Vivemos o evangelho do "ser" ou do "ter"?

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O bem estar da civilização ocidental, infelizmente, é medido pelo sucesso profissional, que por sua vez obedece aos padrões culturais baseados na felicidade a qualquer custo. Não resta dúvida de que necessitamos do TER para que possamos sobreviver condignamente, porém, o grande X do problema, é que nossa sociedade nos impõe o TER como um fim em si mesmo. É quando se diz: “Aquele ali sim, vale dez milhões de dólares”.

É logo cedo, como tenra criança, que aprendemos a colocar o TER no topo de nossos maiores anseios. Quem de nós quando criança não ouviu a célebre frase: “Se você se comportar bem vou lhe dar um grande presente!” É justamente nessa época que é plantada a semente do TER no psiquismo infantil ainda em formação.

Apesar dos grandes mestres do passado terem ensinado que não devemos nos guiar pelo instinto de posse, o anseio do Ter continua no centro de nossas idealizações.

Os Evangelhos estão repletos de inúmeros ensinamentos valorizando o SER e não o TER. É célebre a frase dita por Cristo: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo e perder a sua vida”. O próprio Marx num rasgo de humanismo falou: “O nosso ideal deve consistir em SER muito e não TER muito”. Buda certa vez disse: “Para chegarmos ao mais elevado estágio do desenvolvimento humano, não devemos ansiar pelas posses. Erich Fromm, escreveu a seguinte fórmula: “eu sou = o que tenho e o que consumo”. O Mestre Judeu Martin Buber, autor do antológico “Eu e Tu” disse também, à respeito do TER: “Aquele que só conhece o mundo como algo que se utiliza, vai conhecer a Deus do mesmo modo”.

Desde os pré-socráticos, passando por Heráclito e Hegel já se falava na idéia do SER, como algo que implicava transformação, em contraste com a monotonia das relações sociais e religiosas baseadas no “é dando que se recebe” ─ como um fim em si mesmo.

Infelizmente, o cristianismo gospel tem enveredado pelo caminho comercial do TER, onde a maior bênção divina é a prosperidade econômica. As seitas da prosperidade crescem em progressão geométrica, valendo-se de uma espécie de deturpação grosseira dos pressupostos judaicos do Velho Testamento. Para validar a teoria do TER, usam como carro-chefe, a grande promessa que Deus fez a Abraão, de que ele iria possuir a terra que manava leite e mel: “A tua descendência, dei esta terra, desde o rio Egito até o grande rio Eufrates” (Gêneses 15: 18).

O crente Gospel da prosperidade que se guia pelo TER, parece mais uma eterna criança de peito, berrando pela mamadeira. É aquela pessoa que não quer crescer para ficar sempre dependendo do leite, quando no dizer do apóstolo Paulo: “...pelo tempo de crente, já deveria ingerir alimentos sólidos”. (Hebreus 5: 12).

A teologia da prosperidade terrena não resiste a essa simples reflexão: O herói da prosperidade é aquele sujeito conquistador, sempre vitorioso, cheio de poder, de fama e de louros, aquele que tudo pode e nada sofre. Já o autêntico herói cristão é totalmente o avesso do primeiro: é aquele cuja maior satisfação é dar a vida a Deus e em prol do seu semelhante, sem pensar em recompensa, porque aquilo que se faz pensando em receber algo em troca, se constitui a própria negação do amor. Cristo foi um herói que não teve onde repousar a cabeça. Um herói que não empregou a força. Um herói que não queria governar nem possuir coisa alguma, tendo por isso, atraído os pobres e não os ricos. Um herói que ao observar profundamente o mundo fútil do TER, disse: “É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mateus 19: 24).

Se fizermos uma leitura da Bíblia fora do seu contexto e de um modo literal, sem levar em conta o simbolismo de suas inúmeras figuras de linguagem, corremos o risco de pensar que lá na eternidade seremos regidos pelo modo TER, que no fundo no fundo, não deixa de ser a nefasta teologia da prosperidade levada às últimas conseqüências. Em outras palavras, é o mesmo que dizer: “Aqui na terra eu não tenho uma luxuosíssima mansão como a de muitos ministros da prosperidade, mas lá no Céu, um dia, eu poderei dizer afinal: agora sim, “eu tenho”(*) uma muito mais rica do que a deles”. Pergunto eu: “Ter para mostrar a quem?”

Sinto tristeza ao ver “o utilitário religioso” transformando o nome de Deus, irremediavelmente, num “ISSO” ou “AQUILO”, como se Ele fosse um objeto nobre entre os demais objetos.

Qual a opção que a Instituição religiosa no modo TER oferece, senão esta: “Observar estritamente as suas regras ou se retirar. Não esquecendo uma terceira opção, que seria a de fingir que é um de seus membros, tentando servir a dois senhores.

(*) A forma “eu tenho” ─ no hebraico, significa desejo possessivo ou egoístico, podendo ser substituído por: “é só para mim”.

Ensaio por Levi B. Santos
Fonte: [ Ensaios & Prosas ]

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2 comentários

O sagrado se tornou profano,estamos vivendo um evangelho fast food.Existe uma verdadeira disputa entre os líderes do movimento neopentecostal,por espaço em canais de televisão, eles são os verdadeiros culpados,juntamente com satanas de tudo isto que ocorre nas igrejas.Acesse www.aigrejaaogostodofregues.blogspot.com

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Sally Poubel mod

Poderíamos ler este artigo ouvindo a música "E se" do Stênio Marcius...

"Que minha alegria seja tão somente me lembrar de Ti, meu Deus..."

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