A (Nossa) fábrica de ídolos.

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Uma das causas da perseguição à igreja de Cristo no primeiro século, fora porque os “cristãos de recusavam terminantemente a oferecer incenso nos altares devotados ao culto ao imperador romano[1], mesmos estes sabendo que caso fosse oferecido incenso ao imperador, poderiam seguir uma segunda religião. Outro fator importante para que se desencadeasse uma perseguição à igreja cristã, fora a questão religiosa. Ou seja, a religião romana era extremamente idólatra, e seus templos eram abarrotados de ídolos para todos os lados. “A religião romana era mecânica e externa. Tinha seus altares, ídolos, sacerdotes, cânticos processionais, ritos e práticas que o povo podia ver”. A liturgia cristã era totalmente contrária à romana, ou seja, não existiam altares, ídolos, e sacerdotes. “Seu culto era espiritual e interno. Quando se punham de pé e oravam de olhos fechados, suas orações não eram dirigidas a nenhum objeto visível”. Esta atitude para as autoridades romanas, constituía-se em ateísmo.

Interessante é observar a situação da igreja evangélica brasileira atualmente. Não podemos nos considerar distintos dos romanos. Nossos cultos estão cada dia mais parecidos com os da liturgia religiosa pagã do império romano. Ou seja, é necessário que haja algo visível, como movimentos, curas, visões, revelações, para que o culto constitua-se definitivamente "culto". Os ídolos de mármore encontrados nos templos romanos, hoje são substituídos por ídolos de carne e osso. São os “apóstolos”, conferencistas, cantores, e cantoras que ocupam o lugar dos ídolos inertes romanos na liturgia cristã atual. Não há mais possibilidade de ocorrer um culto “aceitável”[2], sem que estes ídolos estejam incluídos. Sem eles, o culto torna-se "estapafúrdio", “frio”, e facilmente denominado como ateísta, pois obviamente que Deus não está neste ambiente, pois não há movimentos, não há "apóstolos", e não há milagres. Hoje é necessário a gruta dos milagres, a “unção” do óleo santo, a rosa ungida, a “unção” do riso, e as muralhas da vitória, para que o povo sinta (ou melhor, tentam sentir) a “presença” de Deus. Será que não conseguimos observar a trave que está atravessada, e que já feriu o bastante nossos olhos? Até quando iremos acolher estes homens, como ídolos em nossos templos, vendendo seus produtos ungidos pela avareza, soberba e libertinagem. Pastores que são cultuados como deuses, cantores que são adorados como divindades. A liturgia cristã (principalmente a pentecostal[3]) já não vive mais sem eles. Literalmente, temos uma fábrica de ídolos dentro de nossas igrejas, e o que tem alimentado esta degradação litúrgica religiosa cristã, são os próprios cristãos. São deles que procede o poder econômico sustentável destes ídolos. São os cristãos que patrocinam a idolatria dentro de nossas igrejas.

Nós evangélicos que reprovamos a atitude idólatra por parte de muitas religiões, por causa de nossa prepotência espiritual, não estamos observando a linha de produção de ídolos que já fazem parte do nosso cenário eclesiástico. Ou, será que estamos tão dependentes e viciados em conviver com estes ídolos e seus “dons”, que já não nos imaginamos viver sem eles? Enquanto houver esta mão de obra, a fábrica nunca será fechada.
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[1] CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 75.
[2] Quando menciono aceitável, refiro-me antropologicamente. Ou seja, aceitável aos homens.
[3] Sou cristão pentecostal, e com conhecimento de causa.


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