Por Priscila Dâmaso
TEXTO BASE: Gálatas 5:16-26
Introdução
Nesta parte da carta que Paulo escreve
aos cristãos da igreja da Galácia, ele mostra o grande contraste que existe
entre quem vive na carne e quem vive no espirito. Sabemos que aquele que se diz
“cristão” é nascido do espirito, como o próprio Senhor Jesus relata a Nicodemos
no texto de João 3:5-6:
“Em verdade, em verdade vos digo: quem
não nascer da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus.
O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é espírito. ”
Desse modo, como identificamos se somos
nascidos do Espirito?
Através do fruto descrito nesse texto
que vamos analisar podemos identificar se somos nascidos de novo. Uma coisa é
clara nesse texto – aqui o fruto do espirito é único. Muitos acham que as
atitudes descritas sobre este fruto são individuais, que se você tem um ou
outro você é nascido de novo. Não, irmão! Não se iluda! Todos os elementos
compõem um único fruto. Leia atentamente e você perceberá que a palavra fruto está
escrito no singular, e não no plural. Vemos descrito o fruto do
espirito, e não os frutos do espirito.
Explanação
Sendo assim, vejamos, então, cada uma
das partes deste fruto contidas em Gálatas 5.22 e, com isso, façamos uma
introspecção para entendermos a nossa posição diante de Deus.
1. Amor (Afeição
profunda; afeição à pessoa ou objetos; paixão; entusiasmo)
A palavra grega “ágape”, traduzida
por amor, inclui o amor a Deus e ao próximo. Paulo o coloca como o
primeiro fruto por causa de sua força e importância, pois se refere aos dois
principais mandamentos que o Senhor nos deixou: “Amarás ao senhor teu
Deus e ao próximo como a ti mesmo.”
O amor gera em nós todos os outros
elementos incluídos no fruto. Claro que, nos dias de hoje, o amor não tem mais
a sua honra e o seu devido valor. O amor de hoje é impuro, egoísta e
interesseiro, mas, para os filhos de Deus, o amor não pode perder o seu
significado real, e a prática desse amor tem que ser de uma forma santa.
O amor relatado aqui pelo apóstolo
Paulo, como o primeiro fruto, é um contraste notório com o amor carnal. No
versículo 19 vemos que o primeiro fruto da carne é a prostituição. O amor do
ímpio é assim – prostituído, sem valor e sem decência, inundado pelo pecado. O
amor do cristão tem que ser diferente, pois essa é uma forte evidência de que
este alguém é amado por Deus e é nascido de novo.
Quem ama a Deus crê em seu filho como
único salvador e mediador, segue sua verdade e a prática. Este tem prazer de ir
à casa do Senhor para adorá-lo, ama a comunhão, tem intimidade com Deus, busca
a verdade e foge de heresias. Quem ama seu próximo oferece ajuda quando este
precisa, perdoa, se compadece e é amigo, independente do que o outro possa lhe
oferecer. Chora com ele e também se alegra, anda mais uma milha, levanta quando
este cai e sempre tem uma palavra de consolo para oferecer ao abatido. Quem
possui amor pratica tudo o que está escrito em 1 coríntios 13.
O amor do mundo é imoral, obsceno,
impuro e sensual; trata com injustiça e violência; é um amor covarde e
traiçoeiro que não pensa no outro, mas, sim, em satisfazer a si mesmo. É o
contrário de tudo que é bom.
2. Alegria (Contentamento,
júbilo; regozijo)
Como o próprio significado da palavra
deixa claro, a alegria, aqui mencionada, é um contentamento em Deus. Quem ama a
Deus demonstra regozijo pela sua verdade.
A palavra grega para alegria é
“chara”, que é fundamentada em um consistente relacionamento com
Deus. Esta alegria de forma alguma está relacionada a um triunfalismo pregado
em muitas “igrejas ditas evangélicas” que vemos por ai, principalmente em
“igrejas” neopentecostais, que infunde na mente dos membros que, para se ter
alegria em Deus, você precisa alcançar bens materiais, como casa, carro,
dinheiro etc.; ou então, para você ser feliz em Deus, você tem que ser uma
pessoa saudável e cheia de vida. Irmão e irmã, isso é uma mentira de satanás
para tornar os homens miseráveis, pois “aquele que
espera Cristo somente nessa vida é o mais miseráveis de todos os homens” (1Cor
15.19).
A alegria mencionada por Paulo é um
gozo em Deus. É um prazer único em Deus e em sua verdade. Nos momentos de tristeza e lutas, a
alegria do Senhor é a nossa força (Ne 8: 10d). Isaias 12:3 mostra
que das fontes da salvação tiraremos agua com alegria. Como diz o
rei Davi: “Então, irei ao altar de Deus, que é minha grande
alegria” (Salmo 43:4).
2. Paz (Tranquilidade,
sossego, descanso)
A palavra paz, no grego
“eirene”, refere-se fundamentalmente a uma paz com Deus. Essa paz
foi conquistada por Cristo na cruz. É uma paz que o mundo não pode nos dar.
Quem possui essa paz descansa em Deus em meio às tribulações da vida; confia
que o Senhor está na direção e que sabe o que é melhor. Possui a tranquilidade
de que um dia habitara num reino governado por um Rei justo e que, “nem
a morte, nem a vida, nem anjos e principados e nem potestades, nem o antes nem
o porvir... nada pode nos separar do Amor de Deus que está em Cristo Jesus” (Rm
8: 38-39).
Estes três primeiros elementos que
compõem o fruto do espirito estão diretamente ligados a Deus e a nossa relação
com Ele. O três a seguir: Longanimidade, benignidade e bondade estão
ligadas ao nosso relacionamento com o próximo.
3. Longanimidade (Firmeza
de ânimo; coragem)
A palavra grega “makrothumia” significa
longanimidade; refere-se a alguém que tem ânimo espichado, ou, como dizem na
linguagem popular – alguém com pavio longo. Uma pessoa longânime é tardia em
irar-se. Não pensa em vingança mesmo se houverem possibilidades. Não se abala
com as investidas do diabo. Não se derrete com as tribulações da vida, pelo
contrário, se mantêm firme e constante, pois possui sua vida fundamentada em
Cristo.
Quando alguém lhe faz o mal, a pessoa
longânime não paga na mesma moeda, pois ela tem facilidade em perdoar, haja
vista que possui um espírito reto. Por amar a verdade de Deus, a defende, e por
ser assim, é um ótimo (a) apologista.
4. Benignidade (Bondade;
brandura)
Uma pessoa benigna é considerada uma
pessoa branda, suave. Suas palavras são temperadas pelo espirito de Deus. Não
usa um linguajar obsceno e nem torpe. Suas atitudes revelam sua doçura e seu
caráter revela o amor de Deus.
No grego, a palavra “crestotes”, que
traduzida significa benignidade, revela um tipo de pessoa gentil e bondosa com
os outros. Uma pessoa benigna sempre age de forma misericordiosa. O benigno não
age com bondade só com os seres-humanos; a sua compaixão e amor se estende
sobre toda a criação de Deus – animais, plantas, terra e todo ser vivo. Paulo,
em sua carta aos Efésios, diz: “Antes, sedes uns para com os outros
benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em
Cristo Jesus, vos perdoou” (Ef 4:32).
5. Bondade (Qualidade
do que é bom; boa índole)
A pessoa considerada bondosa age de
forma honesta, é verdadeira, pura e justa. Suporta algumas injúrias com
paciência e mansidão. Mesmo sendo pecador consegue agir de forma correta e não
dá mau testemunho. Uma pessoa benigna também corrige, disciplina e exorta por
amor ao próximo.
A palavra bondade, no grego
“agathosyne”, possui um princípio energizante. Trench diz que Jesus usou essa
palavra quando purificou o templo expulsando os que estavam transformando o
Templo de Deus em um mercado. Porém, mais tarde, usou “crestotes” (benigno) com
a mulher que ungiu seus pés, pois manifestou com esta uma atitude amável.1 A
pessoa que manifesta bondade em suas atitudes não faz somente a outras pessoas,
mais faz bem a si mesmo como está escrito em provérbios 11:17.
6. Fidelidade (Lealdade)
É tão bom conhecer alguém fiel. O fiel
é alguém que podemos confiar sempre. Alguém que é amigo e confidente, que te
apoia nos seus objetivos quando estes são para o seu bem e te repreende quando
está errado. O fiel é benigno, bondoso, amoroso, longânime, transmite paz, é
manso, possui domínio sobre seu sentimentos e emoções e é alegre.
Alguém assim não é fiel somente ao seu
próximo; antes, é fiel primeiramente a Deus e a sua palavra. Pode o mundo
desabar que ele continua com a sua fé inabalável. Pode ser comparado ao servo
João que seguiu ao Senhor Jesus até ao seu calvário. A própria palavra grega
“pistis”, traduzida por fidelidade, significa fé, que é
o nosso firme fundamento que nos mantêm no caminho em direção a Deus. A
fidelidade depende da fé, não age de forma individual.
Devemos seguir a fidelidade de Jó, que
mesmo diante de tanta dor, em momento algum, blasfemou contra seu Senhor. Ele
era fiel no muito e também no pouco. Existem vários exemplos na palavra de Deus
em que podemos nos apoiar para nos tornamos fiéis, como: Moisés (Nm 12: 17);
Davi (1Sm 22:14); Hananias (Ne 7:2); Daniel (Dn 6:4) dentre outros.
7. Mansidão (Qualidade
de manso; índole pacifica)
A palavra grega “prautes”, que
traduzida significa mansidão, nos passa um ar de uma dócil
submissão. Uma pessoa mansa, por mais que ela tenha inteligência, poder ou
status, se mantêm humilde e nunca abusa das qualidades que possui. É
como se fossemos cães ferozes domesticados pelo Espírito. O manso de espírito
têm facilidade de se submeter. Mesmo quando tem razão tenta de forma pacifica
mostrar seu ponto de vista, e mesmo que o outro não concorde, não age de forma
arrogante ou obstinada. Este tipo de mansidão nos leva a se submeter a vontade
de Deus. Segundo Donald Guthrie, esta qualidade não é natural e precisa ser
cultivado pelo Espírito Santo. O desenvolvimento da mesma nos leva a harmonia e
não a discórdia.2 John Stott nos diz que esta mansidão é aquela
atitude de humildade que Cristo tem (Mt 11:29; 2Co 10:1).3
8. Domínio Próprio (Autocontrole)
A palavra grega “egkrateia” significa
autocontrole, domínio dos próprios desejos. Uma coisa que pega o Cristão são o
desejos sexuais. Talvez esta seja uma das coisas mais difíceis de conseguirmos
controlar. Ter domínio sobre seus desejos e ações requer a intervenção do
Espirito, pois, sem isso, digo que impossível dominar a fera que somos. É muito
difícil domar nossos instintos. Se alguém fala algo que não nos agrada, logo já
queremos partir para agressão.
Quando estamos solteiros e passa uma mulher
ou um homem atraente, logo olhamos com cobiça e daí vem os pensamentos
pecaminosos. E quando os hormônios do nosso corpo começam a gritar e nos levam
a assistir sites pornográficos para acalmar a agitação dentro de nós? Quando
passamos por momentos de tribulação, nossa mente já nos induz a trair nosso
cônjuge. Quando passamos por dificuldades, já pensamos em encher a cara nos
embriagando.
Irmão e irmã, se não tivermos domínio
sobre nossa mente e corpo, pecaremos contra Deus de todos os modos. Talvez este
seja o elemento do fruto mais difícil de alcançarmos, mais não é impossível. O
Próprio Senhor Jesus, em sua natureza humana, foi tentado de todas as formas e
não caiu em nenhuma delas. Que possamos usá-lo como nossa fonte de motivação.
Conclusão
Depois da analise a respeito do Fruto
do Espirito, percebemos o porquê devemos nascer de novo. Se somos filhos de
Deus, temos o seu “DNA”. E qual seria, então, o seu “DNA”? O fruto do Espirito!
Todos os elementos que formam o fruto
mencionado em Gálatas fazem parte do caráter de Deus. Ele é perfeito em todos
eles, e por sermos filhos de seu amor através de cristo precisamos ter o
caráter semelhante ao de nosso Pai.
Nós somos a bíblia do ímpio. Muitas
vezes, o mundo observa nossas atitudes diante de diversas situações. Ele vê a
diferença ao praticar as coisas que, para este mundo caído, não são normais.
Amar quem nos persegue, bendizer quem nos maldiz, perdoar uma traição, praticar
atos de justiça, dar a outra face, submissão são loucuras para aqueles que não
conhecem a Deus.
Sabe por que não conseguimos todas as
partes do fruto? Porque o nosso amor é imperfeito! Se ao ler esse texto você
percebe que falta uma dessas coisas mencionadas, não se apavore! Busque em Deus
aquilo que te falta. O Fruto do Espirito é completo, e todos os seus pedaços
estão perfeitamente enraizados. Um depende do outro. Busque aperfeiçoar aquelas
qualidades que você tem mais dificuldade e se esforce em praticá-las. Assim, o
mundo vai ver que você é um amado de Deus.
____________
Notas:
1 Hernandes Dias Lopes. Gálatas, pág 250.
2 Donald Guthrie. Gálatas,
pág 180.
3 John Stott. A mensagem de Gálatas, pág 135.
Fonte: Bereianos
1 comentários:
Ótimo estudo, de grande valor pessoal e pra minha comunidade. Grato
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