Se perguntarmos às pessoas sobre o que acham da Igreja evangélica, é claro que ouviremos várias opiniões a respeito. O fato é que existem alguns problemas que não são percebidos de forma tão aparente. Quanto a isso, podemos citar o desastroso envolvimento político, as jogadas denominacionais, o tratamento diferenciado para com os pobres e o que não se pode deixar de ressaltar é o racismo existente nos grupos.
Devido à institucionalização das comunidades evangélicas, surge uma grande necessidade de poder. Muitos querem cargos que lhes possam projetar como pessoas importantes e os elevar a um status respeitável entre os demais. Entender isso não é nada fácil, pois a comunidade cristã deveria primar por posturas mais adequadas. Entretanto, sabemos que esse desejo desenfreado pelo poder é fruto da queda, do pecado que não sai de nossa natureza, ainda que sejamos livres dele.
Todavia, resultante dessa ambiciosa característica, existe um processo de estratificação funcional que coloca as pessoas nos lugares sem lhes dar chance de crescimento. Nesse desenvolvimento mundano, vemos muitas comunidades cristãs envolvidas, podendo notar uma diferença às pessoas com melhores condições financeiras ou com vários títulos.
O que não dizer do preconceito racial na Igreja evangélica brasileira? Quantas histórias verídicas ouvimos de pessoas que foram tratadas com desprezo só por serem negras. O interessante é que muitas comunidades, em suas origens, tiveram um grande apoio dos negros.
Um dia, conversando com uma irmã, pude ver quanto o preconceito está introjetado nas mentes dos crentes. Ela me fez a “sábia” pergunta: “Depois de nós, os brancos, de onde surgiram os negros?” Então, eu lhe respondi de forma socrática, ou seja, perguntando: “Mas quem lhe disse que foram os brancos, que surgiram primeiro?” Ao passo que ela tomou um grande susto e perguntou: “Mas, não foi? Quem lhe garante? É bem possível que tenha sido diferente. Ou talvez, não.” Percebi que aquela irmã nunca tinha, como muitos que estão lendo esse artigo, refletido com estas categorias. Isto porque seu preconceito já estava tão interiorizado que ela achava que, por ser branca, já era superior. Para ela, os negros só podiam ter vindo depois.
Mas isto não é tão grave quanto um texto que lí certa vez de um escritor de uma denominação histórica. Ele dizia que a maldição de Caím era a cor negra. Quando lí o artigo, na companhia de um amigo que também não era negro, fizemos logo a pergunta: “Mas a maldição de Caím, dentro desse pensamento absurdo, não poderia ser a cor branca?” A conclusão que chegamos foi que aquele escritor e pastor – que, aliás, havia sido o nosso professor no seminário, estava cheio de racismo e não merecia nossa atenção.
Anos se passaram e as coisas parecem não ter mudado. Quantos líderes de nossas denominações são negros? Quantos missionários norte-americanos que trabalham no Brasil são negros? Quantos? Dá para contar nos dedos.
Existe um ensino que vem da “Teologia da Prosperidade” que reforça a posição racista nas igrejas evangélicas. Os pastores que abraçaram essa teologia apregoam que uma pessoa branca deve casar com outra da mesma etnia, da mesma cor, bem como uma pessoa negra deve casar com outra negra. Será que não dá pra dizer que isso é uma opção pessoal? Porque se não é possível afirmar isso, só podemos chegar à conclusão que há racismo nessas proposições. E é um racismo da pior espécie – se é que existe racismo pior ou melhor, pois usam a Palavra de Deus para difundir conceitos incoerentes de segregação.
A Igreja brasileira precisa rever essa postura já! Não se pode admitir um comportamento como este. Será que esse posicionamento não é pecado? Posso dizer que sim. Afinal, Cristo nos fez um. Negros, brancos, índios – somos um só corpo e ponto.
É triste ver que no Sul do nosso grandioso País há igrejas que não aceitam a liderança de pessoas negras. Ver comunidades cristãs, formadas por descendentes de russos, nórdicos, alemães, holandeses, italianos etc., com dificuldades causadas por racismo, desmontando todo o arcabouço e o argumento dos evangélicos.
Que Igreja que estamos mostrando? Uma comunidade terapêutica? Ou um lugar de opressão? Que tipo de Igreja queremos ser?
Na carta de Tiago, há uma exortação angustiante para aqueles que não se libertaram do racismo: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. (…) Porque o juízo é sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tiago 2. 1 e 13). Que esse pecado velado e “oculto” não faça parte de nossas vidas nem se nomeie entre nós. Amém !.
Fonte: [ Caminho Cristão ]
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2 comentários
Aproveitando, faço uma denúncia na minha Igreja: Igreja Batista de Pindamonhangaba, os moradores de rua também são gente! Se voltarem a expulsá-los, processarei todos!
ResponderE o preconceito não fica somente na cor. Eu sei bem o que é isso pois já sofri na pele. Tenho algumas tatuagens em locais visíveis, as quais fiz antes de me entregar ao Senhor Jesus. Infelizmente, tenho ouvido discriminações de todas as espécies quanto à isso. Chegando ao absurdo de alguém dizer que eu não poderia servir à Deus desta maneira e pra que eu pudesse me entregar à Jesus eu teria que dar um jeito de remover essas tatuagens primeiro ou então Ele Não me aceitaria. No início eu sofria muito com isso, hoje em dia não ligo mais, pois tenho me aprofundado a cada dia em estudar a palavra de Deus.
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