Respondendo ao Ariovaldo Ramos

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Por Frank Brito


“Não farás injustiça no juízo; não farás acepção da pessoa do pobre, nem honrarás o poderoso; mas com justiça julgarás o teu próximo”. (Levítico 19.15)

Em julho de 2004 um grupo de brasileiros foi fazer uma visita ao falecido presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Dentre eles, estava o famoso pastor Ariovaldo Ramos. O propósito da viagem era entregar ao presidente Hugo Chávez um manifesto de apoio ao seu governo e a sua permanência no cargo. O pastor Ariovaldo Ramos justificou sua viagem da seguinte maneira: “Onde tiver um cara andando nos caminhos de Jesus, mesmo que não confesse Jesus como eu confesso o que eu puder fazer para ajudá-lo, eu vou fazer”. A declaração do pastor Ariovaldo Ramos remete as palavras do Apóstolo João: “aquele que diz estar nele, também deve andar como Ele andou”. (I João 2.6) Segundo Ariovaldo Ramos, então, mesmo que o presidente Hugo Chávez não confessasse Jesus como ele confessa, ainda assim ele deveria ser reconhecido como alguém que andava nos caminhos de Jesus.

Em 2004 o pastor Ariovaldo Ramos explicou seu ponto de vista em uma entrevista ao site Teologia Brasileira. Partindo da premissa colocada por Ariovaldo Ramos de que o falecido presidente Hugo Chávez andava nos caminhos de Jesus Cristo, o entrevistador lhe perguntou:

“Como é que você encara, por exemplo, um cristão muito comprometido com a sua igreja na Venezuela, mas que seja frontalmente oposição ao Hugo Chávez? Outro exemplo, no Brasil: um cristão comprometido que é radicalmente contra o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) e vota em candidatos da elite com graves suspeitas de corrupção. Ou é contra as cotas para estudantes negros nas Universidades. Nessas questões pontuais, como é que você explica?”

O pastor Ariovaldo Ramos respondeu:

“Acho que se explica justamente por esse evangelho que não considera o outro, um evangelho muito pessoal, muito particular, Deus e eu, eu e Deus, e o outro não é chamado. Isso em primeiro lugar. Em segundo lugar, é claro que o camarada tem direito de pensar diferente de mim, ele pode ser contra a reforma agrária, ser contra as cotas e isso é um direito dele. Agora, como cristão, até onde eu entendo o Cristianismo, essa pessoa vai ter dificuldades para se explicar. Eu não tiro dele o direito de pensar diferente, mas se nós nos sentarmos pra conversar de cristão pra cristão, considerando o que Jesus Cristo ensinou, viveu, fez, eu acho que ele vai ter dificuldade de se explicar. É muito difícil um cristão explicar porque que é contra redistribuição das terras quando Isaías 5.8 diz: “Ai dos que ajuntam casa sobre casa e terra sobre terra até serem os únicos moradores do lugar”.

Segundo o pastor Ariovaldo Ramos, se um homem é cristão e considera seriamente o que Jesus Cristo ensinou, viveu e fez, mas, ao mesmo tempo, se este homem se opõe ao modelo de governo do falecido presidente Hugo Chávez e à posições políticas específicas como a reforma agrária, cotas raciais e redistribuição de renda, tal pessoa é culpada de professar um “evangelho que não considera o outro” e, portanto, teria sérios problemas para se explicar. O pastor Ariovaldo Ramos reconhece que o Cristianismo tem implicações políticas, de forma que se alguém considera seriamente o que Jesus Cristo ensinou, viveu e fez, ele terá que defender modelos políticos específicos que refletem o que ele acredita ter sido ensinado por Jesus. O fato de Hugo Chaves ter defendido um modelo político assim é o que leva Ariovaldo Ramos a argumentar que Hugo Chávez andava nos caminhos de Jesus.

Qualquer um que já tenha lido os grandes profetas da Bíblia sabe da obrigação dada por Deus de socorrermos os desamparados e desfavorecidos e da ira sobre aqueles que oprimem os desamparados e desfavorecidos:

A nenhuma viúva nem órfão afligireis. Se de algum modo os afligirdes, e eles clamarem a mim, eu certamente ouvirei o seu clamor; e a minha ira se acenderá…” (Êxodo 22.22-24)

Quando no meio de ti houver algum pobre, dentre teus irmãos, em qualquer das tuas cidades na terra que o Senhor teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a mão a teu irmão pobre; antes lhe abrirás a tua mão, e certamente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade”. (Deuteronômio 15.7-8)

Até quando proferirão, e falarão coisas duras, e se gloriarão todos os que praticam a iniqüidade? Reduzem a pedaços o teu povo, ó SENHOR, e afligem a tua herança. Matam a viúva e o estrangeiro, e ao órfão tiram a vida. Contudo dizem: O SENHOR não o verá; nem para isso atenderá o Deus de Jacó. Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis sábios?” (Salmo 94.4-8)

Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão. Para desviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!” (Isaías 10.1-2)

Assim falou o Senhor dos exércitos: Executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e compaixão cada um para com o seu irmão; e não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre; e nenhum de vós intente no seu coração o mal contra o seu irmão”. (Zacarias 7.9-10)

Foi esse tipo de preocupação que levou ao estabelecimento dos diáconos na Igreja:

Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano… Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio”. (Atos 6.1,3)

Como ensinou o Apóstolo Tiago:

A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”. (Tiago 1.27)

O problema de Ariovaldo Ramos não é a consciência de que aqueles que são economicamente desamparados devem ser socorridos. O problema de Ariovaldo Ramos é presumir – sem qualquer razão ou justificativa bíblica ou racional – que o fato do cuidado dos desamparados ser uma ordem de Deus enfatizada por toda a Bíblia signifique que seja responsabilidade do governo civil fazer com que tal ordem deva ou que sequer possa ser cumprida. O simples fato de algo ser um mandamento de Deus não signifique que seja responsabilidade do governo civil garantir que a ordem seja cumprida.

As Escrituras ensinam que não devemos mentir. Isso não significa que seja responsabilidade do governo garantir que as pessoas não mintam. As Escrituras ensinam que devemos celebrar a Ceia do Senhor. Isso não significa que seja responsabilidade do governo civil garantir que as pessoas não faltem a Ceia do Senhor. As Escrituras dizem que devemos amar a Deus sobre todas as coisas. Isso não significa que seja responsabilidade do governo civil fazer com que as pessoas amem a Deus. A Bíblia diz que não devemos cobiçar os bens de nosso próximo. Isso não significa que seja responsabilidade do governo civil garantir que as pessoas não cobicem. Certamente o pastor Ariovaldo Ramos conhece todos estes mandamentos da mesma forma que ele conhece o mandamento que ordena socorrer aqueles que são economicamente desamparados. Apesar disso, a existência do mandamento de celebrar a Ceia do Senhor não faz com que o pastor Ariovaldo Ramos defenda a responsabilidade do governo civil de garantir que as pessoas não faltem a Ceia do Senhor. É possível que o motivo pelo qual o pastor Ariovaldo Ramos não defenda a responsabilidade do governo civil de garantir que as pessoas não faltem a Ceia do Senhor é porque ele sabe que, apesar de Deus ordenar a celebração da Ceia do Senhor, ele não ordenou que o governo civil garantisse que as pessoas participem. Se alguém mostrasse ao pastor Ariovaldo Ramos que a celebração da Ceia do Senhor é uma ordem bíblica e com base nisso defendesse a responsabilidade do governo civil de forçar todo mundo a participar, certamente o pastor Ariovaldo Ramos argumentaria que o fato de algo ser ordem de Deus não signifique que seja responsabilidade do governo civil fazer com que a ordem seja cumprida. Mas quando o assunto é o mandamento de Deus de ter cuidado pelos desamparados, o pastor Ariovaldo Ramos faz de conta que existe a responsabilidade bíblica de que isso se cumpra por meio da imposição do governo civil, ainda que não exista qualquer ordem, mandamento ou evidência bíblica a respeito disso. Certamente, as Escrituras deixam claro que os desamparados devem ser alvo de cuidados. Mas a Bíblia não ordena que isso seja feito pelo governo civil, mas por uma decisão individual e pessoal livre. Há motivos muito importantes pra isso:

Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns dentre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs”. (II Tessalonicenses 3.7-11)

Aqui Paulo faz menção de pessoas que eram financeiramente dependentes de outros. Elas dependiam de outras pra comer. Mas essa dependência só existia porque eles andavam “desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs”. (v.11) Eles eram financeiramente dependente de outras por imoralidade. É sobre estes que Salomão falou:

Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio; a qual, não tendo chefe, nem superintendente, nem governador, no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa. o preguiçoso, até quando ficarás deitado? quando te levantarás do teu sono? um pouco para dormir, um pouco para toscanejar, um pouco para cruzar as mãos em repouso; assim te sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado”. (Provérbios 6.6-11)

Este era o caso de alguns membros da igreja dos Tessalonicenses. Paulo ensina que não havia qualquer responsabilidade de ninguém sustentá-los ou socorrê-los por parte de ninguém. A ordem de Paulo era que “não coma também”. Isto é, devem permanecer no estado de ruína financeira a ponto de passar fome sem que ninguém tenha a obrigação de sustentá-los. Isto é o mesmo que ele ensinou a Timóteo:

Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas… Ora, a que é verdadeiramente viúva e desamparada espera em Deus, e persevera de noite e de dia em rogos e orações; Mas a que vive em deleites, vivendo está morta”. (I Timóteo 5.3,6)

Honra” aqui se refere ao apoio financeiro. No contexto, Paulo está falando da ajuda financeira que viria do ministério de diaconia da Igreja (I Timóteo 5.9,16). A viúva não tem mais o marido pra sustentá-la financeiramente. Portanto, ela precisa ser sustentada por outras pessoas. Mas Paulo lista alguns critérios pra que as viúvas fossem aptas pra receber a ajuda financeira da Igreja. É a essência do que ele havia ensinado aos Tessalonicenses. O que Paulo ensina é que ser desamparado, pobre ou qualquer outra forma de necessitado não garante que o indivíduo deva ser alvo de ajuda social. O fato de alguém ser pobre ou desamparado não significa que ela tenha caráter ou um comportamento justo e correto, da mesma forma que ser rico não significa. O que Paulo ensina é que se o estado de pobreza e desamparo existe por causa do pecado pessoal e uma exista uma indisposição de se arrepender do estilo de vida pecaminoso, neste caso não há qualquer obrigação por parte de ninguém de socorrê-lo financeiramente. O que Paulo ensina é que a necessidade de santidade é mais importante do que o sucesso financeiro. Como escreveu Salomão: “Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o de caminhos perversos ainda que seja rico”. (Provérbios 28.6) É melhor ter um comportamento justo do que ser rico. Mas não ser rico não significa que tenha um comportamento justo.

Ele disse também:

Mas, se alguma viúva tiver filhos, ou netos, aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família, e a recompensar seus pais; porque isto é bom e agradável diante de Deus… Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel”. (I Timóteo 5.3,4-5)

O Apóstolo ensina que a responsabilidade de cuidar das viúvas é, antes de qualquer outro, responsabilidade de sua própria família. Outras pessoas, incluindo a Igreja, só têm a responsabilidade diante de Deus de fazer isso quando a família não faz: “Se alguma mulher crente tem viúvas, socorra-as, e não se sobrecarregue a Igreja, para que esta possa socorrer as que são verdadeiramente viúvas”. (I Timóteo 5.16) A família não deve imputar sobre outras pessoas a responsabilidade que pertence a eles. Se a família não fizer por irresponsabilidade e negligência com os seus, comete um pecado terrível e Paulo declara que “é pior do que o infiel”. Caso houver irresponsabilidade e negligência por parte da família ou caso a família também esteja passando por tribulações financeiras, ai outras pessoas – especialmente o ministério a Igreja – deve tomar para si a responsabilidade de todo coração.

O que aprendemos então é que a necessidade de socorro e apoio aos desamparados se encontra dentro de uma hierarquia de responsabilidades. Em primeiro lugar, o que existe é a responsabilidade de cada indivíduo sustentar a si mesmo pelo seu próprio trabalho. Quando o indivíduo, por inúmeras circunstâncias possíveis, mas sem culpa e obstinação própria não é capaz de sustentar a si mesmo pelo seu próprio trabalho, existe a responsabilidade de sua própria família de socorrê-lo e honrá-lo. Somente quando há irresponsabilidade e negligência por parte da família ou caso a família também esteja passando por tribulações financeiras, é que a responsabilidade deve ser tomada por outras pessoas, especialmente a Igreja. E apesar de a Bíblia ensinar a necessidade de socorro e apoio aos desamparados como sendo uma obrigação de outros indivíduos, da família e da Igreja, ela nunca fala sobre tal responsabilidade do governo civil.

Pra entender isso melhor, precisamos entender qual é a natureza do governo civil. A natureza inerente do governo civil é a coação e a imposição de valores específicos. Quando alguém compra um bem ou contrata um serviço, ele normalmente tem a escolha livre entre a compra do bem ou não, entre a contratação do serviço ou não. Se alguém quer ter acesso à internet, por exemplo, ele deve contratar o serviço de um provedor de internet. Ele poderá escolher um entre vários provedores disponíveis ou no fim das contas ficar sem contratar provedor nenhum. O provedor de internet não tem a autoridade pra coagir qualquer pessoa a contratar seu serviço. Mas a partir do momento em que o serviço é contratado, existe a obrigação do cliente de pagar pelo serviço. O pagamento não é por coação ou imposição porque o cliente livremente decidiu contratar aquele serviço e com isso garantiu que pagaria pelo serviço prestado. Mas esse não é o caso do governo civil. O governo civil é um serviço prestado onde nós somos coagidos a aceitar o serviço. No caso do governo civil, não há a livre escolha entre aceitar ou não o serviço. Se alguém se recusa a obedecer às leis do governo brasileiro, por exemplo, há duas conseqüências principais:

- Confiscando seus bens e/ou dinheiro (multa)
- Privando-o do direito de ir e vir (penitenciária)

Se um provedor de internet enviasse homens para confiscar o computador, tomar dinheiro a força ou mantiver em cárcere privado aqueles que não querem aderir ao seu serviço, tal provedor será legitimamente culpado de roubo e sequestro. Se o provedor fizesse isso, o governo brasileiro enviaria outros homens (polícia) pra prender os participantes do roubo e do sequestro. O que precisamos entender é: Em determinadas circunstâncias, o governo civil tem o direito de fazer o que em outras circunstâncias seria classificado como sequestro, escravatura ou roubo. Em circunstâncias normais, se uma pessoa entra na casa de outra pessoa, amarra suas mãos e leva ela pra dentro de um quarto onde ela fica trancada, isso se chama sequestro. Mas dependendo da circunstância, do objetivo de quem faz e de quem faz isso não é sequestro, mas é prisão. Se quem faz é um provedor de internet com o objetivo de forçar as pessoas a aderir ao seu serviço, é sequestro. Se quem faz são representantes do governo (polícia) com o objetivo de punir por um crime cometido, é prisão e não sequestro.

Da mesma forma o ato de multar, em si mesmo, é o mesmo que o ato de roubar. Tanto no roubo quanto na multa o indivíduo é coagido por terceiros a entregar seu dinheiro contrário a sua vontade. Mas em determinadas circunstâncias, o governo civil tem o direito de fazer o que em outras circunstâncias seria classificado como sequestro, escravatura ou roubo. Não há roubo, mas é multa quando o dinheiro está sendo tomado pra punir por um crime cometido. Mas se for um cidadão comum com o objetivo de tomar posse do que não é dele, é roubo. Mas tanto na multa quanto no roubo, o indivíduo é coagido por terceiros a entregar seu dinheiro contrário a sua vontade. O que muda são as circunstâncias e o propósito.

A natureza inerente do governo civil é a coação e a imposição de valores específicos. Os valores que serão impostos a força são determinados pelas leis que o governo passa e pela punição contra a transgressão contra tais leis. Se um governo tem uma lei contra a violência sexual e pune os estupradores, ele está declarando o estupro é moralmente errado e que este é um valor que precisa ser imposto a força. Se um governo tem uma lei contra sequestro e pune os sequestradores, ele está defendendo um valor específico – o direito de ir e vir – e está coagindo, forçando e perseguindo todos a seguir este valor. Que está é a natureza inerente do governo civil é ensinado pelas Escrituras Sagradas:

Os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal”. (Romanos 13.3-4)

Sujeitai-vos a toda autoridade humana por amor do Senhor, quer ao rei, como soberano, quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem”. (I Pedro 2.13-14)

Segundo os Apóstolos Paulo e Pedro, o papel do governo civil é castigar os malfeitores. A “espada” é instrumento coação contra aqueles que se colocam de forma contrária ao bem e a favor do mal. Pedro chega a dar uma lista de coisas que poderiam ser corretamente punidas pelo governo civil: “Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios”. (I Pedro 4.15) O governo civil deve proteger, por meio da força, o direito a vida e a propriedade privada. Por isso deve castigar os homicidas e ladrões.

Então, em relação ao que foi dito até aqui, as principais questões que precisamos considerar são:

- Em quais circunstâncias tomar propriedade ou dinheiro a força não é roubo, mas está dentro dos direitos e obrigações daqueles que fazem? Em quais circunstâncias restringir o direito de ir e vir não é sequestro, mas está dentro dos direitos e obrigações daqueles que fazem?
- Quem é que possui o direito de aplicar tais sanções?

Em relação à segunda questão, a resposta em nosso caso é: o governo brasileiro. Em relação a primeira questão, a pergunta é respondida de diferentes maneiras por diferentes pessoas e governos. No caso do governo brasileiro, ele responde que ele tem o direito de tomar a força 41% do que de nosso dinheiro por meio de impostos e usá-lo pra coisas como:

- Patrocinar o turismo gay no Rio de Janeiro, apresentando a cidade como um paraíso sexual para os homossexuais.
- Estabelecer a si mesmo como o determinador da verdade em relação à educação infanto-juvenil por meio dos mandamentos do MEC.
- Dar o dinheiro a outras pessoas por meio de programas sociais e de redistribuição de renda e propriedade.

O terceiro ponto é aquilo que o pastor Ariovaldo Ramos parece reconhecer como sendo a essência do Evangelho. Para o pastor Ariovaldo Ramos, defender o direito do governo civil de tomar o dinheiro e a propriedade de determinadas pessoas pra dar pra outras pessoas – como é o caso do presidente – significa andar nos passos de Jesus, ainda que não se confesse Jesus Cristo como ele confessa. Seu argumento é lembrar que a Bíblia manda socorrer os pobres e desamparados. Mas a Bíblia não manda socorrer qualquer pobre. A Bíblia diz que ser desamparado, pobre ou de qualquer outra forma necessitado não garante que o indivíduo deva ser alvo de ajuda social. O que faltou ao pastor Ariovaldo Ramos, além de distinguir entre o tipo de pobre que a Bíblia manda ajudar, é explicar por qual motivo ele presume que este mandamento bíblico deve ser cumprido por meio da coação do governo civil. Se o pastor Ariovaldo Ramos acredita que todo mandamento bíblico precisa ser imposto por meio da coação do governo civil, então ele precisa explicar se ele acredita que os mandamentos bíblicos de amar a Deus sobre todas as coisas e de celebrar a Santa Ceia também devem ser cumpridos por meio da coação do governo civil. Caso o pastor Ariovaldo Ramos acredita que estes mandamentos bíblicos de fato existem, mas não devem ser impostos pelo governo civil, então ele precisa explicar porque ele arbitrariamente coloca a ajuda ao próximo imposto pelo governo civil como sendo o fato determinante pra alguém ser reconhecido como um seguidor de Jesus Cristo. Isso não pode ser demonstrado por Ariovaldo Ramos porque o que as Escrituras ensinam é exatamente o contrário:

Não farás injustiça no juízo; não farás acepção da pessoa do pobre, nem honrarás o poderoso; mas com justiça julgarás o teu próximo”. (Levítico 19.15)

Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda darás testemunho, acompanhando a maioria, para perverteres a justiça; nem mesmo ao pobre favorecerás na sua demanda”. (Êxodo 23.2-3)

Aqui Deus explicitamente ordena que a riqueza e a pobreza não sejam o fundamento de qualquer decisão em diante das autoridades civis, mas que os direitos de cada um existem de maneira independente da quantidade de dinheiro e bens que cada um possui. Ser rico ou ser pobre não é, em si mesmo, pecado diante de Deus. Portanto, ninguém pode ser punido ou louvado pelos magistrados civis, que são ministros de Deus, pela quantidade de dinheiro que tem ou deixar de ter. O pobre, portanto, não tem o direito de exigir diante dos magistrados maiores direitos com base em sua pobreza. Apesar de Ariovaldo Ramos acreditar que justiça consiste no governo civil favorecer os pobres pelo simples fato de serem pobres, Deus declara que isso é injustiça. A definição de justiça de Ariovaldo Ramos não vem das Escrituras Sagradas ou de Jesus Cristo, mas de Robbin Hood, Karl Marx e Hugo Chávez. Nas Escrituras, se alguém está em uma situação de ruína financeira, a saída dele não é convencer o governo civil a coagir e tomar o dinheiro de outros que não estejam em situação de ruína financeira. Nas Escrituras, se alguém está em uma situação de ruína financeira e desamparada, ele deve ser socorrido voluntariamente por aqueles que podem ajudá-lo. E ai daqueles que negligenciam esse dever. Sobre estes pairam a indignação de Deus:

E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma”. (Tiago 2.15-17)

Mas além de negar a explícita exigência de Deus de não fazer da riqueza ou a pobreza como critério para ser favorecido pelas autoridades civis, Ariovaldo Ramos também acredita que o governo civil deve ser racista:

É difícil entender um cristão que não queira a indenização aos que foram escravizados e que foram abandonados e marginalizados na História quando as Escrituras nos ensinam que devemos privilegiar os despossuídos, os que estavam nus, com fome, sede, os enfermos, os encarcerados, que devemos socorrer os aviltados, que devemos levantar os joelhos cansados, que devemos ser a voz dos oprimidos”.

É verdade que os cristãos devem buscar a indenização daqueles que foram injustamente escravizados e maltratados. O sequestro, o maltrato e o trabalho forçado certamente são crimes terríveis. Jesus Cristo ensinou que “digno é o trabalhador de seu salário”. (Lucas 10.7) O Apóstolo Tiago falou da ira e punição de Deus contra aqueles que não respeitam este princípio: “Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos”. (Tiago 5.4) Além disso, a Escritura estabelece que o rapto deve ser punido com pena de morte: “E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto” (Êxodo 21:16). O problema é que o tráfico de escravos africanos não existe há bastante tempo no Brasil então não há ninguém vivo pra ser executado. Mas o pastor Ariovaldo Ramos acredita que descendentes de escravagistas do passado devem ser reconhecidos como culpados por atos que eles não cometeram pessoalmente. O pastor Ariovaldo Ramos acredita que cada branco que exista em nossos dias deve ser obrigado a pagar por crimes que ele nunca cometeu e que negros que nunca foram escravos devem ser indenizados por crimes que nunca sofreram. Se este fosse o caso, se os descendentes de escravagistas do passado devem ser reconhecidos como culpados por atos que eles não cometeram pessoalmente e com os quais não concordam, então o que devemos fazer é executá-los, pois essa é a exigência de Deus para quem é culpado de rapto. Se todos os brancos que agora existem são culpados dos mesmos crimes que os traficantes de escravos cometeram, então todos os brancos devem ser executados. Mas, diferente do que pensa o pastor Ariovaldo Ramos, as Escrituras ensinam que os filhos não podem ser reconhecidos como judicialmente culpados de atos que nunca cometeram:

Sendo, pois o homem justo, e procedendo com retidão e justiça, não comendo sobre os montes, nem levantando os seus olhes para os ídolos da casa de Israel, nem contaminando a mulher do seu próximo, nem se chegando à mulher na sua separação; não oprimindo a ninguém, tornando, porém, ao devedor e seu penhor, e não roubando, repartindo e seu pão com o faminto, e cobrindo ao nu com vestido; não emprestando com usura, e não recebendo mais de que emprestou, desviando a sua mão da injustiça, e fazendo verdadeira justiça entre homem e homem; andando nos meus estatutos, e guardando as minhas ordenanças, para proceder segundo a verdade; esse é justo, certamente viverá, diz o Senhor Deus, E se ele gerar um filho que se torne salteador, que derrame sangue, que faça a seu irmão qualquer dessas coisas; e que não cumpra com nenhum desses deveres, porém coma sobre os montes, e contamine a mulher de seu próximo, oprima ao pobre e necessitado, pratique roubos, não devolva o penhor, levante os seus olhos para os ídolos, cometa abominação, empreste com usura, e receba mais do que emprestou; porventura viverá ele? Não viverá! Todas estas abominações, ele as praticou; certamente morrerá; o seu sangue será sobre ele. Eis que também, se este por sua vez gerar um filho que veja todos os pecados que seu pai fez, tema, e não cometa coisas semelhantes, não coma sobre os montes, nem levante os olhos para os ídolos da casa de Israel, e não contamine a mulher de seu próximo, nem oprima a ninguém, e não empreste sob penhores, nem roube, porém reparta o seu pão com o faminto, e cubra ao nu com vestido; que aparte da iniquidade a sua mão, que não receba usura nem mais do que emprestou, que observe as minhas ordenanças e ande nos meus estatutos; esse não morrerá por causa da iniquidade de seu pai; certamente viverá. Quanto ao seu pai, porque praticou extorsão, e roubou os bens do irmão, e fez o que não era bom no meio de seu povo, eis que ele morrerá na sua iniquidade”. (Ezequiel 18.5-18)

Aqui o profeta Ezequiel cita a Lei:

Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada um morrerá pelo seu pecado”. (Dt 24:16)

Segundo o profeta Ezequiel (conforme estabelecido pela Lei de Deus), um homem não pode ser judicialmente culpado pelos crimes cometidos pelos seus antepassados, mas somente pelos crimes que ele próprio cometeu. Se um homem comete um crime, seus filhos não podem ser punidos pelos seus crimes. Segundo o profeta Ezequiel, ele não pode ser pessoalmente culpado pelos pecados de seu antepassado mesmo que o antepassado “oprima ao pobre e necessitado, pratique roubos, não devolva o penhor, levante os seus olhos para os ídolos, cometa abominação, empreste com usura, e receba mais do que emprestou”. Portanto, o pastor Ariovaldo Ramos não pode exigir que cada branco que exista em nossos dias seja obrigado a pagar por crimes que ele nunca cometeu e que negros que nunca foram escravos devem ser indenizados por crimes que nunca sofreram. Além disso, é falso testemunho dizer que todos os brancos do passado tiveram envolvimento com o rapto de negros da África e, portanto, é falso testemunho dizer que todos os brancos hoje são descendentes de escravagistas. Os africanos também se raptavam e escravizavam na África e, muitos deles eram responsáveis por vender negros aos brancos. Nem por isso temos o direito de culpar todo africano moderno pelos crimes de seus pais quando a maioria nem sequer defende esse tipo de coisa. Um princípio básico de justiça, segundo a Lei de Deus, é que para que alguém seja condenado é preciso que ele seja individualmente investigado e declarado como culpado por um tribunal legalmente constituído. Não há condenação arbitraria com base em raças, pois Deus não é racista.

O que o pastor Ariovaldo Ramos ajuda a fazer é perpetuar conceitos racistas e exigir que tal racismo seja imposto pelo governo civil. Assim como as Escrituras não autorizam que o governo civil favoreça alguém com base na riqueza ou na pobreza, assim também as Escrituras não autorizam que o governo civil favoreça alguns com base em diferenças étnico-raciais: “Haverá uma mesma lei para o natural e para o estrangeiro que peregrinar entre vós”. (Êxodo 12.49) “Uma mesma lei tereis, tanto para o estrangeiro como para o natural; pois eu sou o Senhor vosso Deus”. (Levítico 24.22) A Bíblia ensina que a lei deve ser a mesma pra todos, sem distinção com base na origem étnica e geográfica conforme o pastor Ariovaldo Ramos quer. A Bíblia não autoriza leis racistas, pois ela é anti-racista do princípio ao fim. Negros não devem ser mais favorecidos do que brancos e nem brancos devem ser mais favorecidos do que negros porque, segundo a determinação de Deus, a origem étnica ou região geográfica na qual o indivíduo nasceu não determina que ele tenha mais direitos do que pessoas que não nasceram na mesma região geográfica ou que não tenham os mesmos ancestrais.

As Escrituras não ensinam que andar nos passos de Jesus Cristo seja defender o direito do governo civil de tomar o dinheiro e a propriedade de determinadas pessoas pra dar pra outras pessoas e culpar brancos por escravos que nunca tiveram e indenizar negros que nunca foram escravos. As Escrituras ensinam que seguir passos de Jesus Cristo significa depositar a fé nele (I João 2.23) e guardar os mandamentos de Deus (I João 2.3,4). Caso o pastor Ariovaldo Ramos queira defender a obrigação diante de Deus do governo civil, é com as Escrituras que ele terá que defender. Se Ariovaldo Ramos quer proclamar a justiça de Deus para o governo civil entre as nações ele deve proclamar as Escrituras:

“Ouvi a palavra do SENHOR, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à Lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra… E te restituirei os teus juízes, como foram dantes; e os teus conselheiros, como antigamente; e então te chamarão cidade de justiça, cidade fiel”. (Isa 1.10,26)

Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça as nações… Não faltará, nem será quebrantado, até que ponha na terra a justiça; e as ilhas aguardarão a sua Lei”. (Isaías 42.1-4)

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1 comentários:

O pastor Ariovaldo já está impregnado pela ideologia marxista da missão integral, e a cada dia deixa isto mais patente, assim como seus "companheiros" que têm abraçado a mesma teologia, alguns dos quais se consideram apologetas virtuais, mas que, como ficou bem claro no texto, distorcem o entendimento das escrituras sagradas, ao ponto mesmo de defenderem governantes que perseguiam opositores, muitos deles cristãos, e que implantam governos totalitários.

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