Heterogeneidade (ou, odeio sair com crente)

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Por Ariovaldo Jr

Dona Marina (minha sócia, proprietária e esposa) diz que eu enjoo das coisas muito rapidamente. Numa semana gosto de Kuat Zero. Na outra prefiro Aquarius Fresh. E depois de uns dias estou fissurado por H2O de maçã. Já fui apaixonado por salada… mas agora não suporto nem olhar para elas. Posso citar pelo menos 50 coisas que eu deixei de gostar.

Igualmente enjoo das pessoas. O convívio excessivo com alguém acaba por me deixar saturado dela. Quando passei a perceber isto, comecei involuntariamente a acreditar naquele ditado que diz que apenas os inimigos não perdemos pelo caminho.

Por que o tal do “crente” possui a tendência de reduzir seu círculo social cada vez mais? Há alguns anos percebi que não suporto a homogeneidade das relações, principalmente dentro da igreja. Obviamente que criar vínculos com os diferentes demanda esforço. Mas é a única maneira que conheço para não morrer de tédio.

Para sair do tédio, gostaria de derramar algumas críticas ao que usualmente é chamado de “culto”. As cadeiras sempre no mesmo lugar provocam em mim um tédio quase mortal. E ninguém tem coragem de mexê-las, ainda que seja alguns poucos metros para um lado ou para o outro. Também a falta de interatividade de muitas reuniões auto-denominadas “cultos”. Elas possuem uma fórmula litúrgica, quase matemática, que me incomoda. Me incomoda estar preso dentro de um lugar por horas… sem a possibilidade de conversar com alguém. Não me admira que a maioria das pessoas não se lembre do que foi falado em uma “palestra” poucas horas após o seu término. Creio que a minoria possui a habilidade dos monges de se concentrar em algo desinteressante por mais de cinco minutos.

Mas após o doutrinamento (ensino da “forma”), replicamos o modelo ao selecionar o que iremos fazer após a reunião. Não é nem necessário fazer pesquisa para perceber que só há 3 tipos de lugares onde as pessoas vão ao final de um culto:

1. Pra casa
2. Fazer algo que não deveriam fazer
3. Sair pra comer

O primeiro grupo age como se tivesse 70 anos de idade. Juro que queria entender. O segundo grupo é o da maioria. Já “bateram o ponto” em seu compromisso religioso, então nada melhor do que voltar a sua vida normal (por mais anormal que ela de fato seja). E o terceiro grupo é o mais animado dentre os crentes… porém me mata de tédio.

Escolhemos os lugares onde vamos e os repetimos religiosamente semana após semana. Nossa companhias também foram selecionadas pela afinidade. Preferimos nossos “amigos”, mesmo que não sejam tão amigos assim. Conversamos sobre as mesmas coisas, dia após dia. Se você é solteiro, fala sobre namorar. Se namora, fala sobre casar. Se é casado, fala sobre como é ser casado ou sobre ter filhos. Se é do tipo espiritual, conta “testemunhos”.

Não estou dizendo que as pessoas são descartáveis. Mas aumentar nosso círculo de relacionamento permite que não desgastemos amizades que deveriam durar por toda uma vida.

Mas se você ainda é um ser humano, então no mínimo deveria respirar emoção. Deveria estar cansado de tudo isto que citei e com um pouco de esforço, ainda se lembraria do desejo de liberdade que Deus colocou em seu coração. Percebe como ficam de fora do nosso dia a dia a expontaneidade, o êxtase, a surpresa e consequentemente a alegria? Quem disse que bonito é ser igual? Quem disse que as pessoas diferentes de nós mesmos não têm nada de interessante? Há um mundo imenso lá fora… e nós estamos perdendo nosso tempo buscando uma homogeneidade ridícula e anti-bíblica.

“Quando amamos somente aqueles que se parecem conosco, não amamos ao próximo, mas antes a nós mesmos refletidos no próximo” (Martin Buber)

Autor: [ Ariovaldo Jr. ]
Fonte: [ www.ariovaldo.com.br ]

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