Evangelicalismo? Dificilmente
Claramente, Brown, Pinnock, Greg Boyd e a maioria dos principais defensores do novo modelo do teísmo relacional querem ser aceitos como evangélicos. Próximo do fim de seu artigo, Brow pergunta em voz alta se o novo modelo de pensamento tem lugar debaixo do guarda-chuva evangélico. Mas ele fornece um quadro mais útil das boas-novas de Deus ou é um “outro evangelho”?
As gerações mais antigas de evangélicos teriam respondido essa questão sem hesitação, declarando que a mensagem do teísmo relacional é “outro evangelho” (Gl 1.8, 9). Além disso, seria exatamente assim que eles teriam respondido se socinianos, unitaristas, liberais e vários outros mascates de novas teologias tivessem feito o mesmo desafio ao “velho modelo”.
Infelizmente, o principal segmento dessa geração de evangélicos parece carecer da vontade ou do conhecimento de decidir se os teístas relacionais são lobos em pele de cordeiro ou se são verdadeiros reformadores. Mas deve ser claramente afirmado: por qualquer definição de evangelicalismo com integridade histórica, o teísmo relacional se opõe ao próprio núcleo de verdades que os evangélicos representam. Portanto, por qualquer definição bíblica, eles são hereges, pregadores de um evangelho diferente. Essas duas acusações são substanciadas pelo abandono da expiação substitutiva por parte do teísmo relacional.
De fato, a única diferença significativa entre os teístas relacionais de hoje e os socinianos de tempos passados é que os socinianos negavam a divindade de Cristo, o que os teístas relacionais ostensivamente não fazem. Por outro lado, os teístas relacionais negam a divindade do próprio Deus, humanizando-o e tentando reconciliá-lo com os modernos padrões de correção política.
Em “Evangelical Megashift”, Robert Brow alega que “a influência do vento [a teologia do novo modelo] chega inesperadamente através de cada fenda quando nós lemos As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis”. Lewis não era um teólogo, e não há dúvida de que suas posições foram atenuadas no que diz respeito às penas eternas. Ele afirmava outras posições que causavam arrepios no velho modelo evangélico, mas seria espantoso se ele realmente tivesse simpatia pela posição dos teístas relacionais sobre uma divindade domesticada e diminuída.
Nas Crônicas de Nárnia, Aslan, o feroz e amoroso leão, representa Cristo. Suas garras são espantosamente terríveis, cortam como facas quando as unhas estão à mostra, mas são macias e aveludadas quando as unhas estão encolhidas. Ele é tanto bom quanto temível. Quando as crianças do conto de Lewis olharam para ele, elas “começaram a tremer”. Sr. Castor diz sobre ele: “Ele é selvagem, vocês sabem. Ele não é um leão domesticado”. E Lewis, como narrador, observa: “As pessoas que não estiveram em Nárnia talvez pensem que uma coisa não possa ser boa e má ao mesmo tempo”.
Esse mesmo falso pressuposto básico foi o ponto inicial da heresia do teísmo relacional. Os teólogos do novo modelo partiram do pressuposto de que Deus não podia ser bom e terrível ao mesmo tempo e, a partir daí, começaram a despir Deus daqueles atributos de que eles não gostavam. Assim como os socinianos e os liberais que os precederam, os teístas relacionais procuram orientar a questão de forma a fazer com que Deus seja “bom” de acordo com uma definição humanista, terrena, de “bom”. Eles estão inventando um deus de sua própria autoria.
No livro final da série Crônicas de Nárnia, um macaco ímpio coloca uma pele de leão sobre um asno e finge que ele é Aslan. Essa é uma sinistra e perigosa pretensão, e no fim ela conduz à perdição de incontáveis narnianos. O deus do teísmo relacional é como um asno com pele de leão, e está afastando muitas pessoas do glorioso Deus das Escrituras. Deus é bom e temível. Sua ira é tão real quanto seu amor. Ele é aquele que “guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado” (Êx 34.7) sem satisfazer sua própria justiça e sua ira.
Os verdadeiros evangélicos nunca abandonam essas verdades, e aqueles que não podem digerir Deus da forma em que ele se revelou não têm o direito de rotular-se de “evangélicos”. Essas são questões pelas quais vale a pena lutar, como provam tanto a história da Igreja quanto as Escrituras. O surgimento do teísmo relacional é uma grave ameaça à causa do verdadeiro evangelho. Deus pode levantar uma nova geração de guerreiros evangélicos com coragem e convicção para lutar pela verdade da expiação substitutiva.
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Fonte: Eu não sei mais em quem eu tenho crido / Douglas Wilson (org.) - São Paulo: Cultura Cristã, 2006. Págs. 92-93
Leia também:
O ataque dos teístas relacionais à Expiação - 1/3
O ataque dos teístas relacionais à Expiação - 2/3
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