Em meu artigo, “Graus de Avaliação Ética”, eu comentei a respeito do ato heroico dos três poderosos guerreiros de Davi, que levaram para ele uma porção de água do poço de Belém (2 Samuel 23:13-17). Naquele artigo eu julguei que, embora Deus tenha aprovado o ato deles, os três não teriam pecado se eles tivessem escolhido não fazer aquilo, nem seria pecado se a viúva de Mateus 12:44 tivesse dado uma moeda em vez de duas. Eu poderia apoiar ainda mais esse julgamento ao lembrar as palavras de Pedro para Ananias e Safira (Atos 5:1-11) quando eles mentiram a respeito da propriedade: “Ela não lhe pertencia? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu poder?” Pedro certamente parece dizer aqui que Ananias e Safira não tinham a obrigação de vender a propriedade e dar todo o valor à igreja como Barnabé fez (Atos 4:37). Então nem eles nem Barnabé teriam pecado se eles não tivessem vendido suas propriedades. Vender propriedades para o benefício da igreja naquela situação não era uma obrigação, parece, mas, como os atos da viúva pobre e dos poderosos de Davi, era heroísmo moral.
Mas eu nunca estive inteiramente satisfeito com o julgamento de que tais atos não eram obrigatórios. Eles são opcionais, então? Algo que você pode realizar ou não, ao seu bel prazer? Em I Coríntios 9, Paulo descreve todos os seus esforços a favor do Evangelho, com todos os “direitos” que ele abriu mão para que o Evangelho pudesse ser disponibilizado sem custos adicionais. Se ele tinha o direito de ser pago pela igreja, somos inclinados a dizer, certamente ele não era obrigado a pregar sem receber por isso. Mas há um senso de obrigação nesta passagem:
Mas eu nunca estive inteiramente satisfeito com o julgamento de que tais atos não eram obrigatórios. Eles são opcionais, então? Algo que você pode realizar ou não, ao seu bel prazer? Em I Coríntios 9, Paulo descreve todos os seus esforços a favor do Evangelho, com todos os “direitos” que ele abriu mão para que o Evangelho pudesse ser disponibilizado sem custos adicionais. Se ele tinha o direito de ser pago pela igreja, somos inclinados a dizer, certamente ele não era obrigado a pregar sem receber por isso. Mas há um senso de obrigação nesta passagem:
“Contudo, quando prego o evangelho, não posso me orgulhar, pois me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho! Porque, se prego de livre vontade, tenho recompensa; contudo, como prego por obrigação, estou simplesmente cumprindo uma incumbência a mim confiada.” (versos 16-17)
Se Paulo tinha um certo “direito” de não pregar sem pagamento, ele tem uma compulsão de algum tipo que o leva a renunciar esse pagamento. Além disso, sua decisão cumpre uma “incumbência confiada” a ele. E se ele se recusasse a cumprir essa incumbência? Ele teria pecado?
Antes de responder, veja o que Paulo diz depois, “Faço tudo por causa do Evangelho, para ser co-participante dele.” (verso 23) e então ele descreve sua compulsão como a de um atleta com seus olhos na chegada, concluindo, “esmurro o meu corpo e faço dele o meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado.” De certa forma, vencer o prêmio depende do heroísmo moral de Paulo.
Isso quase soa como salvação pelas obras. É claro, nós sabemos de outras partes da Escritura que não é assim. Então o que é isso? Bem, em última instância, o prêmio é Jesus. É Seu Reino; é a bênção completa de conhecê-Lo. Compare com o que ele diz aqui em outra passagem refletindo seu heroísmo moral, em Filipenses 3:7-11,14:
“Mas o que para mim era lucro, isso passei a considerar como perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos. […] prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial em Cristo Jesus.”
Paulo é tão apaixonado por Jesus que ele quer experimentar todas as bênçãos que vêm pra aqueles que vão com tudo pra Cristo. Não é que de outra forma ele fosse pro inferno, não é que exista alguma proporção exata entre o mérito das obras realizadas aqui e a recompensa no céu. É apenas que Paulo quer conhecer Jesus o melhor que ele puder. Conforme 2 Coríntios 1:5-6 e o perplexo verso em Colossenses 1:24.
Mas, não somos obrigados, de certa forma, a conhecer Jesus o melhor que nós pudermos? A própria Vida Eterna é conhecer Jesus (João 17:3). Deus disse a Israel por meio de Moisés que eles deveriam conhecê-Lo (Deuteronômio 7:9). Ele fez seus milagres “para que eles conheçam que eu sou o SENHOR.” Nós não somos apenas obrigados a conhecê-Lo, mas a amá-Lo, com todo o nosso coração, alma, força e entendimento (Mateus 22:37).
O heroísmo moral particular de Paulo não é obrigatório para todos nós. Pregar sem receber era a forma que Paulo levava adiante sua paixão por conhecer e amar Jesus. Outros, como Apolo e Pedro, aceitavam pagamento pelos seus ministérios, como era o direito deles. Mas eles mostraram sua paixão por Cristo de outras formas. É esta paixão que nos é obrigatória, não uma forma específica de vivê-la. É o princípio, e não a aplicação particular de Paulo.
Mas Deus espera algum grau de heroísmo de cada um de nós. O Grande Mandamento, de amar a Deus com tudo o que temos, é uma demanda extrema. Deus pode nunca chamá-lo a um ato de heroísmo militar como os poderosos guerreiros de Davi, ou para dar todas as suas posses, como a viúva pobre, ou para vender sua propriedade, como Barnabé. Mas ele vai lhe pedir para fazer algum tipo de sacrifício realmente difícil, da mesma forma que ele pediu ao Jovem Rico para vender todos os seus bens pra alimentar os pobres.
Heroísmo moral é uma obrigação, porque nossa obrigação geral é ser como Jesus: amar como ele fez (João 13:34, I João 4:9-12) no mais extremo sacrifício, servir aos outros como ele nos serviu (Marcos 10:45).
Quando nós entendemos esta obrigação, podemos ver muito mais claramente porque boas obras jamais podem alcançar os padrões de Deus. Comparando com o heroísmo de Cristo, e até comparando com alguns dos seus melhores discípulos, nós estamos muito abaixo. Então nós confiamos completamente na graça de Deus em Jesus para a nossa salvação. Mas à medida que renunciamos nossa justiça-própria pela de Cristo (Filipenses 3 de novo), nós podemos ver a glória de Jesus comparando-a com nosso lixo, e Deus planta em nós aquela paixão para corrermos a corrida com Paulo: para conhecer a plenitude das bênçãos de Cristo e, acima de tudo, conhecer o próprio Cristo.
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Fonte: Frame & Poythress
Tradução: Daniel TC
Via: Reforma 21
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