal.
Logo ouviremos a voz do arcanjo,
A trombeta de Deus soará!

Fonte: [ Blog Martyn Lloyd Jones ]
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