Na batalha espiritual a ética sai perdendo

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Por Thiago Oliveira


No movimento conhecido por Batalha Espiritual, encontramos os mais variados “espíritos”: da embriaguez, da prostituição, do homossexualismo, do adultério e até o da solteirice eu já ouvi falar. Tais entidades malignas, segundo os adeptos dessa teologia, se apossam dos homens de maneira que estes cometem os pecados mencionados. Para exorcizar estes “espíritos” segue-se uma série de rituais, atualmente são os mais variados possíveis. Uns ensinam que é preciso queimar os seus pecados (anotados em um pedaço de papel) numa fogueira, outros acham que é necessário enterrá-los. Uns fazem jejuns, benzedeiras, orações repetitivas, lavagem para purificação e etc... Ah! Quase ia esquecendo, também é necessário dizimar e ofertar para repreender o “espírito de miséria”. 

Pois bem, nessa teologia espúria que é a Batalha Espiritual, quem sai mesmo perdendo é a ética. Em nenhum local da Bíblia se encontra respaldo para afirmar que os pecados são um produto de entes diabólicos. Embora Satanás tenha a sua influência perversa no sistema de governo humano, toda prática pecaminosa é proveniente da nossa natureza caída. Pecamos por que somos herdeiros de Adão. Isto é o que os teólogos reformados chamam de “Depravação Total do Homem”. Jesus nos ensina isso: 

Mateus 15:19 – “Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias”.

Paulo nos diz que adultério, prostituição, embriaguez e afins são obras da nossa natureza carnal:

Gálatas 5:19-21 – “Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus.

Antes de listar as obras carnais, o apóstolo Paulo havia dito que nós desejamos tudo aquilo que é contrário ao Espírito, e nesse conflito vivemos (Gl 5:17). Já o apóstolo Tiago, em sua epístola, fala com todas as letras que é a nossa cobiça que nos leva a pecar (Tg 1:14-15). Mas então, o que tem ocorrido? Simplesmente deixamos nossa culpa de lado e usamos as hostes do mal para culparmos. Engraçado é que no relato da queda (Gn 3) ocorre o mesmo: Quando Deus interroga Adão por ter desobedecido e comido o fruto da árvore do bem e do mal, Adão culpa Eva, e esta por sua vez, coloca a culpa na Serpente. Ninguém assume seu erro, apenas transfere para outrem.

Quando falo que a ética sai perdendo, me refiro a norma correta de agirmos. Diante do pecado, a primeira coisa a fazer quando tomamos consciência dele é arrepender-se e confessar. A confissão, hoje cada vez mais escassa no seio da Igreja, é o primeiro passo para o tratamento que visa o abandono da prática pecaminosa confessada. Transferir a culpa para o “espírito disso ou daquilo” é não assumir os seus próprios atos, e isso é muito grave quando estivermos diante do tribunal de Deus.

O interessante é que observamos isso também no âmbito da política. Muitos candidatos evangélicos fizeram campanhas em cultos e cruzadas, e grande parte deles levaram a corrupção para o campo místico. Realizaram então os já mencionados “atos proféticos” para que o “espírito da corrupção” saísse da câmara, do senado, do governo e por aí vai. Só que os mesmos candidatos, ao serem eleitos, no exercício de seus mandatos, envolveram-se em escândalos e são investigados por corrupção. Existe um dado do portal Transparência Brasil que indica que todos os políticos que encabeçam a dita bancada evangélica, estão sob investigação parlamentar ou jurídica. Lamentável, todavia, o antídoto para isso é reconhecer a nossa degeneração e buscar o auxílio do Espírito para andarmos segundos os retos princípios da Escritura Sagrada, pois ela é proveitosa para instruir os homens em justiça, para toda boa obra (2Tm 3:16).

Agostinho, em uma fala de suas Confissões declara que desde a mais tenra infância trazia consigo a herança adâmica:

“Escuta-me, ó meu Deus! Ai dos pecados dos homens! E quem isto te diz é um homem, e tu te compadeces dele porque o criaste, e não foste autor do pecado que nele existe.
Quem me poderá lembrar o pecado da infância, já que ninguém está diante de ti limpo de pecado, nem mesmo a criança cuja vida conta um só dia sobre a terra? Quem mo recordará? Acaso alguma criança pequena de hoje, em quem vejo a imagem do que não recordo de mim? E em que eu poderia pecar nesse tempo? Acaso por desejar o peito da nutriz, chorando? Se agora eu suspirasse com a mesma avidez, não pelo seio materno, mas pelo alimento próprio da minha idade, seria justamente escarnecido e censurado. Logo, era então digno de repreensão o meu proceder; mas como não podia entender a censura, nem o costume nem a razão permitiam que eu fosse repreendido. Prova está que, ao crescermos, extirpamos e afastamos de nós essa sofreguidão; e jamais vi homem sensato que, para limpar uma coisa viciosa, prive-a do que tem de bom”.

Que nós, cristãos, possamos reconhecer nossas faltas perante o Senhor e perante os demais homens, e não nos esconder atrás de uma teologia da patifaria. É com arrependimento que o pecado é deixado, e não com a promoção de rituais e “atos proféticos” que não passam de teatro e que causam um efeito placebo de que a “coisa” foi resolvida, quando na verdade nunca foi. Finalizo com a seguinte passagem bíblica:

Tiago 4:7-11 – “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará”.

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Divulgação: Bereianos
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