Funciona mais ou menos assim:
Uma pessoa que se converte – pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo – logo se envolve com as pessoas e rotina de sua igreja local. De cara esse envolvimento é benéfico. Pois, ao mesmo tempo em que tira a pessoa de uma má rotina de conversas e costumes, o coloca dentro de um novo grupo acostumado a trocar assuntos relacionados a cultura evangélica. Parece muito bom.
Pouco tempo depois a rotina dessa pessoa gira em torno desse grande pacote evangélico, ao ponto de muitas pessoas desejarem viver “só para o ministério” – querendo dizer com isso que o trabalho ordinário é quase que uma profanação da própria vida. Porém, esse novo estilo de vida trás no pacote: cultos semanais, cultos especiais, acampamentos e retiros, shows de evangelismos e congressos, reuniões de departamentos, reuniões de planejamentos, visitas a outras igrejas, arrumação, decoração, personalização, compras, vendas, etc. Enfim, tudo o que parece ser necessário para fazer da igreja local um grande ambiente agradável.
Uma pausa.
Como já escrevi em outras oportunidades, nasci e cresci dentro do ambiente igreja. Tive a oportunidade de presenciar algumas mudanças de costumes e modelos, o nascimento de novas denominações e o surgimento de alguns estrelas. Devido a todas essas eventualidades não tive como escapar da confrontação de minha fé prática pela essência do evangelho de Cristo. Inevitavelmente também passei a questionar o modelo e prática de muitas igrejas modernas.
Antes também é necessário dizer que fiz parte de todo esse cenário e, que também me esforço para não me tornar um refém desse sistema. É necessário dizer que creio que existem muitas pessoas bem intencionadas, pois com muita sinceridade se empenham para fazerem as coisas de uma maneira correta. Então a questão não está em torno da sinceridade das pessoas, mas dos preceitos e dos modernos modelos de igreja e ministérios e o resultado disso tudo – se não tomarmos devido cuidado. Tenho que dizer que somente as boas intenções não resultam em glória – digo a de Deus.
Continuando.
Dentro dessa nova rotina e pacote, vem um tipo de evangelho diferente do que os apóstolos haviam anunciado. O evangelho do comércio. Aprende-se o preceito dízimo e as muitas maneiras para justificar-se dos abusos de pedir dinheiro através de inúmeras campanhas e eventos especiais, porém sem nada devolver para os necessitados de sua própria comunidade. Os eventos são cobrados com o argumento de cobrir custos, as cantinas e cafés funcionam a todo vapor e as livrarias vendem seus livros, CDs, DVDs, camisetas e outras coisinhas a mais, com o objetivo de arrecadar mais recursos. Até polo comercial já existe, a famosa rua Conde de Sarzedas, cheia de produtos evangélicos apoiados por dezenas de cartazes de celebridades gospels – mas se quise-los em sua igreja, terá que pagar o cachê.
Por exemplo, enquanto estou escrevendo este texto já recebi em minha caixa de e-mails dois convites para participar de cultos/eventos especiais. Obviamente pagos. Um deles diz mais ou menos assim:
“A todos, boa tarde!
Estamos para fechar uma noite de ministração com Fulano de Tal que estará excepcionalmente uma noite em São Paulo e gostaria de saber quantos de vocês, meus amigos, participariam deste evento. Ouço dizer que haveria uma enormidade de gente para este evento. Por isso gostaria de ter mais ou menos a dimensão do numero de pessoas. Provavelmente será na quarta-feira dia XX de novembro com o custo estimado de R$ 30,00 por pessoa para cobrirmos os custos de sua vinda [e assim por diante].”
Minha resposta:
“… na real, esse é um cara que gostaria de ouvi-lo pessoalmente, pela boa música que ele faz e que também acredito ser pelo sentido certo das coisas. Mas velho, cada vez mais me proponho ir contra esse mercado evangélico. Parece o nosso governo, sempre tomando do cidadão comum e quase nunca devolvendo em benefícios. A igreja local deveria, ao menos, devolver um pouco para sua comunidade – dar de graça. Mas se houvesse uma prestação de contas ou um objetivo missionário, poderia pagar e ir. Agora, pense bem, pagar para ser ministrado, para adorar, para… Eu penso que cada vez mais a essência do evangelho de Cristo tem sido esquecida – anunciar as Boas Novas aos perdidos, de graça.
Que ele e a igreja local tenham seus custos, mas é que sempre só me apresentam custos, nada mais.
Nada pessoal. Apenas liberdade de expressão como todos os que a usam, mas a usam apenas para cobrar.”
Ainda pergunto, qual a finalidade de tantos eventos e produtos “evangélicos”?
Será que nosso modelo e estrutura se tornaram tão caros ao ponto de se tornarem ineficientes para a obra de Cristo? Por acaso alguém entende qual é a missão da Igreja? Sabemos o que significa ser missional, não departamental? Poderíamos nos tornar mercenários ao invés de missionários? É possível?
Ainda hoje, logo pela manhã, eu estava assistindo ao jornal e vi o ressurgimento do caso “corrupção de Edir Macedo, Igreja Universal e Rede Record” que ∆já acumulou em nesses últimos anos algo em torno de 8 bilhões de reais. Impressionante! Dentre muitas acusações, uma questão/acusação é a de que eles não usam o dinheiro, arrecadado dos fiéis, para aplicar em obras sociais e assistenciais, mas para enriquecer de maneira ilícita. Existe uma condição imposta pela lei que isenta igrejas de impostos para que assim estas possam usar os recursos na ajuda aos necessitados através de trabalhos sociais. Infelizmente, mau sabem eles que a grande maioria das nossas igrejas não faz nenhum trabalho social ou de ajuda aos necessitados na dimensão e proporção em que se arrecada dinheiro. Não sabem eles que muitas de nossas igrejas nem ao menos prestam contas para seus membros, que em minha opinião já é grande falta de respeito aos que entregam suas ofertas. Para a nossa vergonha ainda têm alguns que se justificam dizendo que os necessitados – órfãos, viúvas, presos, doentes e pobres – são somente na dimensão espiritual, não humana ou material.
Deus nos diz que o importante é o final e não o início das coisas. Ou seja, começar bem nessa nova vida com Deus, em Jesus Cristo, é bom; mas a questão é o que temos nos tornado depois, dia após dia dentro de nossas igrejas locais. O que temos aprendido é sobre a missão da igreja – anunciar as Boas Novas aos pobres e necessitados, de graça – ou, sobre como fazer eventos? Temos aprendido a ter piedade ou a manter prédios a todo custo, ainda que seja em detrimento de outras vidas? Será que deixamos de lado o papel missionário para assumirmos o papel de mercenários?
Temos que tomar o devido cuidado para que não nos tornemos fúteis pelas estratégias que adotamos. Ser fútil é o mesmo que ser vazio da vida verdadeira que está em Cristo e em seu verdadeiro sentimento. Em minha opinião, são muitos os que se tornaram sem nenhum conteúdo, pois fizeram da piedade uma grande fonte de lucro. Temos que tomar cuidado, pois essa prática de comercialização da fé poderá ser bem disfarçada e, quando menos percebermos, já estaremos vendidos a isso tudo. Tomem cuidado ao planejarem em suas igrejas locais. Percebam, com muita sinceridade e honestidade qual a finalidade de tais eventos. Acima de tudo saiba também que plano missionário, ajuda aos pobres, vida simples, evangelização, piedade, etc. diz respeito ao nosso papel pessoal e não o de uma igreja local. Pois isso só terá sentido como evento de uma igreja local, quando primeiro tiver para nós, na prática.
Via: [ Tomei a Pílula Vermelha ]
1 comentários:
A Paz! Este blog tem sido uma benção para minha vida cristã, este blog que me estimulou a criar o meu blog e ser mas uma voz contraria ao evangelho de facilidades e diferentes da biblia que tem sido apresentado. Que Deus continue honrando vocês.
ResponderPastor Rodrigo
http://aprendendoemsarepta.blogspot.com
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