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O pastor reformado Ageu Magalhães esteve em um programa de entrevistas na TV para debater com o pr. Ariovaldo Júnior (não é filho do pr. Ariovaldo Ramos!), autor da chamada "Bíblia Free Style". As impressões do pr. Ageu sobre o entrevero (muito polido, por sinal) são descritas aqui. Recentemente, Yago Martins e Felipe Cruz fizeram um vídeo que contribuiu para a discussão, abordando pontos que ficaram de fora na entrevista. Não resisti e resolvi também, como profissional do idioma, apresentar minhas contribuições ao assunto.
Primeira. A linguagem que escolhemos usar está sempre em estreita correlação com a mensagem que pretendemos passar. A paródia free style, em primeiro lugar, não é free style ("estilo livre"), mas adota um "style" só: o de uma linguagem chula, descuidada e vulgar, que nas situações de vida real só surge em contextos muito específicos de informalidade, intenção humorística, desejo de chocar ou insultar o interlocutor. Ao uniformizar todas as situações de discurso da Bíblia (que contém momentos de ensino, exortação, argumentação filosófico-existencial etc.) fazendo-as caber em contextos descontraídos - como se todos os personagens bíblicos estivessem sempre na praia, de roupas de banho, conversando com amigos íntimos e ocasionalmente falando palavrão -, o autor da "free style" demonstra um desconhecimento completo do conceito linguístico da ADEQUAÇÃO. Por utilizar somente um registro informal e chulo, a versão deve ser considerada imprópria por todo aquele que tem não só amor pela Bíblia, mas também amor pela linguagem, pura e simplesmente. Não se trata só da presença de palavrões (falei sobre eles aqui). A formalidade, a contenção, o cuidado com a correspondência entre o que se diz e como se diz (para sentidos altos, palavras respeitosas), tudo isso faz parte da vida e necessariamente se reflete na linguagem. O tradutor que nega isso acaba negando a própria realidade, com toda a sua dinâmica e relações multicolores, plurais.
Segunda. Ao chegar aos evangelizáveis com essa informalidade excessiva, alegando ser esta a linguagem do público-alvo, os utilizadores da "free style" caem em um erro grave. Será que toda prostituta, todo presidiário, todo viciado em drogas e todo morador de rua usam necessariamente, o tempo todo, com todo mundo, uma linguagem chula, descuidada e vulgar? Claro que não. (Que mico: é como abordar todo mundo na rua com risadas e tapinhas nas costas. Coisa de quem quer forçar a amizade.) E será que todas essas pessoas realmente preferirão ouvir pregações bíblicas em uma linguagem chula, descuidada e vulgar? Muito menos! Quem se expressa impropriamente sabe que o faz e provavelmente não gostaria de ver essa linguagem imprópria misturada com pregação religiosa. Sem medo de errar, conhecendo várias experiências de missões urbanas, afirmo que, nesses grupos, a maioria não responderá positivamente a isso. Ao demonstrar tremendo descaso com a Palavra de Deus, envolvendo em baixo calão a mensagem de um Deus santo, tais idealizadores rebaixam ainda mais o que creem ser o padrão linguístico de seus evangelizados. Nas palavras de um amigo, "o Ariovaldo se torna pior que o desbocado comum por querer sacralizar o palavrão como socialmente aceitável em termos absolutos, coisa que nem o xingador comum faz". Ora, o contraste entre obscenidade na forma e santidade de conteúdo é chocante, evidentemente; com isso, os defensores freestylianos se inserem na velharia de uma cultura que, há pelo menos cinquenta anos, agride orgulhosamente o que considera tradição e bom senso com sua pretensa "liberdade". De fato, seria mais honesto que parassem de usar o campo missionário como pretexto para essas atividades textuais grotescas e tivessem a coragem de admitir o que me parece arbitrária preferência pessoal.
Prostitutas, moradores de rua, usuários de drogas e presidiários, como alvos da pregação do Evangelho, merecem exatamente o mesmo tratamento que qualquer outra pessoa. Escolher uma linguagem de baixo nível para essas pessoas na atividade de evangelização é, com todas as letras, preconceito. Se não é conveniente que o cristão use tal linguagem, não a utilizemos de modo algum. Não só porque é pecado, nem apenas em respeito pela Bíblia, mas também por amor aos evangelizados, que em missões urbanas dificilmente serão amigos íntimos. O argumento de que, nesses grupos, muita gente precisará de uma linguagem mais simplificada é respondido de modo também simples: cabe ao evangelista comunicar a Palavra de Deus com suas próprias palavras, personalizando-a de acordo com cada ouvinte, como muitos já fazem; e, caso haja necessidade de uma versão bíblica mais acessível, elas existem e não cedem um milímetro à vulgaridade de uma "Bíblia" que, dizendo-se free, enreda de saída os possíveis novos convertidos em uma atmosfera mundana da qual eles deveriam ser incentivados a se libertar.
Por Norma Braga
O pastor reformado Ageu Magalhães esteve em um programa de entrevistas na TV para debater com o pr. Ariovaldo Júnior (não é filho do pr. Ariovaldo Ramos!), autor da chamada "Bíblia Free Style". As impressões do pr. Ageu sobre o entrevero (muito polido, por sinal) são descritas aqui. Recentemente, Yago Martins e Felipe Cruz fizeram um vídeo que contribuiu para a discussão, abordando pontos que ficaram de fora na entrevista. Não resisti e resolvi também, como profissional do idioma, apresentar minhas contribuições ao assunto.
Primeira. A linguagem que escolhemos usar está sempre em estreita correlação com a mensagem que pretendemos passar. A paródia free style, em primeiro lugar, não é free style ("estilo livre"), mas adota um "style" só: o de uma linguagem chula, descuidada e vulgar, que nas situações de vida real só surge em contextos muito específicos de informalidade, intenção humorística, desejo de chocar ou insultar o interlocutor. Ao uniformizar todas as situações de discurso da Bíblia (que contém momentos de ensino, exortação, argumentação filosófico-existencial etc.) fazendo-as caber em contextos descontraídos - como se todos os personagens bíblicos estivessem sempre na praia, de roupas de banho, conversando com amigos íntimos e ocasionalmente falando palavrão -, o autor da "free style" demonstra um desconhecimento completo do conceito linguístico da ADEQUAÇÃO. Por utilizar somente um registro informal e chulo, a versão deve ser considerada imprópria por todo aquele que tem não só amor pela Bíblia, mas também amor pela linguagem, pura e simplesmente. Não se trata só da presença de palavrões (falei sobre eles aqui). A formalidade, a contenção, o cuidado com a correspondência entre o que se diz e como se diz (para sentidos altos, palavras respeitosas), tudo isso faz parte da vida e necessariamente se reflete na linguagem. O tradutor que nega isso acaba negando a própria realidade, com toda a sua dinâmica e relações multicolores, plurais.
Segunda. Ao chegar aos evangelizáveis com essa informalidade excessiva, alegando ser esta a linguagem do público-alvo, os utilizadores da "free style" caem em um erro grave. Será que toda prostituta, todo presidiário, todo viciado em drogas e todo morador de rua usam necessariamente, o tempo todo, com todo mundo, uma linguagem chula, descuidada e vulgar? Claro que não. (Que mico: é como abordar todo mundo na rua com risadas e tapinhas nas costas. Coisa de quem quer forçar a amizade.) E será que todas essas pessoas realmente preferirão ouvir pregações bíblicas em uma linguagem chula, descuidada e vulgar? Muito menos! Quem se expressa impropriamente sabe que o faz e provavelmente não gostaria de ver essa linguagem imprópria misturada com pregação religiosa. Sem medo de errar, conhecendo várias experiências de missões urbanas, afirmo que, nesses grupos, a maioria não responderá positivamente a isso. Ao demonstrar tremendo descaso com a Palavra de Deus, envolvendo em baixo calão a mensagem de um Deus santo, tais idealizadores rebaixam ainda mais o que creem ser o padrão linguístico de seus evangelizados. Nas palavras de um amigo, "o Ariovaldo se torna pior que o desbocado comum por querer sacralizar o palavrão como socialmente aceitável em termos absolutos, coisa que nem o xingador comum faz". Ora, o contraste entre obscenidade na forma e santidade de conteúdo é chocante, evidentemente; com isso, os defensores freestylianos se inserem na velharia de uma cultura que, há pelo menos cinquenta anos, agride orgulhosamente o que considera tradição e bom senso com sua pretensa "liberdade". De fato, seria mais honesto que parassem de usar o campo missionário como pretexto para essas atividades textuais grotescas e tivessem a coragem de admitir o que me parece arbitrária preferência pessoal.
Prostitutas, moradores de rua, usuários de drogas e presidiários, como alvos da pregação do Evangelho, merecem exatamente o mesmo tratamento que qualquer outra pessoa. Escolher uma linguagem de baixo nível para essas pessoas na atividade de evangelização é, com todas as letras, preconceito. Se não é conveniente que o cristão use tal linguagem, não a utilizemos de modo algum. Não só porque é pecado, nem apenas em respeito pela Bíblia, mas também por amor aos evangelizados, que em missões urbanas dificilmente serão amigos íntimos. O argumento de que, nesses grupos, muita gente precisará de uma linguagem mais simplificada é respondido de modo também simples: cabe ao evangelista comunicar a Palavra de Deus com suas próprias palavras, personalizando-a de acordo com cada ouvinte, como muitos já fazem; e, caso haja necessidade de uma versão bíblica mais acessível, elas existem e não cedem um milímetro à vulgaridade de uma "Bíblia" que, dizendo-se free, enreda de saída os possíveis novos convertidos em uma atmosfera mundana da qual eles deveriam ser incentivados a se libertar.
***
Fonte: Blog da autora
Leia também: Uma análise sobre a "Bíblia Freestyle"
1 comentários:
Sensacional...
ResponderGraças a Deus ainda existem pessoas com bom senso e amor por tudo aquilo que o Senhor deixou registrado nas Escrituras como uma carta aos seus filhos, aqueles de coração quebrantado. Obrigado
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