Ciúme e Bíblia: considerações teóricas e práticas

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Por Danilo Neves de Almeida

O ciúme é um sentimento comum e complexo, que se manifesta em diferentes circunstâncias e níveis entre as pessoas. Lidar com essa emoção ou administrá-la é algo muitas vezes urgente nos contextos sociais, especialmente familiares, uma vez que tal sentimento tem a tendência de destruir relacionamentos. O que se segue abaixo são algumas considerações teológicas e práticas sobre o assunto em questão.
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CONSIDERAÇÕES TEOLÓGICAS
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A palavra grega "zelos", que aparece nos textos bíblicos, muitas vezes é traduzida como "ciúmes". O sentido básico desse termo é de calor, fervor, borbulhar ou encher, que figurativamente pode ser entendido como indignação, rivalidade, oposição a alguém ou algo. Podemos então, definir o ciúme como um estado de alma "tempestuoso" que pode levar o cristão a atitudes legítimas que envolvem cuidado e proteção ou a todo tipo de comportamento anti-social, egoísta, desenvolvido ao lado de outras emoções como o medo, insegurança, tristeza, desânimo e ira.
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Portanto existem dois sentidos, um positivo (bom) e outro negativo (mau), nos quais a palavra "ciúme" pode ser utilizada. Quando "zelos" é aplicada ao santo Deus, o sentido é unicamente positivo, enquanto que há variação de intenção dos autores bíblicos quando relacionada ao homem. No caso de Gl 5.20, por exemplo, o sentido de "zelos" intencionado pelo apóstolo Paulo é ilegítimo de acordo com o contexto da passagem, onde é listada algumas obras da carne, da vontade humana corrompida pelo pecado.  Eis alguns outros textos que atestam esse ensino:
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Sentido bom: Rm 10.2; 2Co 7.7,11; 9.2; Fp 3.6; Is 9.7; Ez 16;37-38; 23.25; Sl 69.9; 119.139.
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Sentido mau: Jó 5.2; Pv 6.24; Ec 4.4; 9.6; Rm 13.13; 1Co 3.3; 2Co 12.20.
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O ciúme no seu mais intenso nível ou grau, passa a ser chamado de inveja ("fthonos"; ver Gl 5.21) como pode ser observado em algumas narrativas das Escrituras. Quase sempre o sentido pretendido para inveja é negativo, exceto quando raramente usada para se relacionar a Deus (ver Tg 4.5). O ciúme/inveja foi, por exemplo, o motivador do assassinato de Abel cometido por seu irmão Caim, da fuga de Jacó diante de Esaú, da venda de José como um escravo pelos seus irmãos e da tentativa de homicídio do rei Saul contra Davi (ver especialmente Gn 37.11, At 7.9 e 1Sm 18.9). Tais histórias nos servem de exemplos para não subestimarmos esse "inimigo" que existe dentro de nós, o qual nos compete dominá-lo pela graça, em Cristo, o qual foi vítima da inveja de seus opositores (Mt 27.18 // Mc 15.10).
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Nesse sentido, precisamos particularmente nos lembrar que Corinto era uma igreja com muitos problemas relacionados ao ciúme/inveja. Suas divisões e rixas, certamente eram fruto desse sentimento, o qual Paulo solenemente identifica (1Co 3.3; 2Co 12.20), para que os coríntios reconhecessem parte do problema que estava atribulando os irmãos e prejudicando a comunhão e crescimento da igreja. Assim como esses cristãos do passado, cabe a nós hoje ouvirmos a tão maravilhosa exortação do apóstolo do Senhor em espírito de oração:
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"o amor não arde em ciúmes" (ARA)
"o amor não inveja" (NVI). 
1Co 13.4
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CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS
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Abaixo estão enumeradas algumas perguntas que poderão ajudar na identificação e tratamento do ciúme em sua vida cristã. O uso de técnicas de psicoterapia podem ser úteis, desde que sejam usadas sob a orientação da Palavra de Deus (procure um especialista cristão nessa área). No entanto, muitas delas exaltam excessivamente o papel da auto-imagem nos cuidados com o indivíduo, negando ou invalidando a existência do pecado na natureza humana. Como cristãos precisamos entender que sem a santificação (Jo 17.17 // Cl 3.5a) e sem a graça de Deus, jamais seremos restaurados desse mal que habita em nós.
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1. Faça uma lista com as atitudes que o seu próximo tem e que despertam em você o ciúme (no sentido positivo, bom).
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2. Faça a mesma lista, agora com o ciúme no sentido negativo, mau.
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3. Qual sentido prevaleceu?
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4. Em quais situações ou circunstâncias você sente ciúme?
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5. Qual a frequência desse sentimento em você? Diário, ocasionalmente, raramente?
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6. O seu próximo tem contribuído para despertar o ciúme em você? Se sim, o que ele deveria fazer para te ajudar? Que mudanças comportamentais ele deveria fazer? Se não, em que você necessita mudar?
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7. Na sua família ou em amizades próximas, alguém tem te estimulado a ter ciúme? Você tem sido influenciado por eles (elas) nesse sentido?
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8. O ciúme tem te atrapalhado em quê? Quais áreas da sua vida tem sido especificamente afetadas?
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9. O ciúme tem te ajudado em quê? Quais áreas da sua vida tem sido especificamente melhoradas?
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10. Com que frequência você tem orado especificamente por isso em sua vida? Você também tem orado em favor do seu próximo nesse sentido?
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11. Qual (ais) versículo (s) bíblico (s) você escolheria para memorizar, guardar, para que ele (s) seja (m) útil (eis) contra o ciúme no momento da tentação?
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12. Você tem solicitado a ajuda de seus líderes (pastor, presbíteros ou outros irmãos) para lutar contra o ciúme? Se não, porquê?
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Obras consultadas:

- As obras da carne e o fruto do Espírito, William Barclay.
- Dicionário de ética Cristã, org. Carl Henry.
- Dicionário de grego e hebraico, Strong.
- Comentários bíblicos sobre Gálatas 5.19-21.
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Fonte: UMPCGYN
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