Continuação...
2ª Análise: Romanos 16.7 – Aviam "Apóstolas" na Igreja primitiva? Júnias era mulher? Andrônico e Júnias eram apóstolos?
Os defensores do apostolado contemporâneo defendem que havia mulheres na Igreja primitiva que funcionavam como apóstolos. A passagem usada para avançar este ponto é Romanos 16.7, onde Paulo, em sua saudação à Igreja de Roma, menciona uma pessoa por nome Júnias:
“Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim”. (Rm 16.7).
Os defensores desta tese argumentam que Júnias é um nome feminino, e que a mulher com este nome era uma "apóstola", em pé de igualdade com Andrônico. Do ponto de vista dos defensores da ordenação feminina, a passagem prova que Paulo reconhecia que uma mulher pode exercer uma posição de autoridade sobre homens na Igreja apostólica. E se elas eram admitidas ao apostolado, obviamente o eram a cargos eclesiásticos, apóstolas, diaconisas e pastorado. Mas não é tão simples assim. Há várias questões relacionadas com a interpretação deste texto. A primeira questão depende da solução de um problema textual. Existem três variantes do nome Júnias nos manuscritos gregos de Romanos 16.7. As duas primeiras divergem quanto à acentuação da palavra Júnias no grego: (1) Iounia=n, que seria o acusativo de Iounia=j, (Júnia) masculino; (2) Iouni/an, que seria o acusativo de Iouni/a, (Júnia) feminino. A terceira variante é Iouli/an, que corresponderia ao feminino Júlia.
A segunda questão depende da interpretação da expressão "notável entre os apóstolos". Significa que Júnias era um dos apóstolos, já antes de Paulo, e um apóstolo notável? Ou apenas que os apóstolos, antes de Paulo, tinham Júnias em alta conta? As questões mencionadas acima são complexas, e sem respostas definitivas. Examinemos uma a uma.
1. JUNIA É MASCULINO OU FEMININO?
A variante melhor atestada, segundo o texto grego da UBS, 4a. edição (e de Nestle-Aland, 27a. edição), é Iounia=n , acusativo de Júnia, masculino (atestada pelos manuscritos ) A B* C D* F G P, embora sem acentos). A variante (Júlia) é fracamente atestada, aparecendo apenas no p46 e em algumas versões antigas.
Numa pesquisa feita por computador nos escritos gregos existentes desde a época de Homero (século 9 A.C.) até o século 5 D.C. foram achadas apenas três ocorrências do nome Júnias, além de Romanos 16.7. Plutarco cita uma irmã de Brutus, chamada Júnias; Epifânio, o bispo de Salamina em Chipre, menciona Júnias de Romanos 16.7 como sendo um homem que veio a ocupar o bispado de Apaméia da Síria; e João Crisóstomo se refere a Júnias de Romanos 16.7 como sendo uma irmã notável até mesmo aos olhos dos apóstolos. Os resultados são inconclusivos. Parece evidente que Júnias era nome tanto de homem quanto de mulher no período neotestamentário. O problema é que não sabemos em que gênero Paulo o usou em Romanos 16.7. Isto explica o surgimento de variantes divergindo na acentuação, e o surgimento da variante , que é claramente uma tentativa de resolver a ambigüidade. Se tivermos de tomar uma decisão, devemos dar mais peso à palavra de Epifânio, pois ele sabe mais sobre Júnias do que Crisóstomo, já que informa que Júnias se tornou bispo de Apaméia. Concorda com isto o testemunho de Orígenes (morto em 252 D.C.), que num comentário em latim à carta aos Romanos se refere a Júnias no masculino. Nomes gregos masculinos terminando em -aj não são incomuns, mesmo no Novo Testamento: André (Andre/aj , Mt 10.2), Elias (Eli/aj, Mt 11.14) e Zacarias (Zaxari/aj, Lc 1.5). Para alguns comentaristas, Júnias é a abreviação de Junianius, um nome masculino — mas não há evidências claras disto. A conclusão é que não podemos saber com certeza se Júnias era uma mulher — mais provavelmente era um homem. É por isto que a maioria das traduções modernas, onde possível, traduzem Júnias como masculino (e não Júnia, feminino).
Era Júnias um(a) apóstolo(a)?
Mais uma vez perguntamos, é possível termos uma resposta definida para a pergunta "era Júnias um(a) apóstolo(a)?" Gramaticalmente, a expressão "os quais são notáveis entre os apóstolos" (oi(/tine/j ei)sin e)pi/shmoi e)n toi=j a)posto/loij) tanto pode indicar que Andrônico e Júnias eram apóstolos, quanto que eram tidos em alta conta pelos apóstolos existentes. E mesmo que aceitemos que eram apóstolos, ainda resta o fato de que a palavra apóstolo no Novo Testamento é usada, não somente para os Doze, para Paulo, e para algumas pessoas associadas a ele, como Barnabé, Silas e Timóteo (cf. At 14.14; 1 Ts 2.6), mas para mensageiros e enviados (este é o sentido primário de a)po/stoloj) de igrejas locais, como Epafrodito (Fp 2.25) e uns irmãos mencionados em 2 Coríntios 8.23. Estes não parecem exercer governo ou autoridade sobre as igrejas locais, eram simplesmente enviados por elas. Portanto, se Andrônico e Júnias eram apóstolos, deveriam pertencer a este tipo de mensageiros das igrejas locais, com um ministério itinerante. Estes "apóstolos" não tinham autoridade de governo em igrejas locais; antes, eram enviados por elas para desempenhar diferentes funções como representantes ou emissários.
Em última análise, só podemos afirmar com certeza, a partir de Romanos 16.7, que, quem quer que tenha sido, Júnias era uma pessoa tida em alta conta por Paulo, e que ajudou o apóstolo em seu ministério. Não se pode afirmar com segurança que era uma mulher, nem que era uma "apóstola", e muito menos uma como os Doze ou Paulo. A passagem, portanto, não serve como evidência bíblica para a ordenação feminina no período apostólico. E essa conclusão está em harmonia com o fato de que Jesus não escolheu mulheres para serem apóstolos. Não há nenhuma referência indisputável a uma "apóstola" no Novo Testamento.
Continua as refutações nas próximas postagens...
Ruy Marinho
Fonte: [ Bereianos ]
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1 comentários:
Eu discordo completamente dos títulos utilizados hoje pelas maiorias das denominações pois a maioria não está ligada as condições bíblicas que levaram os primeiros líderes da igreja a ergue-los como tais.... mas em todos os estudos que vi, foi concluído que Júnia era nome mesmo de mulher, que provávelmente séculos mais tarde o nome masculino apareceu, ela provavelmente era casada com Adrônico e os dois exerciam juntos o papel, e que a tradição diz que eles era casados e teriam sido uns dos 70 apóstolos que viram Cristo.
ResponderMas como vc mesmo disse, não dá pra afirmar nem que sim e nem que não... acho interessante a força que alguns estudiosos e até tradutores da bíblia fazem para que Febe que foi chamada de diakonos e prostatis seja colocada apenas como uma serva quando Paulo confiou a ela ser a representante dele, e colocando-a em uma posição de prostatis...sem contar Priscila que podemos ver claramente que ensinou Apolo juntamente com seu marido Áquila.... em Jesus não há judeu nem grego e os judeus tiveram que aprender a estar em pé de igualdade perante Deus e no ministério com os gentios, não há escravo nem livre, e muitos servos se tornaram bispos sobre seus senhores, mas quando chega na parte nem homem nem mulher aí querem dizer que se trata apenas de salvação.... a questão que eu vejo é que para que qualquer um fosse um ministro na igreja deveria ser casado, ou se optasse por continuar viúvo ou solteiro com voto de castidade, já deveriam ser pessoas mais velhas e experientes, e isso não vemos hj... qualquer um que quiser ser líder não precisa estar debaixo da palavra de Deus, mas se vc falar da mulher em liderança, todo mundo ainda acha que ela deve se calar, mesmo se ela for líder ao lado do marido... a bíblia diz: Far-lhe-ei uma auxiliadora capaz pois não é bom que o homem esteja só... vemos tantos casais sendo citados como cooperadores que presidiam reuniões dos santos, mas para todos, as mulheres não passam de figurantes que estão ali para dar dinheiro ou costurar uma roupa.... vcs acham que Deus faria uma mulher com capacidade intelectual igual á do homem para que ela fosse apenas uma empregada doméstica? Seria ideal então que Deus desse menos capacidade intelectual á mulher, não é mesmo?... eu concordo em muitos pontos com vcs, mas nesse quesito eu irei discordar.... em todas as situações que a palavra Diakonos aparece no novo testamento quando fala de alguém trabalhando na igreja colocam como ministros, mas quando Paulo chama Febe de diakonos todo mundo traduz a palavra como serva, sendo que é notório que ela era uma líder, prostatis que na essência da palavra significa "governante" a quem ele confiou provavelmente a sua primeira carta para uma igreja...e no mesmo capítulo ele cita tantas outras mulheres da qual ele demonstra que presidia as reuniões.... enfim... não dúvido que possam mudar o sentido da palavra para que o autor realmente usou....http://eclesiastica.blogspot.com.br/2007/02/sobre-jnia.html esse foi um dos textos que lí, mas em quase todos as pessoas não tinham dúvida de se tratar de nome feminino
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