Por Donald Carson
Anos atrás, escrevi uma crítica bastante moderada ao movimento da igreja emergente como então existia, antes de se transformar em suas atuais configurações diversas. Esse pequeno livro me rendeu alguns dos mais furiosos e amargurados e-mails que eu já recebi – sem falar, claro, das postagens nos blogs. Houve outras respostas, claro – algumas de aprovação e gratidão, outros reflexivos, querendo dialogar. Mas os que mostraram a maior intensidade foram aqueles cuja indignação era tamanha por eu não ter primeiro abordado em particular aqueles cujas opiniões eu critiquei no livro. Que hipócrita eu era – criticando meus irmãos com fundamentos bíblicos ostensivos quando eu não estava seguindo o mandamento bíblico de observar um determinado procedimento muito bem definido em Mateus 18.15-17.
Sem dúvida esse tipo de acusação está se tornando mais comum. Está normalmente ligado ao “Peguei você!”, mentalidade que muitos blogueiros e seus leitores parecem alimentar. Pessoa A escreve um livro criticando algum elemento ou outro do confessionalismo histórico Cristão. Alguns blogueiros respondem com mais calor do que luz. Pessoa B escreve um blog com algum conteúdo, em resposta à pessoa A. A blogosfera se acende com ataques à pessoa B, muitos deles perguntando à pessoa B de forma bastante acusadora: “Você conversou com a pessoa A, em particular, primeiro? Se não, você não é culpado por violar o que Jesus nos ensinou em Mateus 18?” Esse padrão de contra ataque, com algumas variações, está prosperando.
Anos atrás, escrevi uma crítica bastante moderada ao movimento da igreja emergente como então existia, antes de se transformar em suas atuais configurações diversas. Esse pequeno livro me rendeu alguns dos mais furiosos e amargurados e-mails que eu já recebi – sem falar, claro, das postagens nos blogs. Houve outras respostas, claro – algumas de aprovação e gratidão, outros reflexivos, querendo dialogar. Mas os que mostraram a maior intensidade foram aqueles cuja indignação era tamanha por eu não ter primeiro abordado em particular aqueles cujas opiniões eu critiquei no livro. Que hipócrita eu era – criticando meus irmãos com fundamentos bíblicos ostensivos quando eu não estava seguindo o mandamento bíblico de observar um determinado procedimento muito bem definido em Mateus 18.15-17.
Sem dúvida esse tipo de acusação está se tornando mais comum. Está normalmente ligado ao “Peguei você!”, mentalidade que muitos blogueiros e seus leitores parecem alimentar. Pessoa A escreve um livro criticando algum elemento ou outro do confessionalismo histórico Cristão. Alguns blogueiros respondem com mais calor do que luz. Pessoa B escreve um blog com algum conteúdo, em resposta à pessoa A. A blogosfera se acende com ataques à pessoa B, muitos deles perguntando à pessoa B de forma bastante acusadora: “Você conversou com a pessoa A, em particular, primeiro? Se não, você não é culpado por violar o que Jesus nos ensinou em Mateus 18?” Esse padrão de contra ataque, com algumas variações, está prosperando.
A esse respeito, pelo menos três coisas devem ser ditas:
(1) O pecado descrito no contexto de Mateus 18.15-17 ocorre
em pequena escala daquilo que transparece uma igreja local (sem duvida é
o que se presume nas palavras “comunique à igreja”). Não está
falando de uma publicação de ampla divulgação designada a afastar um
grande número de pessoas de muitas partes do mundo do confessionalismo
histórico. Esse último tipo de pecado é bem público e já está trazendo
danos; precisa ser confrontado e seus danos desfeitos de maneira
igualmente pública. Isso é bem diferente, digamos, de quando um crente
descobre que um irmão esteve quebrando seus votos matrimoniais por
dormir com uma pessoa que não é sua esposa, e vai a ele em privado,
depois junto de outra pessoa, na esperança de provocar genuíno
arrependimento e contrição, e só então trazer o caso à igreja.
Colocando de outra forma, a impressão que deriva da leitura de Mateus
18 é que o pecado em questão não é, em primeiro lugar, publicamente
notado (diferente da publicação de um tolo, mas influente, livro). É
relativamente privado, observado por um ou dois crentes, mas sério o
suficiente para chamar a atenção da igreja se o ofensor se recusar a
parar. Por outro lado, quando os escritores do Novo Testamento têm ter
que lidar com falso ensinamento, outra ideia chama atenção: o ancião
piedoso “apegue-se firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi
ensinada, para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela”. (Tito 1.9)
Sem dúvida, pode-se imaginar algumas situações contemporâneas que
inicialmente podem fazer alguém coçar a cabeça e pensar qual seria o
rumo mais sensato – ou, para enquadrar o problema no contexto das
passagens bíblicas citadas acima, se deve ser respondida à luz de Mateus
18 ou de Tito 1. Por exemplo, um pastor da igreja local pode ouvir que
um professor em seu seminário denominacional ou faculdade teológica está
ensinando algo que ele julga estar fora da confissão dessa denominação e
possivelmente claras heresias. Deixe-nos tornar a situação mais
desafiadora postulando que o pastor tem um punhado de jovens em sua
igreja que freqüentam esse seminário e estão sendo influenciados por
esse professor em questão. O pastor está de acordo com Mateus 18 ao
falar com o professor antes de contestá-lo em público?
Essa situação é complicada no que o suposto falso ensinamento é
publico em um sentido e privado em outro. É público no sentido de que
não é meramente opinião privada, por estar certamente sendo promulgada; é
privado no sentido de que o material não é publicado na arena pública,
mas está sendo disseminado em uma sala de aula fechada. Parece-me que o
pastor seria sensato em ir ao professor primeiro, mas não em obediência a
Mateus 18, pois realmente não há relação, mas para determinar
exatamente quais são realmente as visões do professor. Ele pode chegar à
conclusão, afinal, que o professor é um judaizante; outra alternativa é
que o professor foi mal interpretado (e qualquer professor com
integridade vai querer tomar as dores de não ser mal interpretado no
futuro da mesma maneira); ou ainda, que o professor é dissimulado. Ele
pode sentir que tem que ir ao superior direto do professor ou alguém de
maior autoridade. Meu argumento, no entanto, é que esse percurso de ação
não está realmente traçando as instruções de Mateus 18. O pastor está
indo ao professor, em primeira instância, não para reprová-lo, mas
descobrir se há realmente um problema quando o ensino cai nessa
categoria ambígua de não tão privado e não tão público.
(2) Em Mateus 18, o pecado em questão é, pela autoridade da igreja, passível de exclusão – em pelo menos dois sentidos.
Primeiro, a ofensa pode ser tão séria que a única decisão
responsável que a igreja pode tomar é excluir o ofensor da igreja e
vê-lo como uma pessoa não convertida (18.17). Em outras palavras, a
ofensa é motivo de exclusão por causa de sua gravidade. No Novo
Testamento como um todo, há três categorias de pecados que alcançam
esse nível de gravidade: grande erro doutrinário (1 Tim 1.20), grande
falha moral (1 Co 5) e discórdia divisiva e persistente (Tito 3.10).
Esses constituem o lado negativo dos três “testes” positivos de 1 João: o
teste da verdade, o teste da obediência e o teste do amor. Em todo
caso, embora não saibamos qual seja, a ofensa em Mateus 18 é passível de
exclusão por causa de sua gravidade.
Em segundo lugar, a situação é tal que o ofensor pode efetivamente
ser excluído da assembléia. Em outras palavras, a ofensa é passível de
exclusão porque, organizacionalmente, é possível excluir o ofensor.
Veja bem, suponha que alguém, digamos, na Filadélfia, estivesse
afirmando ser um cristão devoto enquanto escrevia um livro que era, em
certos aspectos, profundamente anticristão. Imagine que uma igreja em,
digamos, Toronto, Canadá, decidiu que o livro é herege. Tal igreja pode,
suponho eu, declarar o livro como equivocado ou herético, mas eles
certamente não poderiam excluir o escritor. Sem dúvida, eles poderiam
declarar o ofensor persona non grata em sua própria
assembléia, mas isso seria um gesto fútil e provavelmente sem proveito.
Afinal, o ofensor pode ser perfeitamente aceitável em sua própria
assembléia. Em outras palavras, esse tipo de ofensa pode levar à
exclusão no primeiro sentido – por exemplo, o falso ensinamento pode ser
julgado tão grave que o ofensor merece ser excluído – mas não é
passivel de exclusão no segundo sentido, por ser a realidade
organizacional de tal forma que exclusão não é praticável. Um ponto a
observar é que, seja qual for, a ofensa em Mateus 18 é passível de
exclusão em ambos sentidos: o pecado tem que ser grave o suficiente para
justificar a exclusão, e a situação organizacional deve ser de tal
forma que a igreja local pode ter uma ação decisiva que realmente
exprima alguma coisa. Onde o primeiro e o segundo sentidos não se aplicam, não se aplica Mateus 18.
Pode-se, claro, argumentar que é sabedoria prudente escrever aos
autores antes que você os critique em sua própria publicação. Posso
pensar em situações em que pode ser uma boa ideia ou não. Mas tais tipos
de raciocínio não fazem parte do argumento de Mateus 18.
(3) Há um aroma de justiça encenada, de indignação desproporcional, por trás dos atuais jogos de “peguei você!”.
Se a pessoa B acusa a pessoa A de ter escrito um livro a favor de um
entendimento revisionista da Bíblia, com erro grave e possivelmente com
heresia, não é sábio fazer “tsc tsc” para a mente tacanha da pessoa B e
sorrir com condescendência e desdém por tal julgamento. Isso pode
funcionar bem entre aqueles que acham que a maior virtude no mundo é a
tolerância, mas com certeza não pode ser o caminho mais honroso para o
cristão. Heresia genuína é uma coisa execrável, uma coisa horrível.
Desonra Deus e leva as pessoas a se perderem. Deturpa o evangelho e
seduz as pessoas a acreditarem em coisas falsas e agir de maneiras
repreensíveis. Claro, a Pessoa B pode estar totalmente
enganada. Talvez a acusação que a Pessoa B está fazendo seja
inteiramente equivocada, ou mesmo perversa. Nesse caso, deve-se revelar o
fato, não esconder atrás de uma questão processual. O ataque da Pessoa B
na séria argumentação bíblica deve ser analisado, não dispensado em um
procedimento ilusório e um apelo errôneo a Mateus 18.
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Heresia genuína é uma coisa execrável, uma coisa horrível. Desonra Deus e leva as pessoas a se perderem.
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Traduzido por Carla Ventura | iPródigo.com | Original aqui
Fonte: [ Ipródigo ]
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