Os "Males" do Calvinismo

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Por Frank B. Beck


Em anos recentes tem havido uma ênfase crescente sobre a teologia calvinista. A republicação dos comentários de João Calvino sobre as Escrituras e o livro de John Gill, The Body of Divinity; The Reign of Grace, de Abraham Booth; e os sermões de Charles Haddon Spurgeon; juntamente com livros recentes tais como: The Reformed Doctrine of Predestination, de Loraine Boettner; Calvinism, de Abraham Kuyper; The Sovereignty of God, de A. W. Pink; também o aumento da popularidade do Christian Reformed Hour com umas 200 estações de rádio reproduzindo sua programação e sua circulação mensal do Back to God Family Altar a 55.000 leitores e outras antigas publicações em contínua reimpressão: The Gospel Standard, Signs of The Times, Zion’s Witness, e Zion’s Lanmark é ampla evidência que o Calvinismo está longe de estar morto.

I. O que é Calvinismo?

O Calvinismo é um sistema de crença. É um sistema de verdade. É uma forma de ensinar a Bíblia, popularizada por João Calvino, o grande Reformador Protestante. Por conseguinte, é chamado “Calvinismo”. Calvino tomou-o de Agostinho, bem como da Escritura, e Agostinho tomou-o dos escritos de Paulo nas Escrituras e da igreja primitiva, e Paulo recebeu-o, “não de homem, mas de Deus” (Gálatas 1:11, 12).

O Calvinismo declara que o pecador está literalmente “morto em delitos e pecados” (Efésios 2:1) e, portanto, não pode fazer nada em favor da salvação de sua alma. Ele declara que o homem tem uma vontade e, portanto, não é uma máquina, mas sua vontade não é livre nas questões espirituais, para as quais está morto. Ele é mantido cativo pelo Diabo (2 Timóteo 2:26) e não busca a Deus (Romanos 3:11).

O Calvinismo crê que Cristo morreu somente pelos eleitos, ou Suas ovelhas, num sentido salvífico (João 10:15; 1 Pedro 2:24, 25). Crê que Cristo salva a quem Ele quer (João 5:21; Romanos 9:18); que a regeneração do Espírito Santo cria o verdadeiro arrependimento e o dom da fé no coração daqueles por quem Cristo morreu (2 Timóteo 2:25 e Hebreus 12:2).

O Calvinismo declara que os propósitos de Deus nunca podem ser frustrados (Isaías 46:10; Salmos 115:3). Que crença chocante! Essa é a fé querida por aqueles chamados de “calvinistas”. É um erro chamar alguém que sustenta essas visões mencionadas de “hiper-calvinistas”. Eles não são hiper-calvinistas, mas calvinistas.

II. Quais são alguns dos “males” do Calvinismo?

Primeiro, o Calvinismo humilha o homem, e esse é deveras um grande mal! Aos olhos do homem carnal ou natural, o Calvinismo tira cada palha sobre a qual o homem se apoiaria. Como o profeta Miquéias, que era odiado pelo ímpio Rei Acabe, pois nunca profetizava o bem para ele, mas sempre o mal (2Cr. 18:7). O Calvinismo lhes diz que o “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Romanos 8:7, 8); os homens são “maus” (Lucas 11:13), “por natureza filhos da ira” (Efésios 2:3). Por causa da depravação total e inabilidade do homem, o Calvinismo declara que o homem não tem liberdade de vontade. Ele pode escolher apenas o pecado. Sua vontade é controlada por sua natureza, e sua natureza é corrupta. Esse é um grande mal! O homem não gosta de ser informado que não pode fazer o que quer. Ele não gosta de ouvir a Escritura: “Não há ninguém que busque a Deus” (Romanos 3:11); ou as palavras de Cristo: “E não quereis vir a mim para terdes vida” (João 5:40); “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”; ou quando Ele disse a Jerusalém: “Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos… e tu não quiseste” (Mateus 23:37). O homem carnal gosta de pensar que há certa bondade em todos os homens, que todos os homens estão buscando a Deus, e que eles podem se arrepender e vir a Jesus Cristo a qualquer momento que assim decidirem.

Segundo, o Calvinismo exalta a Deus. Ele não somente rebaixa o homem, sua vontade, obras e dignidade ao pó, mas apresenta Deus como DEUS! Coloca Deus sobre o trono. Ele diz, Deus pode e de fato faz tudo o que quer; Deus é absolutamente livre e independente. O Calvinismo confessa: “Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou” (Salmos 115:3); o Filho do homem desperta, ou vivifica, “aqueles que quer” (João 5:21); o Espírito Santo dá dons espirituais e habilidades a vários membros do corpo de Cristo, “repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Coríntios 12:11); e “como lhe agrada” (v. 18). Ele proclama com regozijo que Deus “faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Efésios 1:11) e que “dele… são todas as coisas” (Romanos 11:36).

Terceiro, o Calvinismo honra a morte de Cristo. Ele diz que a morte do Senhor Jesus Cristo realmente salva! Que Cristo de fato morreu no lugar do crente! Crê plenamente nas Escrituras: “Cristo morreu por nossos pecados” (1 Coríntios 15:3) e “Cristo morreu por nós” (Romanos 5:8). Visto que Ele morreu em nosso lugar e pagou a penalidade por nossos pecados, nós fomos libertos; isso porque Deus não demandará que o pagamento seja feito duas vezes; primeiro das mãos sangrentas do meu Substituo, e então das minhas. Deus não cobrará a dívida duas vezes. Se Cristo morreu por todos os homens sem exceção, então todos os homens sem exceção serão salvos. Como pode alguém perder-se e ir para o inferno por seus pecados se Cristo morreu por ele, pagou pelos seus pecados e expurgou os mesmos (João 1:29)? Mas é evidente que nem todos os homens são salvos (Mateus 7:13), pois Cristo não poderia ter sofrido pelos pecados daqueles que morrem em seu pecado (João 8:24). Cristo “tira o pecado do mundo” (João 1:29), mas não o pecado dos incrédulos. Como poderia, visto que o pecado deles “permanece”? (João 9:41). 

Cristo suportou verdadeiramente os pecados daqueles por quem morreu em seu corpo sobre a cruz, que foram sarados por suas feridas (1 Pedro 2:24 e Isaías 53), e voltaram ao Pastor e Bispo de suas almas (v. 25). Eles foram “justificados” (tempo passado) por Cristo, pois este morreu por eles (Romanos 5:9). Ele redimiu-os (Efésios 1:7). Ele lavou-os de seus pecados em Seu sangue (Apocalipse 1:5). Eles foram “reconciliados” (tempo passado) com Deus por Cristo (Romanos 5:10); e seus pecados não são imputados ou cobrados deles (2 Coríntios 5:19). Tudo isso e mais Ele fez por aqueles por quem morreu. Visto que isso não é verdade de todos os homens individualmente, Cristo não morreu por todos os homens sem exceção, mas somente pelo “mundo” dos eleitos. Isso é o que a Palavra de Deus ensina. Cristo se deu a si mesmo em “preço de redenção por todos” (1 Timóteo 2:6), mas no sentido de dar Sua vida pelas ovelhas (João 10:15). Cristo é a propiciação pelos pecados do mundo todo (1 João 2:2), porém somente no sentido de que Ele realmente morreu, não pelos pecados dos judeus eleitos apenas, a quem João ministrava (ver Gálatas 2), mas também pelos pecados de todo o mundo gentil eleito. Ele se deu “em resgate de muitos” (Marcos 10:45). Aqueles por quem Cristo morreu são todos salvos. Ele salvou-os por Sua morte no lugar deles. Ele não morreu em vão.

Quarto, o Calvinismo reconhece o poder do Espírito Santo. O pecador está “morto” espiritualmente. Ele não pode fazer nada. Não pode ouvir o evangelho, desejar, arrepender-se ou crer. Esse é outro “mal” do Calvinismo. O homem gosta de pensar que tem alguma parte em sua salvação. Mas o Calvinismo dá toda a glória ao Espírito Santo na regeneração. Ele é soberano. É o Espírito Santo que “vivifica” ou dá vida (João 6:63). O Espírito Santo dá o novo nascimento a quem quer (João 3:3-8). Se já nascemos de novo, é porque o Espírito Santo desejou e fez isso. É pelo Espírito Santo que somos convencidos do pecado (João 16:7-11); que Cristo é revelado a nós (1 Coríntios 2:9-14); que confessamos que Jesus é Senhor (1Coríntios 12:3); e temos qualquer dom espiritual com o qual servir a Deus (1 Coríntios 12:11); ou qualquer desejo de fazê-lo (Romanos 5:5 e Gálatas 5:22, 23). O Calvinismo faz-nos dependentes somente do Espírito Santo.

Quinto, o Calvinismo magnifica a graça de Deus. Sim, os calvinistas vão ao extremo sobre a graça de Deus, se isso é possível. Pense! Embora o pecador esteja morto em pecado e ódio a Deus, e mereça a ira de Deus, e a despeito do fato que Deus não nos deve nada, visto ter criado o homem reto, que grande graça essa que Deus tenha elegido alguns de nós à vida eterna e fé salvífica (Atos 13:48)! Que Ele tenha enviado Seu Filho unigênito para levar os nossos pecados em Seu próprio corpo sobre a cruz (Isaías 53:6); no devido tempo envia Seu Espírito Santo para nos vivificar; e nos perdoa plena, livremente e para sempre de todas as nossas culpas e pecados (Efésios 1:7)! Que graça!

Sexto, o Calvinismo dá segurança eterna aos crentes. Esse é um mal enorme! É chamada de uma “doutrina perigosa” por muitos. Todavia, existem tantas passagens da Escritura ensinando a veracidade dessa doutrina, que eu quase não sei por onde começar. Uma pessoa não precisa passar do oitavo capítulo de Romanos. Esse capítulo começa com “nenhuma condenação” para aqueles que estão em Cristo (versículo 1); continua com nenhuma acusação contra aqueles em Cristo (versículos 31-34); e conclui com nenhuma separação para aqueles que estão em Cristo (versículos 35-39). No versículo 28, Deus chama os eleitos “segundo o Seu propósito”. Nos versículos seguintes é dito que Deus os conhece de antemão, predestina, chama, justifica e glorifica-os – todos eles, e SOMENTE eles. Leia Romanos 8:28-31 e observe as palavras “daqueles” e “aos que”! Quão inclusivo e exclusivo é isso. Cada um deles Deus glorificará com certeza. Veja também João 6:39 e João 10:26-30.

Sétimo, o Calvinismo dá o entusiasmo correto à pregação do evangelho. Se eu sei que Deus tem um povo que Ele chamará (2 Timóteo 2:10), e que há certo número de pessoas a quem Deus o Pai deu ao Filho, e que todos eles virão a Ele (João 6:37), e que as ovelhas, por quem Cristo dá a Sua vida, ouvirão Sua voz e O seguirão (João 10:26-27), e que a Palavra de Deus não voltará vazia, mas cumprirá o que lhe agrada e prosperará naquilo para o qual Ele a enviou (Isaías 55:11); isso deveria me fazer perguntar: “Bem, por que pregar então? Por que não enviar outros?”? Não! Há toda razão para a pregação. Seria tão tolo quanto perguntar: “Por que pescar então?”, visto que eu sei que o lago está cheio de peixe; ou, “Por que trabalhar então?”, visto ter certeza que conseguirei dinheiro suficiente para sustentar eu e a minha família. Tal fato não foi um obstáculo à pregação do apóstolo Paulo, quando ele considerou trabalhar em Corinto. O Senhor lhe apareceu numa visão e disse: “Não temas, mas fala, e não te cales… pois tenho muito povo nesta cidade” (Atos 18:10). Isso foi após o Redentor ressurreto dizer: “É me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mateus 28:18-20).

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Fonte Original: The Evils of Calvinism, Frank B. Beck, Predestinarian Press
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto - Traduzido em junho/2008
Fonte: Monergismo
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