"...com a boca professam muito amor,
mas o coração só ambiciona lucro" (Ez 33.31)
mas o coração só ambiciona lucro" (Ez 33.31)
Espera-se que empresários, publicitários e comerciantes, possuam um faro apurado para descobrir o que apetece o gosto da clientela. Faz parte do “tino” comercial. Há muitas coisas que o povo gosta, e pode lucrar quem compreende o gosto popular. Foi uma longa sucessão de erros e acertos que permitiu à Coca-Cola encontrar a fórmula ideal que agradasse totalmente a seus consumidores, levando-os hoje a comprar milhões de garrafas anualmente em todo o mundo.
Descobrir a preferência popular também tem sido a preocupação de líderes, pastores e ministérios que levam o nome de Jesus. O problema aqui não é o sucesso que eles obtêm, mas o fato de terem adaptado a fórmula (leia-se: Evangelho), ao gosto popular. O que o povo gosta? Então é isso que será oferecido: às favas a ética, a fidelidade à Palavra, os ensinamentos de Cristo, as doutrinas neotestamentárias, ou a Verdade... o que importa é que o povo seja um consumidor satisfeito e feliz.
Vejamos algumas estratégias utilizadas ao arrepio da Palavra, mas bem ao gosto do poviléu:
Pode parecer coisa de somenos importância, mas até o nome da igreja é pensado para atingir a preferência popular. Quando ela tem um nome que a identifica com o bairro, tipo “Igreja X do Jardim Robrú”, não cai bem aos ouvidos dos fiéis. É preciso que o nome mostre grandiosidade, pois embora seja gente humilde, há um gosto secreto pelo pomposo; possuem localização periférica, mas sonham em fazer parte de algo muito maior. Por isso os líderes sintonizados com o gosto popular batizam seus ministérios como sendo de ordem “Mundial” ou ao menos “Internacional”, e até “Universal”, mesmo antes de sair da periferia. Por que agem assim? O povo gosta.
2) Ao convidar pastores para participar de suas festividades, eles precisam ser famosos e possuir um currículo de “cruzadas de milagres”. Embora Jesus tenha dito que dos homens nascidos de mulher não havia ninguém maior que João Batista, este, entretanto, nunca fez um milagrezinho sequer (Jo 10.41). Logo, ninguém convidaria João para um evento. O povo gosta de tudo que é glamoroso; um convidado que chega de ônibus ou num carro vazando óleo não é boa propaganda do ministério, mas se ele surgir num reluzente automóvel, e muitos assessores esperando, isso significa “unção e poder”. O povo vibra.
3) Nossos patrícios gostam de coisas fantásticas: menina-pastora de 6 anos, homem que morreu e voltou, demônios que dão entrevista, ex-bruxo, ex-guru, ex-vedete.... não basta ter vivido os erros comuns de todos os mortais: precisa ter errado muito. O povo se encanta.
4) Nossa gente dá muito valor a rituais. Se a Bíblia ensina que basta pedir a Deus com fé simples, orar ao Senhor assentado solitário em sem quarto, provavelmente não farão. Mas se o guia espiritual pede para acender velas, escrever num papel, queimar na fogueira e beber água orada, ele o faz. O povo adora essas fórmulas.
5) Tornou-se comum nas programações das rádios surgir em meio às palavras do pregador um “dekantalabachúria” ou um “ripalabassuriondera”. O que é isso? É uma tentativa de demonstrar “intimidade” com o Espírito, como se fosse o dom de glossolalia. Obviamente trata-se de uma farsa, posto que contradiz todas as normativas que o apóstolo Paulo faz do assunto em I Coríntios 14, ou seja: [1] “quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus”, (portanto não edifica a outrem); [2] “se, com a língua não disserdes palavra compreensível, como se entenderá?”, (com isso banalizam o dom divino e jogam palavras ao vento); [3] “o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar... não havendo fique calado” (o que nunca acontece, pois são desobedientes); [4] “se puserem a falar em outras línguas na presença de incrédulos, não dirão que estais loucos?” (sim, dirão, e provavelmente estão). Tudo isso, na verdade é uma exibição de imaturidade espiritual.... mas o povo admira tudo aquilo que não compreende.
6) Jamais pregam sobre pecado, arrependimento, santidade, ou viver em comunhão. Isso desagrada a clientela. Seus temas recorrentes são: vitória, prosperidade, conquista, cura, vitória novamente, unção, cabeça e não cauda, pisando os inimigos, e outra vez vitória. É como se a bíblia resumisse nisso. Mas o povo deseja ouvir as mesmas coisas semanalmente.
Jesus, que não ia atrás da opinião do povo, nunca correu atrás de ninguém melhorando a oferta, nunca regateou as condições para participarem do Reino, nunca fez liquidação para alguém entrar no céu ou alargou o caminho estreito para facilitar-lhes a vida. Ao contrário, a partir de certo momento de seu ministério a multidão começou a abandoná-lo (Jo 6.66), escandalizada com suas palavras. Na verdade, a multidão sempre foi um impedimento para que muitos chegassem a Ele (vide a mulher do fluxo de sangue e o cego de Jericó). Certa vez Jesus havia se “retirado por haver muita gente naquele lugar” (Jo 5.13). Desconfio que Ele continua fazendo o mesmo hoje.
Seguir as inclinações do povo é perigoso: a massa anseia por espetáculo, não verdade. A massa se enfada rapidamente, daí a necessidade de atrações permanentes. Deus nos livre de fazer parte de um rebanho de tolos! E Deus nos proteja dos guias espirituais interessados em fazer a vontade do rebanho.
Autor: daniel Rocha - Pastor da Igreja Metodista.
E-mail: dadaro@uol.com.br
Fonte: [Blog Pr. Paulo Amendola ] Via: [ Emeurgente ]
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