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2. Anunciando a mensagem
Os profetas eram mensageiros do Senhor e, portanto, devem ser considerados bons modelos para nós hoje. Uma das coisas que podemos perceber nos profetas do Antigo Testamento é o fato de sua mensagem ter sido fundamentada no Pentateuco. Eles não traziam uma mensagem totalmente nova, mas se preocupavam em mostrar como as Escrituras podiam ser aplicadas aquele povo. Com isso em mente, o principio a ser aplicado ao mensageiro contemporâneo é que toda pregação deve ser fundamentada na Palavra de Deus.
Embora possa parecer óbvio que o pregador deva pregar a Bíblia, isso não parece ser tão natural assim. Na verdade, pode haver uma grande confusão nos púlpitos a respeito disso. Muitos sermões possuem aparência de pregação bíblica, mas, na realidade são pensamentos de homens e não de Deus. O simples fato de alguém levar a Bíblia para o púlpito não quer dizer que ele esteja pregando realmente a Bíblia. A tentação que o pregador pode sofrer é usar um texto bíblico apenas para dizer o que pensa e não o que a Bíblia realmente diz.
Muitas vezes, ainda, a falha no púlpito acontece por uma preocupação em agradar aqueles que estão ouvindo. Paulo adverte que nos últimos dias as pessoas não aceitariam as verdades de Deus (2 Tm 3.1-4.5). É natural, portanto, que a pregação verdadeira não seja tão aceita pela maioria das pessoas. No entanto, quando um pregador deixa de pregar a Palavra de Deus simplesmente pela tentação de agradar a igreja, mostra que ele deixou de ser um pregador e que seu temor está em homens e não em Deus. Por isso, não está errado também afirmar que se a pregação não tem causado impacto na igreja certamente o pregador abandonou o compromisso de pregar a Bíblia. Como afirma Mohler, “se você está e paz com o mundo, você já abdicou do seu chamado”.[29]
O que se defende aqui é que a autoridade de uma pregação não vem pela forma de falar ou pelo número de pessoas que se consegue persuadir, mas pela autoridade da Palavra de Deus. Quanto à isso, Robinson explica: “Um pregador pode proclamar qualquer coisa, com voz imponente, no domingo de manhã, depois de serem cantados os hinos. Mesmo assim, quando um pregador deixa de pregar as Escrituras, perde sua autoridade.”[30]
Calvino, que era um grande expositor da Bíblia, não aceitava outra forma e pregação senão aquela que explicasse com fidelidade a vontade de Deus exposta na Bíblia:
Para Calvino, o motivo para se pregar biblicamente é porque somente através desta pregação que Deus se utiliza para edificar seu povo.[32] Calvino, neste ponto não aceita exceções: “Deve-se, porém, ser mantido por nós o que já citamos de Paulo: que a Igreja não é edificada de outro modo senão pela pregação externa.”[33]
Por isso, a pregação expositiva se torna o melhor modelo de pregação, pois nela a preocupação do pregador é expor a Bíblia e somente isto. Por pregação expositiva deve ser entendida como aquela pregação cujo alvo principal é explicar e aplicar a mensagem de um determinado texto da maneira mais fiel possível. Mohler, sobre isso, diz:
O mesmo afirma MacArthur de maneira resumida: “por expositiva quero dizer pregar de tal maneira que o significado da passagem bíblica se apresente completa e exatamente como Deus quer” (tradução minha).[35] Portanto, quem direciona a forma e o assunto do sermão é o texto e não o pregador.
No entanto, a pregação expositiva não é um simples método de pregação, mas um compromisso com a Palavra de Deus. Está correto Robinson ao afirmar que a pregação expositiva é mais uma filosofia do que um método.[36] Ligon Duncan explica melhor esse pensamento dizendo:
Assim, fazer uso de recursos homiléticos e didáticos não são errados desde que não interfira na mensagem central do texto. Na verdade, estes recursos devem ser dependentes do próprio texto.
Entretanto, o fato de um pregador tratar de alguma verdade bíblica, não significa que ele esteja sendo expositivo. É interessante notar que o grande pregador Lloyd-Jones recusava qualquer pregação que não fosse a pregação expositiva. Neste ponto ele chega a afirmar: “A verdadeira pregação é a exposição da Palavra de Deus. Não é mera exposição dos dogmas ou do ensino da Igreja.”[38] Em outro lugar ele ainda adverte que:
É nisso que se diferencia a pregação expositiva da pregação textual e temática. Na pregação textual e temática o pregador é tentado a impor a sua doutrina em determinados textos. Mas, como apresentado até agora, a preocupação do pregador é que o texto bíblico fale ao coração do crente e não um sistema doutrinário.
Para que isso ocorra, ou seja, que o pregador transmita realmente a Palavra de Deus, ele necessita de um estudo detalhado do texto bíblico. Usando as palavras de Mohler, “o pregador deve ser um servo da Palavra”.[40] Por isso, é importante que o pregador faça uma exegese cuidadosa da passagem. Olivetti demonstra a preocupação com a correta interpretação da Palavra de Deus dizendo que:
Este talvez seja um grande motivo do porque a pregação expositiva não tenha tido tanto espaço nos púlpitos. A pregação expositiva exige, inevitavelmente, um estudo mais demorado e árduo que as demais formas de pregação.
De certa forma, toda essa preocupação com a pregação expositiva parte de um pressuposto teológico. Como bem explica MacArthur, a pregação expositiva deve ser uma resposta à certeza da inspiração e inerrância da Bíblia.[42] Ele afirma que a “infalibilidad demanda la exposición como el único método de predicación que preserva la pureza de la Escritura y alcanza el propósito para el cual Dios nos dio su Palabra”.[43] O mesmo afirma Mohler dizendo que se “cremos verdadeiramente que a Bíblia é a Palavra escrita de Deus – a revelação de Deus perfeita e divinamente inspirada, a pregação expositiva é a única opção válida para nós”.[44]
Nesse sentido, Shedd também explica que “o poder transformador da Palavra depende do reconhecimento da autoridade divina.”[45] A igreja precisa obedecer à palavra pregada não pelo pregador, mas porque a autoridade vem de Deus. Se este compromisso e entendimento partir primeiramente do pregador será mais fácil para que a igreja também se comprometa. Shedd continua neste pensamento dizendo que “quando um mestre da Palavra demonstra um compromisso real com a revelação de Deus, os ouvintes estarão mais dispostos a aprender a se submeter igualmente aos conselhos divinos.”[46]
Tanto MacArthur quanto Shedd evidenciam uma preocupação em mostrar a grande tarefa que o pregador tem nas mãos. Com esse ensino eles refletem um princípio que se estende desde a reforma, que o pregador fiel à Escritura é na verdade a própria “boca de Deus”.[47] Para a teologia reformada, pregar biblicamente não é falar algo acerca da Palavra de Deus. Pelo contrário, a pregação bíblica se torna a própria Palavra de Deus. Sobre isso, Anglada afirma:
Calvino, em suas institutas diz:
E o mesmo em seus comentários:
Portanto, o pregador não pode se esquecer do grande peso que carrega em seus ombros. Ele deve ser fiel à Palavra do Senhor para que ele seja a própria voz de Deus. Ele não é apenas um orador, mas é um mensageiro de Deus. Ele não pode simplesmente estar preocupado em agradar pessoas, mas preocupado em agradar aquele que envia a mensagem ao seu povo.
Uma última observação deve ser feita sobre a pregação expositiva. Afinal, até essa forma de pregação tem causado certa confusão nos pregadores. A função da exegese na pregação é apenas para “oferecer uma boa base para descobrir o sentido do texto”.[51] Mas, a exegese não deve ser apresentada em um sermão. Com essa preocupação em mente Thomas explica que a pregação deve sempre ser feita de maneira didática. Em seu artigo sobre pregação expositiva ele mostra que a pregação expositiva não é um comentário exegético sobre um determinado texto.[52]
Se a mensagem vem carregada de informações complexas o pregador não está atingindo o objetivo da pregação. Mas, o pregador deve aprender a selecionar bem o conteúdo e apresentar a mensagem de maneira que até o mais simples consiga entender e ser edificado.
Continua nos próximos dias...
____________
Notas:
[28] ELLSWORTH, Roger. Pregue a Palavra. In: ASCOL (Ed.). Amado Timóteo. São José dos Campos: Fiel, 2005. Cap.15. p. 236.
[29] Ibid. p. 22.
[30] ROBINSON. Pregação Bíblica. p. 20
[31] CALVINO, João. As Institutas. 2ª ed. São Paulo: CEP, 2006. (Vol. 4). IV.8.6.
[32] CALVINO, João. As Pastorais: 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon: Comentário à sagrada escritura. Tradução de MARTINS. São Paulo: Edições Paracletos, 1998. p. 313.
[33] CALVINO. As Institutas. IV.1.5.
[34] MOHLER, R. Albert; Jr. Pregar com a cultura em mente. In: A pregação da cruz. São Paulo: CEP, 2010. Cap.3. p. 64.
[35] MacARTHUR, John. El mandato de la infalibilidade biblica. In: MacARTHUR (Ed.). El redescubrimiento de la predicacion expositiva. Nashiville, Tenn.: Caribe, 1996. Cap.2. p. 41.
[36] ROBINSON. Pregação Bíblica. p. 22.
[37] DUNCAN III, J. Ligon. Pregar Cristo a Partir do Antigo Testamento. In: DEVER (Ed.). A Pregação da Cruz. São Paulo: CEP, 2010. p. 37,38.
[38] LLOYD-JONES, David Martyn. A Pregação. São Paulo: PES, [19--]. p.
[39] LLOYD-JONES, David Martyn. Pregação & pregadores. 2ª ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 1986. p. 48.
[40] MOHLER. A primazia da pregação. p. 17.
[41] OLIVETTI, Odayr. O púlpito e a interpretação da Bíblia. In: PIERATT (Ed.). Chamado para servir. São Paulo: Vida Nova, 1994. Cap.16. p. 253-266. p. 259.
[42] MacARTHUR. El mandato de la infalibilidade biblica. p. 41.
[43] Ibid. p. 42.
[44] MOHLER, R. Albert; Jr. Deus não está em silêncio. São José dos Campos: Fiel, 2011. p. 72.
[45] SHEDD, Russell Philip. Palavra viva. São Paulo: Vida Nova, 2000. p.13
[46] Ibid. p. 56.
[47] ANGLADA, Paulo R. B. Introdução à Pregação Reformada. Ananindeua: Knox Publicações, 2005. p. 60.
[48] ANGLADA, Paulo R. B. Vox Dei: A Teologia Reformada da Pregação, http://geocities.com/arpav/biblioteca/voxdei.html. 19 de agosto, 2008.
[49] CALVINO. As Institutas. IV.1.5.
[50] CALVINO, João. Efésios. São Paulo: Edições Paracletos, 1998. 75.
[51] SHEDD. Palavra viva. p. 67
[52] THOMAS, Derek. A pregação Expositiva: Mantendo os olhos no texto. In: MOHLER, BOICE, THOMAS and BEEKE (Ed.). Apascenta o meu rebanho. São Paulo: CEP, 2009. p. 52
[53] CALVINO. As Pastorais: 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon. p. 313-314.
***2. Anunciando a mensagem
Os profetas eram mensageiros do Senhor e, portanto, devem ser considerados bons modelos para nós hoje. Uma das coisas que podemos perceber nos profetas do Antigo Testamento é o fato de sua mensagem ter sido fundamentada no Pentateuco. Eles não traziam uma mensagem totalmente nova, mas se preocupavam em mostrar como as Escrituras podiam ser aplicadas aquele povo. Com isso em mente, o principio a ser aplicado ao mensageiro contemporâneo é que toda pregação deve ser fundamentada na Palavra de Deus.
Embora possa parecer óbvio que o pregador deva pregar a Bíblia, isso não parece ser tão natural assim. Na verdade, pode haver uma grande confusão nos púlpitos a respeito disso. Muitos sermões possuem aparência de pregação bíblica, mas, na realidade são pensamentos de homens e não de Deus. O simples fato de alguém levar a Bíblia para o púlpito não quer dizer que ele esteja pregando realmente a Bíblia. A tentação que o pregador pode sofrer é usar um texto bíblico apenas para dizer o que pensa e não o que a Bíblia realmente diz.
Muitas vezes, ainda, a falha no púlpito acontece por uma preocupação em agradar aqueles que estão ouvindo. Paulo adverte que nos últimos dias as pessoas não aceitariam as verdades de Deus (2 Tm 3.1-4.5). É natural, portanto, que a pregação verdadeira não seja tão aceita pela maioria das pessoas. No entanto, quando um pregador deixa de pregar a Palavra de Deus simplesmente pela tentação de agradar a igreja, mostra que ele deixou de ser um pregador e que seu temor está em homens e não em Deus. Por isso, não está errado também afirmar que se a pregação não tem causado impacto na igreja certamente o pregador abandonou o compromisso de pregar a Bíblia. Como afirma Mohler, “se você está e paz com o mundo, você já abdicou do seu chamado”.[29]
O que se defende aqui é que a autoridade de uma pregação não vem pela forma de falar ou pelo número de pessoas que se consegue persuadir, mas pela autoridade da Palavra de Deus. Quanto à isso, Robinson explica: “Um pregador pode proclamar qualquer coisa, com voz imponente, no domingo de manhã, depois de serem cantados os hinos. Mesmo assim, quando um pregador deixa de pregar as Escrituras, perde sua autoridade.”[30]
Calvino, que era um grande expositor da Bíblia, não aceitava outra forma e pregação senão aquela que explicasse com fidelidade a vontade de Deus exposta na Bíblia:
Quando, porém, pareceu bem a Deus suscitar mais clara forma à Igreja, quis que fosse confiada à escrita, e assim selar sua Palavra, para que os sacerdotes daí buscassem o que ensinar ao povo e para que a essa regra se conformasse todo o ensino que se transmitisse. E assim, após a promulgação da lei, quando se ordena aos sacerdotes que ensinassem “pela boca do Senhor” [Ml 2.7], o sentido é que não ensinassem algo estranho ou alheio a esse gênero de ensino que Deus havia compreendido na Lei. Com efeito, lhes foi vedado acrescentá-la e diminuí-la.[31]
Para Calvino, o motivo para se pregar biblicamente é porque somente através desta pregação que Deus se utiliza para edificar seu povo.[32] Calvino, neste ponto não aceita exceções: “Deve-se, porém, ser mantido por nós o que já citamos de Paulo: que a Igreja não é edificada de outro modo senão pela pregação externa.”[33]
Por isso, a pregação expositiva se torna o melhor modelo de pregação, pois nela a preocupação do pregador é expor a Bíblia e somente isto. Por pregação expositiva deve ser entendida como aquela pregação cujo alvo principal é explicar e aplicar a mensagem de um determinado texto da maneira mais fiel possível. Mohler, sobre isso, diz:
“Eu defino pregação expositiva como aquele estilo de pregação cristã que tem como propósito central a apresentação e a aplicação do texto da Bíblia. [...] Sendo a Palavra de Deus, o texto da Escritura tem o direito de estabelecer tanto o conteúdo quanto a estrutura do sermão. A exposição genuína ocorre quando o pregador define o significado e a mensagem do texto bíblico e deixa claro como a Palavra de Deus estabelece a identidade e a perspectiva da igreja como povo de Deus.” [34]
O mesmo afirma MacArthur de maneira resumida: “por expositiva quero dizer pregar de tal maneira que o significado da passagem bíblica se apresente completa e exatamente como Deus quer” (tradução minha).[35] Portanto, quem direciona a forma e o assunto do sermão é o texto e não o pregador.
No entanto, a pregação expositiva não é um simples método de pregação, mas um compromisso com a Palavra de Deus. Está correto Robinson ao afirmar que a pregação expositiva é mais uma filosofia do que um método.[36] Ligon Duncan explica melhor esse pensamento dizendo:
“Eu não me refiro à pregação expositiva como um estilo ou um método de pregação, mas ao compromisso de princípios autoconsciente com a pregação de tal modo que a própria Escritura forneça o tema principal, as verdades essenciais e aplicação principal na nossa proclamação” [37]
Assim, fazer uso de recursos homiléticos e didáticos não são errados desde que não interfira na mensagem central do texto. Na verdade, estes recursos devem ser dependentes do próprio texto.
Entretanto, o fato de um pregador tratar de alguma verdade bíblica, não significa que ele esteja sendo expositivo. É interessante notar que o grande pregador Lloyd-Jones recusava qualquer pregação que não fosse a pregação expositiva. Neste ponto ele chega a afirmar: “A verdadeira pregação é a exposição da Palavra de Deus. Não é mera exposição dos dogmas ou do ensino da Igreja.”[38] Em outro lugar ele ainda adverte que:
“É erro grave quando um homem impõe violentamente o seu sistema sobre qualquer texto em particular; porém, ao mesmo tempo, é vital que a sua interpretação a respeito de qualquer texto especifico seja confrontada e controlada por esse sistema, por esse corpo de doutrina e de verdades, que se encontram na Bíblia. A tendência de alguns homens que têm uma teologia sistemática, e à qual se apegam rigidamente, consiste em impô-la a textos particulares, assim forçando tais textos.” [39]
É nisso que se diferencia a pregação expositiva da pregação textual e temática. Na pregação textual e temática o pregador é tentado a impor a sua doutrina em determinados textos. Mas, como apresentado até agora, a preocupação do pregador é que o texto bíblico fale ao coração do crente e não um sistema doutrinário.
Para que isso ocorra, ou seja, que o pregador transmita realmente a Palavra de Deus, ele necessita de um estudo detalhado do texto bíblico. Usando as palavras de Mohler, “o pregador deve ser um servo da Palavra”.[40] Por isso, é importante que o pregador faça uma exegese cuidadosa da passagem. Olivetti demonstra a preocupação com a correta interpretação da Palavra de Deus dizendo que:
“Descuidar da interpretação da Bíblia é tender a pregar inverdades, a torcer ou truncar ou falsear as verdades da Palavra de Deus. E agir assim é ser infiel a Deus e à Sua Palavra, e é ser um traidor dos seus ouvintes e dos seus leitores.” [41]
Este talvez seja um grande motivo do porque a pregação expositiva não tenha tido tanto espaço nos púlpitos. A pregação expositiva exige, inevitavelmente, um estudo mais demorado e árduo que as demais formas de pregação.
De certa forma, toda essa preocupação com a pregação expositiva parte de um pressuposto teológico. Como bem explica MacArthur, a pregação expositiva deve ser uma resposta à certeza da inspiração e inerrância da Bíblia.[42] Ele afirma que a “infalibilidad demanda la exposición como el único método de predicación que preserva la pureza de la Escritura y alcanza el propósito para el cual Dios nos dio su Palabra”.[43] O mesmo afirma Mohler dizendo que se “cremos verdadeiramente que a Bíblia é a Palavra escrita de Deus – a revelação de Deus perfeita e divinamente inspirada, a pregação expositiva é a única opção válida para nós”.[44]
Nesse sentido, Shedd também explica que “o poder transformador da Palavra depende do reconhecimento da autoridade divina.”[45] A igreja precisa obedecer à palavra pregada não pelo pregador, mas porque a autoridade vem de Deus. Se este compromisso e entendimento partir primeiramente do pregador será mais fácil para que a igreja também se comprometa. Shedd continua neste pensamento dizendo que “quando um mestre da Palavra demonstra um compromisso real com a revelação de Deus, os ouvintes estarão mais dispostos a aprender a se submeter igualmente aos conselhos divinos.”[46]
Tanto MacArthur quanto Shedd evidenciam uma preocupação em mostrar a grande tarefa que o pregador tem nas mãos. Com esse ensino eles refletem um princípio que se estende desde a reforma, que o pregador fiel à Escritura é na verdade a própria “boca de Deus”.[47] Para a teologia reformada, pregar biblicamente não é falar algo acerca da Palavra de Deus. Pelo contrário, a pregação bíblica se torna a própria Palavra de Deus. Sobre isso, Anglada afirma:
“Assim como a palavra inspirada não deixa de ser divina, embora escrita por autores humanos em pleno uso de suas peculiaridades humanas, assim também a palavra pregada não deixa de ser de Deus por ser mediada pela personalidade do pregador”. [48]
Calvino, em suas institutas diz:
“Mas, os que pensam que a autoridade da doutrina é desprezada pela baixa condição dos homens que foram chamados a ensiná-la, estes põem à mostra sua ingratidão, porquanto, entre tantos dotes preclaros com os quais Deus adornou o gênero humano, esta prerrogativa é singular: que a si digna consagrar as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar sua própria voz.” [49]
E o mesmo em seus comentários:
A fé procedente do evangelho seria deveras frágil, se fôssemos nós olhar somente para os homens. Toda a sua autoridade procede de reconhecermos que os homens são meros instrumentos de Deus e de ouvirmos Cristo nos falando por meio de lábios humanos. [50]
Portanto, o pregador não pode se esquecer do grande peso que carrega em seus ombros. Ele deve ser fiel à Palavra do Senhor para que ele seja a própria voz de Deus. Ele não é apenas um orador, mas é um mensageiro de Deus. Ele não pode simplesmente estar preocupado em agradar pessoas, mas preocupado em agradar aquele que envia a mensagem ao seu povo.
Uma última observação deve ser feita sobre a pregação expositiva. Afinal, até essa forma de pregação tem causado certa confusão nos pregadores. A função da exegese na pregação é apenas para “oferecer uma boa base para descobrir o sentido do texto”.[51] Mas, a exegese não deve ser apresentada em um sermão. Com essa preocupação em mente Thomas explica que a pregação deve sempre ser feita de maneira didática. Em seu artigo sobre pregação expositiva ele mostra que a pregação expositiva não é um comentário exegético sobre um determinado texto.[52]
Se o primeiro dever de um pastor é ser instruído no conhecimento da sã doutrina, e o segundo é reter sua confissão com firmeza e inusitada coragem, o terceiro é que adapte o método do ensino visando a produzir edificação, e não divague, movido pela ambição, por entre as sutilezas da curiosidade frívola; mas, ao contrário, que busque tão-somente o sólido avanço da Igreja. [53]
Se a mensagem vem carregada de informações complexas o pregador não está atingindo o objetivo da pregação. Mas, o pregador deve aprender a selecionar bem o conteúdo e apresentar a mensagem de maneira que até o mais simples consiga entender e ser edificado.
Continua nos próximos dias...
____________
Notas:
[28] ELLSWORTH, Roger. Pregue a Palavra. In: ASCOL (Ed.). Amado Timóteo. São José dos Campos: Fiel, 2005. Cap.15. p. 236.
[29] Ibid. p. 22.
[30] ROBINSON. Pregação Bíblica. p. 20
[31] CALVINO, João. As Institutas. 2ª ed. São Paulo: CEP, 2006. (Vol. 4). IV.8.6.
[32] CALVINO, João. As Pastorais: 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon: Comentário à sagrada escritura. Tradução de MARTINS. São Paulo: Edições Paracletos, 1998. p. 313.
[33] CALVINO. As Institutas. IV.1.5.
[34] MOHLER, R. Albert; Jr. Pregar com a cultura em mente. In: A pregação da cruz. São Paulo: CEP, 2010. Cap.3. p. 64.
[35] MacARTHUR, John. El mandato de la infalibilidade biblica. In: MacARTHUR (Ed.). El redescubrimiento de la predicacion expositiva. Nashiville, Tenn.: Caribe, 1996. Cap.2. p. 41.
[36] ROBINSON. Pregação Bíblica. p. 22.
[37] DUNCAN III, J. Ligon. Pregar Cristo a Partir do Antigo Testamento. In: DEVER (Ed.). A Pregação da Cruz. São Paulo: CEP, 2010. p. 37,38.
[38] LLOYD-JONES, David Martyn. A Pregação. São Paulo: PES, [19--]. p.
[39] LLOYD-JONES, David Martyn. Pregação & pregadores. 2ª ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 1986. p. 48.
[40] MOHLER. A primazia da pregação. p. 17.
[41] OLIVETTI, Odayr. O púlpito e a interpretação da Bíblia. In: PIERATT (Ed.). Chamado para servir. São Paulo: Vida Nova, 1994. Cap.16. p. 253-266. p. 259.
[42] MacARTHUR. El mandato de la infalibilidade biblica. p. 41.
[43] Ibid. p. 42.
[44] MOHLER, R. Albert; Jr. Deus não está em silêncio. São José dos Campos: Fiel, 2011. p. 72.
[45] SHEDD, Russell Philip. Palavra viva. São Paulo: Vida Nova, 2000. p.13
[46] Ibid. p. 56.
[47] ANGLADA, Paulo R. B. Introdução à Pregação Reformada. Ananindeua: Knox Publicações, 2005. p. 60.
[48] ANGLADA, Paulo R. B. Vox Dei: A Teologia Reformada da Pregação, http://geocities.com/arpav/biblioteca/voxdei.html. 19 de agosto, 2008.
[49] CALVINO. As Institutas. IV.1.5.
[50] CALVINO, João. Efésios. São Paulo: Edições Paracletos, 1998. 75.
[51] SHEDD. Palavra viva. p. 67
[52] THOMAS, Derek. A pregação Expositiva: Mantendo os olhos no texto. In: MOHLER, BOICE, THOMAS and BEEKE (Ed.). Apascenta o meu rebanho. São Paulo: CEP, 2009. p. 52
[53] CALVINO. As Pastorais: 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon. p. 313-314.
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