Por Thomas Magnum
Introdução
Vivemos numa época disseminadora de insubmissão e que é contrária a qualquer fonte de autoridade. O confessionalismo histórico da igreja reformada tem valor atual e continua tendo seu lugar como documentos importantíssimos para o povo de Deus. Ao usar o termo confessionalismo histórico nos remetemos ao Credo dos apóstolos, a fórmula de Calcedônia, o Credo Atanasiano, também os documentos confessionais pós-reforma. Referimos-nos aos mais populares como os artigos anglicanos: Livro da oração comum, os Artigos da Religião e o Livro das Homílias; no Luteranismo temos o Livro de concórdia que na realidade é uma serie de diferentes artigos: o credo apostólico, o credo niceno, o credo atanasiano, a confissão de Augsburgo (1530), A apologia a confissão de Augsburgo (1531), os artigos de Esmalcalde (1537), Tratado sobre o poder e o primado do papa (1537), Catecismo menor (1529), o catecismo maior (1529), e a formula de concórdia (1577). É imprescindível também as três formas de unidade que são a confissão Belga (1561), o catecismo de Heidelberg (1563) e os Cânones de Dort. Também mencionamos entre o confessionalismo histórico os padrões de Westminster: a confissão, o catecismo maior e o breve. Estes são os mais utilizados entre as igrejas reformadas. Finalmente a confissão Batista de 1689 e a Declaração de Savoy, que é a confissão dos congregacionais, ambas têm suas bases doutrinárias na confissão de fé de Westminster.
A Utilidade dos Documentos Confessionais
Ao lermos os documentos confessionais das igrejas reformadas, podemos destacar alguns pontos fundamentais:
• O declaratório – Que tem por objetivo mostrar aos fiéis sua confissão de fé.
• O Apologético – Que tem por objetivo defender a fé e mostrar a grupos heterodoxos a firmeza da fé reformada e que ela está alicerçada nas Escrituras.
• O Didático – Que tem por objetivo ensinar a igreja os fundamentos teológicos de sua confissão.
• O Litúrgico – Que tem por objetivo o culto público e a proclamação do Evangelho pela pregação.[1]
Diante de uma evolução cultural relativista, negativista, burocrata e intelectualmente pragmática, não é raro ouvirmos alguém dizer que não tem confissão, que sua confissão é a Bíblia e que não precisa de tais documentos da igreja, porque isso seria substituir a Palavra de Deus por palavras de homens. É claro que consideramos tais declarações na sua maioria sinceras, mas, equivocadas por parte dos que pretendem negar e invalidar o confessionalismo histórico da igreja cristã.
O Contexto histórico das confissões
Ao fazermos uma leitura da história e do contexto político, econômico, artístico e teológico do Século XVI, veremos que as transformações ocorridas na época não foram somente restritas a reforma protestante, mas, ocorreu também o florescer cultural da renascença. Da mesma forma que os reformadores questionavam a igreja católica nos âmbitos teológico, econômico e politico, os líderes do renascentismo questionavam os padrões da filosofia e das artes. Vivemos em semelhante contexto, temos um desafio cultural e espiritual que não se resume a diferenças de nomenclatura, mas, existe uma concentração de fatores que exigem da igreja sua postura doutrinária, e são os símbolos de fé que servirão como ferramenta. O Teólogo M.A. Noll nos diz:
O Mundo do século XVI precisava de novas declarações da fé cristã, não para meramente reorientar a vida cristã, mas também para reposicionar o próprio cristianismo dentro das forças da Europa moderna que nascia. [2]
Essa efervescência intelectual iniciada pela renascença e posteriormente com as revoluções tanto no âmbito político como cultural que vieram a posteriori, são o fundamento para a era cultural que vivemos no mundo ocidental. Estamos diante da urgência de um confessionalismo que nos proporcione bases sólidas teologicamente, uma característica da evolução do pentecostalismo e suas variantes, juntamente com a explosão das igrejas emergentes é uma postura que ignora a confessionalidade[3]. Essa é uma ideologia que trata pontos fundamentais da doutrina como secundários e irrelevantes. Isso nos mostra a fragilidade de uma teologia que despreza o confessionalismo histórico. Vivemos uma relativização do fundamento, e uma difusão de ideias que beiram o liberalismo teológico. Temos como exemplo a postura papal de certos líderes evangélicos, dominando o povo de forma carismática, levam o rebanho a uma ignorância do verdadeiro conhecimento do cristianismo, privando o povo e roubando dele as verdades do Evangelho.
Questões Modernas Contra o Confessionalismo
Ao analisarmos os fatores mais comuns que formam o caráter cultural moderno, podemos apontar pelo menos quatro que versam contra o confessionalismo:
• O Sincretismo e Misticismo
• O Pragmatismo
• O Hedonismo
• A Tecnologia
A grande mistura religiosa e de filosofias pagãs tem invadido as igrejas de todos os continentes, esse caldeirão místico tem levado o evangelicalismo a uma apostasia intelectual e dogmática. A confissão documental da fé não é viável as novas denominações, porque dentro desse sincretismo é que emerge o pragmatismo, se der certo, então é verdadeiro, essa é sua declaração. Os resultados é que dizem o que é certo ou errado. Não é assim que devemos analisar a questão, se o pragmatismo é fator fundamental para o julgamento da verdade, então o Hinduísmo e Islamismo são religiões verdadeiras, pois, são as maiores religiões do mundo, elas deram certo. Outro fator que se levanta contra o confessionalismo é o Hedonismo, a exaltação do prazer que tem estado evidente nas novas igrejas, o ter em detrimento do ser, o que você tem diz quem você é; resumindo a vida cristã a prosperidade material. Temos também a Tecnologia, que se usada de forma errada também labuta contra a importância da confissão nas igrejas, a sinuosidade do pensamento moderno que exalta a ciência e lhe dá um crédito canônico pode ser uma forca para a igreja.
A acusação mais comum é que as confissões engessam a igreja e diminuem sua espiritualidade, que o culto deve ser espontâneo e deve ser livre, dizem. Em nenhum lugar nas escrituras lemos algo sobre um culto espontâneo, ao contrário, Paulo exorta a igreja que está em Corinto a cultuarem com ordem e decência (I Co 14.40), no livro do profeta Malaquias observamos que é Deus quem estabelece o culto, na história da reforma observamos o princípio regulador do culto. Os tipos de cultos que vemos estão estreitamente ligados às manifestações modernas que pontuamos anteriormente.
É interessante pontuarmos que aqueles que são contra uma igreja prezar por seus símbolos de fé e utilizá-los no culto, não são contra o cântico de louvores escritos pelos mais diversos compositores, ao cantar tais músicas nos cultos estão confessando algo também. Pode-se ser contra a leitura de confissões ou credos na liturgia, mas, comumente não se é contra as manifestações rotineiras nos cultos como a recitação de poesias ou cantar uma música rotineira nos culto. Com isso entendemos que todos tem uma confissão seja ela materializada ou não. [4]
As Fontes de Autoridades
Os símbolos de fé não tem a mesma autoridade da Escritura, pelo contrário são baseados nas escrituras e defendem a suficiência das Escrituras, por isso temos a revisão das confissões. Embora muitos digam que a autoridade pertence só na Bíblia – e defendo isso também – é necessário esclarecermos alguns pontos. Os credos, confissões e catecismos não reivindicam autoridade infalível ou canônica. Segundo, a autoridade dada aos símbolos confessionais está baseada no arcabouço histórico e teológico da igreja cristã. De fato, mesmo os que dizem não ter por autoridade os documentos históricos da igreja, terão por autoridade outra fonte, sejam elas suas opiniões particulares ou o pensamentos de teólogos ou líderes eclesiásticos.
Todos na Igreja tem uma Confissão de Fé
Ao ouvirmos alguém dizer que sua confissão de fé é a bíblia, temos aí uma declaração de fé. Afirmativas como esta, em vez de demonstrar superioridade e fidelidade às escrituras demonstram também uma confissão de fé, semelhante a uma confissão escrita. Neste caso a diferença está no fato que, os documentos históricos confessionais estão redigidos e podem ser avaliados e estudados pela igreja, o segundo existe na mente do professante e não pode ser julgado e examinado cuidadosamente, porque não é um documento confirmado pela igreja. Os símbolos de fé da igreja, principalmente os que foram redigidos após a reforma protestante nos mostram por um estudo cuidadoso, que os documentos que temos em mãos são declarações de fé que precisaram ser feitas principalmente pelo contexto que a igreja vivia. Muitos ainda levantam a questão que a utilização atual dos credos, confissões e catecismos é anacrônica, porque eles não correspondem à necessidade atual da igreja.
O Confessionalismo e a Igreja Moderna
A problemática que enfrentamos no que diz respeito ao confessionalismo dentro das igrejas segue-se de motivos históricos, políticos e éticos. Desde a revolução estudantil na década de 60 como diz Francis Schaeffer [5], vivemos uma supervalorização da invalidação das fontes de autoridade, na verdade desde a queda o homem vive esse infortúnio condenatório sobre ele. A “liberdade” civilizatória e cultural na realidade levou a humanidade a estagnação intelectual a respeito de Deus e sua Palavra. O fato de a igreja não dar mais importância a uma declaração de fé, pautada nas escrituras, na verdade mostra claramente que ela na verdade não a tem. O testemunho cristão não está restrito a documentos, ele sai deles e isso é tão importante à fé cristã que as confissões valorizam essa práxis.
Ao observarmos a construção do catecismo de Heidelberg e os padrões de Westminster notaremos o valor que tais documentos dão a uma vida santa e piedosa como fruto das verdades da Palavra de Deus. Isso nos leva a um imperativo confessional, a urgência que os reformadores tinham em esboçar suas crenças doutrinárias é a mesma que temos hoje de professa-las e emprega-las na catequese e doutrinamento da igreja. Igrejas historicamente reformadas esqueceram e ignoraram seus símbolos de fé, que consequentemente desembocou no abandono de uma dogmática sadia. Por isso é necessário um resgate da utilização das confissões, tanto no trabalho pastoral de doutrinamento da igreja, como no trabalho de ensino aos novos conversos. O valor dos documentos confessionais do protestantismo é inalienável, que possamos dar-lhes o devido valor e lugar.
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Notas:
[1] O Imperativo Confessional, Carl R. Trueman – Ed Monergismo
[2] Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã – Ed. Vida Nova
[3] A Subscrição Confessional, Ulisses Horta Simões - Ed. Efrata
[4] O Imperativo Confessional, Carl R. Trueman – Ed Monergismo
[5] A Igreja no Final do Século 20, Francis Schaeffer – Ed. Cultura Cristã
Divulgação: Bereianos
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