“O que está perturbando vocês agora, o que os levou a se refugiarem nos terraços, cidade cheia de agitação, cidade de tumulto e alvoroço?”
Estas são as palavras do profeta Isaías, ditas há muito tempo a um povo que se chamava santo, mas que nada tinha de santidade. No contexto deste complexo 22º capítulo do livro de Isaías, o profeta sabe que o clima deveria ser de luto. Porém, como havia feito muitas vezes, o povo, seguindo líderes vaidosos e gananciosos, não ouviu a voz de Deus e preferiu festa e júbilo às lamentações e choro exigidos pelo profeta.
Isaías estava triste porque Jerusalém seria capturada pelos babilônios e a desgraça seria mais que merecida, já que o povo havia se esquecido do Senhor. De acordo com J. Alec Motyer, o pecado da cidade era a autossuficiência. As pessoas achavam que podiam se salvar por meio de alianças com os povos ao redor, construindo muros cada vez mais altos e sistemas de defesa cada vez mais aprimorados. Por isso a cidade estava em festa, celebrando uma vitória passageira. Jerusalém esqueceu-se da aliança com seu Deus.
As palavras de Isaías à cidade de Jerusalém são tão relevantes para nossas cidades hoje quanto foram para o povo de Deus no passado. Vivemos cheios de temor e medo: medo que a violência chegue à nossa porta ou medo de sermos violentos; medo da pobreza, da riqueza, da doença, da morte e até da vida. Para onde foi o temor de Deus?
O profeta, como muitos antes e depois dele, clamava ao povo para que ouvisse sobre a salvação que somente Deus poderia oferecer-lhes. Porém, o povo, como muitos cristãos hoje, preferia ficar de olhos fechados, cegos para as palavras de Deus e focados em suas habilidades e nos prazeres vãos da vida.
Esquecemos que, como Israel, somos chamados para sermos um povo missionário, um povo diferente e transformador em nossa sociedade. Está na moda uma igreja se autodenominar “transformadora”, “progressiva”, “social”. O estranho é que “bíblica” não é um adjetivo que entraria para essa lista. Por quê? Afinal, em épocas de grande transformação e renovação da igreja, vemos que foram a leitura e o estudo da Bíblia que geraram reformas como a Protestante do século 16, os avivamentos na América do Norte nos séculos 18 e 19, as reformas na Igreja Católica na década de 1960 e o Movimento de Lausanne na década de 1970. Todos estes movimentos surgiram porque alguns procuraram levar a Bíblia a sério em seus respectivos contextos.
Em termos práticos, precisamos de menos modismos e mais estudos cuidadosos da Bíblia. Tal afirmação parece simples demais. Porém, somos reféns de nossa autossuficiência e temos medo de ver o que o Espírito faz quando dois ou três se reúnem para ouvir as palavras de Deus. É mais confortável criarmos esquemas elaborados de ensino, de metodologias, de crescimento da igreja e transformação da sociedade, ficando assim longe das palavras da Bíblia. Frequentemente somos como Jerusalém, nos apoiando em nossas habilidades e arrogância, cegos e surdos às palavras do Senhor.
O Vale da Visão é o nome enigmático que Isaías deu a Jerusalém. Talvez porque ali recebeu profecias marcantes, talvez porque era o único a ver a calamidade por vir. A cegueira de Judá é a pandemia de hoje?
Autora: Rosalee Velloso Ewell - é casada, tem três filhos e mora em Londrina, no Paraná. É doutora em teologia pela Duke University (EUA) e editora do Novo Testamento para o Comitê Latinoamericano de Literatura Bíblica.
Fonte: [ Ultimato ]
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.Estas são as palavras do profeta Isaías, ditas há muito tempo a um povo que se chamava santo, mas que nada tinha de santidade. No contexto deste complexo 22º capítulo do livro de Isaías, o profeta sabe que o clima deveria ser de luto. Porém, como havia feito muitas vezes, o povo, seguindo líderes vaidosos e gananciosos, não ouviu a voz de Deus e preferiu festa e júbilo às lamentações e choro exigidos pelo profeta.
Isaías estava triste porque Jerusalém seria capturada pelos babilônios e a desgraça seria mais que merecida, já que o povo havia se esquecido do Senhor. De acordo com J. Alec Motyer, o pecado da cidade era a autossuficiência. As pessoas achavam que podiam se salvar por meio de alianças com os povos ao redor, construindo muros cada vez mais altos e sistemas de defesa cada vez mais aprimorados. Por isso a cidade estava em festa, celebrando uma vitória passageira. Jerusalém esqueceu-se da aliança com seu Deus.
As palavras de Isaías à cidade de Jerusalém são tão relevantes para nossas cidades hoje quanto foram para o povo de Deus no passado. Vivemos cheios de temor e medo: medo que a violência chegue à nossa porta ou medo de sermos violentos; medo da pobreza, da riqueza, da doença, da morte e até da vida. Para onde foi o temor de Deus?
O profeta, como muitos antes e depois dele, clamava ao povo para que ouvisse sobre a salvação que somente Deus poderia oferecer-lhes. Porém, o povo, como muitos cristãos hoje, preferia ficar de olhos fechados, cegos para as palavras de Deus e focados em suas habilidades e nos prazeres vãos da vida.
Esquecemos que, como Israel, somos chamados para sermos um povo missionário, um povo diferente e transformador em nossa sociedade. Está na moda uma igreja se autodenominar “transformadora”, “progressiva”, “social”. O estranho é que “bíblica” não é um adjetivo que entraria para essa lista. Por quê? Afinal, em épocas de grande transformação e renovação da igreja, vemos que foram a leitura e o estudo da Bíblia que geraram reformas como a Protestante do século 16, os avivamentos na América do Norte nos séculos 18 e 19, as reformas na Igreja Católica na década de 1960 e o Movimento de Lausanne na década de 1970. Todos estes movimentos surgiram porque alguns procuraram levar a Bíblia a sério em seus respectivos contextos.
Em termos práticos, precisamos de menos modismos e mais estudos cuidadosos da Bíblia. Tal afirmação parece simples demais. Porém, somos reféns de nossa autossuficiência e temos medo de ver o que o Espírito faz quando dois ou três se reúnem para ouvir as palavras de Deus. É mais confortável criarmos esquemas elaborados de ensino, de metodologias, de crescimento da igreja e transformação da sociedade, ficando assim longe das palavras da Bíblia. Frequentemente somos como Jerusalém, nos apoiando em nossas habilidades e arrogância, cegos e surdos às palavras do Senhor.
O Vale da Visão é o nome enigmático que Isaías deu a Jerusalém. Talvez porque ali recebeu profecias marcantes, talvez porque era o único a ver a calamidade por vir. A cegueira de Judá é a pandemia de hoje?
Autora: Rosalee Velloso Ewell - é casada, tem três filhos e mora em Londrina, no Paraná. É doutora em teologia pela Duke University (EUA) e editora do Novo Testamento para o Comitê Latinoamericano de Literatura Bíblica.
Fonte: [ Ultimato ]
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