Coração rebelde



Por John Frame



Pergunta: (a) O que você pode fazer, se é que algo pode ser feito, com a “rebelião do coração”? (b) Você é tentado, testado e experimentado — você quer se arrepender, mas seu coração não quer.

A pessoa descrita na pergunta, evidentemente, não apenas foi “tentada, testada e experimentada”, mas também cometeu pecado. Ou seja, ele ou ela não apenas foi tentado, mas rendeu-se à tentação. De outra forma, não haveria nada de que se “arrepender”. Então a pergunta básica é: o que você faz quando você pecou e você quer se arrepender, mas seu coração não quer? (Enquanto discutimos essa questão, lembre o que “arrependimento” significa. Não é apenas sentir-se mal por seu pecado, mas realmente abandoná-lo e achegar-se a Cristo, assim parando de cometer o pecado.)

Bem, todos nós já tivemos essa sensação às vezes: nós gostaríamos de mudar, mas algo em nós, parece, não quer mudar junto conosco. Nós pensamos nisso como se fosse um carro com problemas: o carro quer andar, mas algo dentro dele, digamos, o carburador, não está funcionando direito, então ele não se mexe. Ou uma pessoa com dificuldades: Alice adoraria jogar tênis, mas as costas dela não deixam ela fazer isso. É assim que se parece, frequentemente, quando nós cometemos pecado. Nós gostaríamos de parar, mas algo em nós (a pessoa que faz a pergunta chama isso de “coração”) não nos deixa parar.

Mas veja só: O “coração”, nas escrituras, não é como um carburador defeituoso dentro de um carro, nem como dor nas costas tornando o corpo de alguém mais lento. O coração (no sentido religioso, é claro, não o órgão físico) é a pessoa no nível mais profundo – o que ele ou ela realmente é. Meu coração sou eu. Seu coração é você. “Rebelião do coração”, então, é rebelião da pessoa. É a minha rebelião e a sua.

Então o coração não é algo dentro de nós que, contrariando nossas melhores intenções, não quer funcionar direito. Um coração rebelde significa que nossas intenções não são boas. Ter um coração rebelde significa nada mais nada menos que isso: nós queremos pecar. A figura de uma “parte” quebrada dentro de nós é uma figura ruim e perigosa, porque é uma forma de dar uma desculpa pelo pecado: “Não sou eu o culpado”, nós pensamos; “esta parte quebrada é que é culpada”. Mas nós é que devemos ser culpados, nós somos responsáveis.

Mas há momentos em que nos sentimos como a pessoa descrita na pergunta: como se nós quiséssemos arrepender, mas não conseguíssemos. Nesses momentos, entretanto, acredito que o verdadeiro problema é mais assim: nós queremos o arrependimento, mas não queremos o suficiente. Nós queremos arrependimento, mas também gostamos do pecado. Nós queremos parar mas, inconsistentemente, nós também queremos continuar pecando. Esta é uma forma mais bíblica de colocar a questão: não um “eu não consigo” mas um “eu não vou”. Desse jeito, aceitamos a responsabilidade em vez de colocá-la em algum “carburador”.


E então, depois de aceitarmos a responsabilidade, o que nós fazemos a respeito? Arrependemo-nos, é claro! Pare de dizer “não consigo”. Isso vem do diabo. Se você é um cristão, você consegue. Peça a ajuda de Deus e peça a ajuda de líderes e outros cristãos se você estiver achando difícil. Mas não desista da batalha. Lembre-se de I Coríntios 10:13: “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.” Ouviu isso? “Você pode suportar!” Isso é uma excelente notícia! Não chame Deus de mentiroso. Confie nele e obedeça.


Se você precisa de mais motivação, pense de novo no terrível preço que Jesus pagou para salvar você do pecado. Pense no amor imensurável mostrado por Cristo quando ele morreu por você. Então peça ajuda a Jesus para viver a vida agradando a ele.


Há um sentido no qual uma pessoa não-regenerada não pode mudar. Assim, falamos de “Incapacidade Total”. No entanto, (a) Cristãos não estão nesta posição. Pelo Espírito de Deus, eles podem mudar. E (b) até um incrédulo é responsável por sua incapacidade. Ele “não consegue” porque ele “não vai”, e porque seu “não vou” não pode ser superado, exceto pela graça. Desta forma, até para um incrédulo, o “não consigo” na verdade é um tipo de “não vou”.

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Fonte: Frame & Poythress
Tradução: Daniel TC 
Via: Reforma 21
 
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