O país da Copa: um país que vive de aparência

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Por Thiago Azevedo

Você sabe o que é viver de aparência? A resposta que vem à mente não pode ser outra – É o Brasil sediar uma copa. Um país com tanto déficit na educação, saúde, moradia... Um país que ainda detém altos índices de pessoas sem acesso à alimentação, saneamento básico etc. Este país teria condições de sediar uma copa, ou seria isso, viver de aparência? Pernambuco é um dos estados que receberá jogos do evento mundial na cidade de Camaragibe na Arena Pernambuco. Dizem os economistas, que o investimento direcionado ao evento mor, não resolveria a situação precária do país por completo, mas amenizaria e muito, algumas das carências nacionais mencionadas alhures.

A região metropolitana do Recife, desde ontem, passa por uma situação calamitosa provocada pelo movimento grevista dos policiais militares – estes almejam um reajuste salarial. Vários vândalos saíram às ruas – aproveitando a situação – e espalharam um verdadeiro clima de guerra na cidade, cenas dignas de um filme de terror – diversos arrastões, saques, roubos, tiros, desespero... A cidade de Abreu e lima foi a mais afetada – mais de 20 lojas foram arrombadas e saqueadas, diversos caminhões de carga foram interceptados nos engarrafamentos e saqueados. Os donos de algumas lojas tiveram que sair à guerra e defender a punho seus patrimônios – clima de guerra literalmente. Algo que chama atenção é que os roubos, furtos e arrombamentos dos estabelecimentos, eram cometidos por pessoas que aparentavam ser pessoas distintas – muitas destas bem vestidas, apresentáveis, uns com fardas de colégio, outros enchendo seus respectivos carros com os produtos saqueados... Estas pessoas corriam com o produto do roubo nas mãos e alguns ainda acenavam para as câmeras das emissoras que corajosamente registravam os fatos. Os produtos dos roubos eram os mais diversos – geralmente eletros-domésticos, televisão (talvez para assistir a copa numa TV maior), computadores, fogões, geladeiras etc. Boa parte do comércio amanheceu de portas fechadas por conta da situação calamitosa. Atitude semelhante tomou alguns bancos, bem como, alguns comerciantes informais. O governador em atividade João Lira solicitou ao executivo o auxílio da força nacional e o aporte do exercito brasileiro nas ruas da capital pernambucana. Os policiais do grupo de ações especiais da caatinga e um reforço policial provindo do estado de Maceió também foram acionados. 

Mas, o que chama atenção nisso tudo, é o comportamento humano. Certa pessoa que reside em Abreu e lima – cidade mais afetada na confusão – contou-me que ouvia claramente seu vizinho, homem honesto e pai de família, chamar seus filhos para juntos praticarem furtos na cidade. Alegava o homem que se todos estavam fazendo eles também poderiam fazer. Lembrei-me de um dito diabólico – a situação faz o ladrão. Como explicar este comportamento? Esta atitude não é viver de aparência também? Particularmente falando, acredito que sim. O ser humano demonstra com esta atitude que não conhece a si mesmo e que há algo dentro dele que pende para o erro – como um carro desalinhado. Isso se dá pela natureza caída que há neste homem, e aliado a isso, um afastamento da pessoa divina – fósforo, gasolina e palha, uma hora ou outra a explosão ocorre. O homem em sua grande maioria, e em qualquer lugar do mundo, necessita de outro homem que o contenha de agir de forma errada, pois há uma tendência no interior do ser humano que leva ao erro. O homem necessita de fiscais que o acompanhe a fim de manter a harmonia ética na cidade. Mas basta estes fiscais se ausentarem para se conhecer quem de fato este homem é – caído e degenerado pelo pecado. Nunca vi os ensinos de Santo Agostinho fazer tanto jus na cidade do Recife – cidade que tanto amo – como nos últimos acontecimentos. Agostinho alega que se não fosse o pecado original não seria necessária a presença destes fiscais, guardiões... Ou seja, a polícia só existe por conta do próprio homem, para fiscalizar o próprio homem cujo pecado original degenerou.

Assim, pois, a humanidade toda seria tão feliz como eram os primeiros homens, quando nem as perturbações anímicas os inquietavam, nem os incômodos corporais lhes causavam mal, que transmitiram a seus descendentes, nem seus descendentes a iniqüidade merecedora de condenação.¹ 

Lembro-me das palavras do professor Marcos Roberto Nunes Costa²  – “Quer saber quem é o homem e conhecê-lo de fato? Tire a polícia das ruas ou do campo de futebol”. Estamos vendo em Recife quem de fato é este monstro chamado HOMEM. Ora, se com polícia já é difícil – o monstro quer nos atormentar – avalie na ausência desta?


Mas, há uma grande contradição nisso tudo. Há pouco, era este mesmo “cidadão” que saia às ruas para protestar, para reivindicar seus direitos, para protestar contra injustiças, contra os políticos corruptos de Brasília e contra os roubos destes. Falavam mal da corrupção que há no nosso país e criticavam o sistema. Logo vem à mente algumas perguntas: quem é você para protestar contra injustiças se você é injusto? Quem é você para protestar contra corrupção se você é corrupto? Quem é você para falar de ladrões quando você é tanto quanto? Desculpem-me todos vocês que participaram desta vergonha na capital de nosso estado, mas acredito que quando vocês saem às ruas para protestar e fazer manifestações, isso não passa de viver de aparência!!

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Notas:
[1] De civ. Dei., XIV, 13, 1 – Cidade de Deus
[2] Ex presidente da Sociedade Brasileira de Filosofia (2003-2011). Doutor em Filosofia pela PUCRS com área de pesquisa em Filosofia medieval com especialização no pensamento de Santo Agostinho. Atualmente é professor do departamento de Filosofia da UFPE.

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Sobre o autor: Thiago Azevedo além de ser pecador e não merecedor da graça divina, mora em Recife-PE. Crê nas Sagradas Escrituras como sendo sua única regra de fé e prática, adere os princípios da reforma protestante. Casado com Mercia Litian há 7 anos, formado em teologia pelo STPN, graduando em teologia pala Universidade Metodista de São Paulo (EAD), graduando em Filosofia pela UNICAP Congrega na Igreja Evangélica Livre de Olinda-PE.

Divulgação: Bereianos
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