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1. Conhecendo os nossos ouvintes
O pregador, para que traga uma mensagem que atinja os ouvintes, é imprescindível que conheça tanto o meio em que a igreja está inserida quanto os particulares de cada membro. “Os melhores pregadores são sempre pastores diligentes que conhecem as pessoas de sua área e congregação, e compreendem o escárnio humano em toda a sua dor e prazer, glória e tragédia”.[1]
1.1. Conhecendo a cultura
Primeiramente o pregador precisa prestar atenção no meio em que a igreja está inserida. Ele não pode esquecer que a igreja pertence à uma cultura sem Deus. É necessário, como afirma Stott, que se estude os dois lados do abismo.[2]
Quanto a isso, Mohler diz que há alguns acreditam que a cultura é irrelevante para a pregação.[3] No entanto, como ele mesmo afirma, todos estão profundamente arraigados na cultura. Não somente os pregadores são influenciados pela cultura, mas as variadas características da cultura contribui na modelagem de uma determinada congregação.[4] É por esse motivo que John Stott alerta para a necessidade do pregador parar um tempo para ler ou assistir jornal, ler resenhas de livros seculares mais influentes, se possível até lê-los, assistir filmes, entre outras coisas.[5] Stott ainda afirma:
Afinal, igreja não está isenta de receber influencias externas a ponto de influenciar sua maneira de pensar e agir.
O próprio contexto levanta dúvidas na cabeça do cristão. Por isso, a responsabilidade do pregador é ajudar os ouvintes a entender questões levantadas na atualidade. Ele é responsável em ensinar a verdade de maneira que desenvolva nos ouvintes uma mente cristã para conseguir discernir os grandes problemas de hoje e deste modo amadurecer em Cristo.[7]
Um claro exemplo das dificuldades que o pregador contemporâneo pode encontrar é o fato de se encontrar num mundo pós-moderno. Mohler dedica um capítulo inteiro para uma análise sobre a pós-modernidade mostrando a forma de pensar e de agir do homem que vive neste período.[8] Ele termina o capítulo mostrando o grande desafio que o pregador tem diante desta realidade.
Leandro Lima destaca que há 3 formas de reagir diante da pós-modernidade. A primeira, segundo ele, é a “aceitação simples”. Com isso ele quer dizer que é aceitar a existência da pós-modernidade como algo irreversível e entender que a única opção é se adaptar. Essa adaptação envolve tanto a mensagem como o método da apresentação.[9] Mohler afirma que há alguns que “permitem que a cultura seja dominante em seus ministérios, de modo que ela se torne tão fascinante que eles próprios transformam em representante de um ministério aculturado”.[10]
A segunda alternativa apresentada é a “negação simples”. Essa alternativa nega a existência do pós-modernismo e valoriza as tradições do passado tanto no conteúdo como na forma de apresentar a mensagem.[11] No entanto, Fergunson está correto ao afirmar que a “exposição bíblica deve falar às pessoas sentadas nos bancos das igrejas hoje, não àqueles que sentaram neles há centenas de anos”.[12] Lima também alerta sobre o grande perigo desta postura: “ao negar a realidade da época atual, faz-se necessário um esforço por manter a mensagem e o método da apresentação, mas acaba sendo inevitável o isolacionismo e a dificuldade de ser ouvido”.[13]
A terceira opção que Lima dá é a “aceitação crítica”.[14] Nesta aceitação crítica pode-se tanto ter uma avaliação da pós-modernidade para simplesmente mostrar que ela está totalmente errada, ou perceber que há pontos positivos e rejeitar apenas aquilo que influencie na mensagem.[15] Esta terceira alternativa, como também colocado por Lima, é a melhor opção para os pregadores contemporâneos. Nesse mesmo sentido, Mohler afirma que “neste tempo crítico de transição cultural e intelectual, a tarefa de pregação tem de ser entendida como uma chamada apologética.”[16]
Olhando para a pregação de Joel, a terceira opção é a que melhor se encaixa com sua posição. Portanto, é necessário que o pregador esteja atento aos perigos oferecidos pela pós-modernidade. Sem interferir no conteúdo, o pregador precisa observar o que é necessário adaptar ou se opor.
A seguir segue um texto do Rev. Nicodemus que dá uma pequena análise sobre a época em que nós vivemos:
1.2. Conhecendo a igreja
O conhecimento só será mais aprofundado a partir do momento que o pastor conhece a seu próprio rebanho. Para que a mensagem seja eficaz, a primeira atenção do pregador deve estar direcionada à própria igreja. Para Stott, a melhor forma de conhecer o povo é fechar a boca e abrir os olhos e ouvidos. [18] De fato, como ele mesmo reconhece, é uma tarefa difícil para o pregador se dispor a ouvir mais e falar menos.
Falando sobre esta necessidade de aproximação e cuidado com o rebanho, Lewis diz: “O coração do verdadeiro pastor cuidará de se identificar com as pessoas, do mesmo modo que o Bom Pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas.”[19] Ele argumenta ainda que: “muitos de nossos ouvintes hoje anseiam por um pregador que capta, cuide e cresce, um que se relaciona com as pessoas”.[20]
Neste assunto Jay Adams traz um grande auxílio sobre como conhecer melhor a igreja pastoreada. Ele diz que para conhecer o seu público há pelo menos três formas básicas, sendo eles: através de contato informal, aconselhamento e contato formal.[21]
Por contato informal ele entende que são encontros que não fazem parte das programações da igreja. São nestas conversas que o pregador pode conhecer com mais intimidade seus membros, pois, nestes momentos eles mostram quem realmente são. Corretamente Stott afirma que também é indispensável que se tenha conversas com as diferentes gerações de uma congregação para uma compreensão melhor da igreja como um todo.[22] Portanto, esses encontros e conversas não podem ser vistas como um tempo desperdiçado.
O aconselhamento é outra forma de obter um melhor conhecimento do povo que pastoreia. Adams está certo ao afirmar que para que o crente atinja a maturidade em Cristo ele precisa da pregação pública e pregação privada.[23] Malone também lembra que: “Nosso ministério público na pregação da Palavra é a fundação de tudo o que fazemos. No entanto, nem nosso Senhor e nem seus discípulos negligenciaram o trabalho pessoal ao executar estas prioridades”.[24] Mas, o que muitos pastores podem esquecer é que ele deve utilizar o aconselhamento também para conhecer melhor o seu rebanho. Afinal, o aconselhamento ajuda o pastor conhecer áreas da vida do crente que a conversa informal não atinge. Por isso, o pastor deve estimular suas ovelhas a contar sobre sua vida particular para conhecê-las melhor.[25] Medos, pecados, fraquezas, frustrações, desejos, entre outras coisas são conhecidas profundamente apenas em aconselhamentos. Atos 20.20 mostra que esta era uma prática também de Paulo: “jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa”. Em outras palavras, a pregação precisa do aconselhamento, tanto quanto o aconselhamento precisa da pregação. [26]
Ao falar sobre contato formal Adams parte de uma análise sistemática da congregação, principalmente ao chegar a uma nova igreja. Para que isso ocorra o primeiro passo é observar o que foi aprendido naquela igreja no decorrer dos anos. Essa análise pode ser adquirida também através de conversas com pessoas mais antigas daquela igreja. É necessário, entretanto, que não seja conversado apenas com uma única pessoa, mas com pessoas de diferentes grupos da igreja. No entanto, deve-se observar que esta análise não deve ser feita apenas ao chegar em uma nova congregação, mas, como o próprio Adams sugere, deve ser feita periodicamente.[27] Essa observação constante que o pastor faz o ajudará perceber quais as áreas que a igreja precisa desenvolver melhor e quais os temas devem ser abordados no púlpito.
Ellsworth, escrevendo à um personagem fictício chamado Timóteo, diz: “Você precisa estudar a Palavra, mas também precisa estudar o povo. Este tipo de estudo só pode ser feito, se você estiver entre eles e ministrando para eles”.[28] Desse modo o pregador conseguirá fazer uma aplicação de maneira apropriada visando a mudança necessária para aquela igreja.
Continua nos próximos dias...
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Notas:
[1] STOTT, John. La predicación. Grand Rapids: Libros desafio, 2000. p. 185.
[2] Ibid. p. 185.
[3] MOHLER. Pregar com a cultura em mente. p. 63
[4] LEWIS, Ralph. Pregação indutiva. São Paulo: CEP, 2003. p. 32.
[5] STOTT. La predicación. p. 186.
[6] Ibid. p. 184.
[7] Ibid. p. 166-167.
[8] MOHLER. Pregar com a cultura em mente. P.125-142.
[9] LIMA, Leandro Antonio de. O Futuro do Calvinismo. São Paulo: CEP, 2010. p.120.
[10] MOHLER. Pregar com a cultura em mente. p. 63-64.
[11] LIMA. O Futuro do Calvinismo. p. 123.
[12] FERGUNSON, Sinclair B. Pregando ao Coração. In: MOHLER, BOICE, THOMAS and BEEKE (Ed.). Apascenta meu rebanho. São Paulo: CEP, 2009. Cap.7. p. 122
[13] LIMA. O Futuro do Calvinismo. p. 124.
[14] Ibid. p. 125.
[15] Lima chama isso de “crítica negativa” e “crítica positiva”. Ibid. p. 125-127.
[16] MOHLER. Deus não está em silêncio. p. 134
[17] LOPES, Augustus Nicodemus. Lendo a Bíblia hoje. Acessado em: http://tempora-mores.blogspot.com.br/2007/09/lendo-bblia-hoje.html. 07 de Abril de 2014.
[18] STOTT. La predicación. p. 185.
[19] LEWIS. Pregação indutiva. p. 29.
[20] Ibid. p. 29.
[21] ADAMS, Jay E. Preaching with purpose. Grand Rapids: Zondervan, 1979. p. 34.
[22] STOTT. La predicación. p. 186.
[23] ADAMS. Preaching with purpose. p. 36-37.
[24] MALONE, Fred. Faça o trabalho pessoal. In: ASCOL (Ed.). Amado Timóteo. São José dos Campos: Fiel, 2005. Cap.10. p.145.
[25] STOTT. La predicación. p. 185.
[26] ADAMS. Preaching with purpose. p. 37.
[27] Ibid. p. 39-40
***O pregador, para que traga uma mensagem que atinja os ouvintes, é imprescindível que conheça tanto o meio em que a igreja está inserida quanto os particulares de cada membro. “Os melhores pregadores são sempre pastores diligentes que conhecem as pessoas de sua área e congregação, e compreendem o escárnio humano em toda a sua dor e prazer, glória e tragédia”.[1]
1.1. Conhecendo a cultura
Primeiramente o pregador precisa prestar atenção no meio em que a igreja está inserida. Ele não pode esquecer que a igreja pertence à uma cultura sem Deus. É necessário, como afirma Stott, que se estude os dois lados do abismo.[2]
Quanto a isso, Mohler diz que há alguns acreditam que a cultura é irrelevante para a pregação.[3] No entanto, como ele mesmo afirma, todos estão profundamente arraigados na cultura. Não somente os pregadores são influenciados pela cultura, mas as variadas características da cultura contribui na modelagem de uma determinada congregação.[4] É por esse motivo que John Stott alerta para a necessidade do pregador parar um tempo para ler ou assistir jornal, ler resenhas de livros seculares mais influentes, se possível até lê-los, assistir filmes, entre outras coisas.[5] Stott ainda afirma:
“los estudios bíblicos y teológicos no conforman por sí solos la buena predicación. Son indispensables, pero a menos que estén complementados con estudios contemporáneos pueden mantenernos en un desastroso aislamiento a un lado del abismo cultural.” [6]
Afinal, igreja não está isenta de receber influencias externas a ponto de influenciar sua maneira de pensar e agir.
O próprio contexto levanta dúvidas na cabeça do cristão. Por isso, a responsabilidade do pregador é ajudar os ouvintes a entender questões levantadas na atualidade. Ele é responsável em ensinar a verdade de maneira que desenvolva nos ouvintes uma mente cristã para conseguir discernir os grandes problemas de hoje e deste modo amadurecer em Cristo.[7]
Um claro exemplo das dificuldades que o pregador contemporâneo pode encontrar é o fato de se encontrar num mundo pós-moderno. Mohler dedica um capítulo inteiro para uma análise sobre a pós-modernidade mostrando a forma de pensar e de agir do homem que vive neste período.[8] Ele termina o capítulo mostrando o grande desafio que o pregador tem diante desta realidade.
Leandro Lima destaca que há 3 formas de reagir diante da pós-modernidade. A primeira, segundo ele, é a “aceitação simples”. Com isso ele quer dizer que é aceitar a existência da pós-modernidade como algo irreversível e entender que a única opção é se adaptar. Essa adaptação envolve tanto a mensagem como o método da apresentação.[9] Mohler afirma que há alguns que “permitem que a cultura seja dominante em seus ministérios, de modo que ela se torne tão fascinante que eles próprios transformam em representante de um ministério aculturado”.[10]
A segunda alternativa apresentada é a “negação simples”. Essa alternativa nega a existência do pós-modernismo e valoriza as tradições do passado tanto no conteúdo como na forma de apresentar a mensagem.[11] No entanto, Fergunson está correto ao afirmar que a “exposição bíblica deve falar às pessoas sentadas nos bancos das igrejas hoje, não àqueles que sentaram neles há centenas de anos”.[12] Lima também alerta sobre o grande perigo desta postura: “ao negar a realidade da época atual, faz-se necessário um esforço por manter a mensagem e o método da apresentação, mas acaba sendo inevitável o isolacionismo e a dificuldade de ser ouvido”.[13]
A terceira opção que Lima dá é a “aceitação crítica”.[14] Nesta aceitação crítica pode-se tanto ter uma avaliação da pós-modernidade para simplesmente mostrar que ela está totalmente errada, ou perceber que há pontos positivos e rejeitar apenas aquilo que influencie na mensagem.[15] Esta terceira alternativa, como também colocado por Lima, é a melhor opção para os pregadores contemporâneos. Nesse mesmo sentido, Mohler afirma que “neste tempo crítico de transição cultural e intelectual, a tarefa de pregação tem de ser entendida como uma chamada apologética.”[16]
Olhando para a pregação de Joel, a terceira opção é a que melhor se encaixa com sua posição. Portanto, é necessário que o pregador esteja atento aos perigos oferecidos pela pós-modernidade. Sem interferir no conteúdo, o pregador precisa observar o que é necessário adaptar ou se opor.
A seguir segue um texto do Rev. Nicodemus que dá uma pequena análise sobre a época em que nós vivemos:
LENDO A BÍBLIA HOJE
Alguns aspectos da pós-modernidade - nome que se dá à época em que estamos vivendo - se constituem em sérios desafios à leitura bíblica feita pelos reformados, mesmo aqueles que nunca ouviram o nome "pós-modernidade".
Os reformados têm tradicionalmente interpretado as Escrituras partindo de alguns pressupostos oriundos da Reforma protestante. O mais importante deles é que as Escrituras são divinas, em sua origem, infalíveis e inerrantes no que ensinam, seguras e certas no seu ensino. Para eles, a Bíblia é a revelação da verdade. Em decorrência, só existe uma religião certa, a que se encontra revelada na Bíblia. Logo, no raciocínio reformado, tudo o que é necessário à vida eterna e à vida cristã aqui nesse mundo estão claramente reveladas na Escritura. E tais coisas são claramente expostas nela.
Existem alguns aspectos da pós-modernidade que desafiam esse pressuposto central da interpretação reformada das Escrituras.
1) O conceito de tolerância. Eu me refiro à idéia contemporânea de total complacência para com o pensamento de outros quanto à política, sexo, religião, raça, gênero, valores morais e atitudes pessoais. Neste conceito de tolerância, as pessoas nunca externam seu próprio ponto de vista de forma a contradizer o ponto de vista dos outros. Esse tipo de tolerância não deve ser confundida com a tolerância cristã, pois ela resulta da falta de convicções em questões filosóficas, morais e religiosas: "A tolerância é a virtude do homem sem convicções" (G. K. Chesterton). A tolerância da pós-modernidade é fortalecida pela queda na confiança na verdade, atitude típica de nossa época.
É preciso observar que existe uma tolerância exigida do cristão. Devemos tolerar as pessoas. Todavia, não temos de tolerar suas crenças, quando estas contrariam a verdade de Deus revelada nas Escrituras. Temos o dever de ouvir o que elas tem a dizer, e aprender delas naquilo em que se conformam com a verdade bíblica. Porém, tolerância ao erro, quando a verdade bíblica está em jogo, é omissão.
A tolerância tão característica da pós-modernidade pode afetar a interpretação da Bíblia levando as pessoas a interpretá-la a partir do conceito de "politicamente correto." Evita-se qualquer leitura, interpretação ou posicionamento que venha a ser ofensivo à sociedade ou comunidade a que se ministra. Textos bíblicos que denunciam claramente determinados comportamentos morais são domesticados com uma leitura crítica que os reduz a expressões retrógradas típicas dos moralistas machistas do século I. Textos que anunciam a Cristo como o único caminho para Deus são interpretados de tal forma a não excluir a salvação em outras religiões.
2) O inclusivismo. Num certo sentido, é o resultado do multiculturalismo do mundo pós-moderno. Não há mais no mundo ocidental um país com uma cultura única e uma raça homogênea. Países ocidentais são multiculturais e têm uma mescla de diversas raças. Para que não se seja ofensivo, e para que se possa conviver harmoniosamente, é necessário ser inclusivista. Isso significa dar vez e voz a todas as culturas e raças representadas.
Na sociedade pós-moderna, o conceito se estende para incluir os grupos moralmente orientados. Significa especialmente repartir o poder com as minorias anteriormente oprimidas pelas estruturas de poder, como por exemplo, os homossexuais, pobres e minorias étnicas.
Existem coisas boas do inclusivismo multiculturalista, como por exemplo, estudos nos meios acadêmicos sobre a cultura de raças minoritárias e oprimidas no ocidente, como africanos, hispânicos e orientais. Também a criação de bolsas de estudos e empregos para membros destas minorias raciais, bem como de grupos oprimidos, como as mulheres. Ainda digno de nota é a luta contra discriminação baseada tão somente em raça, religião, postura política e gênero.
Mas existem coisas que nos preocupam no inclusivismo. A maior de todas é que o inclusivismo exclui qualquer juízo de valor em termos morais, religiosos, e de justiça. Tem que ser assim para que o relacionamento multicultural e multi-moral funcione.
O inclusivismo acaba também influenciando na interpretação bíblica. Sua mensagem é abordada do ponto de vista do programa das minorias. Por exemplo, a chamada teologia da libertação (meio defunta hoje) e as teologias feministas.
3) O relativismo. No que tange ao campo dos valores e dos conceitos morais e religiosos, é a idéia de que todos os valores morais e as crenças religiosas são igualmente válidos e que não se pode julgar entre eles. A verdade depende das lentes que alguém usa para ler a vida. O importante é que as pessoas tenham crenças, e não provar que uma delas é certa e a outra errada. Não há meio de se arbitrar sobre a verdade porque não há parâmetros absolutos. Desta forma, alguém pode crer em coisas mutuamente excludentes sem qualquer inconsistência.
Existem alguns perigos no relativismo quanto à leitura da Bíblia. Primeiro, o relativismo acaba por minar a credibilidade em qualquer forma de interpretação que se proponha como a correta. Segundo, acaba por individualizar a verdade. Cada pessoa tem sua verdade e ninguém pode alegar que a sua é superior à dos outros. Portanto, ninguém pode ter a pretensão de converter outros à sua fé.
Muitos cristãos são tentados a suavizar a sua interpretação da mensagem do Evangelho, excluindo os elementos que não são "politicamente corretos" como: pecado, culpa, condenação, ira de Deus, arrependimento, mudança de vida. Acaba sendo uma tentação de escapar pela forma mais fácil do dilema entre falar todo o conselho de Deus ou ofender as pessoas.
Esses são alguns dos perigos que a pós-modernidade traz à leitura e interpretação das Escrituras. Reconhecemos a contribuição da pós-modernidade em destacar a participação do contexto e do leitor na produção de significado, quando se lê um texto. Porém, discordamos que isso invalide a possibilidade de uma leitura das Escrituras que nos permita alcançar a mensagem de Deus para nós e de ouvir a voz de Cristo, como Ele gostaria que ouvíssemos.[17]
1.2. Conhecendo a igreja
O conhecimento só será mais aprofundado a partir do momento que o pastor conhece a seu próprio rebanho. Para que a mensagem seja eficaz, a primeira atenção do pregador deve estar direcionada à própria igreja. Para Stott, a melhor forma de conhecer o povo é fechar a boca e abrir os olhos e ouvidos. [18] De fato, como ele mesmo reconhece, é uma tarefa difícil para o pregador se dispor a ouvir mais e falar menos.
Falando sobre esta necessidade de aproximação e cuidado com o rebanho, Lewis diz: “O coração do verdadeiro pastor cuidará de se identificar com as pessoas, do mesmo modo que o Bom Pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas.”[19] Ele argumenta ainda que: “muitos de nossos ouvintes hoje anseiam por um pregador que capta, cuide e cresce, um que se relaciona com as pessoas”.[20]
Neste assunto Jay Adams traz um grande auxílio sobre como conhecer melhor a igreja pastoreada. Ele diz que para conhecer o seu público há pelo menos três formas básicas, sendo eles: através de contato informal, aconselhamento e contato formal.[21]
Por contato informal ele entende que são encontros que não fazem parte das programações da igreja. São nestas conversas que o pregador pode conhecer com mais intimidade seus membros, pois, nestes momentos eles mostram quem realmente são. Corretamente Stott afirma que também é indispensável que se tenha conversas com as diferentes gerações de uma congregação para uma compreensão melhor da igreja como um todo.[22] Portanto, esses encontros e conversas não podem ser vistas como um tempo desperdiçado.
O aconselhamento é outra forma de obter um melhor conhecimento do povo que pastoreia. Adams está certo ao afirmar que para que o crente atinja a maturidade em Cristo ele precisa da pregação pública e pregação privada.[23] Malone também lembra que: “Nosso ministério público na pregação da Palavra é a fundação de tudo o que fazemos. No entanto, nem nosso Senhor e nem seus discípulos negligenciaram o trabalho pessoal ao executar estas prioridades”.[24] Mas, o que muitos pastores podem esquecer é que ele deve utilizar o aconselhamento também para conhecer melhor o seu rebanho. Afinal, o aconselhamento ajuda o pastor conhecer áreas da vida do crente que a conversa informal não atinge. Por isso, o pastor deve estimular suas ovelhas a contar sobre sua vida particular para conhecê-las melhor.[25] Medos, pecados, fraquezas, frustrações, desejos, entre outras coisas são conhecidas profundamente apenas em aconselhamentos. Atos 20.20 mostra que esta era uma prática também de Paulo: “jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa”. Em outras palavras, a pregação precisa do aconselhamento, tanto quanto o aconselhamento precisa da pregação. [26]
Ao falar sobre contato formal Adams parte de uma análise sistemática da congregação, principalmente ao chegar a uma nova igreja. Para que isso ocorra o primeiro passo é observar o que foi aprendido naquela igreja no decorrer dos anos. Essa análise pode ser adquirida também através de conversas com pessoas mais antigas daquela igreja. É necessário, entretanto, que não seja conversado apenas com uma única pessoa, mas com pessoas de diferentes grupos da igreja. No entanto, deve-se observar que esta análise não deve ser feita apenas ao chegar em uma nova congregação, mas, como o próprio Adams sugere, deve ser feita periodicamente.[27] Essa observação constante que o pastor faz o ajudará perceber quais as áreas que a igreja precisa desenvolver melhor e quais os temas devem ser abordados no púlpito.
Ellsworth, escrevendo à um personagem fictício chamado Timóteo, diz: “Você precisa estudar a Palavra, mas também precisa estudar o povo. Este tipo de estudo só pode ser feito, se você estiver entre eles e ministrando para eles”.[28] Desse modo o pregador conseguirá fazer uma aplicação de maneira apropriada visando a mudança necessária para aquela igreja.
Continua nos próximos dias...
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Notas:
[1] STOTT, John. La predicación. Grand Rapids: Libros desafio, 2000. p. 185.
[2] Ibid. p. 185.
[3] MOHLER. Pregar com a cultura em mente. p. 63
[4] LEWIS, Ralph. Pregação indutiva. São Paulo: CEP, 2003. p. 32.
[5] STOTT. La predicación. p. 186.
[6] Ibid. p. 184.
[7] Ibid. p. 166-167.
[8] MOHLER. Pregar com a cultura em mente. P.125-142.
[9] LIMA, Leandro Antonio de. O Futuro do Calvinismo. São Paulo: CEP, 2010. p.120.
[10] MOHLER. Pregar com a cultura em mente. p. 63-64.
[11] LIMA. O Futuro do Calvinismo. p. 123.
[12] FERGUNSON, Sinclair B. Pregando ao Coração. In: MOHLER, BOICE, THOMAS and BEEKE (Ed.). Apascenta meu rebanho. São Paulo: CEP, 2009. Cap.7. p. 122
[13] LIMA. O Futuro do Calvinismo. p. 124.
[14] Ibid. p. 125.
[15] Lima chama isso de “crítica negativa” e “crítica positiva”. Ibid. p. 125-127.
[16] MOHLER. Deus não está em silêncio. p. 134
[17] LOPES, Augustus Nicodemus. Lendo a Bíblia hoje. Acessado em: http://tempora-mores.blogspot.com.br/2007/09/lendo-bblia-hoje.html. 07 de Abril de 2014.
[18] STOTT. La predicación. p. 185.
[19] LEWIS. Pregação indutiva. p. 29.
[20] Ibid. p. 29.
[21] ADAMS, Jay E. Preaching with purpose. Grand Rapids: Zondervan, 1979. p. 34.
[22] STOTT. La predicación. p. 186.
[23] ADAMS. Preaching with purpose. p. 36-37.
[24] MALONE, Fred. Faça o trabalho pessoal. In: ASCOL (Ed.). Amado Timóteo. São José dos Campos: Fiel, 2005. Cap.10. p.145.
[25] STOTT. La predicación. p. 185.
[26] ADAMS. Preaching with purpose. p. 37.
[27] Ibid. p. 39-40
Divulgação: Bereianos
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